Quarta,16 de janeiro de 2019




Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
Ou melhor, o meu lado sou eu
...
ANDO DEVAGAR
PORQUE NÃO TENHO PRESSA







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Acho que foi Marcos Valle
quem falou, lá pelos anos 70:
"Não confie em ninguém
com mais de trinta anos". 
Hoje, eu diria: "Não confie em ninguém que nasceu depois
da morte do Ayrton Senna".
Paulo Motta










UM FARTÃO DE PAULO MOTTA!!





Paulo Motta, o verdadeiro Mito, nasceu em São Borja-RS, em em 25 de maio de 1962. É filho da Norma, que continua vivendo em São Borja.
Trabalhou pouco mais de três décadas na RBS e saiu antes de completar o tempo para se aposentar.
Passou boa parte de sua vida em Porto Alegre e Caxias do Sul.
Jornalista. Como poucos sabe tudo de jornal.
Dois livros publicados.
Contador de histórias como poucos.
É admirado por centenas de mulheres.
E ele admira um homem: Lobo, seu filho.
O outro Mito copia tudo do Paulo Motta.
Até a bolsa de colostomia está usando.







RESISTÊNCIA 

Queridos paroquianos e paroquianas, o Bolsonaro está governando o país há poucos dias e esculhambou tudo! 
Não existe mais Justiça do Trabalho, os trabalhadores perderam seus privilégios, a imprensa foi amordaçada, o Brasil está entregue aos japoneses, canadenses e,principalmente, ao Grande Satã norte-americano que esmaga os países da América Latina! 
Vamos resistir, ainda temos tempo de nos unir numa grande corrente contra tudo isso que aí está! 
Proteste, grite, aprenda a fazer coquetel molotov e jogue no lixo esses símbolos imperialistas burgueses que a sociedade capitalista opressora te enfiou goela abaixo tipo IPhone, Instagram, feicebuque, celulares, computadores, automóveis e outras tranqueiras típicas do imperialismo ianque. 
E pior: Bolsonaro indicou a própria esposa para ser a Primeira Dama, num ato do mais puro e abjeto nepotismo!
Até quando suportaremos isso?
Vamos à luta, somos bravos, aguerridos e fortes! 
Viva PolPot, Viva Ho Chi Min! Fora Geisel!


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COUSAS

Juro pra vocês que não costumo falar de política aqui no feice mas, de vez em quando, posto minha opinião. 
Fascista, nazista e golpista são cousas que ouço muito. 
Nessa briga de bugios, lembro da aventura de um capataz da Fazenda Santa Rita, Conde de Porto Alegre, distrito de São Borja, o Bento Nicolau. 
Sabe-se lá Deus, o patrão dele inscreveu o Bento num curso de gerência situacional, nem me perguntem, tá? 
No primeiro dia, a primeira turma reunida num hotel grã-fino, Bento Nicolau sentindo-se pouco à vontade, de lenço, bombacha e botas lustradas, acende um cigarro e, logo, um engomadinho falou, apontando pruma placa grudada na parede: 
- O senhor não viu a placa? Por favor não fume! 
- Mas eu não faço favor pra ninguém, lasquiado!
Começa a reunião, um grupo de dinâmica de quatro pessoas, incluindo o Bento Nicolau, três homens e uma mulher, com uma psicóloga coordenando. 
A psicóloga pergunta pro primeiro homem: 
- Diga seu nome, do que gosta e o que faz.
- Meu nome é Rogério, adoro música brasileira, sou engenheiro. 
O segundo homem:
- Meu nome é Artur, gosto de motociclismo, música clássica, sou médico. 
Na vez dela, a mulher fala: 
- Meu nome é Paula, gosto de mulher, acordo pensando em mulher, amo seios e coxas de mulher, sou lésbica! 
Na vez dele, Bento Nicolau saiu-se com essa pérola: 
- Meu nome é Bento Nicolau, cheguei aqui pensando que era um peão domador, mas agora descobri que sou lésbica!
Moral da história: tudo é relativo, nada é absoluto!
Um beijo no pulmão encardido de todos e todas.


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FITINHA

Olha, tenho algumas restrições quando abro algum pacote de bolachinhas, drops tipo halls ou coisa parecida.
Nem sei se ainda se chama drops; na minha época - coisas medievais - , chamava-se assim e a gente abria arrancando a parte que dava. 
Tempos das balas Soft e da Pastelina, que existe até hoje - a Pastelina - e a fábrica fica na Comendador Coruja, Portalegre, creiam, cães infiéis!
Hoje, todos esses pacotinhos vem com uma fitinha vermelha indicando onde tu deve abrir, pequeno estúpido morto de fome. 
Devo ser muito estúpido, pois ainda não consegui achar o truque da fitinha vermelha, juro! 
Estraçalho o pequeno pacote e, depois, vejo o raio da fitinha vermelha no que restou do que quer que fosse.
Talvez Estela Kerchener, minha delicada professora, me oriente sobre essas minhas ogricidades, coisas de ogro que só ela, a Estela, poderá me corrigir.
Beijão no pâncreas dos meus amiguinhos e amiguinhas!


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CIDADE BAIXA

Dia desses, eu enchia a minha carinha ali na República quase com a Lima e Silva tipo uma e meia da manhã, na santa paz do Senhor e uma menina aproximou-se da minha mesa, de mãos dadas com um unicórnio azulado, cheia de pregos na cara e perguntou: 
- Ô, tio, consegue um dos teu?
- Um dos meu? 
- Isso.
Entendi quando ela apontou seu dedo com unhas multicoloridas pra minha carteira de cigarros.
Aaaah, claro.
Ela e o unicórnio me levaram dois 'dos meu' e resolvi me recolher aos meus borzeguins, afinal de contas, lugar dos tios de cabeça branca a essas horas é na cama, tomando um chazinho de camomila. Ou cogumelos, depende do tio, hein?
Aliás, a menina com os pregos e piercings na cara, aposto que não passa numa porta de banco!
Cuidado, Paulo Motta, do jeito que vai a cousa essa doidinha poderá ser a presidenta da república ou uma deputada federal, não é?
Beijo carinhoso e afetuoso no intestino de vocês, queridos bandalhos!


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SUCURI

Junto com a capacidade de ler, assimilar e entender o que se lê, ganhamos a capacidade da interpretação.
E exercemos essa capacidade de acordo com nossas conveniências, o que não invalida o conteúdo mas macula a essência do que o autor quis dizer na obra. 
Nunca li Antonio Gramsci, Marx, Trotsky ou Santo Tomás de Aquino, pra minha cabeça seria uma ode à chatice cósmica galáctica. Já tentei, juro pra vocês. 
Aquela dupla sertaneja Nemli e Nemleriei, saca?
Tive uma semi-namorada quase sem uso, que fazia Artes Dramáticas na UFRGS, e intelectualizava no Libelu e eu, para entrar no clima comecei a ler As Confissões, de Jean-Jacques Rosseau.
Uma leitura pesada - o livro terminou como peso pra porta não bater - que só me agradou enquanto a moça gravitou no meu JK da Duque de Caxias. Não engravidou, gravitou, certo?
Talvez se eu tivesse lido qualquer um desses caras que citei, minha vida tivesse tomado outro rumo, quem sabe? 
Pelo que vi, rapidamente, todos são muito sérios, muito sisudos e eu já chegara à conclusão de que vim ao mundo pra me divertir e não pra salvá-lo. 
Talvez pudesse subverter alguns argumentos desses escritores e usá-los em meu benefício, quem sabe?
Sei não, mesmo sem lê-los já inventava coisas em rodadas de cervejas do tipo: "Como diria Gramsci: o proletariado deverá ser conduzido acima dos interesses do Estado enquanto estado!".
Nunca alguém retrucou ou me chamou de farsante - e não foi por elegância - sinal que ninguém entendeu nada e nem iria procurar em obras de Gramsci se eu estava mentindo ou não. Acho que eu seria um bom político.
Considerando que o ser humano se mata alegando que o sacrifício da pilha de mortos na porta da sala é dele e para ele mesmo, achei melhor ficar longe da equipe que está aqui para nos salvar.
Nunca consegui dar sentido a isso, extrapola o meu escasso entendimento do habitat no qual estou inserido. 
Melhor ficar restrito a esse escasso entendimento: trabalho, pagar contas, bar, uma menina bonitinha, bar, trabalho, não pagar alguma conta, um Jack Daniel's sem culpa e dar risada, afinal de contas, alguém tem quê, não é? 
Em seguida retornarei; minha prima Neca, de Pitibiriba, me prometeu um novo bichinho de estimação: um filhotinho de sucuri, um amor.
Em Pitibiriba tem muita sucuri e ela vai trazer pessoalmente, aguardem!
Vou ver minha novela das dez, a Chisputa, até já!
Desculpem, Chispita.


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SANIDADE

Éramos loucos naqueles anos 80 que começavam no domingo e nunca mais terminaram, em Porto Alegre.
Acordávamos ao som do Hotel Califórnia e do The HouseOf The Rising Sun, amontoados num apartamento quarto-sala no centro de Porto Alegre, com alguma menina vestida com aquela minha camiseta que eu nem sabia onde estava. Elas descobrem. 
Uns cinzeiros entupidos de cigarros e pontas e nós ali, esperando o mundo acordar. 
Maria do Socorro, a Mary Help, limpava o apartamento antes de ir embora, embora ela nunca tenha ido embora da minha vida, fugida do Circo Roskov, onde era engolidora de fogo e, eventualmente, espadas. 
Nos conhecemos num boteco da Fernando Machado e os grandes negros olhos dela me contaram que fugia do namorado palhaço que descobriu seu - dela - caso com o homem-bala. 
Mary Help me encantou durante um tempo depois sumiu. Mas ficou no meu coração e seu cheiro eternizou-se na minha camiseta que perdi. 
Assim como perdi muita coisa nesse caminho doido que percorro, desde anos 80. 
Espero que ela tenha deixado de engolir fogo. Espadas, não sei!
Beijinhos e abracinhos.


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VIAGENS

Quando trabalhava em Caxias, nas sextas feiras vinha de ônibus pra Porto Alegre e, de tanto frequentar a rodoviária, já conhecia seus personagens das sextas naquele horário. 
Sentado, esperando o embarque, observava a menina com o namorado que estudavam na UCS - Universidade de Caxias do Sul - e iam pra São Sebastião do Caí. 
Conhecia a professora que, cheia de pastas, pegava o mesmo ônibus e eu conhecia os funcionários, serventes, pessoal da limpeza; conhecia todos. Mas uma figura, particularmente, chamava mais a minha atenção: era um baixinho, carregador de malas, num jaleco azul escuro que era a cara do Ron Jeremy, um ator pornô das antigas. 
Cabelo grande e bigode, um tipo que passa despercebido em qualquer lugar. Numa daquelas noites aconteceu uma coisa diferente.
Percebi que uma mulher pequena, puxando duas crianças, atravessava a pista dos ônibus e se dirigia à plataforma de passageiros onde os esperava o Ron Jeremy. 
Eles se abraçaram tão alegremente e as crianças - um casal com pouca diferença de idade - se agarravam ao pai numa festa que valia a pena assistir. 
Em seguida se dirigiram a uma lanchonete, todos agarrados, e sentaram pra comer alguma coisa.
Sozinho, ali parado, pensei: será isso a felicidade? 
Comecei a imaginar a casinha deles, o aconchego do jantar simples e o movimento da esposa arrumando as roupas dos filhos pra escola, no outro dia.
Não precisava ninguém dizer que havia muito afeto naquela família de pequenos. 
Não havia carrões anabolizados ou celulares pirotécnicos, apenas muito carinho e uma cumplicidade entre os quatro, de fazer inveja a qualquer mortal com um pouco de sensibilidade. Certamente nenhum deles fez curso com o Shiniashiky ou aprenderam a fórmula do amor em cursos-relâmpago.
Sinceramente, quando alguém me perguntou e certamente, no futuro, perguntará: tu me ama? Não sei. Pode ser. 
Pode ser que te ame até o dia em que o meu futebol do sábado, que me acompanhavas, passe a ser um motivo de discussão. Que eu precise pedir um abraço quando chegar em casa de saco cheio do mundo. 
Pode ser que, o que chamávamos de amor, não resista ao desemprego. Pode ser, ainda, que amor seja apenas tolerância até um determinado limite, onde cada um tem o seu próprio limite. 
Pra mim, o amor foi pro beleléu quando o abraço, o beijo e aquela frase tão boa de ouvir "senta aqui, me conta o que tu fez hoje!", viram protocolo, uma coisa plástica. Sem contar o brilho dos olhos que não brilham mais. 
Pois é, senhores ouvintes, o bicho humano é complicadinho! 

Boa noite que amanhã tem missa, sacripantinhos e sacripantinhas!


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