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mundo literário - ESPECIAL
O jornalista Auber Lopes de Almeida lança neste sábado, dia 28, na Cafeteria do Cine Capitólio, a partir das 17 horas, seu terceiro livro, "Memórias de uma Vida Hilária". Através de crônicas, ele conta os apuros, roubadas, constrangimentos, vexames por que passou, dos 15 aos 45 anos de vida, com uma linguagem descontraída, mas sem vulgaridade. Uma das crônicas é esta, chamada
AZAR
Tive um amigo, hoje falecido, que era um avião para fazer amizades. Muito articulado, inteligente, cheio de argumentos e com uma história de vida interessantíssima, estava sempre rodeado de gente. Trabalhamos juntos há alguns anos. Conquistou-me com poucas palavras.
Como ele ganhava bem mais que eu, não tinha condições de acompanhá-lo sempre. Saíamos à noite em alguns bares, mas nas festas graúdas de que participava, a mim restava apenas ouvi-lo contar como haviam sido. E ele estava em todas.
Um dos principais parceiros de festa dele era um empresário bastante conhecido na cidade, tanto pelo seu sucesso profissional quanto por ter se casado com uma modelo gaúcha famosa. O casamento, aliás, abriu-lhe várias portas na sociedade e nos negócios.
Apesar de ser comprometido, o sujeito não era um marido fiel. Dono de um sítio na região metropolitana de Porto Alegre, costumava patrocinar grandes orgias, contratando garotas de programa caríssimas, para a alegria de seus convidados, escolhidos a dedo, seja por amizade, seja no intuito de firmar parcerias comerciais futuras.
Por meses, meu sonho era ser um desses convidados, mas nada tinha a lhe oferecer. Sequer influência no mercado jornalístico. Construíra um nome sólido, mas por quase sempre ter trabalhado em assessoria de imprensa, não havia como ofertar-lhe uma notícia favorável na mídia.
Numa tarde, estávamos eu e meu amigo tomando café em um bar próximo ao nosso local de trabalho quando o tal empresário chegou. Sentou-se à nossa mesa, apresentou-se a mim e engrenamos uma longa conversa. Estava muito curioso em ouvir, de sua boca, como era patrocinar as tais orgias.
Empolgado, contou-me em detalhes tudo o que se passava. Vendo que eu ficara fascinado com suas histórias, convidou-me para participar da próxima, que aconteceria naquela noite. Lógico que aceitei. Explicou-me como chegar em seu sítio e se foi.
Passei o resto do dia em êxtase. Nunca participara de qualquer coisa do tipo e, pelas histórias do meu amigo, eu me sentiria no céu, pois sempre havia ao menos duas mulheres para cada homem. Não raro, três. E elas tinham a orientação de atender a todos os pedidos e caprichos dos convidados.
No início da noite, encerrou meu expediente, passei em casa, me arrumei e tomei rumo do sítio. À época eu tinha um Puma GTE 1979, um carrinho esportivo de fibra de vidro com motor de Fusca. Era minha relíquia, meu brinquedinho de criança grande, o qual cuidava muito. Mas, como todo carro antigo, não era à prova de defeitos. Aliás, eram frequentes.
E aconteceram. A cerca de cinco quilômetros do sítio, o motor apagou. Meus conhecimentos de mecânica eram mínimos. Restou-me acionar o serviço de guincho da concessionária da rodovia. O socorro demorou meia hora. Fui levado a uma oficina em Porto Alegre, mas às 21h30, pouco havia a ser feito. O mecânico testou o motor e disse que precisaria trocar uma peça, a qual ele não dispunha. Teria que deixar para o dia seguinte.
Desesperado, liguei para o meu amigo para contar-lhe o que tinha acontecido, na esperança de que fosse me buscar. A resposta que ouvi foi “lamento, mas já está todo mundo pelado. Vai ter que ficar para a próxima”.
Nunca houve uma próxima.
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