Sexta, 19 de fevereiro de 2021

 

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THE BEST


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ATENÇÃO: SE O AMIGO LEITOR NÃO CONSEGUE DISSOCIAR A LITERATURA DA POLÍTICA, PEÇO A GENTILEZA DE NÃO CONTINUAR. E, POR FAVOR, SEM COMENTÁRIOS.
(ao menos assista os 7 minutos do último vídeo, de Chico e Tom)




especial

Nesta sexta, uma cesta 
de 
Chico Buarque! 


Como escritor, o mais
sensacional compositor:
"UNANIMIDADE NACIONAL"
(Millôr Fernandes)





 Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de desinventar


Quero inventar o meu próprio pecado, quero morrer do meu próprio veneno


Quando chegar o momento, esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro


Pois você sumiu no mundo sem me avisar e agora eu era um louco a perguntar: o que é que a vida vai fazer de mim?


Seu primeiro livro: não foi uma unanimidade



Chico Buarque (Francisco Buarque de Hollanda nasceu no Rio de Janeiro em 19 de junho de 1944. É escritor, ator e um dos mais importantes compositores brasileiros de todos os tempos. Já gravou cerca de 80 discos, inclusive em parceria com outros músicos. Tem nove livros publicados, cinco peças de teatro e número igual de filmes. Entre vários prêmios, foi o vencedor do Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa em 2019.

Neto de Cristóvão Buarque de Hollanda e filho de Sérgio Buarque de Hollanda e Maria Amélia Cesário Alvim, Chico é irmão das cantoras Miúcha, Ana de Hollanda e Cristina. Foi casado por 33 anos (de 1966 a 1999) com a atriz Marieta Severo, com quem teve três filhas: Sílvia Buarque, Helena e Luísa.


Chico ingressou no curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em 1963. Cursou dois anos e parou, quando começou a se dedicar à música. Nesse ano, lançou Sonho de um Carnaval, inscrita no I Festival Nacional de Música Popular Brasileira, transmitida pela TV Excelsior, e Pedro Pedreiro. A primeira composição do Chico foi aos 15 anos de idade, Canção dos Olhos (1959). A primeira gravação foi também uma marchinha, "Marcha para um dia de sol", gravada por Maricene Costa, em 1964.


Conheceu Elis Regina, que havia vencido o Festival de Música Popular Brasileira em 1965 com a canção Arrastão, mas a cantora acabou desistindo de gravá-lo devido à impaciência com a timidez do compositor. Revelou-se ao público quando ganhou o mesmo Festival, no ano seguinte, transmitido pela TV Record, com A Banda, interpretada por Nara Leão (empatou em primeiro lugar com Disparada, de Geraldo Vandré, interpretada por Jair Rodrigues).

No entanto, Zuza Homem de Mello, no livro A Era dos Festivais: Uma Parábola, revelou que "A Banda" venceu o festival. O musicólogo preservou por décadas as folhas de votação do festival. Nelas, consta que a música "A Banda" ganhou a competição por 7 a 5. Chico, ao perceber que ganharia, foi até o presidente da comissão e disse não aceitar a derrota de Disparada. Caso isso acontecesse, iria na mesma hora entregar o prêmio ao concorrente.

No dia 10 de outubro de 1966, data da final, iniciou o processo que designaria Chico Buarque como "unanimidade nacional", determinado por Millôr Fernandes.

Canções como Ela e sua Janela, de 1966, começam a demonstrar a face lírica do compositor. As influências de Noel Rosa podem ser notadas em A Rita, 1965, citado na letra, e Ismael Silva, como em marchas-rancho.


No festival de 1967, faria sucesso também com Roda Viva, interpretada por ele e pelo grupo MPB 4 - amigos e intérpretes de muitas de suas canções. Em 1968, voltou a vencer outro Festival, o III Festival Internacional da Canção da TV Globo. Como compositor, em parceira com Tom Jobim, com a canção Sabiá. Mas, desta vez, a vitória foi contestada pelo público, que preferiu a canção que ficou em segundo lugar: Pra Não Dizer Que Não Falei De Flores, de Geraldo Vandré.

Chico sempre se destacou como cronista nos tempos de colégio - seu primeiro livro foi publicado em 1966, trazendo os manuscritos das primeiras composições e o conto Ulisses, e ainda uma crônica de Carlos Drummond de Andrade sobre A Banda. Em 1974, escreve a novela pecuária Fazenda modelo e, em 1979, Chapeuzinho Amarelo, um livro-poema para crianças.


Em 1991, publica o romance Estorvo (vencedor do Prêmio Jabuti de melhor romance em 1992) e, quatro anos depois, escreve o livro Benjamim. Em 2004, o romance Budapeste ganha o Prêmio Jabuti de Livro do Ano. Em 2009, lança o livro Leite Derramado, que também recebe o Prêmio Jabuti de Livro do Ano. Em 2016, é anunciada a estreia da versão teatral deste romance pelo Club Noir, estrelada por Helena Ignez e Luiz Päetow. Oficialmente, a vendagem mínima de seus livros é de 500 mil exemplares no Brasil.


Chico participou como ator e compôs várias canções de sucesso para o filme Quando o Carnaval Chegar e foi diretor musical de Joanna Francesa com Roberto Menescal, com quem compôs a canção-tema, ambos filmes dirigidos por Cacá Diegues. Compôs a canção-tema do longa-metragem Vai trabalhar Vagabundo, de Hugo Carvana. Faria o mesmo com os filmes seguintes desse diretor: Se Segura Malandro e Vai Trabalhar Vagabundo II.

Adaptou canções de uma peça infantil para o filme Os Saltimbancos Trapalhões de Os Trapalhões e com interpretações de Lucinha Lins. Outras adaptações de uma peça homônima de sua autoria foram feitas para o filme Ópera do Malandro, mais um musical cinematográfico.


Vários filmes que tiveram canções-temas de sua autoria e que fizeram muito sucesso além dos citados: Bye Bye Brasil, Dona Flor e Seus Dois Maridos e Eu Te Amo, os dois últimos com Sônia Braga. Recentemente, chegou a ter uma participação especial como ator no filme Ed Mort. Ele escreveu um livro que virou filme, Benjamim, de 2003, tendo como intérpretes  Cleo Pires, Danton Melo e Paulo José.

Em maio de 2009, é lançado o filme Budapeste. No filme, há também a sua participação especial.

Uma boa polêmica. Tanto Budapeste quanto Leite Derramado venceram o Prêmio Jabuti como Livro do Ano sem terem vencido o mesmo prêmio na categoria Melhor Romance. Budapeste foi o terceiro colocado na premiação de melhor romance de 2004, enquanto Leite Derramado havia sido o segundo colocado em 2010. Após a escolha de 2010, muitas críticas foram feitas à forma de premiação, tendo em vista que, na premiação por categorias, o júri seria composto por especialistas, sendo que na premiação para Livro do Ano, a votação representaria a vontade dos empresários do setor. Os três primeiros colocados de cada categoria concorriam ao prêmio final, de Livro do Ano.

Uma petição on line, intitulada "Chico, devolve o Jabuti!", recolheu milhares de assinaturas. A editora Record (que publicara Se Eu Fechar os Olhos Agora, de Edney Silvestre, vencedor na categoria melhor romance e preterido na votação final) criticou o regulamento do prêmio, alegando que favoreceria pessoas com grande penetração na mídia e seria um desrespeito com o júri especializado e com os próprios autores, anunciando que deixaria de inscrever candidatos ao prêmio. Com a polêmica, foi anunciado que em 2011 apenas os vencedores de cada categoria concorreriam à premiação final.


Sempre ofereceu composições a seus amigos. Muitas passaram a ter versões definitivas em outras vozes. Além das citadas canções do "eu" feminino de Chico, temos o exemplo de Elis Regina na canção Atrás da Porta e O Cio da Terra, com gravações de Milton Nascimento e de Pena Branca & Xavantinho.

Há também interpretações de Oswaldo Montenegro, que, em 1993, lançou o disco Seu Francisco, produzido por Hermínio Bello de Carvalho, e Ney Matogrosso que, em 1996, lançou Um Brasileiro. Neste ano, o sambista João Nogueira, em parceria do maestro Marinho Boffa, gravou o disco "Chico Buarque, Letra & Música", com 14 canções que marcaram a carreira de Chico.


Fez composições para cantores populares, como nos casos de Ângela Maria, que gravou Gente Humilde, e Cauby Peixoto com Bastidores. Dentre os artistas que regravaram músicas suas em estilo popular, podem ser citados ainda Rolando Boldrin, que relançou Minha História, e a banda Engenheiros do Hawaii que, no ano 2000, gravou Quando o Carnaval Chegar, no álbum 10.000 Destinos.

A peça Roda viva foi escrita por Chico Buarque no final de 1967 e estreou no Rio de Janeiro, no início de 1968, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa, com Marieta Severo, Heleno Pests e Antônio Pedro nos papéis principais. A temporada no Rio foi um sucesso, mas a obra virou um símbolo da resistência contra o regime militar durante a temporada da segunda montagem, com Marília Pêra e Rodrigo Santiago.


Um grupo de cerca de 110 pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu o Teatro Galpão, em São Paulo, em julho daquele ano, espancou artistas e depredou o cenário. No dia seguinte, Chico Buarque estava na plateia para apoiar o grupo e começava um movimento organizado em defesa de Roda viva e contra a censura nos palcos brasileiros. Chico disse no documentário Bastidores, que pode ter havido um erro, e que a peça que o comando deveria invadir acontecia em outro espaço do teatro.


O texto da Ópera do Malandro é baseado na Ópera dos Mendigos d1728, de John Gay, e na Ópera de três vinténs (1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weill. O trabalho partiu de uma análise dessas duas peças conduzida por Luís Antônio Martinez Corrêa e que contou com a colaboração de Maurício Sette, Marieta Severo, Rita Murtinho e Carlos Gregório. A equipe também cooperou na realização do texto final através de leituras, críticas e sugestões. Nessa etapa do trabalho, muito valeram os filmes Ópera de Três Vinténs, de Pabst, e Getúlio Vargas, de Ana Carolina e os estudos de Bernard Dort, as memórias de Madame Satã, bem como a amizade e o testemunho de Grande Otelo.

Participou ainda o professor Manuel Maurício de Albuquerque para uma melhor percepção dos diferentes momentos históricos em que se passam as três óperas. O professor Werneck Viana contribuiu posteriormente com observações muito esclarecedoras. E Maurício Arraes juntou-se ao grupo, já na fase de transposição do texto para o palco. A peça é dedicada à lembrança de Paulo Pontes.

Chico vive hoje em Paris?
Em 14 de abril de 2020, o colunista Guilherme Amado, da Época, esclarece:

Chico Buarque não está em isolamento nem em seu apartamento no Leblon nem em Paris.
Está em sua casa em Nogueira, distrito de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, revisando as traduções de Essa gente, seu último livro.
A obra já foi vendida para quatro países.

Livros

1974: Fazenda Modelo
1979: Chapeuzinho Amarelo
1981: A Bordo do Rui Barbosa (ilustrações de Vallandro Keating)
1991: Estorvo
1995: Benjamim
2003: Budapeste



2009: Leite Derramado
2014: O Irmão Alemão



2019: Essa Gente




O nosso amor é tão bom…
O horário é que nunca combina




EU TE AMO

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás só fazendo de conta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir


IMPERDÍVEL!! UMA SELEÇÃO!!

 





Os ritmos da prosa
Uma entrevista imperdível!



Minha mãe sempre diz: Não há dor que dure para sempre!
Tudo é vário. Temporário. Efêmero. Nunca somos, sempre estamos!
E apesar de saber de tudo isso. Por que algumas dores duram tanto?
Por que alguns sentimentos (diga-se de passagem os mais ridículos) demoram tanto a passar?
Por que olhar pra ele reaviva esperanças perdidas e suscitas lágrimas quentes até então contidas?
Por que o cérebro ainda não inculcou no coração que esquecer faz bem a saúde?
Por que tudo não pode ser como um bonito filme francês?


Parceiros: Manuel Bandeira, Tom Jobim e Vinicius de Moraes



Oh, pedaço de mim! Oh, metade afastada de mim! Leva o teu olhar que a saudade é o pior tormento. É pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar



Os pés do meu amigo



Trecho extraído do livro Estorvo

Com um limão galego na mão, mais o álcool me ardendo nas bochechas, não posso não pensar no meu amigo. Lembro-me de dias inteiros tomando caipirinha, eu e ele nesta beira de piscina.

Lembro-me bem do nosso último fim de tarde no sítio, cinco anos atrás, ele sentado ali mesmo, já meio grogue, com a fala cremosa. Ele olhando o horizonte e passando os dedos nos cabelos, passando os cabelos lisos para trás da orelha, num gesto que, lembrando agora, parece copiado da minha irmã. No dia em que ele fez esse gesto eu não achei nada, e na certa não tinha nada que achar. Mas hoje, além do gesto, descubro um brilho em seus olhos que me incomoda. O brilho deve ser reflexo do horizonte que ele olhava, mas na minha lembrança não entra o horizonte, e os olhos brilham por brilhar.

Meu amigo bebia comigo na piscina, e àquela altura a sua conversa já não fluía. Acho que ele falava de literatura russa, mas não tenho certeza, pois as palavras saíam enroladas e se perderam. Mas sua imagem me volta cada vez mais nítida; lá está a correntinha de ouro no pescoço, meio embaraçada, a pinta cabeluda logo abaixo do cotovelo, as costelas saltadas no flanco feito um teclado, o calção branco com três listras verdes verticais. Só não consigo me lembrar dos pés do meu amigo. Vivíamos descalços, e não me ocorre ter olhado alguma vez aqueles pés. Nunca reparei se eram grandes ou bonitos. Não sei dizer se os pés do meu amigo eram enormes, como os do professor de ginástica assassinado. Torno a me lembrar do meu amigo olhando o horizonte, seus cabelos molhados, negros como nunca, e ele agora se penteia com mais vagar que antes. Provavelmente se sentindo lembrado, tira longo proveito da situação. Traga um cigarro, que na lembrança anterior nem existia, e fica se deixando olhar, como um ator de perfil. Que se vira para mim de repente, querendo me surpreender, com um brilho nos olhos que me incomoda de novo. E já vai anoitecer sem que eu tenha conseguido olhar seus pés. Mas mesmo aquilo que a gente não se lembra de ter visto um dia, talvez se possa ver depois por algum viés da lembrança. Talvez dar órbita de hoje aos olhos daquele dia. E é assim que vejo finalmente os pés do meu amigo, pelo rabo do olho da lembrança. Vejo mas não sei como são; são pés refratados dentro da água turva, impossíveis de julgar.

Imagino meu amigo recebendo rapazes no apartamento. Meu amigo no sofá da sala, tomando campari e dizendo poesia para os rapazes. Com os pés descalços no sofá, mas disfarçados entre as almofadas, meu amigo passando os cabelos para trás da orelha, e imagino algum rapaz se irritando com a coisa toda. Meu amigo abrindo o álbum dos poetas franceses, e o rapaz encolhendo-se no sofá. E enchendo-se de ódio, e sofrendo de um outro ódio por não entender que ódio cruzado é aquele que o domina, e que é feito de muita humilhação e que é desprezo ao mesmo tempo. Imagino a poesia sendo interminável e o rapaz enlouquecendo, indo buscar uma corda no varal, ou uma faca na cozinha, mas daí para frente já não dá para imaginar, porque o meu amigo nunca seria professor de ginástica. Lembro-me mais uma vez dele ao meu lado, olhando o horizonte, os braços apoiados na borda da piscina, e nem bíceps o meu amigo tinha. Lembro-me do instante em que ele ergueu o corpo seco com uma rodela de limão grudada no fundo e fez menção de se levantar para reforçar a caipirinha.

Ameaçou trazer os pés á tona, e eu os veria de muito perto, como vi anos depois os pés do morto. Agora me dá grande aflição a ideia de ter visto os pés do meu amigo, pés que eu olharia tranquilamente no tempo da lembrança. Mas o gesto instintivo deve ser reflexo de uma intenção que está noutro tempo. E naquela tarde eu pus a mão no seu joelho sem saber por que o fazia, e disse "não". Arranquei-lhe o copo e fui preparar a caipirinha dupla.

O álcool que levava o meu amigo para o lado da poesia também podia atacar seus nervos, deixá-lo agressivo. Era noite e já estávamos jantando na varanda quando ele decidiu que eu era um bosta, sem mais nem menos. Disse assim mesmo: "você é um bosta." E disse que eu devia fazer igual ao escritor russo que renunciou a tudo, que andava vestido como um camponês, que cozinhava seu arroz, que abandonou suas terras e morreu numa estação de trem. Disse que eu também devia renunciar às terras, mesmo que para isso tivesse de enfrentar minha família, que era outra bosta. Também eram bosta toda a lei vigente e todos os governos; e o meu amigo começou a se inflamar na varanda, gritando frases, atirando pratos e cadeiras no pátio, num escarcéu que acabou juntando o povo do sítio para ver. Ele gritava "venham os camponeses", e os camponeses que vinham eram o jardineiro, o homem dos cavalos, o caseiro velho e sua mulher cozinheira, mais os filhos e filhas e genros e noras dessa gente, com as crianças de colo. Várias vezes o meu amigo gritou "a terra é dos camponeses!" e aquele pessoal achou diferente. Mais tarde ele sossegou. Jogamos nossas coisas no porta-malas do carro dele, um rabo-de-peixe caindo aos pedaços, e fomos embora do sítio deixando a cancela aberta.

Dessa noite eu não me esqueço porque terminou na cidade, num apartamento de cobertura perto da praia, onde uns estudantes de antropologia comemoravam a formatura. Não conhecíamos ninguém, e não sei como fomos parar naquele lugar. Também não sei quem me apresentou a uma das antropólogas, que tentou me ensinar uma dança africana. Depois ela me contou que pretendia conhecer o Egito, falou de sua experiência no cinema, como continuísta, e no fim da festa botou tarô para mim. Quando meu amigo me deixou em casa ainda me lembro dele dizendo que não achou grande coisas, a antropóloga. Eu não discuti com ele, mas antes de dormir fiquei pensando que ele podia às vezes não estar com tanta razão. Casei com a antropóloga no mês seguinte, vivi trancado com ela quatro anos e meio, e nunca mais soube do meu amigo.



Pra encerrar, Chico e Tom


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