Segunda, 26 de janeiro de 2015 - parte 2



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ponto especial




FALA MARRECA!!


Marcus Fabio Copetti escreve:


Quando o grito ecoava na sala de imprensa da Assembléia Legislativa (do Rio Grande do Sul), todos sabiam que era hora de se calarem ! Era o código tão pouco secreto quanto polido do interlocutor receber uma chamada pelo telefone vermelho. Não, não era o Batman, mas o governador do Estado entrando em contato com o Terlera. Os poderosos ligavam com muita frequência ao setorista da Zero Hora e todos eram atendidos com aquela deferência que assustava os novatos. Não sei se o telefone vermelho ainda existe. Não faz diferença alguma agora que João Carlos Terlera nos deixou...
Terlera foi um jornalista importante num momento importante da Política brasileira. Responsável por uma coluna política no maior jornal do RS, era lido com ansiedade todas as manhãs. Sei que teve carreira antes da ALRS, mas conheci aquela figura magra e “elétrica” apenas no subsolo do prédio do parlamento gaúcho. Foi em 1984. Vivi também alguns anos ao seu lado, um pouco amigo, um pouco colega. Para gente jovem, resumiria que teria a força de um William Bonner (riograndense) mas na área escrita.
Contudo, sem exibir um milésimo da aparência do jovem apresentador global. Desprovido de grande parte dos dentes, Terlera rejeitara 4 dentaduras em oito anos, preferindo ser avaliado pelo punho que retratava uma época turbulenta, anos de chumbo com preferem alguns, ou de extremos avanços, saudados por outros que agora vi, prestando suas homenagens diante de seu último leito.
“Oh, Terlera? Cadê aquela dentadura que o deputado X te deu? - Joguei fora!! Só me incomodava”, dizia entre gargalhadas.. E foram quatro presentes que dispensou, construindo uma imagem propositadamente dúbia: amigo dos poderosos da Revolução, solidário com quem fizesse oposição inteligente.
Um piadista permanente. Não esqueço de quando motorista do então deputado Guilherme Fips Schneider bateu no vidro da janela externa da Sala de Imprensa da ALRS com uma enorme cesta de vime, repleta de “brindes” para o colunista. Acontece que, por causa do sol, o vidro era espelhado externamente e todos dentro viam perfeitamente o esforço do Juarez para transferir pão de milho, cuca, schimier e nata através de uma pequena abertura. O sigiloso ato (para o Juarez) era acompanhado por abafados sorrisos de todos os jornalistas. Juarez não percebera que a limitação de visão era apenas sua e fazia com discrição a tarefa de agradar Terlera. Este, aumentando a balbúrdia, gritava sem parar: “Eu já falei 10 vezes para o Fips que não gosto de nata. Só queshmier!! Como é difícil pra esse pessoal do Vale do Sinos entender que não gosto de nata!!”' E repartia muitas vezes o butim entre os colegas de sua pequena saleta, repetindo toda a pantomima.
No lado profissional, poucas pessoas tiveram tantas fontes de informação quanto Terlera no âmbito político. Poderoso quanto o meio de divulgação, era assediado diariamente pelo escalão mais alto da política gaúcha. Ser isento é algo que nunca exigi dele, mas também não posso atribuir qualquer grande pendor pelo exagero.
De setorista num jornal, acabou “se efetivando” na Assembléia, mas isto numa etapa onde já mais não convivi com ele fisicamente, mas voltei a ler seus comentários nas páginas do Jornal ABC Domingo. Novos tempos, novas tecnologias, mas sua vasta rede de informações ainda proporcionava notícias que poucos sabiam. Não era mais o Midas, nem por isso adotou um partido ou uma bandeira para defender. Foi João Carlos Terlera até esta sexta-feira.
Em 2007, a nova sala de imprensa da Assembléia ganhou seu nome. Não mais no subsolo, mas ao lado do hall de entrada da Casa dos Gaúchos, ela traz área de TV, espaço para Internet e mídias sociais. A rádio está junto, reproduzindo também o que fazem os parlamentares gaúchos. Uma justa homenagem, com o mais antigo profissional do setor. E ali, no espaço que leva seu nome, a gente se despediu...
Bons tempos aqueles onde homens discutiam Política. Não concediam honrarias levianamente. Não se entregavam por um cargo na administração. Iam para a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul sem a certeza do amanhã, até porque faziam o agora.
Foi um prazer te conhecer, J.C. Terlera!!


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