Quinta, 11 de julho de 2013 - parte 2

PAULO PAGODINHO INCORPORA
TELMO THOMPSON FLORES!!!! - 3

Continua o debate sobre quem estragou mais o Centro de Porto Alegre.
Pagodinho tentou entrar na relação, ao pregar a implosão do Mercado Público.
Mas, por enquanto, o ex-prefeito nomeado Thompson Flores é imbatível.
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FATOS E VERSÕES

Renato Brenol Andrade*

Tenho lido, principalmente, muitas versões sobre os problemas de Porto Alegre.
No entanto, julgam que são muito mais versões do que fatos. Tomo, assim, a liberdade de enviar uma opinião para o teu prestigiado blog. Não quero ser o folclórico "soldadinho do passo certo", mas tem gente atacando demais um prefeito, Telmo Thompson Flores, porque foi nomeado pela ditadura. Mas tanto ele, quanto Guilherme Socias Villela e João Antonio Dib foram nomeados e aprovados pela Assembleia Legislativa.
Alguém tinha que administrar Porto Alegre e o então governador Perachi Barcellos foi quem indicou Thompson Flores, que havia sido diretor-geral do Dnos no RS, quando construiu o Muro da Mauá. Então, aí vai o meu texto, para a tua análise e eventual publicação. Obrigado e abraço, com continuado sucesso pela coluna. 
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Fatos, não versões sobre prefeitos (I) 

Continua a mesmice de atacar o falecido prefeito (nomeado pela ditadura, que horror...) Telmo Thompson Flores como o  culpado  pelos seis viadutos de construiu em Porto Alegre, dando  preferência  aos automóveis. Quanta besteira junta, pois, entre 1969 e 1975, quando ele foi prefeito, Porto Alegre tinha 120 mil automóveis, e não havia menos IPI, nem tanto incentivo para a compra/venda de automóveis. Hoje, são 740 mil automóveis na Capital. Se é para criticar a  demolição  que ele fez em Porto Alegre do seu  valioso patrimônio histórico , vamos recuar para antes dele.  
José Loureiro da Silva, o mais visionário prefeito que Porto Alegre já teve, abriu, derrubando dezenas de prédios do antigo casario, a Salgado Filho (10 de novembro, logo que inaugurada), da mesma forma que fez na André da Rocha, o antigo Beco do Oitavo, atrás do quartel do Exército, hoje uma praça. Loureiro abriu a Farrapos, derrubando casas e mais casas, e aquela avenida tem 10 metros de largura a menos hoje em dia porque os então  protetores  da cidade não permitiram, cortando cinco metros de cada lado do alargamento da avenida. 
Com mais 10 metros de largura na Farrapos, daria para colocar, hoje em dia, um corredor de ônibus em cada direção. 
Fatos, não versões sobre prefeitos (II) 
E só para  refrescar  a memória de alguns, Loureiro foi prefeito nomeado, de 1937 a 1943, pelo então ditador Getúlio Vargas... Depois, voltou, eleito, de 1959 a 1963. Projetou Porto Alegre para 50 anos adiante do seu tempo, sem nenhum OP nem assembleias, cujas solicitações, depois que passaram ao modismo, quase mil, estão à espera de atendimento há anos, segundo José Fortunati declarou.   
Fatos, não versões (III) 
Thompson Flores - nomeado mas aprovado pela Assembleia, - executou os viadutos e elevada previstos pelo Plano Diretor de 1959, ideias de Loureiro, que projetou as avenidas perimetrais. E se é para criticar a derrubada de casas velhas, Otávio Rocha rasgou o Centro da Capital, demolindo prédios,  para construir a Borges de Medeiros e o mais belo e importante viaduto - o Otávio Rocha - que temos, ligando o Centro à zona Sul. Vamos acabar com acusações contra alguém que não queria derrubar o Mercado Público, apenas lembrou da ligação da Siqueira Campos (até hoje jamais alargada) com a Julio de Castilhos. À primeira contestação, não falou mais no assunto. 
E quanto ao Muro da Mauá, é obra de convênio da União, Estado e Prefeitura, tem apenas 2 km, do total de 17 km, após a grande enchente de 1941, que arrasou a cidade. Tanto que havia uma brincadeira chamando de "abobados da enchente" os que nasceram naquelas três trágicas semanas, quando negociantes e famílias perderam tudo, ficando traumatizadas para sempre. 
Não foi ideia de Thompson Flores, que ainda estava no Dnos/RS quando executou o Muro da Mauá. As avenidas Castelo Branco e a Beira-Rio (Alceu Collares a construiu) são, realmente, dois diques de proteção contra as cheias. 
O Muro da Mauá tem, nos dois lados, o estaqueamento para uma elevada que não foi construída porque a Câmara Municipal não aprovou o contrato para a construção - naquela época passava pelo Legislativo - porque teria o nome de Costa e Silva... 
Agora que o Mercado Público incendiou pela terceira vez, lembro que João Dib - engenheiro concursado da Prefeitura, secretário municipal várias vezes, diretor-geral do DMAE, vereador por 41 anos e prefeito nomeado (que horror...) interditou lojas do Mercado, quando foi execrado, os fiscais da Prefeitura eram impedidos de entrar no prédio para verificar as instalações e as reformas, em concreto, de andares. Guilherme Sociais Villela (outro "maldito" prefeito nomeado pelos militares...) fez os corredores de ônibus, que serão aproveitados bem mais agora, com os BRTs.  
Basta de versões, vamos aos fatos (IV) 
Imaginem Porto Alegre sem a Salgado Filho, a Farrapos, a André da Rocha, o Túnel e Elevada da Conceição (a rua Conceição era ocupada por prédios baixos, grudados, e que serviam de depósito dos atacadistas da Capital, fechava tudo à noite), a Castelo Branco, a Beira-Rio, a André da Rocha, a Assis Brasil (obra de Loureiro também, apesar de muito criticada na época) e, mais ainda, sem os 1.300 ha do Parque Saint Hilaire, sem o Jardim Botânico, o Parcão, e o Campus da Saúde, sem o Hospital de Clínicas e as faculdades de Medicina, Farmácia, Odontologia e Enfermagem, tudo idealizado/criado ou preservado por Loureiro da Silva? E, repito, ele não ouviu ninguém para realizar o que era preciso. 
E, também repito, fez boa parte disso quando era prefeito nomeado pela ditadura de Getúlio Vargas. Aí não tinha problema ser nomeado... 
E a Rua da Praia tinha, obviamente, esse nome porque o Guaíba ia até ali. Pois foram feitos aterros até o atual Margs, depois até a Avenida Mauá e, finalmente, o último aterro na área, para construir o hoje tão falado Cais Mauá, o porto da cidade, cujos armazéns foram importados da Inglaterra e montados aqui. Por que não criticam?  
Brizola aterrou o Guaíba e lá estão os centros administrativos federal, o estadual e a Câmara Municipal, além de um belo parque, o Maurício Sirotsky Sobrinho, o popular Harmonia, além do estádio do Internacional. Vamos criticar?  
E vamos acabar com essa história ridícula de que derrubando o Muro da Mauá "se devolverá o rio Guaíba aos porto-alegrenses". Nasci e me criei no Alto da Bronze, jogando muito basquete e vôlei na pracinha que está ali até hoje, com 90 anos de idade, e jamais, eu e meus amigos de infância/juventude, usamos o porto para tomar banho ou passear, os armazéns impediam e, mesmo não sendo época de "ditadura", era proibido circular nos armazéns, cheios de mercadorias para ir e vir para Porto Alegre do Brasil e do mundo.  
Aproveitar o Guaíba, desde que eu nasci, ali, onde era a sede social/náutica do Grêmio Náutico Gaúcho, não dava. Era sempre na zona Sul, a partir de Ipanema. 
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É balela falar que o Muro da Mauá impede alguém de apreciar o Guaíba. Ao contrário, quando o Cais Mauá estiver pronto, servirá como uma grande proteção de toda a área e de estacionamento interno. E existem 17 casas de bombas e Porto Alegre teve sim enchentes depois de 1941, a última em 1984, antes, a de 1967, violenta. Perguntem aos engenheiros/técnicos do DEP se eles aceitam derrubar o Muro da Mauá? Acho que eles entendem demais do problema e têm um livro, grande, raro, com toda a história das enchentes da Capital desde o final do século XIX. 
* Renato Brenol Andrade, jornalista, ex-chefe do Gabinete de Imprensa de José Loureiro da Silva, entre 1959 e 1963 

6 comentários:

  1. Muito bom o texto do Brenol. É claro que ninguém é louco de falar em implosão do Mercado Público. Agora uma coisa deve ser dita: gaúcho odeia progresso. E cidade alguma no mundo cresce sem obras, sem transtornos. Um viva para todos os prefeitos, nomeados ou não, que pensaram grande para esta cidade. O que importa é a competência deles e não se foram nomeados. Na minha opinião quem deixou POA esta cidadezinha tacanha e atrasada foram as nefastas administrações do PT. Abraços, Ulisses.

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  2. Caro jornalista Brenol: eu sou antigo morador de São Leopoldo. Morei uns 25 anos no Bairro Rio dos Sinos, geminado ao Bairro Campina. Só com a feitura dos diques é que resolveram os graves, gravíssimos problemas de enchentes na minha querida São Leopoldo. Na de 1965, ficamos, todos, ilhados no andar superior da antiga Borbonite. Era bonito para a gurizada, mas cruel aos adultos, que tudo perdiam. Também me lembro bem das enchentes em POA. O dique do cais do porto, assim como o nosso aqui em São Leopoldo, são munumentais obras de engenharia contra enchentes e que deram CERTO. Pensar em demolir, dinamitar é coisa de maluco, doidivana, descerebrado! Abraços e parabéns pelo belo texto.

    João Paulo / Taquari

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  3. Brenol, um dos mais queridos e respeitados jornalistas gaúchos, expressa a opinião da maioria esmagadora dos administradores, políticos e jornalistas portoalegrenses. Nunca esqueço que na década de 80, quando Leandro Telles entrava na redação de Zero Hora para denunciar mais uma demolição de prédios históricos do centro da cidade para a construção de espigões, meus colegas comentavam: "lá vem o Barão do Cupim."
    O que sempre me chamou a atenção foi que vários deles (não muitos, claro) viajaram para cidades da Europa e voltaram deslumbrados com os prédios de 100, 200, 300 anos ou mais, preservados nos centros históricos. E até andaram de bonde...




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  4. Beleza de texto, bem escrito, bem baseado, narra fatos históricos perfeitamente comprováveis, e não só isso, são fatos lembrados pela população de mais idade. Políticos e administradores de primeira linha, cultos, trabalhadores, trouxeram a Porto Alegre, felizmente ainda em tempo, um progresso que hoje está sempre emperrado por causa dos "adoradores de árvores", dos eternos derramadores de lágrimas porque estão impedidos de ver o Guaíba ali onde está o muro da Mauá... Mas o Guaíba não está só ali, há quilômetros e quilômetros de
    Guaíba para quem quiser sentar e apreciar sua beleza (até sua sujeira...), assim que é uma queixa pífia, para quem quer aparecer. Não dá, mesmo, Renato Brenol de Andrade, para imaginar Porto Alegre sem as obras feitas pelos grandes homens que mencionaste em teu texto. Parabéns por ele, é brilhante !!!

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  5. Acho interessante o texto com ricos dados históricos, mas deixa a impressão de que era tudo perfeito e nada podemos reparar. Por exemplo, a saída do Túnel e o fim da II Perimetral (Av. José Otão) que de 4 pistas de repente terminam e a Sarmento Leite absorve. Um viaduto perto do Beira Rio com um só sentido e um semáforo embaixo. As inúmeras desapropriações desnecessárias na Cidade Baixa para a I Perimetral. O eterno "X" da Rodoviária, são só alguns exemplos de que, como em todos os governos, sempre tem equívocos e nada é sublime.

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  6. Parabéns, amigo Brenol, pelo belíssimo texto e por, como tu mesmo dizes, colocar os pingos nos ís. São muitos os exemplos, mas vou ficar só com dois, para não me alongar. na cidade de San Francisco-CA, Estados Unidos, o mais belo parque (Jardim Botânico da cidade, que termina próximo à ponte Golden Gate) foi construído no início do século passado sobre uma área de dunas (ou cômoros, como se diz aqui), que era considerada instável e perigosa, em função dos tremores de terra. Em POA mesmo, talvez muitos não saibam, mas a ilha do Janga é artificial e só Deus sabe como teve sua construção liberada. Mas é linda e em nada prejudizou o rio, apesar de ser, na prática, uma privatização de seu leito...enfim, mdemória e informação é bom. Parabéns de novo, Brenol !

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