JLPREVIDI@GMAIL.COM
NÃO LEVE A SÉRIO
QUEM NÃO SORRI!
GUERRA DO PARAGUAI
MITOS, VERDADES
- Caros amigos leitores, em relação à nossa História, sobre essa guerra, eu muito li, de várias fontes, e ficava cada vez mais confuso tamanho o ‘partidarismo’ existente. A ideologia do momento contaminou sobremaneira as análises dos cientistas sociais e historiadores. Ora era a Inglaterra que, inconformada com a independência econômica/política do Paraguai, fomentou uma guerra para a destruir (na linha do, ‘veias abertas da América Latina’); ora, era a arrogância e prepotência do império brasileiro; ora... Também temos argumentos vitimizando-nos, pois afinal quem não sabe que ‘o brasileiro é um homem cordial’.
Mitos, mitos, mitos!
Há alguns anos, caiu-me às mãos um relato em forma de livro que considero ótimo e ouso afirmar, isento:A Guerra do Paraguai, do jornalista e historiador Luiz Octávio de Lima. Esse carinha foi fundo, às fontes primárias. Além de perscrutar ao limite nossos arquivos, ele esteve em museus, arquivos históricos, jornais dos demais três países envolvidos. Leu centenas de documentos, entrevistou centenas de historiadores, de políticos, de aparentados com envolvidos, etc., etc. Mas a questão é (e continuará)polêmica. Queres arrumar uma briga no Paraguai? Basta falar mal do sacrossanto Solano López. Mas aqui, na Argentina e no Uruguai, não é diferente. No Brasil temos centenas de referências ao evento nas ruas, avenidas, logradouros, cidades, times de futebol, estádios esportivos, como, Riachuelo, Humaitá, Avaí, Maria Curupaiti, Voluntários da Pátria, Almirante Barroso, Almirante Tamandaré, Curuzu, e muitos outros.
Até podemos dizer que para os aliados – Brasil, Argentina, Uruguai – a memória dos eventos é um eco um tanto distante. Mas, para os paraguaios, não e nunca: lá é uma chaga purulenta que teima não curar.
Se considerarmos toda a América, só perdemos em termos de número de mortos para a Guerra Civil Americana, ocorrida pouco antes da nossa, e que vitimou mais de 600 mil soldados e civis. A nossa vitimou algo próximo de 150 mil, sendo desses, 80 mil paraguaios. O Brasil enviou um total de 140 mil soldados; não voltaram em torno de 50 mil. Dos argentinos, morreram aproximados 18 mil, e dos uruguaios pouco mais de três mil. Um dos mitos que não se sustenta é que 80% da população paraguaia foi dizimada. Bobagem. A população do Paraguai orçava 400 mil, ou um pouco menos. Se morreram entre soldados e civis 80 mil, isso dá 20% que é um valor mais próximo da realidade. De qualquer maneira é um número altíssimo, pois se a guerra ocorresse dentro do nosso território, 20% daria em torno de 2,2 milhões de brasileiros mortos!
Além da tragédia em termos de vidas humanas, o Paraguai ainda foi penalizado com a perda de 140 mil km² do seu território, um (equivalente) Amapá.
Essa mutilação, prevista no acordo entre os membros da Tríplice-Aliança, é uma das retaliações mais repugnantes da história latino-americana. O Paraguai já havia sido suficientemente punido por sua ação intempestiva e irracional. A ação revanchista dos vitoriosos muito ajudou na posterior ‘vitimização’ do Solano López, um bandido, assassino do seu próprio povo.
A Guerra em si, as batalhas, os avanços, os retrocessos, estão perfeitos e cronologicamente registrados nos livros escolares, não sendo necessário registrar aqui.
Vamos dar uma rápida olhada nos eventos adredes à guerra. Duas questões importam: 1) a questão do livre trânsito no Prata; 2) a questão uruguaia, sendo esse (minha opinião) o gatilho-mor.
Um ano antes do início do conflito, em 1863, Venâncio Flores (símile em termos de crueldade ao Solano López) com o apoio de brasileiros gaúchos (estancieiros), e de argentinos, invade o Uruguai para derrubar o governo de Bernardo Berro; os governantes do Uruguai vão ao Paraguai na tentativa de formalizar com Solano López uma aliança contra a Argentina e o Brsil; imediatamente, o Paraguai que, por sua vez, tinha interesse em formar uma grande nação junto com Uruguai, províncias de Entre Rios e Corrientes, o nosso Rio Grande e o Mato Grosso, alerta Brasil e Argentina sobre a ‘necessidade de equilíbrio de poder na região’.
Em 1864, o presidente do Uruguai renuncia e entrega o poder ao presidente do Senado; Brasil segue ameaçando intervir militarmente; em 10 de agosto tropas do Exército brasileiro invadem o Uruguai com o claro objetivo de colocar Flores no poder; em 12 de novembro, em retaliação, López manda apreender o vapor brasileiro Marquês de Olinda, no qual estava o presidente da província do Mato Grosso, Frederico Carneiro Campos, que é preso e morto. Com isso fecha o trânsito de navios pelo Prata, único acesso à capital da província, Cuiabá, num ato grave de guerra; em 12 de novembro, López declara guerra ao Brasil, e inicia a invasão do Mato Grosso.
(López II ao declarar guerra ao Império não seguiu os conselhos de López I, seu pai, que, em seu leito de morte reza-lhe, ‘Hay muchas cuestiones pendientes a ventilar-se, pero no trate de resolvelas com la espada sino com la pluma, principalmente com el Brasil’.)
A guerra iniciou com vantagem para os paraguaios, que tinham um exército já organizado, e com um total de 80 mil soldados, bem aparelhado em termos bélicos.
O Brasil se ajeita e logo os aliados tomam vantagem. Os livros dizem que a vitória veio com a ‘dezembrada’ de dezembro de 1868, na qual os paraguaios são derrotados e eliminados nas Batalhas de Itororó, Avaí, e Lomas, seguidas pela invasão de Assunção. Para mim, veio bem antes, em junho de 1865 com a devastadora derrota dos Paraguaios na Batalha Naval de Riachuelo, na qual a sua marinha é praticamente dizimada e advém um bloqueio naval. Claro que temos que considerar que depois houve uma vitória muito importante dos paraguaios em Curupaiti, mas não havia volta, a derrota final era questão de tempo.
E veio, finalmente, com a completa exaustão de uma nação, com aquilo que alguns escritores apodaram como ‘o mais cruel genocídio americano’, com a morte do tirano Solano em 1º de março de 1870, na região de Cerro Corá.
A idolatria que o povo paraguaio tem pela figura do tirano Solano López, ‘El Mariscal’, eu até entendo, mas é algo complicado. Sei que o mesmo ocorre na civilizada França em relação ao ‘bondoso’ Napoleão Bonaparte que, entre outros crimes, a pedido do Diretório, isso em 1796, metralha centenas de cidadãos franceses nas ruas de Paris que protestavam contra a tirania dessas ‘autoridades’.
López era o filho mais velho, e a ele estava destinada a sucessão ‘dinástica’ do seu pai, Carlos López.
Cuidem o absurdo: com apenas 18 anos, em 1844, seu pai o faz general de brigada. Quando já com 26 anos, em 1853, seu pai o envia à Europa para estudos, atualizações, e compras de material bélico. Lá ele encontra sua companheira, amante e depois esposa pra toda sua vida, a irlandesa Elisa Linch.
Próximo ao final da guerra, mandou matar inúmeros opositores acusados de traidores, entre eles seus cunhados e o seu irmão Benigno.
Sua própria mãe e seus demais irmãos escaparam ao fuzilamento à última hora, mas não do cruel castigo do bruto açoite. Sua mãe, por sua ordem, foi açoitada com o dorso de uma espada.
A bem da verdade, o nosso Conde D’Eu – que assumiu a chefia do Exército com a resignação do Duque de Caxias, à época, Marquês, no últimos 15 meses da guerra e o general Venâncio Flores, presidente do Uruguai posto no cargo pelos brasileiros, eram símiles em termos de crueldade com El Mariscal, ou talvez piores... não, piores ..., não, impossível!
Curiosidade, como moro em Taquari, não me furtarei de apontar dois registros que tem conexão com a cidade: López adquiriu na Inglaterra um vapor ao qual pôs o nome Tacuari; Lá no final da guerra há uma batalha próxima a um rio de nome Tebicuary, que é o nome antigo de Taquari e também do rio. Junto a este rio há uma cidade de mesmo nome, desde 2008, e hoje com 3.100 habitantes. Cidade coirmã de Taquari!!!!