Bom Dia!! Quarta, 17 de outubro de 2012

BREGA É A MÃE!!
AH, VAI CHUPAR UM CARPIM SUJO!!

Caetano e Fernando Mendes

Antes de tratar de breguices, tenho certeza de que serei contestado, mas vou levar a sério, mesmo, quatro amigos que entendem muito de música e gostaria de ter as devidas opiniões/críticas: Laís Legg, Nilton Fernando, Machado Filho e Rogério Mendelski. Tem também o Jimi Joe, o Gilmar Etelvein, por exemplo, que sabem tudo de música, mas acho que não são leitores do previdi.com.br.
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Mesmo tendo feito alguns semestres de Filosofia da Arte, na Filô da Ufrgs, aulas complicadíssimas, sempre parti de um princípio: gosto ou não gosto. Simples? Claro que é, mas não fico me angustiando com premissas e outros babados. Essa música eu gosto muito; essa pintura é muito legal; tal filme é um dos melhores que assisti. Simples, mesmo. E não perco meu tempo em discussões desse tipo ou em ler críticos que insistem em debochar, por exemplo, de pessoas consagradas.
Só não suporto, mesmo, quando ouço alguém dizendo assim: "Ah, isso é brega!!".
Putz, me dói no ouvido!! Dá vontade de pular na jugular do infeliz!!
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Um caso interessante é a Ivete Sangalo.
Não gosto de nada do que canta, jamais pagaria para ver um show da moça. Ao mesmo tempo, quando assisto a uma entrevista dela, penso assim: "Pô, uma mulher tão legal não pode gostar daquelas bobagens que canta, aquelas músicas baianas". E, acreditem, ela tem uma voz maravilhosa. Sei disso, porque há alguns anos estava em uma C&A da vida e rodava um vídeo da Sangalo, cantando uma música decente, e fiquei parado, babando, a sua performance.
Mas ela ganha fortunas cantando aquelas coisas e que seja feliz. Eu não gosto. Ponto.
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Há uns dias consegui ver um capítulo da novela Gabriela - sim, porque não consigo decorar os dias em que vai ao ar. Lá pelas tantas, tocava uma música lindíssima. Identifiquei de cara que era o Caetano Veloso. A música já tinha ouvido, há um bom tempo, mas não estava nos meus "arquivos". Gravei uma frase para conferir no Google: "Agora, o que faço eu na vida sem você".
Fui direto saber do que se tratava. 
Nas duas primeiras páginas do Google fiquei sabendo que era a música "Você não me ensinou a te esquecer". Em TODOS os sites, o autor: "de Caetano Veloso".
Fui adiante.
Caetano gravou a lindíssima música em 2003. Pensei: "Finalmente, uma música decente produzida no século 21!!".
Pois bem, no You Tube fiquei sabendo que a música não era do baiano. E sim de Fernando Mendes, José Wilson e Lucas.
Fernando Mendes? Esse eu me lembro!! É o cara que fez uma música tristíssima, "brega", "Cadeira de Rodas", um tremendo sucesso popular no século passado.
Aí tive uma decepção.
"Você não me ensinou a te esquecer" foi composta em 1979. Isso, no século passado.
Só foi reconhecida como uma canção maravilhosa depois que Caetano gravou.
Tanto que foi prêmio da ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos), Prêmio Villa-Lobos como o disco mais vendido, e tema do filme Lisbela e o Prisioneiro, de Guel Arraes. E, acreditem, a canção foi indicada para Grammy Latino 2004.
A MÚSICA DO BREGA FERNANDO MENDES, NESTE SÉCULO, VIROU CHIQUE!!
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Em uma matéria de O Globo de 29 de junho de 2003 são lembrados alguns "resgates" de Caetano.
Leia:
- VICENTE CELESTINO: Em "Tropicália ou Panis et circensers", disco - manifesto do tropicalismo, Caetano pega o que até então era considerado o supra-sumo da cafonice nacional, o operístico e folhetinesco Vicente Celestino, e grava "Coração materno", a triste história de um camponês, sua mulher e sua mãe.
- ROBERTO CARLOS: Quando o rei era apenas um cantor de iê-iê-iê, Maria Bethânia deu o toque a Caetano: Roberto era mais interessante que a maior parte da MPB que tirava onda por ali. Caetano acreditou e passou a vida a defender, gravar e fazer canções para Roberto Carlos. Em "Muito romântico" define: "Tudo que eu quero é um acorde perfeito, maior/Com todo mundo podendo brilhar, num cântico".
- ODAIR JOSÉ: Em 1973, num show no Maracânazinho, Caetano arranca apupos da platéia ao dividir o palco com Odair José e seu hit brega-político "Pare de tomar a pílula".
- PENINHA: Ao gravar "Sonhos", no início dos anos 80, revelou as canções românticas de Peninha ao público culto. Ao gravar "Sozinho" no disco "Prendas minha", a canção popular de Peninha puxou suas vendas para o patamar inédito de um milhão de cópias.
- TAPINHA: Novas vaias no palco ao se ouvir Caetano cantar o hit sadomasoquista do funk carioca "tapinha", cujo refrão é acoplado à chique "Dom de iludir", gravada em "Noites do norte ao vivo". 
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Antes de encerrar, dá uma olhada no Fernando Mendes, moderninho (deve também estar beirando os 70 anos, não?), cantando o sucesso:


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Confira a letra:
Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços,
É verdade eu não minto,
E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro
Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde
Nunca mais perdê-la
 
Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
 
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou e me atirou
E me deixou aqui sozinho 
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Volto ao assunto.

2 comentários:

  1. A música do Fernando, que já havia entrado no filme Lisbela e o prisioneiro na voz do Caetano, é mais um efeito da legitimação de uma canção por um medalhão da música popular. Quando cantada pelo próprio Mendes era como 'Sonhos' cantada pelo Peninha ou 'É o amor' cantada por Zezé di Camargo e Luciano. "Que faço eu da vida..." é bonita e até decente, mas não a supravalorizemos. Quanto à Ivete, minha sensação é a oposta: quando a escuto cantando coisas da bossa nova ou um samba-canção antigo, parece que ela imprime à música o mesmo mal gosto de quando canta "Quer andar de carro velho...". Uma coisa forçada, pasteurizada, parece que é sério, mas parece que ela nem sabe o que está cantando. As inflexões que coloca nas sílabas são desgostosas. Talvez sinta isso porque o que importa, nesse caso, é a música e não a imagem e o show que há por trás.

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  2. Belo texto. Concordo com tudo e conseguiste expressar meu mesmo pensamento em relação a Ivete Sangalo.

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