Quarta, 12 de outubro de 2022

 

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especial dia das crianças

FILHO E FILHOS

Eu no colo do pai e meu irmão

Claro que fui filho, mas não convivi com meu pai por muito tempo. Eu tinha 12 anos quando ele se foi. Mas nesse pequeno tempo de convivência pude aprender muito com ele e não sei se consegui passar isso para meus dois filhos. Imagina, ele morreu em 1966 - calcula aí quantos anos ou décadas faz isso. E eu tenho muitas lembranças maravilhosas dele.

Há uns anos escrevi um texto com o título "Eu nunca vi o meu pai pelado". Também nunca me empenhei em vê-lo sem a samba-canção. Como morávamos no Rio, ele saía do banho já de bermuda. E dormia de pijama. Fora isso, sempre de terno e gravata. Ah, nos finais de semana ele usava um calça esporte e umas camisas de ban-lon.

Trabalhava muito. Não almoçava em casa, só nos finais de semana. E quando chegava em casa já tínhamos jantado. Mas os finais de semana eram sagrados. Íamos sempre a praia ou fazíamos passeios pelos parques onde as vezes ele se esmerava em preparar uma carne assada numa churrasqueira que ficava sempre no carro. 

Nas férias viajávamos no flamante Oldsmobile 1952. Imagine, na década de 1960 vínhamos ao Sul e até mesmo ao Uruguai. Lembro que uma vez fomos a ciudad de Melo, onde minha mãe nasceu. Íamos muito a cidades de Minas Gerais.

Eu tinha tudo que queria, apesar de minha mãe ser durona. Natal, aniversário e Dia da Criança eram sempre especiais. O problema é que eu estava sempre de dieta, porque tinha uma constante diarreia, que jamais os médicos conseguiram saber o motivo - isso que meu pai era sócio da Clínica São Bento. Raramente comia algo diferente de "sopa branca" ou purê com carne moída. Ovo na casquinha. E maçã.

Mas tinha todos os brinquedos possíveis, especialmente no aniversário, Dia da Criança e no Natal. Sempre tive tudo, a exceção de um Autorama - qualquer dia ainda compro um com uma pista em "8". E uma bateria, vetada a compra pela minha mãe, porque ela sabia que eu iria enlouquecê-la.

Adolescente, queria um kart. Também não levei. Minha mãe tinha ainda muito presente o acidente em que vitimou o meu irmão mais velho - tinha 18 anos. De resto, não pude reclamar da infância e adolescência. Muito pelo contrário.

Fui uma criança muito  feliz.

Para terem ideia, jamais apanhei de meu pai. Ou melhor, levei umas chineladas porque uma vez saí de bicicleta com um amigo pelas ruas de Laranjeiras. O porteiro do edifício me entregou e quando ele chegou em casa teve uma conversa séria comigo com o chinelo na mão. Com toda razão: minha mãe havia feito uma cirurgia e estava internada. Imagina se acontecesse algo comigo...

Dos 12 aos 30 anos vivi com minha mãe e aprendi muito. Ficamos separados pouco tempo, quando morei em Palmeira das Missões e depois quando fui viver novamente no Rio. Mesmo com o passar do tempo sempre me lembrava do que o meu pai havia me ensinado. Tudo. E tenho até hoje os seus princípios. As vezes quero me lembrar algum ensinamento mas já escapuliu da minha memória. 

Tinha e tenho muita saudade dele. Passei anos torcendo para que ele aparecesse pra mim - como um fantasma. Ou em sonho. Nada. O pior é que com o tempo fui esquecendo de detalhes. A sua voz já se perdeu no tempo. Me recordo do sotaque de gringo nascido em Caxias do Sul, mesmo que tenha chegado no Rio com pouco mais de 18 anos.

Tentei ter o comportamento e atitudes de meu pai com meus filhos, mas sei que não consegui ser igual ou mesmo parecido. Seria muita pretensão, até porque no final dos anos 1980 o mundo era muito diferente da década de 1960. Para eles, pode ser que eu tenho sido algo como pai ausente - ou meio ausente - mas eu tentei e fiz tudo para que se tornassem Homens.

Eu sei, os dois são homens com mais de 30 anos e que estão muito bem de vida. Muito, em todos os sentidos. E, acreditem, muito pelos ensinamentos da mãe, na convivência diária. Uma pena eu não ter participado mais.

Pessoas próximas me criticavam muito porque dava a eles tudo o que pediam. Tudo, nas datas especiais, especialmente aniversário, Dia da Criança e Natal. E mesmo no dia a dia. O mais velho tinha pouco mais de três anos e morávamos num "sítio" em Viamão. Ele tinha fissura por ferramentas e cada ida ao supermercado ele saía com uma nova - teve até um facão, que o tornava um super herói (tinha toda coleção do He-Man, entre muitos outros). 

Uma vez prometi um videogame novo para o menor. Estava contando com um dinheiro que iria receber por um trabalho. Bah, levei um rolé do tal empresário. Cheguei em casa de noite e tive que dar uma desculpa. No dia seguinte encarei o cara novamente e só saí da frente dele com o cheque. Fui ao banco, retirei o dinheiro e quando ele chegou do colégio o dinheiro estava na mesa da sala como bilhete: O teu videogame. 

Mas teve anos em que dei de Dia da Criança "um vale" para cada um, por absoluta falta de grana. E eles entendiam, davam risada.

Infelizmente, apesar de ir a muitas festinhas e jogos nos colégios, estive ausente no dia a dia. Principalmente por viagens e por compromissos, os mais variados.  Vários foram os dias que não os vi, porque saía cedo e voltava quando já estavam dormindo. Mesmo que não reclamassem sabia que sentiam a minha falta.

No entanto eu tenho boas lembranças. Uma vez lembro que fui o único pai que estava numa gincana, durante a semana, no colégio do menor. Acredito que fui a todas as festinhas dos dois, geralmente nos finais de semana. 

Uma história bem legal.


Desde o primeiro Natal que lembro,  os presentes ficavam numa imensa bota vermelha, com um laçarote, ao lado da árvore e presépio. Ninguém se aventurava em tocar. Quando lotava, os presentes eram colocados ao lado. O meu pai é que fazia a distribuição na noite do dia 24 de dezembro..

O tempo passou, casei e tivemos o primeiro filho. No Natal, o guri com 6 meses, a minha mãe veio do Rio e trouxe um presente para nós. O que era?

Acreditem, a bota vermelha!

Aí em todos os nossos Natais a bota vermelha esteve presente.

E sempre foi essa festa, como está na foto acima. Guilherme e Gustavo querendo adivinhar o que tinha ali.

Era muito legal.

Ficávamos conferindo na sacada se víamos o Papai Noel chegar. Geralmente não tinha uma viva alma na rua, mas eu ficava ali, fazendo onda com eles. Até que tocavam na campainha e íamos correndo abrir a porta. E lá estava a bota vermelha e mais um monte de sacolas. Imagina a cara deles.

Pura felicidade.

Pra encerrar: lembra que falei que sempre tive vontade de rever o meu pai? Pois o meu filho mais velho recém tinha começado a falar e as vezes brincava no quarto e falava muito, ria... A mãe quis saber o que tanto falava:

- Tô brincando com o vovô.

O legal é que ele descrevia o meu pai!! E sempre se referia ao companheiro de brincadeiras como vovô. E isso aconteceu durante bastante tempo.

Eu ainda quero encontrar o meu pai.   

Fui um bom filho, mas não tenho mais tempo para ser um pai completo.

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