Sexta, 6 de setembro de 2019




Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
Ou melhor, o meu lado sou eu
...
ANDO DEVAGAR
PORQUE NÃO TENHO PRESSA





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especial

Nesta sexta, uma cesta
de Agnaldo Silva!

 Dramaturgo, escritor, roteirista, jornalista, cineasta e autor de novelas.


Aguinaldo Ferreira da Silva  nasceu em Carpina (PE), em 7 de junho de 1943. É dramaturgo, escritor, roteirista, jornalista, cineasta e autor de novelas.
É o único dramaturgo da Globo que só escreveu novelas de horário nobre. É ainda o único autor de novelas do mundo que possui dois prêmios Emmy Internacional - o primeiro conquistado pela supervisão da telenovela portuguesa Laços de Sangue; e o segundo, pela autoria de Império. Aguinaldo Silva escreveu as novelas de maior audiência da década de 1980, Roque Santeiro, da década de 2000, Senhora do Destino, e da década de 2010, Fina Estampa
Acreditem:Aguinaldo já afirmou em entrevistas que nunca havia pensado em ser autor de novelas.
Livros:
1960 - Redenção para Job
1965 - Cristo partido ao meio
1968 - Canção de Sangue
1972 - Geografia do Ventre
1975 - Primeira carta aos andróginos
1977 - O crime antes da festa: a história de Ângela Diniz e seus amigos
1979 - República dos Assassinos
1983 - A História de Lili Carabina
1984 - Inimigo Público
1992 - Lábios que beijei
2005 - O homem que comprou o Rio
2005 - Prendam Giovanni Improtta
2006 - 98 tiros de audiência
2009 - Deu no Blogão
2016 - Turno da Noite - Memórias de Um Ex Repórter de Polícia



Meu melhor companheiro




Adoro gatos.

Sou fascinado por eles. Mas, atenção: quando escrevo “gatos”, quero dizer gatos mesmo. Hesito em chamá-los de “animais”, de tão inteligentes e cheios de personalidades que são, por isso aqui os chamarei de felinos. O primeiro atendia pelo mimoso nome de… Mimoso. E chegou na minha casa, em Carpina, quando eu tinha sete mimosos anos. Ficou conosco quatro anos, quando eu e minha família tivemos que nos mudar para o Recife. Mimoso não quis ir e sumiu misteriosamente na manhã em que seria feita a mudança. Anos depois uma suspeita me acometeu e me acompanha até hoje: teriam os meus pais se livrado dele? É possível. Não mudávamos apenas de cidade, mas de uma casa com quintal para um apartamento pequeno. Talvez eles achassem que, naquele ambiente pequeno, o gato seria um estorvo. Senti falta de Mimoso durante muitos anos, mas nunca tive dúvidas que, mesmo longe de mim, ele encontrou seu caminho e se deu bem… Como acontece sempre com os gatos.

O segundo gato me veio em 1976. quando eu já estava no Rio, mas ainda morava em Santa Teresa e era jornalista especializado em assuntos policiais. Veio desta minha especialização o nome que lhe dei: Lúcio Flávio, em homenagem a um dos bandidos mais famosos da época, Lúcio Flávio Vilar Lírio, cuja história virou livro (“O Passageiro da Agonia”, de José Louzeiro) e filme dirigido por Hector Babenco. Ao contrário do seu homônimo, que morreu cedo, o meu gato Lúcio Flávio teve uma vida longa. Morreu aos dezoito anos, o que, na idade humana, daria uns 75. Não acompanhei seus últimos dias, já que me separei do meu companheiro de então e, quando saí de casa, só me foi permitido levar as roupas e mais nada… E este nada incluiu o gato.

Eu já estava casado de novo quando, em 1994, fui presenteado com o terceiro gato. Dei-lhe o nome de Jorge Tadeu, por causa da personagem vivido pelo ator/cantor Fábio Júnior e que, na minha novela “Pedra Sobre Pedra” tornou-se objeto do prazer nacional. Posso dizer sem medo de errar, depois de três casamentos e muitos namoros, que o gato Jorge Tadeu foi meu grande companheiro, presença constante, muda e discreta em todos os cômodos das minhas casas, incluindo meus ambientes de trabalho. Como estou sempre em casa, que é o lugar onde vivo e também meu escritório, ficávamos juntos praticamente todo o tempo, e assim ele acabou por adquirir meus hábitos. Se eu dormia ele dormia, se eu comia ele comia… E até a siesta que sempre faço, entre 13h e 15h, ele fazia comigo.

Deste Jorge Tadeu eu acompanhei toda a agonia.  Ele morreu de câncer aos 14 anos. Chegou a ser operado e estava se recuperando da operação, mas acabou por morrer dormindo. Nunca esquecerei da última vez em que o vi ainda vivo. Ele estava, ainda meio grogue da anestesia, na clínica veterinária onde foi operado. E quando eu entrei lá e ele me viu soltou um miado que para mim teve vários significados: alegria, tristeza, dor, saudade, despedida… E amor incondicional e infinito.

É dele que me lembro, agora, sempre que estou escrevendo uma cena do gato “León” em minha próxima novela. Um gato tão mágico que é capaz de fugir da remota cidade onde vive com seu dono solitário e, apenas uma hora depois, aparecer em plena Avenida Paulista, em São Paulo, que fica distante de lá 400 quilômetros.

Depois que Jorge Tadeu morreu decidi que, por causa da minha idade avançada, não teria mais nenhum gato. Eles precisam de dedicação, carinho e muito amor, e eu não ousaria me doar a uma criatura que poderia me perder no meio do nosso caminho. Em vez de substituí-lo, preferi guardar para sempre a memória dos nossos dias juntos. Até hoje, na mesa de cabeceira do meu quarto, a única foto lá exposta é esta segunda na sequência que publiquei aí em cima, tirada na noite de Natal de 2001, na qual ele aparece comigo Depois que ele se foi mandei cremá-lo e guardoei suas cinzas.  Alguém dirá que isso é mórbido, porém, quando chegar a minha vez de ser cremado, já determinei através de documento reconhecido em cartório: quero que as cinzas de Jorge Tadeu estejam comigo.




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Adeus, irmão


Meu irmão Agápito Ferreira da Silva estava com 87 anos e teve uma vida plena. Casou, teve três filhos, netos... E combateu o bom combate, pois trabalhou até ser vencido pela doença. Dele guardo muitas e sempre boas lembranças, mas quero falar apenas de uma delas - de um sábado, aí pelos anos 50, em que ele me levou para ver um filme do diretor inglês Carol Reed chamado "O Ídolo Caído". Eu, como o protagonista do filme, era apenas uma criança. E meu irmão nunca soube o quanto ver aquele filme influenciou a minha futura vida.

Sempre comento, em tom de brincadeira, mas a sério, que já estou na fila dos que caminham em direção à porta sobre a qual está escrita a palavra SAÍDA. Afinal, já fiz 76 anos e isso é mais que uma vida. Mas a verdade é que nestas fila estamos todos, independente da idade que tivermos. Pois morrer é a única coisa que não podemos mudar no nosso destino.



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Para lembrar Odile

Texto de 1973. Publicado no Opinião

Odile faleceu em 2018, aos 81 anos


O processo de “nacionalização” de Odile Leonic Josephe Berard Rodin, então Rubirosa, hoje Marinho, começou há três anos atrás, quando o colunista social lbrahim Sued, em uma de suas chamadas “bombas”, pôs com relevo um detalhe anatômico daquela senhora: é que ela, apesar de loura, tinha um autêntico derrière de mulata.

O fato seria reafirmado pela própria Odile, dias depois, em entrevista ao lbrahim. E a Escola de Samba da Portela, atenta a esse tipo de coisas, não hesitou em chamar a moça, então em férias no Brasil, para exibir aquele detalhe, ao lado de mulatas autênticas, em plena avenida.

A partir daí. Odile, um desses prodígios do chamado jet set internacional, que, sem fortuna ou tradição, conseguem sempre se manter na lista dos colunáveis, inaugurava uma nova etapa dos seus muitos e bem vividos anos (38, diz ela, modestamente): a de “cidadã carioca”, agora oficialmente reconhecida pela Assembleia Legislativa da Guanabara.

A escalada em direção ao título levou-a inclusive ao casamento com um jovem carioca (a viúva de Porfírio Rubirosa compareceu à igreja toda de branco, comme il faut), Paulo Marinho, 24 anos, mais conhecido como Coelho, apelido para o qual seus amigos e inimigos têm muitas explicações, todas impublicáveis. O casal ex-Rubirosa-Marinho em poucos meses tornou-se tão popular quanto um outro (infelizmente já desfeito) lídimo representante do beautiful people: Silvia Amélia-Paulo Fernando Marcondes Ferraz.

E como tal ganhou destaque permanente nos zózimos e ibrahins e (ela principalmente) teve de resistir à tentação de aparecer como jurado na tevê. Não pôde, no entanto, escapar de outras obrigações típicas de um casal da sociedade, como compor a caravana que o governo do Piauí formou para mostrar suas atrações turísticas na esperança de que a dita caravana, depois, fizesse propaganda do Estado (Odile ganhou um terreno lá, e ao voltar ao Rio queixou-se em poucas linhas da voracidade dos mosquitos piauienses).



Tudo isso para a consagração definitiva: sexta-feira à noite, em seu apartamento da Lagoa, Odile Rubirosa Marinho recebeu das mãos do deputado Sant’Anna Filho o título de Cidadã Carioca, aprovado por unanimidade pela Assembleia Legislativa, que considerou relevante a propaganda em favor do Brasil feita no exterior pela homenageada.

A cerimônia foi simples. A ela compareceram apenas três casais, e tudo aconteceu às 18h. Paulo Coelho pelo telefone explicou a um repórter por que de ele e sua senhora tinham se recusado a receber o título na Assembleia Legislativa: “É que eles marcaram para as 18h e você há de convir que essa é uma hora muito incômoda para alguém ir ao Centro da cidade”.

Uma desculpa aparentemente pedante mas que, na verdade encobria uma razão mais sutil. Odile acostumada a outras municipalidades igualmente famosas porem menos eufóricas, como Crans-sur-Sierre. Megéve e Saint Tropez, não gostaria de, nesta época de campanha eleitoral, ver seu nome tropicalisticamente ligado ao de um deputado ou de um partido: afinal de contas, embora cidadã carioca, ainda não possui título de eleitor.




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A data me passou em brancas nuvens.
Mas no dia 06/11 fez 49 anos que amanheci preso numa cela na Ilha das Flores. Fiquei lá 70 dias, 40 dos quais incomunicável. Nunca pedi indenização ao Estado por isso, nem pretendo. Não é justo que o povo pague por minhas convicções políticas.


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