DOIS MINUTOS
COM PRÉVIDI
Introduzo este meu ensaio sobre o grande escritor francês, na primeira pessoa.
Na XXIX Feira do Livro de Porto Alegre, em um sábado primaveril (e ensolarado) de novembro de 1983, eu e minha esposa, repetindo o que era um prazeroso costume, visitamo-la. E entre outras compras, adquirimos – usado e barato – a obra-prima, minha opinião, do Stendhal, O Vermelho e o Negro. Dele eu já tinha outro belo livro, ‘A Cartuxa de Parma’. Ai faço minha primeira leitura, beleza pura. Releio uma primeira vez em fevereiro de 2014 e agora, maio, repito leitura e reafirmo conceito, beleza pura (mesmo que um calhamaço de 488 páginas e letras com corpo 9, o quê, pra quem não é mais um guri, é um problema e tanto).
Stendhal, ou melhor, Marie-Henry Beyle, nasceu em Grenoble, antiga capital da província de Dauphine, no sopé dos Alpes franceses, em 23 de janeiro de 1783. (Essa data, de cara, nos explica as várias citações de elementos da revolução francesa de 1889, dos ‘perigosos jacobinos’, do Napoleão, etc.) e falece em Paris, em 1842, aos 59 anos de idade de um ataque de apoplexia, hoje conhecida pela sigla AVC.
Toda obra sempre tem um pouco de autobiografia. Igual ao personagem central do livro, Julien Sorel, ele perde sua mãe ainda com pouca idade, sete anos. É criado e educado por um pai (e também pelo avô e uma tia) um tanto despótico. Uma marca da sua personalidade – que transfere aos seus livros – é a sua infância infeliz. A morte da sua mãe foi um evento marcante em sua vida.
Aos 16 anos, depois de ter sido um brilhante aluno na École Centrale de Grenoble, ruma à capital francesa para matricular-se na Escola Politécnica, à qual, por motivo de doença, não conseguiu prestar exames de acesso. Por indicação de um parente (conde Pierre Daru) e futuro protetor, conseguiu trabalho no ministério da Guerra.
(Como normal em jovens não pertencentes à aristocracia, e influenciados pela revolução, ainda que em seus estertores, assume ideais republicanos e antirreligião.)
Enviado pelo exército como subtenente ajudante do general Michaud, em 1800, descobriu a Itália, país que tomou a pátria de escolha, e do qual retira os elementos básicos para seu romance 'A Cartuxa de Parma'.
Desenganado da vida militar, abandonou o exército em 1801. Entre os salões e teatros parisienses, sempre apaixonado por mulheres diferentes, começou (sem sucesso) a cultivar ambições literárias. Dada a sua precária situação econômica, Daru conseguiu-lhe um novo posto como intendente militar em Brunswick, destino em que permaneceu entre 1806 e 1808.
Admirador incondicional de Napoleão, exerceu diversos cargos oficiais e participou nas campanhas imperiais.
Em 1814, após queda do corso, exilou-se na Itália, fixou sua residência em Milão e efetuou várias viagens pela península italiana.
Publicou os seus primeiros livros de crítica de arte sob o pseudônimo de L. A. C. Bombet, e em 1817 apareceu ‘Roma, Nápoles e Florença’, um ensaio mais original, onde mistura crítica com recordações pessoais. Neste, utilizou pela primeira vez o pseudônimo de Stendhal.
Inquieto, o governo austríaco acusou-o de apoiar o movimento independentista italiano. Teve então que abandonar Milão – em 1821. Instalou-se novamente em Paris, assim que acaba a perseguição aos aliados de Napoleão.
Novamente em território italiano, quando da sua morte, em 1842, ele exercia o alto cargo de Cônsul em Civitavecchia – uma comuna italiana da região do Lácio, província de Roma.
Finalizando, com uma vida agitada e difícil (principalmente após a morte do seu parente conde Daru, seu sempre arrimo), Stendhal acaba deixando uma obra enorme em termos de livros, críticas, textos jornalísticos, etc., mas que, resumindo, duas – romances – ficaram eternizadas para sempre, a ponto de alguns críticos literários apontarem, por exemplo, ‘O Vermelho e o Negro’, com uma das dez maiores obras literárias da humanidade, coisa que discordo totalmente; é um bom livro, mas não para tanto!
Interessante que somente 50 anos após a sua morte é que esses dois romances tornam-se verdadeiros sucessos literários.
Vou dar minha opinião – menos de um crítico e muito mais de um doidivanas apaixonado leitor – sobre esse romance já lido por mim por três vezes. Só isso, penso, já basta para afirmar o quanto esse manuscrito tocou-me, tangeu e tange minha alma.
A história em si é simples, até diria banal: um sujeito – o jovem Julien Sorel – que nasce pobre, mas não miserável, sem o afago de uma mãe que morre muito cedo e com um pai despótico, mas que, por obra do acaso, da sorte, torna-se um arrivista social; de alguém que convive em permanente conflito entre o sacro e o profano, entre o jacobinismo/napoleonismo/
Mas, o que mais curti é o estilo fluído e fácil da escrita, o desenvolvimento e as análises psicológicas de seus personagens, a descrição crítica da sociedade francesa da época (mesmo pós o trauma da revolução recém finda e ainda não totalmente curada), uma sociedade absolutamente arrogante, injusta, elitista, impermeável, insensível às mudanças, sociedade na qual um arrogante nobre de alto coturno comete frases tais qual: ‘qual é a renda anual desse tal Voltaire para querer alterar o pensamento do nosso mode de vie?’
Outro aspecto interessante desse romance é o que remete ao seu (belo, belíssimo) título: O Vermelho e o Negro, ou no original, Le Rouge et Le Noir.
Os biógrafos do autor afirmam que ele nunca o explicou, e que originalmente o primeiro título era ‘Julien’, só! Mas, digo eu, há elementos na biografia do autor e mesmo na obra em si que podem, com um certo grau de confiança, nos conduzir às razões dessa escolha: um) mesmo na época, um editor de mediano bom-senso, sempre aconselharia a colocar um título mais expressivo, que produzisse mais impacto; dois) o ‘vermelho’ remete à revolução recém finda, ao inconformismo, às mudanças necessárias, à justiça social, ao ainda latente jacobinismo, etc.; e o preto simbolizava a cor da vestimenta, da batina que os padres usavam no dia-a-dia. Os padres e a igreja eram o símbolo maior do conservadorismo. Em um seminário, se um estudante fosse pego com uma imagem ou com um escrito do Robespierre ou do Danton era expulso e proscrito da sociedade!
+ Abaixo, leiam o ensaio crítico, bem didático, que retiro da web e coloco ao crivo dos leitores desta cesta literária da lavra da,
· Sofia, estudante de letras, responsável pelo SAPOBLOG a disposição na WEB. Já li outras análises nesse blog, que acho (não há detalhes) ser português, e também não há uma identificação maior da autora:
“Esta obra fazia parte da minha lista de livros a ler há séculos. Não o li há mais tempo porque, como sabia que era um livro genial mesmo antes de o ler, quis esperar para o ler no original, para não ter de lidar com uma tradução. Mas agora, finalmente, posso falar sobre ele.
Ambientado no século XIX em França, O Vermelho e o Negro é um Bildungsroman (romance que trata do crescimento e do amadurecimento do personagem principal). Trata da história de Julien Sorel e da sua ambiciosa ascensão social. Em criança, atormentado pelo pai, acaba por ficar próximo de um membro do clero local que lhe ensina latim e mais tarde lhe arranja um trabalho como preceptor para as crianças dos Rênal. Julien torna-se, em pouco tempo, amante da Madame de Rênal. Este romance não corre bem porque uma das aias da dita senhora se apaixona por Julien e expõe o affair dele com a esposa do patrão. Julien parte para Paris pouco depois, onde a sua ambiciosa escalada social começa de fato. Lá, a trabalhar para os De La Mole, Julien envolve-se em intrigas políticas e sociais (numa época de particular tensão como foi o século XIX em França) e começa um novo caso, desta vez com Mademoiselle De La Mole, para quem se esperava um melhor partido, naturalmente. É o começo do fim. Quando, a muito custo e por fim, Marquês De La Mole “aceita” o casamento da já grávida herdeira com Julien, recebe uma carta da vila de Julien, assinada por Madame de Rênal a dar-lhe conta do caráter de Julien como alpinista social. Este regressa com uma arma e tenta assassinar a ex-amante. Ela sobrevive, mas ele é condenado à morte, e mais não conto!
Vou começar por referir o que mais me impressionou. Quando estava a ler a obra, senti por diversas vezes que estava a ler uma obra mais século XX do que século XIX. Pareceu-me muito avançada para a época de publicação e acho que isso justifica que tenha sido proibida em alguns sítios. Está claro que tal não me surpreende vindo de Stendhal, mas mesmo assim é notável.
A intriga no geral é semelhante àquela de outras obras da época, é o estilo e a parte da emoção, o desenrolar num âmbito psicológico que mais me fascinou. Em poucas palavras, é uma obra muito intensa.
A parte política e o conflito social são um ponto forte, evidentemente. Mas, se seguem este blog sabem que nada me encanta tanto como o romance. E, nesse âmbito, não poderia ter ficado mais satisfeita. É mesmo aquela história de paixões fortes, ciumentas desregradas e egoístas, que eu adoro, aquela na qual, por muito que os ingleses se tenham esforçado, nunca chegaram sequer perto da mestria dos franceses. Estou tão feliz com o romance neste livro! Não só por não ter acabado bem, mas por ter sido intenso e muito selvagem, meio humano, meio divino, estão a ver? As paixões egoístas de Julien só podiam ser as de um alpinista social; o afeto meio desesperado e até maternal de Madame de Rênal denota aquela mulher da época, infeliz no casamento, que nunca amara de verdade, mas que estava presa a um dever social; o sentimento sonhador e caprichoso de Mademoiselle De La Mole é apenas indicativo de uma alma romântica que havia lido alguns romances e que ficara presa a uma concepção e conceito de amor. Gostei mesmo muito deste aspecto da obra.
E da oposição de classes. A forma como Julien utilizou os sentimentos e os manipulou para a sua ascensão pessoal é claro um dos aspectos que mais ficam da obra quando acabamos de a ler. Ele no fundo só queria sair da vila e do domínio do seu terrível pai, da sua numerosa família, da opressão que ainda caracteriza os meios pequenos, de forma sintética, ele queria ser alguém e queria, sobretudo, deixar de ser pobre. Mas os pobres não amam também? Muitas são as opiniões de que ele não amava, de verdade, nenhuma das senhoras que utilizou em prol dos seus interesses, mas ele conclui por diversas vezes que amava uma e outra e no fim, decide-se por uma em concreto. E eu acredito nele. Julien pode ser uma das personagens mais egoístas com que já me deparei, mas não duvido nem duvidei que também ele amou. E no fim, como não sou nada senão uma sonhadora, penso que foi por isso mesmo que ele pagou. Pelo seu amor, e não pelo seu egoísmo.
No geral, adorei O Vermelho e o Negro, tal como sabia que ia adorar. É o meu tipo de livro; a crítica social, o contexto histórico e político, a intriga, a história de amor intensa, etc. Não falta nenhum ingrediente. E o resultado é uma obra complexa, mas simultaneamente muito acessível. É uma daquelas obras em que podemos observar a natureza humana em todo o seu esplendor e decadência. Daí que seja um clássico.
Considero que não há muito mais a acrescentar e por isso também vimos a qualidade notável de uma obra - quando achamos que não temos nada a dizer é porque não somos capazes de o dizer, e isso só pode vir de um espanto produzido por rejeição absoluta ou por maravilhamento. Por isso, resta apenas acrescentar,
Leiam "O Vermelho e o Negro"
*João Paulo da Fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.
Será que o Dr Gadret esqueceu de pagar o provedor de internet?
ResponderExcluirDesde ontem à noite a "redepampa.com.br" está fora do ar.
Bem estranho mesmo.
ExcluirPobre do diabo e do inferno, agora tem um fotojornalista chegando lá, SS
ResponderExcluirPobre diabo é vc. Canalha.
ExcluirComentário bem "cristão" esse das 14:51...
ExcluirEssa demonização não leva a lugar nenhum.
ExcluirComunista quando chega no inferno sempre dá trabalho pro diabo!
ExcluirEm relação aos altos salários dos magistrados, é possível observar que NENHUM veículo da imprensa entra a fundo nessas questões!
ResponderExcluirO jornalismo investigativo fica mudo e calado.
Não há reportagens do Cabrini, denúncias do Datena, do Fantástico ou a capa da Veja, como ocorre por exemplo, com o escândalo do INSS ou a Lava Jato.
É um tabu falar nisso. É um pacto do silêncio, porque a reação/retaliação é impiedosa!
A postura é diferente essencialmente porque não se tratam de crimes. O que deveria causar indignação são as leis que promovem privilégios, e não os pagamentos em si aos magistrados, que simplesmente seguem os ditames legais.
ExcluirOs famosos penduricalhos, que criam os famigerados direito adquirido.... pura imoralidade
ExcluirO povo infelizmente tem memória curta mas lembro direitinho que, quando o TJRS começou a fazer lobby na assembleia pra aprovar o subsídio para a magistratura (que triplicaria os vencimentos iniciais), o discurso era de que isso tornaria a remuneração mais transparente com o fim dos penduricalhos. Como com o passar dos anos quase mais ninguém lembra disso, agora os juízes e desembargadores gaúchos recebem o SUBSÍDIO + PENDURICALHOS + INDENIZAÇÕES (pelo que não faço ideia)...
Excluir"NÃO HÁ LEI BOA SE O JUIZ É RUIM, e NÃO HÁ JUIZ BOM SE A LEI É RUIM".
ResponderExcluirE NO BRASIL A JUSTIÇA É CARA, IMPRODUTIVA E LENIENTE.
Pensem nisso, façam alguma coisa, tirem a bunda do sofá, enquanto eu lhes digo que a Direita precisa ganhar o Senado, e a partir daí descer o cacete para abrir o caminho.
O comentarista de economia do jornal noturno da TV Jovem Pan é o economista Pablo Spyer. Competente, articulado, engraçado, leve, didático, atualizado, bem informado.
ResponderExcluirCom propostas diferentes(ela discreta e séria, ele teatral e brincalhão), se junta com a comentarista de economia do Jornal da Band formando uma dupla magnífica.
Invocar a liberdade de expressão como valor fundamental somente depois de uma condenação judicial em função de texto publicado é o cúmulo da hipocrisia e do oportunismo.
ResponderExcluirMAIS UMA PREMIAÇÃO INÉDITA DIGNA DE COMEMORAÇÃO!!!
ResponderExcluirDEPOIS DO OSCAR, AGORA É A VEZ DE CANNES!!!
Cannes: 'O Agente Secreto' ganha melhor ator, com Wagner Moura, e direção…
FONTE:
https://www.uol.com.br/splash/colunas/flavia-guerra/2025/05/24/o-agente-secreto-de-kleber-mendonca-filho-leva-palma-de-ouro-em-cannes.htm
Filme brasileiro? Passo.
ExcluirCinema nacional? Não existe!
ExcluirCONFIRMADO:
ResponderExcluirCONFIRMADO:
CONFIRMADO:
ALEXANDRE DE MORAES VAI SER PUNIDO PELOS EUA!!!!
(Se isso se confirmar, abrem-se as porteiras para a hegemonia de Flávio Dino, comunista convicto, dentro do STF)
FONTE:
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/entenda-o-que-e-a-sancao-que-eua-pode-aplicar-a-moraes/
FDS.
ExcluirPor incompatibilidade de horário dificilmente assisto o RBS notícias mas em todas as edições que consigo assistir sempre tem algo vindo de Santa Maria, parece ser obrigatório mostrar matéria de lá mesmo que o acontecimento mais importante do dia na cidade tenha sido uma quermesse como neste sábado...
ResponderExcluirQue várzea!
ExcluirSecando o Grêmio, agora, num dos canais Grobolixo, com um narrador chato pra dedéu, vi que o juiz estava curvado pelas pressões recentes do Azulão e da mídia amestrada, louco para dar uma ajudinha aos locais.
ResponderExcluirNão demorou muito para o apito amigo entrar em campo
e inventar um pênalti absurdo.
O futebol, tal como a política, é porco.
Junte a Justiça, que também se politizou.
ExcluirBem lembrado, anônimo 18:25.
ExcluirJuiz medroso, vagabundo, larápio, deu um pênalti pra o Azulão contra o Bahia, que o VAR e nem ninguém viu; além de inverter faltas e não usar os cartões contra pancadaria.
ResponderExcluirTudo para acalmar a fúria e a pressão de um time de chutadores de abóboras, capitaneado por um açougueiro, que bate e apita o jogo sem ser molestado.
Felipão e Guerra foram ao Rio 'gritar'com a CBF e fazer teatro para a torcida. Deu resultado, a mão grande descarada golpeou o bom time do Bahia.
Eu acharia isso um absurdo se houvesse lisura no campeonato, mas não é o caso. Há um campeonato de pressões nos bastidores, das formas mais variadas.
ExcluirAcompanho o relator.
Excluir14:26, acima, pegou bem. Pablo Spyer, o comentarista de economia da Jovem Pan, no ar às 21:30 hs, é muito craque. Irreverente, brincalhão, diferente, preciso, sabichão.
ResponderExcluirEle tem muito conhecimento e um estilo único.
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