Sexta, 7 de outubro de 2022


 

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E não esqueça: mesmo os "comentaristas anônimos" podem ser identificados pelo IP sempre que assim for necessário. Cada um é responsável pelo que escreve.


especial

Nesta sexta, uma cesta
de Honoré de Balzac! 



MORREU AOS 51 ANOS. CRIOU
O REALISMO E É O AUTOR
DA COMÉDIA HUMANA 




O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo.


Quanto mais criticamos menos amamos.


É mais fácil ser amante do que marido, pois é mais fácil dizer coisas bonitas de vez em quando do que ser espirituoso dias e anos a fio.








Honoré de Balzac

Honoré nasceu em Tours, na região  central da França, em 20 de maio de 1799. Foi um dos mais importantes escritores franceses, Fundou o Realismo na Literatura Moderna. Sua obra está reunida nos volumes de A Comédia Humana.


Seu pai, nascido Bernard-François Balssa, era um dos onze filhos de uma pobre família de Tarn, região do sul da França. Era inicialmente um modesto funcionário, mas em 1760, partiu para Paris com apenas um Louis d'or no bolso, decidido a melhorar sua posição social. Em 1776, tornou-se maçom e secretário do Conselho do Rei, mudando seu nome para o de uma antiga família de nobres, adicionando, sem nenhuma causa oficial, o aristocrático "de" diante do sobrenome. Após o Reino do Terror (1793–94), estabeleceu-se em Tours para coordenar suprimentos do Exército.


A mãe de Balzac, nascida Anne-Charlotte-Laure Sallambier, era burguesa e cresceu em uma rica família de merceeiros (pequenos comerciantes) em Paris. A riqueza de seus parentes foi um fator considerável na troca de alianças: ela tinha somente 18 anos quando se casou com o cinquentão Bernard-François. V. S. Pritchett, crítico literário britânico, certa vez escreveu: "Com certeza ela sabia que tinha sido dada a um velho marido como recompensa pelos serviços que ele havia feito a um amigo de sua família e que o capital estava do lado dela. Ela não era apaixonada por seu esposo".


Honoré (assim chamado por conta de Santo Honoré de Amiens, cujo dia é comemorado em 16 de maio, quatro dias antes do seu aniversário) era à época o segundo filho nascido dos Balzacs; exatamente um ano antes, nascia Louis-Daniel, mas ele só chegou a viver durante um único mês. Posteriormente, um terceiro filho nasceu, chamado Simone de Hudsone. As irmãs Laure e Laurence nasceram em 1800 e 1802, e seu irmão Henry-François em 1807.

Assim que nasceu, Balzac foi enviado a uma ama de leite; no ano seguinte, ele e sua irmã Laure passaram quatro anos longe de casa. Embora o livro Emílio, ou Da Educação do filósofo genebrino Jean-Jacques Rousseau houvesse convencido milhares de mães da época a amamentarem seus próprios filhos, ainda era comum entre as famílias de classes média e alta o envio de bebês às amas de leite. Quando os pequenos voltaram para casa, os mantiveram friamente afastados de seus pais, o que deve ter afetado o autor profundamente: a sua novela Le Lys dans la vallée de 1835 apresenta uma cruel governanta, chamada Miss Caroline, baseada em sua própria babá.

Aos 8 anos, Balzac foi enviado ao tradicional colégio oratoriano de Vendôme, onde estudou por 7 anos. Seu pai, procurando transmitir a mesma aparência de trabalhador que lhe garantiu a estima da sociedade, enviava intencionalmente pouco dinheiro ao garoto, e isso o tornou motivo de piada de seus colegas, ricos. 

O menino tinha dificuldades de adaptação ao estilo da rotina de aprendizagem da escola. Por isso era enviado ao "nicho", um castigo de salas reservadas a alunos desobedientes.

Alguns biógrafos contam que o zelador da escola, quando perguntado muitos anos mais tarde se se lembrava de Honoré quando pequeno, respondeu: "Lembrar M. Balzac? Como se esquecer? Eu tive a honra de escoltá-lo para a masmorra mais de uma centena de vezes!".

Balzac usou essas cenas de sua infância — assim como fazia com os vários aspectos de sua vida e das vidas de quem o cercava — em La Comédie Humaine. Seu tempo em Vendôme é refletido em Louis Lambert de 1832, romance sobre um jovem garoto que estuda num colégio oratoriano em Vendôme. 

Muitas vezes Balzac ficava doente, até que uma vez, finalmente, o diretor da escola contatou sua família com notícias de uma "espécie de coma". Quando voltou para casa, a sua avó soltou: "Voilà donc comment le collège nous renvoie les jolis que nous lui envoyons!" ("Olha só como a academia nos devolve os bonitos que os enviamos!").

O próprio Balzac atribuiu o coma à sua condição de "congestionamento intelectual", mas o seu confinamento prolongado no "nicho" certamente era outro grande fator. Enquanto isso, paradoxalmente, o seu pai havia escrito um tratado sobre "os meios de prevenir roubos e assassinatos, e de restaurar os homens que cometem crimes a um papel útil na sociedade", no qual ele mostrava desdém pelos métodos de prisão, como forma de prevenção da criminalidade.

Em 1814, a família Balzac mudou-se para Paris. Honoré foi enviado a professores particulares e escolas por dois anos e meio. Este foi um momento infeliz de sua vida, durante o qual ele tentou o suicídio em uma ponte que fica sobre o Rio Loire.


Em 1816, Balzac entrou na Sorbonne, onde teve aula com três professores famosos: François Guizot, que mais tarde se tornou primeiro-ministro, lecionava história moderna; Abel-François Villemain, recém-chegado do Collège Charlemagne, realizava palestras sobre literatura francesa e literatura clássica para cativar audiências, e Victor Cousin, o mais influente de todos, que dava aulas sobre filosofia e que incentivava seus alunos a pensar de forma independente.


Uma vez concluídos os estudos, Balzac foi persuadido pelo pai a estudar Direito; por três anos, treinou e trabalhou como estagiário no escritório de Victor Passes, amigo próximo da família. Durante essa época, ele começou a entender os meandros da natureza humana. Em seu romance Le Notaire, de 1840, escreve que um jovem na profissão legal vê "as rodas oleosas de cada fortuna, a disputa horrenda de herdeiros sobre corpos ainda não totalmente frios, e o coração humano às voltas com o Código Penal."

Em 1819, Passes ofereceu a Balzac sua assessoria, mas o seu aprendiz estava suficientemente cheio da lei. Desesperava-se com a ideia de ser "um funcionário, uma máquina, um mercenário numa escola de equitação, comendo e bebendo e dormindo em horários fixos […]" e por isso dizia: "Eu seria como todos os outros. E é isso que essas pessoas chamam de vida, essa vida no rebolo, fazendo sempre a mesma coisa… Tenho fome e nada me oferecem para satisfazer o meu apetite". Aí anuncia sua intenção de ser escritor e a família não quer.



Não aceitar a oferta de Passes causou grande discórdia na casa de Balzac, mas Honoré não foi definitivamente abandonado. Em vez disso, em abril de 1819, uma vez que a família mudava-se para cidade mais modesta, autorizou-o a viver na capital francesa, de uma forma que o crítico inglês George Saintsbury descreveria, "em um sótão mobiliado da forma mais espartana possível, com um subsídio de fome e uma mulher idosa para cuidar dele", enquanto o resto da família se mudava para uma casa a 20 milhas [32 km], nos arredores de Paris.


O primeiro projeto literário de Balzac foi um libreto para uma ópera cômica chamada Le Corsaire, baseado no The Corsair de Lord Byron. Percebendo, no entanto, que teria dificuldades em encontrar um compositor, voltou-se para outras atividades.


Em 1820, já havia completado os cinco atos da tragédia em versos Cromwell. Quando terminada, o seu revisor foi um homem chamado Andrieux, ex-tutor de Eugène Surville, irmã de Balzac, e que no manuscrito escrevia: "O autor pode fazer tudo o que quiser, exceto literatura".

 Apesar desse comentário, e apesar desse trabalho ser fraco em comparação com as suas obras posteriores, alguns críticos de hoje consideram o seu texto de muita qualidade. Balzac estava convencido a mostrar a obra a seus parentes e, depois do ponto final, foi à Villeparisis e leu a peça inteira para sua família, que não se impressionou. Após essa tentativa, iniciou (embora nunca tenha finalizado) três romances: Sténie, Falthurne, e Corsino. A família o considerava um fracasso e, apesar de o pai lhe cortar a mesada, não desanimou, e viu que era hora de mudar de gênero.

Em 1821, Balzac conheceu o empreendedor Auguste Lepoitevin, que convenceu o jovem a escrever contos, que mais tarde seriam vendidos por ele a editoras. Em seguida, Balzac focou-se em obras mais longas, e em 1826 já havia escrito nove romances, todos publicados sob pseudônimos para resguardar seu nome, e alguns produzidos em colaboração com outros autores.


O escandaloso romance Vicaire des Ardennes (1822), por exemplo, era atribuído a 'Horace de Saint-Aubin' e foi proibido por retratar relações quase incestuosas e trazer como personagem um padre casado. Tais dramalhões eram intencionalmente pobres, destinados sobretudo à venda comercial e à excitação do público. Na opinião do biógrafo George Saintsbury, "eram, curiosamente, quase atraentemente ruins".

Ainda durante essa época, Balzac escreveu dois panfletos de apoio à primogenitura e à Companhia de Jesus. Este último, em relação à ordem dos jesuítas, demonstra o interesse que manteve ao longo de toda a sua vida pela Igreja Católica. Mais tarde, num prefácio da La Comédie Humaine, escreveria: "O cristianismo, e especialmente o catolicismo, sendo uma repressão total das tendências depravadas do homem, é o maior elemento na Ordem Social".


Em finais da década de 1820, Balzac também se envolveu em vários empreendimentos comerciais, uma inclinação pela qual a sua irmã responsabilizou um desconhecido vizinho. O primeiro desses empreendimentos era editorial e publicou certa vez um volume com clássicos franceses, incluindo as obras de Molière, a preço de banana. Embora fossem baratos, o negócio fracassou miseravelmente e muitos dos livros "venderam feito papel velho". Balzac teve melhor sorte com a publicação das memórias de Laure Junot, duquesa d'Abrantès, com quem também teve um caso.


Pedindo dinheiro de sua família e de outras pessoas, Balzac aventurou-se novamente em trabalhos de impressão. No entanto, a sua inexperiência e a falta de capital causaram de novo sua ruína nos comércios de setor editorial. Conheceu e se apaixonou por Laure de Berny, mulher casada, inteligente e carinhosa, lhe deu sociedade comercial, abrindo com ele uma impressora que não tardou em falir e fazer com que seu relacionamento com Laure se tornasse um verdadeiro escândalo para a época. Ele passou então os negócios a um amigo (que fez sucesso com eles), mas levou consigo várias dívidas por muitos anos. Em abril de 1828, devia cerca de 50 mil francos à sua própria mãe.

Esta tendência por une bonne spéculation nunca deixou Balzac em paz. Ressurgiu dolorosamente anos mais tarde, quando, sendo um autor ocupado e de renome, viajou à Sardenha na esperança do reprocessamento de escória nas minas romanas nessa ilha. No fim de sua vida, apostou na ideia de cortar 20 mil hectares (200 km²) de madeira de carvalho na Ucrânia e transportá-la até à França, para vendê-la no país.

Depois de escrever diversas novelas, em 1832 Balzac concebeu a ideia para uma enorme série de livros que retratariam o panorama de "todos os aspectos da sociedade". Quando teve a ideia, Balzac correu para o apartamento de sua irmã e proclamou: "Estou prestes a me tornar um gênio".



Embora no início tenha chamado o projeto de Etudes des Mœurs (Estudos de Boas Maneiras), mais tarde ganhou o nome de La Comédie Humaine (A Comédia Humana) e ele incluiu nesta coleção todas as ficções que ele havia publicado durante sua vida sob seu nome real. La Comédie Humaine era o trabalho da vida de Balzac e também se tornou sua maior conquista.


Viajou à Bretanha após o fracasso dos seus negócios e permaneceu com a família de Pommereul nos arredores de Fougères. Foi ali que ele teve a inspiração para escrever Les Chouans (1829), um conto de amor que dá errado entre as forças monarquistas de Chouannerie. Balzac, que era defensor da coroa, retratou os contra-revolucionários de forma simpática — embora eles sejam o centro das cenas mais brutais do livro. Este foi o primeiro livro de Balzac lançado com seu próprio nome e lhe garantiu o que um crítico chamou de "passagem para a Terra Prometida".

A obra lhe proporcionou o estatuto de um autor que merecia notabilidade (mesmo que ainda devesse algo a Walter Scott, escritor de romances históricos) e forneceu-lhe um nome a ser citado nas rodas literárias e nos salões aristocráticos, além dos pseudônimos que havia criado no passado.


Logo depois, na época da morte de seu pai, Balzac escreveu El Verdugo, sobre um homem de 30 anos que mata o próprio pai (Balzac tinha 30 anos na época). Essa foi a primeira obra assinada como "Honoré de Balzac". Assim como seu pai, ele adicionou o de que soava aristocrático para ser respeitado na sociedade, mas essa foi uma escolha baseada em suas habilidades, e não no direito de primogenitura. "A aristocracia e a autoridade de talento são mais substanciais do que a aristocracia de nomes e de poderes materiais", escreveu em 1830.

O momento da decisão também foi significativo. O biógrafo Graham Robb escreve: "O desaparecimento do pai coincide com a adoção da partícula nobiliárquica. É uma herança simbólica". Tal qual seu pai trabalhou para sair da pobreza e atingir respeito social, Balzac considerava seu esforço e trabalho como marcas de nobreza.

Quando a Revolução de Julho destronou Carlos X em 1830, Balzac declarou-se legitimista, apoiando a Casa de Bourbon, mas com qualificações. Ele pressentia que a nova Monarquia de Julho (que lograva amplo apoio popular) era desorganizada em seus princípios e que precisavam de um mediador para manter a paz política entre o rei e as forças insurgentes. Ele pedia "um homem jovem e vigoroso, que não pertença nem ao Diretório nem ao Império, mas que esteja encarnado em 1830". Planejou candidatar-se, apelando principalmente pelas classes mais altas de Chinon. Mas depois de um acidente quase fatal em 1832 (em que havia escorregado e rachado a cabeça na rua), Balzac decidiu não se candidatar às eleições.

La Peau de chagrin experimentou sucesso em 1831 e é uma espécie de fábula sobre um jovem desesperado chamado Raphaël de Valentin, a quem um antiquário dá de presente uma pele de animal que promete grande poder e riqueza. O protagonista logra ganhar esses atributos, mas perde a capacidade de gerenciá-los. No final, a sua saúde começa a falhar e ele é consumido pela própria confusão. Balzac desejava, com essa trama, testemunhar as voltas traiçoeiras que a vida dá e seu "movimento de serpentina".


Em 1833, foi lançado Eugènie Grandet, seu primeiro romance a figurar entre os mais vendidos da época. A história de um jovem que herda o espírito de avareza do pai também tornou-se um dos livros mais aclamados de sua carreira. A escrita é simples, mas os personagens (especialmente o protagonista-título burguês) mostram-se dinâmicos e complexos.


Le Père Goriot (O Pai Goriot, 1835) foi o seu próximo grande sucesso, em que Balzac transpõe a história de Rei Lear a uma Paris da década de 1820, destituída de todo o amor, mas que guardava amor pelo dinheiro.


O fato do autor ter centralizado a figura de um pai na novela se correlaciona com o fato de que na época era mentor de seu secretário, o jovem Jules Sandeau, e principalmente porque agora (ao que tudo indica) também já era pai, de Marie-Caroline, com Maria Du Fresnay.

Em 1836, Balzac assumiu o comando do Chronique de Paris, revista semanal de sociedade e política. Se esforçava para que suas páginas demonstrassem o máximo de imparcialidade possível e uma avaliação fundamentada em ideologias diversas. Assim, estava interessado em qualquer ciência social, política ou econômica, seja de direita ou de esquerda.

A revista faliu, mas, em julho de 1840, fundou outra publicação, chamada Revue Parisienne, que, contudo, durou somente até a terceira edição.


Tais tentativas frustradas de negócios, acrescidas de suas desventuras já citadas na Sardenha, providenciaram um milieu apropriado para escrever o livro de duplo volume Illusions Perdues (Ilusões Perdidas, 1843). O romance se foca em Lucien de Rubempré, jovem poeta que se esforça para ganhar a vida e que fica preso no "pântano" das piores contradições sociais. Seu inglório trabalho no jornalismo reflete as próprias tentativas fracassadas de Balzac nessa área.


Splendeurs et misères des courtisanes (1847) continua com a história de Lucien. Ele está preso por Abbé Herrera (Vautrin) em um plano complicado e desastroso para recuperar o seu status social. O livro é permeado por uma fenda enorme de tempo; a primeira parte (de quatro) abrange um período de 6 anos, enquanto as duas últimas se concentram em apenas 3 dias.



Le Cousin Pons (1847) e La Cousine Bette (1848) contam a história de Les Parents Pauvres (Os Parentes Pobres). Detalhes sobre testamentos e heranças nestas novelas refletem a experiência que o autor adquiriu quando era funcionário e estagiário no escritório de advocacia do amigo de sua família, Victor Passes. A realização desses dois livros foram significativas porque, nessa época, a saúde de Balzac se deteriorava e quase não pôde completá-los. Muitas de suas novelas foram inicialmente tornadas em série, como aconteciam com as de Charles Dickens. O tamanho dessas obras não era predeterminado. Illusions Perdues estendeu-se a milhares de páginas após o início numa loja de impressão de uma pequena cidade, enquanto a La Fille aux yeux d'or (A Garota dos Olhos de Ouro, 1835) nos fornece um imenso panorama de Paris, embora seja uma novela muito focada em apenas 50 páginas.


Em fevereiro de 1832, Balzac recebeu uma carta de Odessa, sem remetente e assinada apenas como "L'Étrangère" ("A Estrangeira"), expressando tristeza pelo cinismo e o ateísmo de seu livro La Peau de Chagrin e a imagem negativa que o livro fazia das mulheres. Ele respondeu comprando um espaço nos classificados da Gazette de France, esperando que o seu crítico misterioso descobrisse a propaganda. Assim começava uma correspondência de 15 anos entre Balzac e "o objeto de seus mais doces sonhos": Ewelina Hańska.

Era casada com um homem 20 anos mais velho que ela, Wacław Hański, rico polonês proprietário de terras que vivia em Kiev; havia sido um casamento de conveniência com o intuito de preservar a fortuna da moça. Em Balzac, Ewelina encontrara uma alma gêmea para seus desejos emocionais e sociais, uma vez que também aspirava viver entre a gente e as ruas glamorosas da capital francesa.

A correspondência de ambos revela um intrigante equilíbrio entre paixão, decência e paciência; enquanto a moça sempre tentava imaginar realidades alheias, o moço estava determinado em manter o seu rumo, independente dos truques que tinha para usar.

Para a felicidade de Balzac, Wacław Hański morreu em 1841. Com isso, o admirador de sua viúva finalmente teve a oportunidade de concretizar mais facilmente os seus sonhos e prosseguir com seus afetos. Concorrendo com o compositor húngaro Franz Liszt, Balzac a visitou em São Petersburgo em 1843 e impressionou-se com o que viu.

Após uma série de reveses econômicos, problemas de saúde, e as proibições do Czar, ambos finalmente conseguiram se casar.

Em 14 de março de 1850, com a saúde de Balzac em sério declínio, foram do estado dela em Wierzchownia (povoação de Verkhivnia) para uma igreja em Berdyczów (cidade de Berdychiv, hoje na Ucrânia) e se casaram. Essa jornada durou 10 horas e resultou em pés inchados na noiva e problemas cardíacos no noivo.


Embora tenha se casado tarde, Balzac já havia escrito dois tratados sobre o casamento: Physiologie du Mariage e Scènes de la Vie Conjugale. Ambas as obras sofreram com a falta de conhecimento de primeira mão; como dizem alguns críticos, "Cœlebs não pode falar de casamento com muita autoridade". Em abril, o casal recém-casado partiu para Paris. A saúde de Balzac piorou durante o percurso e Ewelina escreveu à sua filha que o marido estava "em estado de extrema fraqueza" e "suando em bicas".

Chegaram na capital em 20 de maio, no quinquagésimo primeiro aniversário de Balzac.

Cinco meses depois do casamento, em 18 de agosto, Balzac morreu. Sua mãe era a única pessoa que estava com ele, quando faleceu; Mme. Hańska tinha ido para a cama. Naquele dia, ele fora visitado por Victor Hugo, que mais tarde serviu como acompanhante do funeral e que também se encarregou do elogio fúnebre no cemitério.


Balzac está enterrado no Cimetière du Père Lachaise em Paris. "Hoje", proferiu Hugo na cerimônia, "nós temos um povo de preto por causa da morte de um homem de talento; uma nação em luto por um homem de gênio."

O funeral foi assistido por "quase todos os escritores de Paris", incluindo Frédérick Lemaître, Gustave Courbet, Dumas pai e Dumas filho. Mais tarde, Auguste Rodin criou uma estátua monumental em homenagem a Balzac, e que hoje em dia fica próxima do cruzamento da Boulevard Raspail e Boulevard du Montparnasse. Rodin também retratou o autor das comédias humanas em diversas outras esculturas menores.

A Comédie Humaine ficou inacabada à época de sua morte — Balzac tinha planos de incluir nesta coleção vários outros livros, a maioria dos quais ele não havia sequer iniciado. Viajava muito durante o processo dos livros, e as obras "completas" às vezes eram revisadas entre diferentes edições. Este estilo reflete a própria vida do autor, que sempre foi uma tentativa de estabilização através de suas ficções. "O homem que constantemente desaparece", escreveu V. S. Pritchett, "e que deveria ser perseguido da rua Cassini à… Versailles, Ville d'Avray, Itália, e Viena só poderia construir uma habitação fixa no seu trabalho".

O uso excessivo que Balzac faz dos detalhes, especialmente os detalhes de objetos, para ilustrar a vida de suas personagens, fez com que ele fosse um dos pioneiros do realismo literário.

Embora admirasse e fosse inspirado pelo estilo romântico de autores como o escocês Walter Scott, procurou em sua obra retratar a existência humana através do uso de particularidades. No prefácio da primeira edição de Scènes de la Vie privée, ele escreveu: "O autor acredita firmemente que os detalhes apenas passarão a determinar o mérito das obras…".

Entre os detalhes mais comuns em Balzac estão descrições às vezes minuciosas de decorações, roupas, e posses, que ajudam a conhecer melhor as personagens.Um exemplo notável são as descrições da Pension Vauquer em Le Père Goriot, em que o papel de parede da pensão reflete a identidade interior dos seus moradores, inspirado num amigo pessoal do autor, Hyacinthe de Latouche, que tinha conhecimento sobre suspensão de papéis de parede.

Há críticos que consideram a escrita de Balzac um notável exemplo do naturalismo — uma forma mais pessimista e analítica do realismo, que busca explicar o comportamento humano como intrinsecamente relacionado ao meio.

Émile Zola declarou certa vez que Balzac era o pai da novela naturalista. Em outra ocasião, este autor francês disse que, enquanto os românticos viam o mundo através de lentes coloridas, o naturalista vê o mundo através de um vidro transparente — precisamente o tipo de efeito que Balzac se esforçava para alcançar em suas obras.

Honoré de Balzac influenciou significativamente escritores de seu tempo e das próximas gerações. Muitos críticos das mais variadas nações atribuem os seus grandes autores como seus Balzacs; Charles Dickens, por exemplo, já foi chamado de "o Balzac inglês" e de fato o autor francês teve certa influência nele. Certos críticos denominam Manuel Antônio de Almeida o "Balzac brasileiro", enquanto o Frankfurter Allgemeine Zeitung já reservou tal título ao mais recente Jorge Amado. Machado de Assis também sofreu forte influência de Balzac em seus primeiros escritos realistas. No entanto, ele rompe com a narrativa linear e principalmente com os narradores à modelo de Balzac, Zola e Flaubert, que desapareciam por detrás da objetividade narrativa, e assim escreveu seus grandes romances, como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, com narradores cínicos e que merecem desconfiabilidade,sem, absolutamente, desprezar o caráter social e pessimista que também se encontra em Balzac.

De fato, muitos críticos já escreveram aproximações sobre ambos, entre elas uma observação das influências das mulheres balzaquianas nas mulheres de Machado, especialmente Capitu e a A Mulher de Trinta Anos. Dos realistas, contudo, Machado dizia: "Voltemos os olhos para a realidade, mas excluamos o realismo; assim não sacrificaremos a verdade estética". Quanto aos detalhes excessivos presentes em Balzac e em naturalistas como Eça de Queirós, criticou: "essa pintura, esse aroma de alcova, essa descrição minuciosa, quase técnica, das relações adúlteras, eis o mal".

Eça de Queirós, por sua vez, admirava a Comédie tanto quanto Camilo Castelo Branco. Este escreveu um conjunto de oito narrativas a que deu o nome de Novelas do Minho (1875-1877), explicitamente influenciado em Balzac, enquanto o primeiro escrevia Cenas da Vida Portuguesa, ciclo de romances destinados a retratar a sociedade portuguesa, após o estabelecimento do liberalismo em Lisboa, Portugal, dos quais vieram à luz Os Maias e A Capital, à imagem das cenas sociais que o autor francês fazia de sua França e Paris.

Gustave Flaubert também foi influenciado pela escrita de Balzac. Elogiando seu retrato da sociedade, enquanto atacava seu estilo de prosa, certa vez escreveu: "Que homem ele teria sido caso soubesse escrever!". Enquanto desdenhava o rótulo de "realista", Flaubert claramente se focava na atenção de Balzac aos detalhes e em suas descrições da vida "nua e crua" da burguesia. Tal influência se mostra na obra L'education sentimentale de Flaubert, que possui uma dívida com as Illusions Perdues. "Aquilo que Balzac começou", escreveu um crítico, "Flaubert ajudou a terminar".

De maneira semelhante, Marcel Proust também aprendeu com o exemplo realista, e fazia estudos cuidadosos de sua obra, embora tenha criticado o que veio a chamar de "vulgaridade" de Balzac. No entanto, seu À la recherche du temps perdu utiliza um exemplo na ancestral história de Balzac chamada Une Heure de ma Vie (Uma Hora da Minha Vida, 1822), em que segue em detalhes reflexões pessoais profundas. Mais tarde, contudo, em sua maturidade, Proust chamou de "loucura" a moda contemporânea de comparar Balzac com Tolstói. O romancista norte-americano Henry James, por sua vez, talvez tenha sido o mais afetado por Balzac que todos os outros aqui já citados; escreveu quatro ensaios derramando elogios sobre ele (em 1875, 1877, 1902 e 1913), e num desses escritos afirmava: "Grande como Balzac é, ele é todo de uma peça e permanece na perfeição". James se esforçava para manter as motivações psicológicas em detrimento de exibições históricas em suas novelas, e isso aprendeu com Balzac.[127] Ambos os autores utilizaram a forma do romance realista para sondar as maquinações da sociedade e da miríade dos motivos do comportamento humano.

A visão de Balzac de uma sociedade na qual o dinheiro, as classes e as ambições pessoais são os principais intervenientes foi endossada por críticos de ambas as tendências de esquerda e direita política. O marxista Friedrich Engels escrevia: "Aprendi mais com Balzac do que com todos os outros profissionais, historiadores, economistas e estatísticos juntos". Recebeu elogios de críticos tão diversos como Walter Benjamin e Camille Paglia. Em 1970, Roland Barthes publicou S/Z, detalhada análise sobre a história Sarrasine e uma obra-chave na crítica literária estruturalista. Balzac também tem influenciado a cultura popular. Muitas de suas obras têm sido adaptadas para o cinema, como Cousin Bette de 1998, estrelando Jessica Lange. Ele também é incluído de maneira significativa no filme The 400 Blows (1959) de François Truffaut. Como roteirista, Truffaut creditava Balzac e Proust como os maiores escritores de toda a França.

Balzac morreu em Paris, em 18 de agosto de 1850:

“Em 18 de agosto, Victor Hugo, tendo ouvido que o seu colega se encontrava em um estado alarmante, apresenta-se ao cair da noite na Rue Fortunée. Descreveu a cena. O quarto empestado. Os médicos mandaram colocar produtos destinados a livrar o ar do odor da gangrena que tomou conta de uma das pernas. Balzac está na cama, emagrecido, lívido, o rosto tomado pela barba. Não reconhece o visitante. Morre durante a madrugada. Será impossível, como então era costume, realizar uma máscara mortuária: nas horas que seguem à morte, as carnes do rosto já estão apodrecendo. (…) Durante essa noite de 18 de agosto, Hugo, de volta à sua casa, disse que a Europa ia perder um dos seus grandes espíritos. A sua admiração é real e profunda. O poeta do cérebro épico captou qual era a visão e o alcance do romancista. Durante os funerais em Saint-Philippe-du-Roule, quando um oficial evoca o ‘homem distinto’ que era Balzac, responde em voz alta: ‘Era um gênio’.” (Trecho de Balzac, de François Taillandier).



Quando todo o mundo é corcunda, o belo porte torna-se a monstruosidade.


As paixões perdoam tão pouco quanto as leis humanas, e raciocinam com mais justeza: não se apoiam elas numa consciência que lhes é própria, infalível como o é um instinto?


7 LIVROS FUNDAMENTAIS

1 - A Mulher de Trinta Anos: É provavelmente o título mais conhecido do autor. Foi este romance que originou o termo "balzaquiana" para designar mulheres mais maduras. Neste livro o autor penetra de maneira ampla e generosa na alma feminina.

2 - O Pai Goriot: Um pai explorado pelas filhas, um jovem ambicioso e a sociedade parisiense do século XIX são o centro deste romance À moda de Rei Lear, quando Shakespeare retratou duas filhas que abandonaram o pai depois de dividida a herança.

3 - Ilusões Perdidas: Explora com maestria três aspectos fundamentais para compreender a sociedade francesa do século XIX: os jogos de poder e intriga das classes aristocráticas, o contraste entre a vida na capital e na província e o lado sujo - cínico e politiqueiro - da atividade jornalística.

4 - O Coronel Chabert: A novela trata de alguns temas centrais desse grande autor: dinheiro, glória, poder e justiça.

5 - Eugênia Grandet: O mundo novelístico de Balzac é a primeira expressão coerente das potencialidades oferecidas pela revolução francesa e que então se concretizavam no plano social, econômico, político e individual, principalmente pelas transformações ocorridas na propriedade das terras, o que explica o interesse do romancista pela nova burguesia e pela decadência da aristocracia.

6 - A duquesa de Langeais: Uma mulher bela e fascinante, cortejada por toda a sociedade parisiense. Bailes, saraus e uma atmosfera de intensa frivolidade que oculta paixões efêmeras e amores trágicos. Neste ambiente, o nobre general Montriveau, homem duro, veterano das guerras napoleônicas, ex-cativo na África, célebre por sua coragem, sucumbe aos encantos da bela duquesa.

7 - Os Jornalistas: O autor questiona a onipotência, a vaidade e a influência prejudicial exercida pelos jornalistas sobre as pessoas e até os governos. A obra, que retrata a imprensa de meados do século XIX, mostra-se atual ao lançar luz sobre desvios e manipulações vistos ainda hoje naquilo que chamamos de mídia.

 



ALIANÇA FRANCESA RECOMENDA

A Comédia Humana

Foi assim que Honoré de Balzac decidiu chamar a compilação de quase toda a sua obra. À exceção de alguns de seus textos iniciais, esse conjunto reúne 89 romances. Suas histórias ficaram conhecidas por retratar, a partir de uma linguagem única, o cotidiano da sociedade burguesa na época da Restauração francesa (entre o governo de Napoleão e o de Louis Bonaparte).


A Mulher de Trinta Anos

Dividido em seis partes, esse é um dos títulos mais conhecidos do autor. Focado na trajetória da personagem feminina Julie, mostrando as agruras sentimentais e amorosas da alma feminina em sua época. Uma curiosidade interessante é que a expressão “balzaquiana” foi criada a partir desse livro, para descrever a maturidade das mulheres por volta dos 30 anos!


Ilusões Perdidas

Dentro da Comédia Humana, o mais extenso romance foi Ilusões Perdidas. Escrito por volta de 1830, esse pode ser considerado o centro de seu projeto ambicioso. Atenção para não confundir essa obra com Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust.





O ódio, tal como o amor, alimenta-se com as menores coisas, tudo lhe cai bem. Assim como a pessoa amada não pode fazer nenhum mal, a pessoa odiada não pode fazer nenhum bem.


O ódio tem melhor memória do que o amor.

FRAGMENTOS

As moças com frequência criam imagens nobres, deslumbrantes, figuras totalmente ideais, e forjam ideias quiméricas acerca dos homens, dos sentimentos, do mundo; depois atribuem inocentemente a um caráter as perfeições que sonharam, e entregam-se a isso, amam no homem que escolheram essa criatura imaginária; porém, mais tarde, quando não há mais tempo de livrar-se do infortúnio, a enganadora aparência que embelezaram, seu primeiro ídolo, transforma-se enfim num esqueleto odioso.


A influência exercida sobre a nossa alma, pelos diferentes lugares, é uma coisa digna de observação. Se a melancolia nos conquista infalivelmente quando estamos à beira das águas, uma outra lei da nossa natureza impressionante faz com que, nas montanhas, os nossos sentimentos se purifiquem: ali a paixão ganha em profundidade o que parece perder em vivacidade.


A que talento alimentado de lágrimas viremos nós ainda a dever a mais comovedora das elegias, a pintura dos tormentos sofridos em silêncio pelas almas cujas raízes ainda tenras só encontram duros abrolhos no solo doméstico, cujas primeiras florescências são dilaceradas por mãos hostis, cujas flores são queimadas pela geada no momento em que desabrocham? Que poeta nos dirá as dores da criança cujos lábios sugam um seio amargo, e cujos sorrisos são reprimidos pelo fogo devorador de um olhar severo? A ficção que representasse esses pobres corações oprimidos pelos entes colocados a seu lado para favorecerem os progressos da sua sensibilidade, seria a verdadeira história da minha mocidade.


As três horas passadas junto dela foram para Luciano um desses sonhos que a gente desejaria tornar eternos. (...) Sua imaginação apossou-se daqueles olhos de fogo, daqueles elegantes anéis de cabelo onde cintilava a luz, daquela esplêndida brancura, pontos luminosos aos quais ele se prendeu como uma borboleta atraída pelas lâmpadas. Depois, aquela alma falou à sua para que ele pudesse julgar a mulher.

3 comentários:

  1. Seguem censurando a imprensa a favor do Barba LADRÃO. Quando "cair a ficha" será tarde demais. Lamentável.

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  2. Fosse o BR um país sério metade desses que se dizem patriotas estariam recolhidos por sonegação fiscal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

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    1. Se você fosse sério não faria uma acusação difusa e irresponsável como essa.

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