Sexta, 14 de abril de 2023

 

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DE SER IGUAL AOS OUTROS




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FORA DILMO!!



especial

Nesta sexta, uma cesta
de 
Cornel west!  


Defendo o socialismo democrático,
para um futuro comum de justiça e igualdade para novas gerações. 

Eu posso não ser um otimista,
mas sou um prisioneiro da esperança.



O objetivo básico de minha vida: falar a verdade aos poderosos, com amor, para que a qualidade da vida cotidiana das pessoas comuns seja melhorada e a supremacia dos brancos se veja destituída de sua autoridade e legitimidade.


Cornel West

Cornel  nasceu em Tulsa, uma cidade do Estado de Oklahoma (EUA), em 2 de junho de 1953. É um famoso palestrante, formado em Harvard. É filósofo, escritor, ator, crítico, ativista dos direitos humanos e membro dos Socialistas Democráticos da América. Professor em Princeton. Sua obra caracteriza-se pelo estudo da raça, gênero e classe na sociedade norte-americana.

Está casado com Annahita Mahdavi desde 2021. Esteve casado com Leslie Kotkin (de 2015 a 2018), Ramona Santiago (de 1981 a 1986). Filhos: Dilan Zeytun West e Clifton West.


Escreveu Tulio Augusto Custódio:
Ele nasceu 32 anos após o massacre lá ocorrido, evento que marcou a grande investida sangrenta da supremacia branca nos EUA contra a prosperidade do povo negro. Hoje pode-se dizer seguramente que é um dos intelectuais mais destacados de sua geração. Combativo, preocupado em conectar seu exercício crítico e teórico com intervenção pública enquanto pensador profético e filósofo, West nos brinda constantemente com reflexões estimulantes e um olhar aguçado sobre a crise social no capitalismo tardio. 
Herdeiro do que ele mesmo, em seu livro Black Prophetic Fire (de 2016), denominou “a tradição profética de lideranças negras” – encarnada por figuras históricas como Frederick Douglass, W.E.B Du Bois, Martin Luther King Jr., Ella Baker, Malcolm X and Ida B. Wells – West vem, desde os anos 1980, fornecendo uma elaboração política e filosófica que conjuga elementos do existencialismo e pragmatismo com uma crítica cultural baseada numa combinação peculiar de marxismo com cristianismo. 
É essa mistura de elementos que dá conta de temas como a corrosão de valores e laços das comunidades negras diante do niilismo negro, a niggerização da classe trabalhadora diante do neoliberalismo, a decadência das lideranças negras diante da visão esvaziada de representatividade e autenticidade racial, temas tão atuais nas discussões públicas, tanto nos EUA como por aqui. Sua visão singular criou obras seminais para tradição crítica como Race Matters (Questão de Raça, com reedição recém lançada pela Companhia das Letras), Democracy Matters e The Ethical Dimensions of Marxist Thought (tradução em preparação pela editora Figura de Linguagem) entre outros. Apesar de ainda ter poucos livros traduzidos no Brasil, suas falas tem circulado com cada vez mais frequência nas redes progressistas devido à atuação política pública e intervenções em protestos, projetando sua figura como um dos principais porta-vozes contemporâneos do socialismo democrático.
Sua aparição na CNN na época dos protestos massivos contra o racismo e a brutalidade policial em 2020, desencadeados pelo assassinato de George Floyd, viralizou nas redes e circulou o mundo todo, sendo legendado por aqui pela Jacobin Brasil. West fazia a denúncia da América como um “experimento social fracassado”, enfatizando que a “economia capitalista americana” se mostrou incapaz de “garantir que as pessoas possam viver vidas decentes”:
Mas agora temos de novo uma geração mais jovem, de todas as cores, gêneros e orientações sexuais. Nós não vamos mais aguentar calados. Mas você sabe o que é mais triste, no nível mais profundo? É que parece que o sistema não é capaz de se reformar. […] Então, quando falamos sobre as massas de pessoas negras, os negros pobres, a classe trabalhadora negra, os trabalhadores latinos, nativo-americanos, asiáticos, os trabalhadores de todas as cores: eles são os que foram deixados de fora, e se sentem tão profundamente impotentes, desamparados, desesperançados… É aí que as pessoas se revoltam. 
West se reivindica um “cristianismo revolucionário” – que vê o marxismo como “indispensável, mas insuficiente”. Em uma entrevista para a Religious Socialism, conta que seu processo de radicalização começou ao ler o jornal dos Panteras Negras, aos 16 anos. Conta que ler O Capital, de Marx, o fez ver que o dinheiro era o grande ídolo do nosso tempo. Admirava a coragem e a seriedade com a qual os Panteras se organizavam para lutar contra a miséria e o domínio do capital, mas que nunca conseguiu se filiar devido às suas convicções cristãs. Em uma entrevista para a Jacobin no ano passado, conta:

Quando comecei a crescer intelectualmente fui influenciado pela igreja – sempre me vi como um cristão revolucionário, no legado de Martin Luther King e Fannie Lou Hamer –  e trabalhei em estreita colaboração com o Partido dos Panteras Negras. Ali eu já tinha uma crítica do capitalismo, do império, da homofobia e do patriarcado, porque era sobre isso que debatíamos na sede dos Panteras Negras.
Eu ensinava no Programa de Café da Manhã dos Panteras Negras. Eu ensinava na Prisão de Norfolk, onde estava Malcolm X. Eu nunca estava nas festas porque era cristão e eles eram profundamente seculares. E isso foi bom. Eles tinham fortes críticas à Igreja, reconheço várias delas. Mas eu tinha meu próprio entendimento de Deus e Jesus e da luta e revolução. Ficamos muito próximos, mas não consegui entrar.

Cornel West, aliás, costuma enfrentar consideráveis reveses por ter uma postura comprometida com seus propósitos de crítica constante aos valores de mercado do capitalismo, à desigualdade e pauperização da classe trabalhadora. Sua postura inconformista e iconoclasta, alinhada com a luta intransigente por justiça econômica, tem rendido constantes ataques por parte establishment acadêmico, no qual nunca se encaixou inteiramente, e até de outras lideranças negras, especialmente após sua crítica veemente ao neoliberalismo progressista do período Obama, o que quase o colocou como persona non grata entre figuras eminentes da intelligentsia negra estadunidense. Mais recentemente, sua crítica à política de ocupação do Estado de Israel, e sua solidariedade à luta do povo palestino, foi provavelmente determinante na decisão da Universidade de Harvard de negar a ele a posição de professor estável (tenured).
West não acredita que é apenas com publicações que pode impactar o público com quem deseja dialogar – já lançou, por exemplo, dois álbuns musicais, para transmitir de maneira musical alguns conceitos e ideias críticas relevantes, além de ter participado em inúmeros documentários, e até em produções hollywodianas como Matrix.
West nos inspira com uma maneira de ser, exercer e compartilhar conhecimento com o mundo enquanto um pensador, um filósofo, um teólogo. Um ser político, que poucos possuem nos tempos de reconhecimento baseado em métricas e algoritmos. Cornel West é uma exemplo para o pensamento crítico que esteja comprometido com a transformação material, com o avanço das minorias oprimidas, com a consolidação do bem viver para as classes trabalhadoras, com um projeto coletivo pautado pela vida e pela justiça. Nas suas palavras, como sempre nos lembra: “nunca esqueça que justiça é como o Amor aparece publicamente”.


 Temos de reconhecer que não podem haver relações a menos que haja compromisso, amor, paciência e persistência.



HÁ 29 ANOS NA FOLHA DE S.PAULO

Cornel West busca uma 'ética do amor'

27 março 1994

Bernardo Carvalho


Cornel West, 41, é considerado hoje um fenômeno intelectual americano. Em parte, pelo que tenta combater em seu pequeno livro "Questão de Raça" ("Race Matters"), uma coletânea de artigos originalmente publicados em revistas e jornais, do periódico liberal judaico "Tikkun" ao "The New York Times".

West é um intelectual negro que não deixa de questionar alguns dos principais pilares do pensamento negro mais radical nos EUA, como o afrocentrismo. É uma estrela.

Sua imagem é facilmente vendável: um intelectual negro, moderado em questões sociais e raciais extremamente delicadas e que tem o aval de algumas das principais instituições legitimadoras do saber nos EUA – as universidades da Ivy League, onde é ostensivamente cultuado.

A fama de West, entretanto, não vem de seus trabalhos mais substanciosos, como "The American Evasion of Philosophy" (1989) e "The Ethical Dimensions of Marxist Thought" (1991), mas de sua imagem pública, das 150 palestras que profere anualmente e de suas declarações e artigos sobre a situação do racismo e dos negros hoje nos EUA.

Embora considerado um proeminente analista e crítico da sociedade americana por jornais e intelectuais de prestígio, West também tem seus críticos. O cientista político Adolph Reed, de Yale, acusa o filósofo de superficialidade, dizendo que seu trabalho tende a ter "mil milhas de frente e duas polegadas de profundidade".

"Questão de Raça" é um bom exemplo do que o próprio autor, neto de um pastor batista, define como um "pragmatismo profético" e que pode ser traduzido como uma teologia da libertação negra americana. Na verdade, West diz rejeitar os cacoetes do pensamento europeu –e sobretudo francês– transposto para os EUA, em nome de uma tradição autenticamente americana. "O objetivo básico de minha vida: falar a verdade aos poderosos, com amor, para que a qualidade da vida cotidiana das pessoas comuns seja melhorada e a supremacia dos brancos se veja destituída de sua autoridade e legitimidade", escreve o filósofo logo no prefácio.

Com a inclusão de "uma ética do amor" como antídoto ao niilismo a que foram reduzidas as comunidades negras pelo consumismo e a desigualdade racial nos EUA, West dá um toque evangélico ao elogio que faz do pragmatismo de Charles Sanders Peirce e Emerson, representantes da melhor tradição filosófica americana.

Sua ideia é produzir um pensamento que tenha uma origem social e consequências práticas.

No caso de "Questão de Raça", a preocupação recorrente é com a "ameaça niilista", essa "doença da alma" a que estão sujeitas as comunidades negras, algo que vai além dos problemas econômicos e sociais (que o filósofo de formação marxista também não ignora) e que diz respeito à perda de certos valores e instituições necessárias, segundo West, para a manutenção do amor-próprio entre os negros americanos (amor, família, solicitude etc.).

Com isso, o autor está tentando substituir o raciocínio de base racial (que lastreia grande parte da militância negra contra a supremacia branca) por um pensamento de base moral. Para West, o raciocínio de base racial, responsável pelos radicalismos integristas (afrocentrismo etc.), é uma armadilha que continua colocando os brancos

como uma referência, ainda que negativa, para a comunidade negra. O raciocínio de base moral permitiria compreender finalmente "a luta dos negros pela liberdade como uma questão não de pigmentação da pele (...), mas de princípios éticos e sabedoria política".

West está coberto de boas intenções e seus argumentos, embora em grande parte seguindo apenas o caminho do bom senso, acabam parecendo muito originais numa sociedade onde a reação das minorias contra as desigualdades vem criando nos últimos anos alguns absurdos e irracionalismos.

Sua visão ponderada de fatos recentes como os conflitos entre negros e judeus em Crown Heights (Nova York), a nomeação de Clarence Thomas para a Suprema Corte e as novas e débeis lideranças negras (Leonard Jeffries etc.) ou mesmo sua admiração com reservas em relação a Malcolm X fazem de West uma raridade. Uma voz sensata, que contrasta com a miopia da compreensão que os americanos (e boa parte da comunidade negra) costumam ter de si mesmos.

Isso não garante, porém, a originalidade e o brilho que vêm sendo atribuídos a esse pensamento.

O raciocínio de base moral que West pretende substituir ao raciocínio de base racial lhe permite, por exemplo, frases deste gênero: "Sempre que dois seres humanos encontram o genuíno prazer, satisfação e amor, as estrelas sorriem e o universo se enriquece". O que faz com que, em certas passagens, tenha-se saudade dos "cacoetes" do pensamento francês.



A  DEMISSÃO DE HARVARD

Cornel West, professor de Harvard, publicou em julho de 2021 um pedido de demissão, denunciando preconceito institucional, falta de diversidade e empatia por parte da universidade. O pedido foi anunciado publicamente através de uma carta bastante ressentida, publicada na conta oficial do professor no Twitter.

Além de Harvard, o filósofo lecionou anteriormente em universidades como Princeton, Yale e Columbia. Alguns de seus discursos e entrevistas sobre democracia e racismo se tornaram populares recentemente nas redes sociais.

Na carta, Cornel West afirma que em mais de uma ocasião a universidade assumiu condutas guiadas por preconceitos que “não tinham a ver com padrões acadêmicos”. O professor conta que “sabia que as realizações acadêmicas e o ensino dos alunos significavam muito menos do que preconceitos políticos”.

O primeiro caso citado na carta foi a alocação de todos os cursos ministradas por West na área de Estudos Religiosos Afro-americanos, incluindo disciplinas como “Existencialismo”, “Democracia Americana” e “A condução da vida”.

Ao longo da declaração, o professor ressalta a crítica em relação a “hostilidade da administração de Harvard à causa Palestina”. Em março deste ano, em entrevista ao jornal New York Times, Cornel West acusou a universidade de negar uma progressão de carreira devido à idade e seu apoio à causa Palestina, um “tabu”, em Harvard.

No fim da carta, West se mostra ressentido com a falta de consideração da instituição durante a morte da mãe do filósofo. “Este tipo de profissionalismo acadêmico narcisista, deferência covarde aos preconceitos anti-palestinos do governo de Harvard e indiferença à morte de minha mãe constituem uma falência intelectual e espiritual profunda”, explica. No fim da declaração, o professor afirma sair de Harvard “com memórias preciosas, mas absolutamente sem arrependimentos!

9 comentários:

  1. Alguém que diz defender um "socialismo democrático" não passa de um farsante.

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    1. Gostaria de ler tua justificativa para tal afirmação.

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    2. Pela simples razão de essa expressão ser um paradoxismo. Ou há socialismo ou há democracia.

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    3. Legal este debate, gurizada. O cômico americano do norte Grouxo Marx, genial, disse que 'inteligência militar' eram dois termos que se anulavam. Por favor, era uma piada.
      Democracia e Socialismo não são incompatíveis, vide o fato fato de haver democracia na Europa, ampla, e 80% dos regimes são claramente sociais democrata.
      O PT, por aqui, no governo se europeizou, engordou a cintura, abandonou o radicalismo original. O problema é que, diferente dos europeus, resolveram roubar a rodo estilo pobre que enriquece e se lambuza. Eu entendo que, no nosso regime vigente, se não houver cooptação do Legislativo não haverá governo, vigirá o caos. O Bolsonaro é testemunha, tentou governar com técnicos, sem políticos, sem cooptar ( verbas, gordas verbas) a imprensa e , todos sabemos, deu-se mal.
      Solução: parlamentarismo com sistema unicameral. Aí teremos um outro problema que temos que cuidar, pois nesse sistema de governo, parlamento e executivo são uno. O cuidado é que precisamos de um judiciário 'independente ao limite'. Hoje, seria impossível, pois 'nosso' ( nosso?) judiciário, leia-se STF, está absolutamente partidarizado. Seria uma pura ditadura. Abraços.

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    4. Apareceu mais um.

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  2. Coletivismo não comporta democracia.

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  3. Socialismo democrático? Que asneira é esta? Até parece o Raul Pont falando... Socialismo democrático é vigarice retórica.

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