DVDs Legais - Fábio Rübenich

ALÉM DA LINHA VERMELHA

Novembro de 1993. No há muito extinto Cine Avenida 2, cinco pessoas (eu, meu irmão, um amigo e ainda um casal de desconhecidos)  prestigiavam uma sessão de final de tarde de “Cães de Aluguel”, primeiro e melhor filme do então obscuro e desconhecido Quentin Tarantino. Menos de um ano depois, “Pulp Fiction - Tempo de Violência” ganharia a Palma de Ouro em Cannes. Quando estreou em Porto Alegre, no início de 1995, havia sessões lotadas até mesmo nos Shoppings de Porto Alegre, que haviam ignorado a existência de “Cães de Aluguel”, é claro. Tarantino passou a ser referência “pop”, foi para a “boca do povo”, e nunca mais arrastou apenas cinco testemunhas para seus próximos filmes.
Algo semelhante está acontecendo em 2011 com Terrence Mallick, o genial filósofo-cineasta, um dos últimos diretores-autores do cinema americano. Com 67 anos de idade, Mallick é da mesma geração de Steven Spielberg, Francis Ford Copolla e Martin Scorsese, mas nunca alcançou reconhecimento pelo menos parecido com o dos três colegas, mesmo porque, até hoje, sem contar um filme que já está na pós-produção e que ainda sequer tem título definido, dirigiu apenas cinco filmes em uma carreira que começou em 1973, com “Terra de Ninguém”. Com “Árvore da Vida” vencendo o principal prêmio de Cannes em maio passado, Malick ganhou uma rápida e certamente não desejada notoriedade. Assim, seus filmes anteriores e menos prestigiados despertam interesse maior a partir de agora. O último, “O Novo Mundo”, de 2005, já mencionado aqui neste espaço no blog do Previdi, praticamente ninguém viu, infelizmente. Mas, o anterior, “Além da Linha Vermelha”, de 1998, recebera sete indicações frustradas ao Oscar daquele ano, que consagraria O Resgate do Soldado Ryan e Shakespeare Apaixonado. Nem mesmo o prêmio de melhor fotografia o filme de Malick levou, apesar de ter sido considerado imbatível na categoria.
“Além da Linha Vermelha”, o “melhor filme de guerra americano de todos os tempos”, segundo comentários recentes publicados no “The Guardian”, já inicia de forma poética e contemplativa, com o lento mergulho de um crocodilo, seguido por imagens que revelam um local que à primeira vista parece se tratar de um paraíso terreno. Vemos homens brancos interagindo com os nativos de uma ilha do sul do Pacífico, se banhando no mar cristalino e exibindo o sorriso da felicidade despreocupada, tudo isso embalado pelas melodias e pelo coral suave do trecho “In Paradisum”, do Réquiem de Gabriel Fauré. Mas, logo o som ensurdecedor de uma fragata da marinha americana interrompe os momentos idílicos. Ela veio capturar aqueles homens, na verdade fuzileiros desertores. Aquele lugar é a Ilha de Guadalcanal, um dos cenários mais violentos da Segunda Guerra Mundial.
A partir daí, Mallick vai justificar, em quase três horas de filme, que alterna imagens tão díspares como um corpo destroçado e apodrecido com o suave e quase silencioso balanço das folhas de uma árvore, o uso da metáfora criada pelo general inglês que derrotou Napoleão no título original do filme: “A tênue linha vermelha”. Loucura, crueldade, amor ao próximo, respeito ao vencido e cenas realistas de um combate sangrento entre americanos e japoneses são intercalados com angústias e pensamentos narrados em "off" por vários dos personagens desse marcante "drama existencialista de guerra".
Sean Penn e Jim Caviziel (o Jesus, de A Paixão de Cristo) lideram um elenco que traz pequenas participações de astros como John Travolta, Nick Nolte, John Cusack, Woody Harrelson, Adrien Brody e George Clooney, que foram exigências do estúdio que financiou o retorno de Terrence Malick ao cinema depois de um hiato de 20 anos.

Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line). EUA 1998. 170 minutos. Dirigido e escrito por Terrence Malick.

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