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A antiga luta contra a censura não era motivada
por um princípio moral; era, antes de mais nada,
expressão do ressentimento de
a censura ter sido feita por outros.
Origens dos
sobrenomes
- Todos nós tendemos a exagerar a importância dos nossos sobrenomes e muitos, pior ainda, a nos autocomiserar por tê-los como comuns, singulares, sem charme. Os sobrenomes, tanto os portugueses, quanto espanhóis, alemães, ingleses, franceses, todos têm basicamente uma mesma origem que denota, algures num passado distante, um defeito físico (manco, torto, vesgo), um apelido (alto, magro, branco, preto), uma profissão (sapateiro, ferreiro, padeiro), uma filiação (João, filho do Pedro), uma origem geográfica (da costa, acima do mar, perto do morro), etc.
A maneira que portugueses e espanhóis usam para grafar um patronímico é colocando um ‘s’ no final do nome do pai, para os portugueses, e um ‘z’ no caso dos espanhóis, ficando, por exemplo: Rodrigues (filho do Rodrigo, em português) e Rodriguez (em espanhol). Os ingleses acrescem um ‘son’, ficando John son of Eric – ou John Ericson. Os russos colocam um ‘ov’, ficando Ivanov (filho do Ivan). Vocês já devem ter notado que quando joga a seleção russa de futebol (ou outro esporte) é um festival de Ivanov, Karpov, Petrov, Antonov, etc.
Para aqueles que acham bonito um nome estrangeiro (e dê-lhe a dar nomes de Maicon, Robert, Joyce aos seus filhos) vou dar quatro exemplos de nomes ‘belos’ mas que, traduzidos, são tão singulares quanto os nossos Pereiras, Martins e Silvas da vida: Rothschild, Schwarzenegger, Schumacher e Oxford.
Vamos a eles:
Rothschild – os Rothschild pertencem a uma grande família que representa a nata da aristocracia bancária da Europa e do Mundo. É um nome que representa grandeza, fausto, riqueza; uma gigantesca auréola de sofisticação. Nada de Oliveira, Silveira! E de onde vem: mais simples impossível! O primeiro era um judeu de nome Isak, ourives, e que tinha, na frente do seu negócio, uma placa de madeira pintada de vermelho, identificando o seu nome. Logo, ficou conhecido pela população local como Isak Placa Vermelha, ou, em alemão, Isak Rothschild. Entre “placa Vermelha” e Oliveira, prefiro o segundo. Nada contra!
Schwarzenegger – a tradução literal desse belo nome germânico é, simplesmente, “negro preto”. Deve ser um nome comum por lá, pois, quando eu era criança, lá na minha querida São Leopoldo natal, vinham as alemoadas em carretas de bois trazendo artigos da colônia para vender, e a mim, que era e sou moreno, me chamavam de “negro preto”. Que o Arnold nos desculpe: Silveira é bem mais bonito (e não carrega implícito um preconceito!).
Schumacher – O significado deste sobrenome de um dos maiores campeões de fórmula um: fazedor de sapato. Tem também outro, “Schuster” que é literalmente “sapateiro”. Não confundir uma tradução com a outra, pois, coisa que o campeão nunca foi é sapateiro.
Oxford – Este nome é um dos mais interessantes. Eu tenho um amigo que estudou e se formou em não sei o quê, na Faculdade São Judas Tadeus, de Canoas. Ele nunca gostou muito do nome pouco “charmoso” da Universidade. Ele, por exemplo, sempre foi daqueles que adorava uma camisa colorida, de jovem, com uma bonita estampa no peito com ‘University of Oxford’. Mudou quando lhe perguntei se ele sabia o significado do nome ‘Oxford’. Não sabia. Ajudei-o na tradução, ox significa boi e ford tem o significado de vau, caminho, porteira, ou seja, University of Oxford é qualquer coisa como ‘Universidade da Porteira do Boi’. Mudou de opinião na hora!
É importante entendermos que durante muitos séculos os camponeses só tinham os nomes de batismo. A partir da idade média, quando as populações das vilas começaram a aumentar, começou a haver a necessidade de um acréscimo identificador aos nomes destes moradores. Por exemplo: como havia vários joãos, um era João filho do Pedro, outros, João Ruivinho, João da Ponte, João Padeiro e assim por diante.
Há duas singularidades em relação à fixação dos sobrenomes: os judeus e os negros escravos.
No caso dos Judeus, pelo efeito Torquemada, eles foram obrigados a se converterem em “cristãos novos”, tanto na Espanha como em Portugal, ou fugir para outra região. No resto da Europa, foi um pouco diferente (depois, eu explico). Em Portugal, costuma-se dizer que os judeus que lá viveram até 1497, quando foram obrigados a escolher entre a conversão ou a expulsão, substituíram seus sobrenomes originais por nomes de árvores que não produzem frutos comestíveis, como Carvalho e Junqueira (cana-de-açúcar, bambu, junco).
Outros dizem que os judeus normalmente escolhem nomes de árvores, tais como Pereira e Oliveira – neste caso, árvores frutíferas. No entanto, cuidado: esses nomes já eram correntes para designar cristãos velhos durante a Idade Média; portanto, ter um sobrenome Carvalho, Junqueira, Pereira não significa obrigatoriamente ter uma descendência judia. Do contrário, a nossa terra, Taquari, estaria plena de Judeus e estaríamos todos ricos, culturalmente e de grana!
Quase todos os judeus que, quando da formação, a partir de 1948, do Estado de Israel, reverteram a diáspora bimilenar e tornaram à sua terra natal, passaram a usar nomes hebraicos: Dayan (quem não lembra do grande general Moshe Dayan, o herói da guerra dos seis dias, em 1967), Ben-Gurion, Sapir, Avron, Begin, Netanyahu, Sharett, etc.
Os judeus residentes na região onde hoje é a Alemanha (que na época medieval era uma colcha de retalhos de principados, ducados, reinados, cidades estado, etc.) foram apenas “extorquidos” pelos governantes, que encontraram na adoção obrigatória de nomes alemães uma boa fonte de aumento nos seus impostos. Aos judeus mais ricos, nomes mais belos: Rosenberg (montanha de rosas), Himmelblau (o azul do céu), Morgenstern (estrela da manhã), Blumenthal (vale florido), Silverberg (montanha de prata).
Os nomes de profissões eram mais baratos: Meier (fazendeiro), Schneider (alfaiate), Goldschmidt (ourives), Fischer (pescador), Kaufmann (mercador). Cores e animais, mais barato ainda: Grun (verde), Weiss (branco), Schwarz (preto), Braun (marrom), Roth (vermelho), Lowe (leão), Wolf (lobo), Fuchs (raposa), Vogel (pássaro). Aí neste universo de nomes a possibilidade do proprietário ser judeu é muito boa. No caso de um Rosenberg, diria que quase 100%.
A outra singularidade, a dos negros, ocorre do fato dos mesmos, como regra, adquirirem seus nomes diretamente dos seus proprietários escravagistas. Aqui no nosso estado, temos o caso do nosso ex-governador Alceu de Deus Collares (o segundo governador negro do nosso estado; não nos olvidemos: o primeiro foi o rio-grandino Carlos Santos), nascido em Bagé, terra dos Collares, antigos e tradicionais proprietários de extensas fazendas e, certamente, ex-proprietários de muitos escravos. Eles, os negros, não podiam escolher: era compulsório.
E aí meus amigos, eu rendo uma sincera e justíssima homenagem a dois extraordinários homens negros da nossa história recente: um, Muhammad Ali, outro, Malcolm X, assassinado em 1965. Eles mudaram seus nomes originais (nomes dados pelos patrões dos ancestrais) por outros escolhidos de livre arbítrio. Senhores: quanto de inconformidade há na atitude desses dois gigantes, hein!
O campeão mundial de box, nascido Cassius Marcellus Clay Jr., optou por um nome muçulmano – Muhammad Ali.
O pregador religioso e líder de um dos movimentos civis pelo viés não pacífico (em contraponto ao pacifista Martin Luther King) dos Estados Unidos, nascido Malcolm Little, também optou por um novo nome muçulmano - Al Hajj Malik Al-Habazz, ou Malcolm X -, sendo o “X” o símbolo do desconhecimento do seu nome africano original.
Há casos interessantes de nomes recentes, adquiridos por acaso, inconformidade ou interesse político. Citarei três: dois, aqui do sul e um, lá do Norte:
Silva Só: o português Manuel da Silva, nascido em 1792, migrou jovem para o Brasil - Porto Alegre - trabalhou muito e teve sucesso. Ficando rico e elitista, passou a se incomodar com as confusões que davam o seu nome tão plural (havia, na Porto Alegre de então, uma coleção de Manuéis da Silva). Resolveu o problema simplesmente acrescentando um exclusivo “Só”, e virou Silva Só; muito mais charmoso e singular (ao menos na visão dele). ´
Charão: vem do militar dos Dragões do Rio Pardo, Antônio Adolfo Schramm, filho do médico austríaco Johann Adolf Schramm, nascido no Rio de Janeiro em 1729. Esse Schramm casa-se com a filha do também militar João Carneiro da Fontoura, de nome Isabel e, com a dificuldade dos locais na pronúncia do seu nome, passa a ser conhecido como “Charão”. Esse casal é o tronco dos numerosos “Charões” do nosso estado.
Sarney: O pai do ex-presidente da República, José Sarney, Sr. Ney de Araújo Costa, adquiriu o nome Sarney pelo fato dos ingleses, com os quais trabalhou durante um período de sua vida, chamarem-no de Sir Ney, que para os ouvidos dos trabalhadores mais simples soava algo como “Sarney”. Seu filho José tornou-se então conhecido como o “Zezinho do Sarney”; e, quando da sua primeira campanha política, não teve dúvida e acresceu ao nome o apelido patronímico, ficando, então, José Sarney de Araújo Costa.
muckers, anjos
ou demônios
- Este ano registra exatos 200 anos do início da colonização alemã em nosso estado. Eventos de toda sorte marcam essa importante data.
Essa imigração somou-se ao amálgama étnico que muito contribuiu para a formação do nosso estado e do Brasil. Mas, na história sempre há um mas, há um evento que de certa forma a maculou, o inditoso episódio dos Muckers.
Vou cometer uma resenha curta do episódio e de alguns envolvidos.
Os fatos ocorreram na então colônia de Ferrabraz (hoje, Sapiranga), à época pertencente ao município de São Leopoldo, basicamente entre 1872 e 74.
Os três principais personagens muckers eram Jacobina Mentz; seu esposo, o carpinteiro e depois curandeiro de fama João Jorge Maurer; e o professor e ex pastor João Jorge Klein, uma figura estranha e escorregadia.
Os não muckers eram: o juiz Affonso Guimarães; o médico João Hillebrand; o jornalista ateu e que odiava os muckers Karl Von Koseritz; o inspetor de quarteirão do Ferrabraz João Lehn; o delegado de polícia de São Leopoldo (e primo de Jacobina) Lúcio Schreiner; e o subdelegado de polícia Cristiano Spindler.
A partir da grande afluência de pacientes, da região e arredores, a imagem do curandeiro João Jorge começou a ser ‘mitificada’. Aproveitando que sua esposa era sonâmbula ou catalépsica, e que, pela Bíblia, ‘o sono profundo e inconsciente pode ser uma forma de comunicação com o mundo espiritual, na qual mensagens e revelações podem ser recebidas’, dando mais um passo – a presença do ambicioso pastor Klein -, estava formada a seita que depois seria conhecida como ‘Muckers’ (beatos falsos).
O problema é que ambição, inveja, traições, denuncismos, excesso de misticismo fez com que a coisa perdesse o rumo e acabou naquilo que a história registra: brigas, denúncias, assassinatos, prisões, indiciamentos e, por fim, como a guarnição policial de São Leopoldo era insuficiente para intervir, a decisiva ação de forças militares com a destruição total da seita e morte de seus líderes e de quase todos seus seguidores.
O propósito deste ensaio não é historiar o episódio em si, pois é algo já escrito e reescrito por inúmeros professores e historiadores que geraram até mesmo cinebiografias como Jacobina, de 2002, com a exuberante Letícia Spiller.
O primeiro registro em papel (livro escrito em alemão e com o título Die Mucker) é do padre Jesuíta Ambrósio Schupp, lançado em 1900, próximo, mas nem tanto, dos eventos de 1872-74. Praticamente, todos os registros posteriores advêm desse trabalho pioneiro, ao qual há críticas, como a do também historiador Dr. Klaus Becker (Enciclopédia Rio-Grandense, 1968). Este padre Ambrósio, afirma o Dr. Klaus, descreve os eventos, sem o pesquisar a fundo, num estilo que ele mesmo apontou como ‘Erzählung’ (narrativa).
Os pósteres: o do historiador leopoldense Leopoldo Petry, editado em 1957; o já citado Dr. Klaus, de 1968; o do historiador Moacyr Domingues, um calhamaço de 430 páginas editado em 1977; e, talvez o melhor de todos, o livro da professora Maria Amélia Schmidt Dickie, editado em 2018, 450 páginas. Essa professora exagera, vai aos detalhes, muitas informações buscadas em arquivos públicos dos inquéritos policiais e dos processos judiciais, com mini biografias de vários personagens. Leitura difícil, extensa, prenhe de registros adicionais tipo trabalho escolar, mas que acabam não sendo conclusivos em apontar como anjos ou demônios esses indivíduos que, por sorte do destino ou moto próprio, produziram esse trágico episódio da história gaúcha do século XIX.
Quem pegou mais leve foi o Dr. Klaus Becker, pois ele registra que os fatos foram relatados em sua quase totalidade por pessoas que não gostavam ou eram inimigas dos muckers. Os inquéritos policiais não ajudam muito, pois os acusados, todos, dizem-se vítimas. É um jogo de empurra. Nos julgamentos, quase todos foram absolvidos.
Como é um ensaio, tenho liberdade para opinar.
O episódio dos Muckers, triste, trágico, não precisava chegar ao ponto em que chegou. O problema foi a cultura vigente à época. Havia a igreja católica, que era a igreja do estado, e a igreja luterana, cujos líderes, em suas prédicas dominicais, demonizavam os líderes e membros da seita ‘pietista’ em contraponto ao ortodoxismo oficial, e, com isso, criando mares de raivosos inimigos aos hereges.
Também havia a questão política. Justo na época tinha havido eleições e os membros da seita eram orientados a não votar, coisa que os ‘conservadores’, no poder consideraram um crime horrendo, e jogavam a polícia contra esses ‘santarrões’.
Nos dias de hoje, dias em que um fanfarrão tipo João de Deus tira até mesmo fotos com ministros do STF, como criminalizar heresias, ajuntamentos e adultérios? Nem matéria de jornal dá!
Uma curiosidade final: aqui em Taquari homiziou-se, após a destruição da seita, uma irmã da líder Jacobina Mentz de nome Carolina Mentz, no Asilo Bethânia. Lúcida até seus últimos momentos, contava aos detalhes todas as nuances do episódio. Faleceu em 1929 com 94 anos.
*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.
Parte do texto:
ResponderExcluirDo contrário, a nossa terra, Taquari, estaria plena de Judeus e estaríamos todos ricos, culturalmente e "de grana".....
É inacreditável e deplorável o autor fazer esse tipo de afirmação: "de grana" por estar se referindo a judeus.
Respondo pelo autor: sr. crítico covarde, vai chupar um carpim e vai encher o saco de outro!!! Depois te mostro o deplorável. bisonho!!
ExcluirAo carinha das 22:50,
ExcluirOs judeus que eu conheci e que conheço, todos deram-se bem na vida, fruto de determinação e de trabalho, por isso me permiti uma 'brincadeira' leve, soft.
Para provar a determinação, lá vai uma piada de judeus:
- Uma mãe judia, caminhando na rua com seus três filhos crianças, é inquirida por uma antiga colega de colégio: 'Oi, Sara, tudo bem? Quem são estas três
belezinhas?'
Esta é a Marta, futura médica; esse é o David, futuro engenheiro eletrônico; e aquele é o Ariel, futuro advogado da nossa comunidade!
Este tipo de resposta do Previdi fala um pouco por ele. Poderia muito bem ter contestado com classe e elegância como fez o Fontoura. No entanto, preferiu ser grosseiro e mal educado como faria uma criança mimada que não admite ser contrariada. De certa forma lembra um pouco a Luciana Genro em situações parecidas. Nestes casos, E SÓ NESTES, se parecem. Importante, a comparação com a Luciana não foi para ofender!
ExcluirSer trabalhador virou uma ofensa. Tempos sombrios.
ExcluirQualquer comparação com a Luciana e seus proxys Pedro Ruas e Robaina, também conhecido como Papagaio de Pirata, ofende e incomoda.
ExcluirNão vejo a frase como grosseria. Aliás, é o bordão já famoso do Prévidi. Ele tem todo o direito de usá-lo aqui, ora bolas.
ExcluirScharamm um dos primeiros imigrantes alemães no RS formou grande FAMILIA Charão no RS Muckers vítimas de um delegado político rejeitado por eles...O interesse pessoal acima do coletivo. Parabéns Rota:Rota de Imagina. Caminho na Itália
ResponderExcluiro professor e pastor Martin Dreher pesquisou além da bibliografia "tradicional" e conseguiu trazer novas luzes e novas informações sobre os Muckers, desde as raízes na Europa.
ResponderExcluirSe não foram anjos, também não foram os demónios que seus inimigos que geraram o massacre dos colonos pintaram para a posteridade.
Quanto mais leio sobre os Muckers, mais me convenço do quão pouco sabemos sobre eles.
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