Quinta, 3 de maio de 2018





Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
Ou melhor, o meu lado sou eu





SITE/BLOG DO PRÉVIDI: HÁ 14 ANOS
INCOMODANDO CHATOS, 
INCOMPETENTES E BANDIDOS
(E CANALHAS)






Atualizado diariamente
até o meio-dia













PAULO MOTTA ESTUPENDO!!








CERTIFICADOS 

No meu tempo - lá vou eu, de novo, mergulhar em reminiscências medievais - havia um certo ar solene para votar.
Alguns compareciam com aquele terno de riscadinho com cheiro de naftalina, empunhando o título eleitoral amarfanhado e a carteira de identidade; juro pra vocês, é verdade!
Hoje dá pra votar com a carteira do CRMT (Clube de Regatas Mato Leitão) desde que tenha a foto do meliante e o meliante pode estar de bermudas floreadas, chinelo de dedos e boné do NY Big Brother Shit.
Perdeu o glamour.
Ir ao cinema era um evento! Meu pai se enfatiotava* e saía, de braços dados com minha mãe, elegante, para verem o Charlton Heston em Ben-Hur, no Cine Municipal, em São Borja.
Hoje o cinema virou coisa de intelectual ou da gurizada pra ver Power Rangers que sumirá das telas semana que vem. Baixa o filme na internet e vamos ver em casa, comendo pipocas de microondas, sem pagar estacionamento nem as caríssimas entradas.
Não sei se ainda existe o Certificado de Reservista, existe? Era um papel retangular com uma foto da nossa cara, aos dezessete anos, que parecia lambida por um terneiro guacho e o sorriso cretino de um guri assustado atestando que escapou do quartel. Ou não..
No meu tempo não havia pré-adolescência. A gente passava de guri a homem de um dia pra outro, é sério!
A palavra 'criminalização' desta ou daquela classe de pessoas não havia.
Havia leis que eram cumpridas e bandido ficava na cadeia e a gente podia tomar chimarrão, aboletados em espreguiçadeiras na calçada, na frente das nossas casas. Puxa, tô ficando velho, gurizada!
Mudando de assunto, vi lances de um dos debates entre os presidenciáveis. Vejo tevê raramente. Me diverti um pouco com o Levy Aparelho Excretor Fidelix que me lembrou aquele colega do Ginásio, que ficava no fundo da sala jogando bolinha de papel e borrachinha nos incautos até algum professor sem tolerância e truculento - que horror! - mandá-lo pro SOE, Serviço de Orientação Educacional.
Hoje, se um professor fizer isso será processado e jogado na masmorra; o aluno deixou de ser aluno e virou cliente, amiguinhos e amiguinhas.

*Enfatiotar é botar fatiota, um terno ou coisa parecida.






MINHA ADOLESCÊNCIA

Embalado pelos sonhos de grandes realizações, crescer, sair de casa, abater os melhores corpinhos que bailavam na nossa frente, em boates fumegantes e etílicas, me fiz acompanhar dos melhores amiguinhos que um adolescente poderia ter.
Esse grupo de amigos, todos na odiosa faixa dos dezessete anos, cristãos e tementes a Deus, comandados pela força da cachaça, numa lúgubre noite resolvem fazer uma visitinha ao galinheiro do Seu Caroço, lá no Itacherê, em São Borja.
O João Telmo estava sozinho em casa e tudo preparado para uma galinha com arroz e depois a boate do Comercial, se Ismael, o porteiro, não complicasse para entrarmos.
Todos na Chevrolet picape do Saquinho, aquela vermelha sem freios e que precisava empurrar pra pegar, a mesma porcaria da pescaria.
Capincho, Léo Castilhos, João Telmo e eu. Saquinho conduzindo a nave em direção ao galinheiro do Seu Caroço, que era separado da rua apenas por uma vulnerável cerca de arame.
Seu Caroço era nosso conhecido, tinha um bolicho onde vivíamos enchendo a caveira e conhecíamos o terreno. Jamais roubaríamos de um desconhecido, nunca!
Era um código de honra que tínhamos, onde já se viu, subtrair alguma coisa de um cara que nunca nos viu na vida?
Estaciona a caranguejola trepidante ao longe, pois não dava pra desligar - senão teria que empurrar a bosta - e fomos, sorrateiros, até o galinheiro.
O Saquinho ficou ao volante do bólido, preparado para a fuga.
Quando entramos no domicílio galináceo, aquele bicharedo desgraçado começou a gritar e despencar dos poleiros em cima dos quatro borrachos, um desastre, que animalzinho esparrento!
Mal deu pra enfiarmos uma penosa dentro do saco de adubo, que levamos para aquela finalidade.
Só ouvimos o grito do Seu Caroço e dois ou três tiros de 38: "Vão roubar galinha da puta da mãe de vocês, corno fiadasputa!". Foi uma correria, parecia até uma eguada disparando no varzedo!
Quando clareou a mente, estavam todos na camionete, vivos, porém cagados. Com a bendita galinha ensacada, creiam-me infiéis!
Achei que o deteriorado veículo fosse se desmanchar antes de chegar na casa do Telmo!
Um de nós parece que balbuciou a seguinte frase, antes de descer da Chevrolet: "Se sangue fede eu tô ferido!".
Lá pelas duas da manhã entrávamos no Clube Comercial felizes, com a galinha do Seu Caroço na barriga e mais uma história pra contar para os netos.
Não faça isso em casa, esse crime por nós cometido já prescreveu.
Hoje os tempos são outros, as galinhas tem sindicato e estão organizadas.
Uma boa noite a todos e amanhã nos reencontraremos, se Deus quiser!


Nenhum comentário:

Postar um comentário