Sexta, 2 de julho de 2024



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por um princípio moral; era, antes de mais nada,
expressão do ressentimento de
a censura ter sido feita por outros.


200 ANOS DA
colonização ALEMÃ
no brasil



TEXTO DE
JOÃO PAULO DA FONTOURA*





introdução

Para entendermos esse processo da história das massas migratórias da Europa para a América, vamos  nos fixar apenas a partir do início do 1º quarto do século 19, quando temos as duas primeiras levas de migrantes para o nosso Brasil – um grupo que vai para o Sul da Bahia e outro para a Nova Friburgo/ RJ. Esse pessoal que vai para Nova Friburgo entre 1819/20,  em torno de 1,6 mil, já era num esquema pensando numa futura formação de colônias militares, ideia que não vingou.

Em paralelo a essa migração, o major Schaeffer, alemão radicado aqui e major do exército brasileiro, em missão delegada pelo príncipe Dom Pedro e seu conselheiro-mor José Bonifácio, vai à Europa em busca de mercenários, objetivando reforçar as nossas fracas, ou quase inexistentes,  forças militares,  já prevendo as desavenças que poderiam acabar em guerra contra Portugal quando da iminente Independência Brasileira.

(Aqui, um parênteses para destacar dois personagens caros ao autor deste texto:
1) o oficial dragão Antônio Adolpho Schramm, filho de um oficial-médico de origem austríaca de nome João Adolpho Scharamm, casou-se com uma das filhas do oficial-dragão João Carneiro da Fontoura, gerando, por eufonia, a família Charão, muito forte aqui no Sul;
2) o soldado ‘brummer’ Konrad Friedrich Sudbrack, que veio com 1.800 colegas mercenários, da região de Westfalen, em 1851, para lutar nas guerras platinas ao lado do Império, e que por aqui ficou na região de Lajeado, deixando extensa descendência, entre ela a esposa do autor.)


As Guerras Napoleônicas derrubaram o secular Sacro Império Germânico, gerando, pelo Congresso de Viena de 1815, um novo modelo geopolítico da Europa, a Confederação Germânica (Deutscher Bund), uma coleção de mais de 200 unidades administrativas na forma de Cidades-Estado, Principados, Reinados, Ducados, Condados, etc., sendo o Reino da Prússia e o Império da Áustria os que preponderavam sobre os demais. Essa Confederação dura até 1866.

O que motivou a vinda desses colonos? Há vários motivos: o cansaço das pessoas com as intermitentes guerras intestinas (Guerra dos 7 anos, Guerras Napoleônicas, etc.) que destruíam vidas, propriedades e traziam miserabilidade aos aos sobreviventes (há registros de que 1/5 da população, principalmente mulheres, mendigavam pelas ruas); falta de terras, pois quem as tinha -  dois ou três hectares - eram privilegiados; intrigas e perseguições religiosas. Os motivos devem realmente ser muito fortes, pois uma viagem transoceânica nesses tempos era algo perigoso e mortal. O historiador professor Ricardo da Gama Rosa Costa apresenta em texto disponível na web um número absurdo de quase 20% dos 1.600 colonos embarcados para a colônia de Nova Friburgo, em 1818, como mortos durante a viagem!

Findando nossa introdução, o que hoje se entende por Alemanha só ocorre em 18 de janeiro de 1871, quando da fundação, a partir da Prússia, do Império Alemão, obra do chanceler de ferro Otto Von Bismarck.


25 de julho de 1824

Esta data marca os 200 anos do início (pra valer) da migração alemã em terras brasileiras, mais direcionada ao Sul do Brasil, e sob o patrocínio e coordenação do Império, coisa que foi até 1830, quando passaram para empreendimentos particulares.

Assim foram durante todo o século 19 e até meados do século 20, totalizando algo próximo a 250 mil migrantes, que hoje representam, por seus descendentes, algo próximo a pouco mais de cinco milhões de brasileiros com sobrenomes germânicos.


Ou por que as duas colônias que antecederam à sulina – Sul da Bahia e a Fluminense – tivessem fracassado, ou não tivessem o rótulo de ‘oficiais’, pois foram somente ‘autorizadas’, mas não patrocinadas, a data que ficou como símbolo da migração alemã no Brasil ‘pegou e permaneceu’ como  25 de julho de 1824.

O importante foi que o Império prometeu uma série de vantagens àqueles que se dispusessem a migrar. Não sabemos exatamente se cumpriram tudo o que prometeram, pois a regra pregressa foi prometer e nunca cumprir: passagem de navio à custa do governo; concessão gratuita de um lote de terra de 78 hectares; subsídio diário de um franco ou 160 réis a cada colono, no primeiro ano e metade no segundo, além de animais para o trabalho; a cidadania brasileira; suprimentos e isenção temporária de impostos e do serviço militar; liberdade religiosa.

Sobre os 78 hectares, eu sempre soube que eram 24.

Segundo o historiador e pesquisador leopoldense Telmo Lauro Muller, a relação dos primeiros 39 imigrantes que chegaram a São Leopoldo em 25 de julho de 1824, todos acomodados provisoriamente numa feitoria já existente (do Linho-Cânhamo) é seguinte:

Miguel Krämer e esposa Margarida; católicos;

João Frederico Höpper, esposa Anna Margarida, filhos Anna Maria, Christóvão e João Ludovico; evangélicos;

Paulo Hammel, esposa Maria Teresa, filhos Carlos e Antônio; católicos.;

João Henrique Otto Pfingst, esposa Catarina, filhos Carolina, Dorothea, Frederico, Catarina e Maria; evangélicos

João Christiano Rust (ou Bust), esposa Joana Margarida, filhas Joana e Luiza; evangélicos;

Henrique Timm, esposa Margarida Ana, filhos João Henrique, Ana Catarina, Catarina Margarida, Jorge e Jacob; evangélicos;

Augusto Timm, esposa Catarina, filhos Christóvão e João; evangélicos. Gaspar Henrique Bentzen, cuja esposa morreu na viagem; um parente, Frederico Gross e o filho João Henrique; evangélicos;

João Henrique Jaacks, esposa Catarina, filhos João Henrique e João Joaquim; evangélicos.


FINALIZANDO


Em nosso estado, até o fim do Império, foram criadas 80 colônias alemãs, a maioria na bacia do Rio Jacuí, chegando até a borda da Serra Gaúcha, algumas outras no Vale do Rio Taquari, e também no litoral Norte.

O avanço em certas regiões foi tão grande, que até mesmo o nome original de municípios foi mudado, como por exemplo, Corvo, fundado por descendentes de ilhéus açorianos originários desta ilha, que tristemente teve seu nome trocado para Colinas por decisão da maioria da população de origem alemã/westfaliana.

Com o advento da República, várias outras colônias importantes, como Ijuí foram criadas pelo governo. A maioria, contudo, surgiu da iniciativa de empresas particulares. Entre 1824 e 1922, 142 colônias alemãs foram criadas no Rio Grande do Sul. Entre 1824 e 1914, estima-se que um total de 50 mil alemães migrou para nosso estado.

Nos dias de hoje, estima-se que um terço dos gaúchos tem descendência alemã, grande parte deste percentual miscigenado com açorianos, italianos, negros, índios, polacos, árabes, judeus.

O Engenho e a Arte desse povo tão valoroso contribuiu tanto para o crescimento no nosso país, que parece a todos nós outros brasileiros que não são somente cinco milhões, é bem mais, muito mais!

Por fim, duas curiosidades:
1) muitos dos mercenários blummer que para cá vieram eram de origem da região Hessel-Kassel, conhecidos como hessenos. Na guerra da Independência Americana, 30 mil desses hessenos lutaram pelo lado dos Ingleses;
2) Quando as 13 colônias americanas, vitoriosas, estão discutindo em assembleia qual a língua oficial da nação que se formava, por apenas um voto o alemão perdeu para o inglês.

*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.

 


9 comentários:

  1. Bela homenagem. Parabéns ao Prévidi e ao J.P. da Fontoura.

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  2. Além de colega da nossa Alivat, Academia Literária do Vale do Taquari, esse competente historiador é meu grande amigo. Parabéns por teu trabalho.

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  3. Texto muito esclarecedor! Parabéns, João Paulo Fontoura, pela matéria!

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  4. Parabéns ao meu amigo virtual, João Paulo da Fontoura, por mais este excelente texto, resultado de seus frutíferos estudos.

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  5. Belo texto sr. João Paulo da Fontoura

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  6. Muito bom e lucido o texto doJoao Paulo. rOGERIO mENDELSKI

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  7. Puxa vida, feliz com os elogios dos amigos, todos, mas um destaque especial ao meu ídolo Rogério Mendelski, mesmo que escrito num conta que não é dele.
    Abraços!

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  8. Por razões que desconheço, este assunto trazido pelo João Paulo é muito pouco comentado. Mais um ponto para ele, que fez um trabalho elogiável, tanto em forma quanto em conteúdo. Parabéns!

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  9. Prezado Paulo: o elogio é meu de verdade. Gosto muito das tuas intervenções aqui no blog do Previdi. De novo: Rogério Mendelski

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