Sexta, 12 de agosto de 2022

 

NÃO LEVE A SÉRIO
QUEM NÃO SORRI!




Escreva apenas para


MUDANÇA NOS COMENTÁRIOS:
CHEGA DE MACHÕES ANÔNIMOS

Todos podem fazer críticas, a mim, a qualquer pessoa ou instituição. Desde que SE IDENTIFIQUE. Não apenas com o primeiro nome. Claro que existem pessoas que conheço e que não necessito dessas informações. MAS NÃO VOU PUBLICAR CR[ÍTICAS FEROZES OU BRINCADEIRAS DE PÉSSIMO GOSTO. NADA DE OFENSAS, NEM ASSINANDO!! 

E não esqueça: mesmo os "comentaristas anônimos" podem ser identificados pelo IP sempre que assim for necessário. Cada um é responsável pelo que escreve.



especial

Nesta sexta, uma cesta
de Cesare Pavese! 



Um dos mais importantes
intelectuais italianos
do século XX


O homem interessa-se tão pouco pelo próximo que até mesmo o cristianismo recomenda fazer o bem por amor a Deus.


Nunca falta a ninguém uma boa razão para suicidar-se.


Defender a ideia de que os nossos sucessos nos são concedidos pela Providência, e não pela astúcia, é uma astúcia a mais para aumentar aos nossos olhos a importância desses sucessos.


Perdoamos aos outros quando nos convém.





Os filósofos que acreditam na lógica absoluta da verdade nunca tiveram de travar uma discussão cerrada com uma mulher.





Cesare Parese é natural de Santo Stefano Belbo, nas Langhe (província de Cuneo), e nasceu em 9 de setembro de 1908. Ainda criança foi viver em Turim. Escritor e poeta, foi um fanático combatente antifascista. Em função da militância foi preso em 1935, por três anos, em Barcaleone (Reggio Calabria). Neste período iniciou a obra O Ofício de Viver.

A sua tese de licenciatura foi sobre o poeta Walt Whitman, e já era razoavelmente conhecido quando, em 1936, publicou o Trabalhar Cansa. Tinha publicado e continuaria a publicar estudos sobre literatura norte-americana clássica e contemporânea, reunidos num volume (La letteratura americana e altri saggi) publicado postumamente em 1951. 

Depois de estudar Filologia Germânica, Pavese trabalhou como tradutor. Traduziu Daniel Defoe (Moll Flanders), Charles Dickens, Herman Melville (Moby Dick e Benito Cereno), James Joyce (Dedalus), Sinclair Lewis, John dos Passos, Gertrude Stein e William Faulkner.

Seu estilo e obra traduzem a influência dos romancistas norte-americanos contemporâneos.  Só nos anos de 1940 conquistou o reconhecimento internacional, com romances que lhe valeram o Prêmio Strega de Literatura: A Praia (1942), O Camarada (1946), O Verão (1949) e A Lua e as Fogueiras (1950). Os principais temas tratados por ele refletem os processos sociais num quadro de convivência entre a cultura rural e a urbana, assim como entre o proletariado e a burguesia.

Colaborou com a revista Culture em 1930, publicando artigos sobre literatura americana e compôs sua coleção de poemas Travailler Fadigue, que surgiu em 1936, ano em que se tornou professor de inglês.

Ele se inscreveu em 1932 a 1935 no Partido Nacional Fascista, sob pressão de seus familiares. 

Esperar é ainda uma ocupação. Terrível é não ter nada que esperar.

Com Constance Downling, sua
última paixão



Em 1939 escreveu o conto Le Bel Été, que só apareceu em 1949, acompanhado de dois outros textos: Le Diable sur les Collines e Entre Femmes Seul.

Após a Segunda Guerra Mundial, Cesare ingressou no Partido Comunista Italiano, instalou-se em Serralunga di Crea, depois em Roma, Milão e finalmente em Turim, trabalhando para as edições Einaudi. Ele nunca parou de escrever durante esses anos, notadamente em 1949 com um romance: La Lune et les Feux . 

Cesare Pavese suicidou-se em 27 de agosto de 1950 num quarto do Hotel Roma, Place Carlo-Felice em Torino, deixando um bilhete na mesa: “Perdoo a todos e a todos, peço perdão. Tudo bem? Não fofoque muito". Ele também deixa ali um último texto: “Chega de palavras. Um ato!"

Ele também manteve um diário privado, publicado sob o título Le Métier de vivre (póstumo), de 1935 até sua morte. Ele também termina com estas palavras: “Tudo isso me enoja. Sem palavras. Um gesto. Não escreverei mais”.

...

Publicado no Brasil pela antiga Cosac Naify, o livro de estreia do italiano Cesare Pavese, Trabalhar Cansa, ganha uma nova edição, agora pela Companhia das Letras. Lançado originalmente em 1936, traz poemas que nascem da observação do cotidiano da cidade.

Ao descrever as paisagens de Piemonte e seus habitantes — camponeses, trabalhadores, prostitutas, ladrões, bêbados e outros personagens da vida comum — em uma poesia apartada de qualquer sentimentalismo ou grandiloquência (sem, no entanto, escorregar em uma falsa espontaneidade realista), Pavese rompeu em definitivo com as tradições da época.

O volume inclui ainda dois textos de Pavese sobre a elaboração de Trabalhar cansa: “O ofício de Poeta”, de 1934, e “A Propósito de Alguns Poemas Ainda não Escritos”, de 1940. Este livro comprova a vitalidade de um dos mais notáveis poetas e intelectuais do século XX.


A bondade que nasce do cansaço de sofrer é um horror pior do que o sofrimento.


Ler, por Cesare Pavese (tradução Cláudia Alves)
publicado em https://www.blogs.unicamp.br/

O artigo Ler (no original, Leggere) foi escrito por Cesare Pavese e publicado pela primeira vez em 20 junho de 1945, no L’Unità, jornitaliano  comunista fundado por Antonio Gramsci, em 1924. Posteriormente, foi recolhido na coletânea póstuma A Literatura Americana e Outros Ensaios, de 1951.
Vale lembrar, em brevíssima contextualização, que após o fim da segunda guerra mundial, assim como dos anos vividos sob o regime fascista, a reconstrução da Itália, em todos os sentidos, passará a ser um tema recorrente entre intelectuais e escritores. A reflexão de Pavese localiza-se, portanto, nesse momento em que as relações entre literatura e sociedade se encontram bastante afetadas pela perspectiva de um país que deverá encontrar maneiras de se reerguer culturalmente (e ideologicamente).


LER

É verdade que não devemos nos cansar de conclamar os escritores à clareza, à simplicidade, à solicitude para com as massas que não escrevem, mas às vezes se instaura a dúvida de que nem todos saibam ler. Ler é tão fácil, dizem aqueles cujo hábito de ler acabou com qualquer respeito pela palavra escrita. Mas quem, pelo contrário, trata de homens ou de coisas mais do que de livros, e sai pela manhã e volta à noite, endurecido, quando por acaso ele se recolhe a uma página, dá-se conta de ter sob os olhos algo difícil e bizarro, esmorecido e ao mesmo tempo forte, que o agride e o encoraja. Seria inútil dizer que este último está mais perto da verdadeira leitura do que o outro.

Acontece com os livros assim como com as pessoas. São levados a sério. Mas justamente por isso devemos nos precaver de torná-los ídolos, isto é, instrumentos de nossa preguiça. O homem que não vive entre livros, e que deve fazer um esforço para abri-los, tem um capital de humildade, de força inconsciente – a única que vale – que lhe permite se aproximar das palavras com o respeito e a ansiedade com que se aproxima de uma pessoa querida. E isso vale muito mais do que a “cultura”; isso é, na verdade, a verdadeira cultura. Necessidade de compreender os outros, caridade para com os outros, que é afinal o único modo de compreender e amar a nós mesmos: a cultura começa aqui. Os livros não são os homens, são meios para alcançá-los; quem os ama e não ama os homens é um presunçoso ou um condenado.

Existe um obstáculo ao ler – e é sempre o mesmo, em todos os campos da vida –, a excessiva segurança de si, a falta de humildade, a recusa a acolher o outro, o diferente. Sempre nos fere a inaudita descoberta de que alguém viu não mais longe do que nós, mas diferentemente de nós. Somos feitos de hábitos mesquinhos. Amamos nos maravilhar, como crianças, mas não tanto assim. Quando o estupor nos impele a sair de nós mesmos, a perder o equilíbrio para reencontrar talvez um outro mais destemido, então enrugamos a boca, batemos o pé, voltamos realmente a ser criança. Mas das crianças nos falta a virgindade, que é a inocência. Nós temos ideias, temos gostos, já lemos livros: possuímos alguma coisa e, como todo possuidor, estremecemos por esta alguma coisa.

Todos nós, infelizmente, já lemos. E como acontece frequentemente de os pequenos burgueses se importarem mais com o falso decoro e os preconceitos de classe do que os ágeis aventureiros do grande mundo, assim o ignorante que leu alguma coisa se prende cegamente ao gosto, à banalidade, ao preconceito que o tomou, e a partir de então, se ocorre de ele ainda ler, ele julga e condena tudo de acordo com tal medida. É muito fácil aceitar a perspectiva mais banal e se apegar a ela, seguros do consenso da maioria. É muito cômodo supor que todo esforço já acabou e que se conhece a beleza, a verdade, a justiça. É cômodo e vil. É como acreditar que se está absolvido do eterno e temente dever de ter caridade com os homens simplesmente porque de vez em quando dá uma moeda ao pedinte. Nada faremos, nem mesmo aqui, sem o respeito e a humildade: a humildade que entreabre frestas em nós através da nossa substância de orgulho e preguiça, o respeito que nos persuade à dignidade dos outros, do diferente, do próximo enquanto tal.

Fala-se sobre livros. E sabe-se que livros, quanto mais ingênua e plana é a sua voz, mais dor e tensão eles custaram a quem os escreveu. É inútil, portanto, ter esperança de tateá-los sem pagar um preço pessoal por isso. Ler não é fácil. E acontece, como se costuma dizer, que quem estudou, quem se move agilmente no mundo do conhecimento e do gosto, quem tem o tempo e os meios para ler, muito frequentemente acaba sem alma, sem amor pelo homem, acaba encrostado e endurecido pelo egoísmo de casta. Enquanto quem aspiraria, como aspira à vida, a este mundo da fantasia e do pensamento, quase sempre se encontra ainda privado dos elementos iniciais: lhes falta o alfabeto de alguma linguagem, não lhes sobram nem tempo, nem forças, ou, pior, estão corrompidos por uma falsa preparação, quase uma propaganda, que lhes barra e deturpa os valores. Quem encara um tratado de física, um texto de contabilidade, a gramática de uma língua, sabe que existe uma preparação específica, um conjunto mínimo de noções indispensáveis para tirar algum proveito da nova leitura. Quantos se dão conta de que uma bagagem técnica análoga é necessária para se aproximar de um romance, um poema, um ensaio, uma reflexão? E, ainda, que essas noções técnicas são incomensuravelmente mais complexas, sutis e fugidias do que as outras, e não podem ser encontradas em nenhum manual, em nenhuma bíblia? Todos acham que um conto, um poema, será naturalmente acessível à atenção humana comum, por falar não ao físico, ao contabilista ou ao especialista, mas sim ao homem que existe em todos eles. E é este o erro. Outro é o homem, outro, os homens. No final das contas, é tola a lenda de que poetas, narradores e filósofos se referem ao homem em absoluto, ao homem abstrato, ao Homem. Eles falam ao indivíduo de uma determinada época e situação, ao indivíduo que tem determinados problemas e procura resolvê-los à sua maneira, inclusive e sobretudo quando lê romances. Será preciso então, para entender os romances, situar-se em sua época e propor-se os seus problemas; o que quer dizer, nesse campo, aprender antes de mais nada as linguagens, a necessidade das linguagens. Convencer-se de que, se um escritor escolhe certas palavras, certos tons e ares insólitos, ele tem pelo menos o direito de não ser subitamente condenado em nome de uma leitura precedente, na qual os ares e as palavras estavam mais organizados, eram mais fáceis ou apenas diferentes. Esse feito da linguagem é o mais vistoso, mas não o mais urgente. Claro, tudo é linguagem em um escritor, mas basta ter compreendido isso para se ver em um mundo mais vivo e complexo, onde a questão de uma palavra, de uma inflexão, de uma cadência, torna-se de repente um problema de costume, de moralidade. Ou até mesmo de política.

Isso basta então. A arte, como dizem, é uma coisa séria. É tão séria quanto a moral e a política. Mas se temos o dever de nos aproximar dessas duas últimas com uma modéstia que mira a clareza – caridade com os outros e dureza conosco –, não é possível compreender com que direito, diante de uma página escrita, nos esquecemos de sermos homens e de que com um homem estamos falando.


  

e então nós, covardes

E então nós, covardes
que amávamos a noite
sussurrante, as casas,
os cursos dos rios,
as luzes rubras e sujas
de tais lugares, a dor
adocicada e quieta -
nós rasgamos as mãos
da viva corrente
e calamo-nos, mas nossos corações
estremeceram-nos com sangue,
e não mais houve doçura,
e não mais abandonamo-nos
ao curso dos rios -
não mais servos, soubemos
estar sozinhos e vivos.


A dificuldade de praticar o suicídio está nisto: é um ato de ambição que só pode ser realizado depois de superada toda a espécie de ambição.



TRABALHAR CANSA

Atravessar uma rua para fugir de casa
Só um menino faz isso, mas este homem que anda
O dia inteiro pelas ruas não é mais um menino
E não está fugindo de casa.

Há tardes no verão em que até as praças estão vazias, oferecidas
Ao sol que está se pondo, e este homem que avança
Por uma avenida de árvores inúteis, se detém.
Vale a pena estar só, para sempre ficar mais só?

Por mais que se ande de um lado para outro, as praças e as ruas
Estão vazias. É preciso parar uma mulher
E lhe falar e convencê-la a viver juntos.
De outra forma, a gente começa a falar sozinho.
É por isso que às vezes
Surge um bêbado noturno que te aborda com discursos
E te conta os projetos de uma vida inteira.

Não é certamente esperando na praça deserta
Que se encontra alguém, mas quem anda pelas ruas
Se detém de vez em quando. Se fossem dois,
Mesmo andando pelas ruas, o lar estaria
Onde estivesse aquela mulher e valeria a pena.
De noite a praça volta a ser deserta
E este homem que passa não vê as casas
Entre as luzes inúteis, já não levanta mais os olhos:
Ele sente apenas o pavimento que fizeram outros homens
Com mãos calejadas como as suas.
Não é justo ficar na praça deserta.
Haverá certamente aquela mulher na rua
Que, se lhe fosse pedido, gostaria de dar uma mão na casa.

A imaginação humana é imensamente mais pobre do que a realidade.


VIRA A MORTE

Virá morte e terá os teus olhos.
Esta morte que nos acompanha
Da manhã até a noite, insone,
Surda, corno um velho remorso
Ou um vício absurdo. Os teus olhos
Serão urna palavra vã,
Um grito calado, um silêncio.
Assim os vês cada manhã
Quando só sobre ti te inclinas
No espelho. Ó cara esperança,
Naquele dia também saberemos
Que és a vida e és o nada.

Para todos tem a morte um olhar.
Vira a morte e terá os teus olhos.
Será como deixar um vício,
Como contemplar no espelho
Reemergir um rosto morto,
Como ouvir um lábio cerrado,
Desceremos à gorja mudos.


Todo o luxo se paga. Tudo é luxo; a começar pelo estar no mundo.


13 comentários:

  1. Agora colocaram o esquerdopata Piperno nos Pingos Nos Is. Só falta Amanda Klein. Querem acabar com o Programa? Lamentável.

    ResponderExcluir
  2. Que figura!
    Uma pena que tenha decidido viver tão pouco, 42 anos.
    Que figura!

    ResponderExcluir
  3. Pessoas que tentam a todo custo destituir e impedir de governar um Presidente eleito pela maioria dos eleitores assinando "cartinha pela democracia ".
    Vergonha na Cara já perderam a muito tempo... Vai vendo...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Essa "cartinha" foi um fiasco.

      Excluir
    2. Cartinha pelo socialismo.

      Excluir
    3. Cartinha pro lula, o que eles não têm coragem de assumir.

      Excluir