Sexta, 26 de fevereiro de 2021

 

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O MAIOR


O livro está a disposição na Banca da República - na esquina da Rua da República com avenida  João Pessoa.

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JOSÉ LUIZ GULART PRÉVIDI
238 550 700 59






especial

Nesta sexta, uma cesta 
de 
Mário Prata! 

Escrever novelas de TV
impulsionou o autor de livros






No meu tempo o máximo que a gente ficava era de saco cheio. Estressado, só a turma do luau.

Discutir a relação é um ato recente. Antigamente, lá pelos anos 60, não se fazia isso. Quando o namorado ou a namorada chegava para o outro e dizia: "Sabe, eu estive pensando...” Pronto, o ouvinte já sabia que era o fim. Não havia mais o que discutir. Saía cada um para o seu lado dizendo que houve (que saudades) uma "incompatibilidade de gênios". Isso resolvia tudo.


A mais bela ponte construída no planeta é a distância entre um olhar e outro.




O poeta é um talentoso preguiçoso. Nunca chega ao final da linha. 



Mário Prata (Mario Alberto Campos de Morais Prata nasceu em 11 de fevereiro de 1946, em Uberaba e se criou em Lins, São Paulo. É escritor, dramaturgo, cronista e jornalista.

Conquistou reconhecimento como romancista, autor de telenovelas e de peças de teatro, sendo seus maiores sucessos a novela Estúpido Cupido (1976), as peças de teatro Fábrica de Chocolate (1979) e Besame Mucho (1987) e os livros Schifaizfavoire - Dicionário de Português (1994), Diário de um Magro (1997), Minhas Mulheres e Meus Homens (1998) e Purgatório (2007). Mario Prata tem três filhos: Antonio, Maria e Pedro. E três netos: Olivia, Daniel e Laura. Hoje mora em Florianópolis. 

Com 14 anos já escrevia "numa velha Remington no laboratório de meu pai, crônicas horríveis, geralmente pregando a liberdade e duvidando da existência de Deus". Com esta idade começou a escrever em A Gazeta de Lins, dessa vez assinando uma coluna social sob o pseudônimo Franco Abbiazzi. Logo já estava produzindo reportagens e artigos.

Sempre foi um leitor voraz, principalmente das revistas O Cruzeiro e Manchete, pois publicavam textos de grandes cronistas, como Millôr Fernandes, Rubem Braga, Fernando Sabino, Stanislaw Ponte Preta, Paulo Mendes Campos e Nelson Rodrigues. Daí a forte influência que os citados escritores tiveram em seu estilo.

A primeira peça de teatro, O Cordão Umbilical, estreou em 1970 com direção de José Rubens Siqueira, e teve boas críticas. 


Mario largou a Faculdade de Economia na USP e se demitiu do emprego no Banco do Brasil, para dedicar-se à carreira de escritor. As peças que surgiram ainda na década de 1970 foram E se a gente ganhar a guerra? (1971) e Fábrica de Chocolate (1979), esta com encenação de Ruy Guerra. Fez vários roteiros de cinema ganhando dois Kikito do Festival de Gramado.

Com textos irreverentes, cômicos e inteligentes, Prata virou um autor versátil: escreveu novelas, roteiros para o cinema, livros adultos e infanto-juvenis, além de peças teatrais e mais de três mil crônicas em jornais e revistas (O Pasquim, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, IstoÉ, Época e Última Hora, onde trabalhou com Samuel Wainer).


Na TV, sua estreia foi com a novela Estúpido Cupido (1976/1977), seu maior sucesso na TV e também a última novela em preto e branco. Na Rede Globo, ainda fez minisséries e casos especiais. Na extinta Rede Manchete, fez a novela Helena (1987), uma de suas favoritas.


Outros trabalhos conhecidos das décadas de 1980 e 1990 foram a premiada peça de teatro Besame Mucho, de 1982, que também virou filme e ganhou o Kikito de melhor roteiro no Festival de Gramado, em 1987, e os livros O Diário de um Magro (1997) e Minhas Mulheres e Meus Homens (1999). Em 2000, o livro Os Anjos de Badaró foi feito totalmente on-line, um capítulo por dia, com colaborações e sugestões de internautas. Foi a primeira experiência no mundo, chamando a atenção de jornais da Europa.

Prata escreveu três livros infanto-juvenis e 16 livros adultos ao longo da carreira, sendo que nove deles estiveram nas listas de Dez Mais Vendidos, chegando a liderá-las por seis vezes. Já recebeu, ao todo, 18 prêmios nacionais e estrangeiros. 


Em 2004, Mario Prata foi um dos autores da novela Metamorphoses, exibida na TV Record. Em 2005 retornou para a TV Globo e escreveu os primeiros capítulos da novela “Bang Bang”. Com problemas de saúde deixou a TV. Durante 11 anos, Mario Prata assinou uma coluna semanal no jornal O Estado de S. Paulo. Escreveu para as revistas IstoÉ e Época, e também para o jornal Folha de S. Paulo.


Em 2000, escreveu inteiramente online o livro Os Anjos de Badaró, o primeiro projeto do tipo no país. Nesta década, lançou Minhas Tudo (2001), Buscando o seu Mindinho (2002), Palmeiras, um Caso de Amor (2002), Diário de um Magro 2 (2004), Paris, 98! (2005), Purgatório – A Verdadeira História de Dante e Beatriz (2008) e Cem Melhores Crônicas – que, na verdade, são 129 (2008). Mais recentemente, o autor tem se dedicado à literatura policial, com dois livros publicados do gênero: Sete de Paus (2008) e Os Viúvos (2010). Sua publicação mais recente é o Almanaque Pinheiro Neto, livro comemorativo lançado em 2012.




Um abajur

Outro dia fui comprar um abajur. A mocinha me olhou e perguntou:
- Luminária?
Eu olhei em volta, tinha uma porção de abajur.
- Não, abajur mesmo, eu disse.
- De teto?
Fiquei olhando meio pasmo para a vendedora, para o teto, para a rua. Ou eu estava muito velho ou ela estava muito nova.
No meu tempo - e isso faz pouco tempo - o abajur a gente punha no criado-mudo, na mesinha da sala.
E lá em cima era lustre. - Lustre?
Descobri que agora é tudo luminária. Passou por spot, virou luminária. Pra mim isso é pior que bandeirinha virar auxiliar de arbitragem e passe (no futebol) chamar-se - agora assistência.
Quem são os idiotas que ficam o dia inteiro pensando nessas coisas? Mudar o nome das coisas? Por que eles não mudam o próprio nome?
A mocinha-da-luminária, por exemplo, se chamava Mariclaire. Desconfio até que já tivesse mudado de nome. Pra que mudar o nome das coisas?
Eu moro numa rua que se chama Rodovia Tertuliano de Brito Xavier. Sabe como se chamava antes? Caminho do Rei. Pode? Pode! Coisa de vereador com minhoca na cabeça e tio para homenagear. Mas lustres e abajur, gente, é demais.
Programação de televisão virou grade. Deve ser para prender o espectador mais desavisado. Entrega em domicílio virou delivery. Agenda de correio, mailing. São os publicitários, os agentes de 'marquetingui'?
Quer coisa mais bonita do que criado-mudo? Existe nome melhor para aquilo? Pois agora as lojas vendem mesa-de-apoio. Considerando-se a estratégica posição ao lado da cama, posso até imaginar para que tipo de apoio serve. E por que é que agora as aeromoças não querem mais ser chamadas assim? Agora são comissárias. Não entendo: a palavra comissária vem de comissão, não é? Aeromoça é tão bom e terno como criado-mudo. Pior se as aeromoças virassem moças-de-apoio. Taí uma ideia.
E tem umas palavras que surgem de repente do nada. Quer ver? Luau. Isso é novo. Quando eu era jovem, se alguém falasse essa palavra ou fosse participar de um luau, era olhado meio de lado. Era pior que tomar vinho rosê. Coisa de bicha, isso de luau.
Mas a vantagem de ser um pouco mais velho é saber que o computador que hoje todo mundo tem em casa e que na intimidade é chamado de micro, nasceu com o nome de cérebro-eletrônico. Sabia dessa?
E sabia que o primeiro computador, perdão cérebro-eletrônico, pesava 14 toneladas? E que, na inauguração do primeiro, os gênios da época diziam que até o final do século, se poderia fazer computadores de apenas uma tonelada?
Outra palavrinha nova é stress. Pode ter certeza, minha jovem, que, antes de inventarem a palavra, quase ninguém tinha stress. Mais ou menos como a TPM.
Se a palavra está aí a gente tem de sofrer com ela, não é mesmo? No meu tempo o máximo que a gente ficava era de saco cheio. Estressado, só a turma do luau.
E agora me diga: por que é que em algumas casas existe jardim de inverno e não jardim de verão? E, se você quiser mudar o nome desta crônica para linguiça, pode. Desde que coloque o devido trema. Também conhecido como dois pinguinhos.


Mário Prata no Roda Viva - TV Cultura




As mulheres de 30


O que mais as espanta é que, de repente, elas percebem que já são balzaquianas. Mas poucas balzacas leram A Mulher de Trinta, de Honoré de Balzac, escrito há mais de 150 anos. Olhe o que ele diz:

'Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido. (...) Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer'.

Madame Bovary, outra francesa trintona, era tão maravilhosa que seu criador chegou a dizer diante dos tribunais: 'Madame Bovary c'est moi'. E a Marilyn Monroe, que fez tudo aquilo entre 30 e 40?

Mas voltemos a nossa mulher de 30, a brasileira-tropicana, aquela que podemos encontrar na frente das escolas pegando os filhos ou num balcão de bar bebendo um chope sozinha. Sim, a mulher de 30 bebe. A mulher de 30 é morena. Quando resolve fazer a besteira de tingir os cabelos de amarelo-bebê passa, automaticamente, a ter 40. E o que mais encanta nas de 30 é que parece que nunca vão perder aquele jeitinho que trouxeram dos 20. Mas, para isso, como elas se preocupam com a barriguinha!

A mulher de 30 está para se separar. Ou já se separou. São raras as mulheres que passam por esta faixa sem terminar um casamento. Em compensação, ainda antes dos 40 elas arrumam o segundo e definitivo.

A grande maioria tem dois filhos. Geralmente um casal. As que ainda não tiveram filhos se tornam um perigo, quando estão ali pelos 35. Periga pegarem o primeiro quarentão que encontrarem pela frente. Elas querem casar.

Elas talvez não saibam, mas são as mais bonitas das mulheres. Acho até que a idade mínima para concurso de miss deveria ser 30 anos. Desfilam como gazelas, embora eu nunca tenha visto uma (gazela). Sorriem e nos olham com uns olhos claros. Já notou que elas têm olhos claros? E as que usam uns cabelos longos e ondulados e ficam a todo momento jogando as melenas para trás? É de matar.

O problema com esta faixa de idade é achar uma que não esteja terminando alguma tese ou TCC. E eu pergunto: existe algo mais excitante do que uma médica de 32 anos, toda de branco, com o estetoscópio balançando no decote de seu jaleco diante daqueles hirtos seios? E mulher de 30 guiando jipe? Covardia.

A mulher de 30 ainda não fez plástica. Não precisa. Está com tudo em cima. Ela, ao contrário das de 20, nunca ficou. Quando resolve, vai pra valer. Faz sexo como se fosse a última vez. A mulher de 30 morde, grita, sua como ninguém. Não finge. Mata o homem, tenha ele 20 ou 50. E o hálito, então? É fresco. E os pelinhos nas costas, lá pra baixo, que mais parecem pele de pêssego, como diria o Machado se referindo a Helena, que, infelizmente, nunca chegou aos 30?

Mas o que mais me encanta nas mulheres de 30 é a independência. Moram sozinhas e suas casas têm ainda um frescor das de 20 e a maturidade das de 40. Adoram flores e um cachorrinho pequeno. Curtem janelas abertas. Elas sabem escolher um travesseiro. E amam quem querem, à hora que querem e onde querem. E o mais importante: do jeito que desejam.

São fortes as mulheres de 30. E não têm pressa pra nada. Sabem aonde vão chegar. E sempre chegam.

Chegam lá atrás, no Balzac: 'A mulher de 30 anos satisfaz tudo'.

Ponto. Pra elas.




Um de nós está mentindo

O Cândido me pede um texto de/ou sobre humor.

Pensei em falar sobre o desprezo dos acadêmicos (e os jurados de prêmios) em geral para com os escritores que trabalham com o humor. Fiz até algumas pesquisas entre os Nobel da Literatura e os Pullitzer americanos. Tirando o Dario Fo, o García Márquez e o Bernard Shaw, só sobram saramagos, sartres, pasternaks, graas e vargasllosa depois de velho. Mesmo o Ernest que era muito engraçadinho bebendo no bar, ficava seríssimo em alto mar. Enfim, os intemeratos, empolados e glorificados como salvadores da pátria sem chuteira é que são considerados os grandes mestres da literatura. Desde aqueles gregos. Barão de Itararé, Millôr Fernandes, Luis Fernando Verissimo não ganham prêmios nem no Brasil. São menosprezados pela academia, como se fácil fosse fazer humor. Nenhum deles esteve nas listas dos “vinte melhores escritores brasileiros do século XX”, que proliferaram no começo deste século.

Vou contar uma historinha despretensiosa que eu acho engraçada e envolve um grande poliglota acadêmico (e político) brasileiro, o doutor Rui Barbosa, também conhecido como A Águia de Haia. Foi considerado agora em 2013, por uma pesquisa do jornal A Tarde, da Bahia, como o maior baiano de todos os tempos (não em tamanho, pois tinha um metro e cinquenta e oito e pesava 48 quilos), deixando para trás Jorge Amado, ACM, Anísio Teixeira, Obina e outros menos votados. Mas trata-se, sem nenhuma dúvida, de um brasileiro importante não só na Bahia, como no Brasil (foi três vezes candidato à presidência da República). Polímata, tendo se destacado principalmente como jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor, orador, ministro, embaixador, deputado, escritor e chato, só não foi jogador de futebol porque não tentou a ponta-direita do Vitória. E no exterior, abafou falando até em latim.

Foi na Holanda, em Haia, onde aconteceu o fato que passo a narrar que foi protagonizado por ele, o Rui, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Quem me contou a história foio escritor, jornalista e biógrafo Fernando Morais. E quem contou para ele foi o também jornalista e escritor Moacir Werneck de Castro que, por sua vez, jurava ter ouvindo do próprio personagem do caso, o doutor Rui. Fiz um Google rápido e descobri que quando Rui Barbosa morreu, aos 73 anos, em 1929, o menino Moacir tinha oito anos. Como ambos moravam no Rio, sei lá, podiam ser amiguinhos. Deviam ter a mesma altura, quem sabe? Ou talvez o Rui contou para alguém que passou para o Moacir alguns anos depois.

Vamos lá. Todo mundo sabe que o Rui Barbosa chegou na IIª Conferência da Paz em Haia, em 1907, carteando marra. Na hora de fazer o seu discurso, petulante, indagou:

- Em quem língua quereis que eu fale?

Pode?

Dizem que falou em latim e arrasou. De noite, o Czar Nicolau II, o último dos czares (pai da princesa Anastácia, lembra?) deu uma festa no consulado da Rússia. Nosso poliglota foi convidado. Havia uma fila enorme de gente do mundo todo para cumprimentar o Nicolau. O sujeito chegava perto, um ajudante de ordem dizia o nome e o país do cidadão e Lalau falava na língua do elemento. O Rui Barbosa, que estava na fila, foi ficando impressionado com aquilo. O homem falava mais línguas do que ele? Impossível! Quando ele chegou, foi anunciado:

- Rui Barbosa, Brasil.

E o czar, em português:

- Como vai aquela terra maravilhosa? Copacabana continua linda? Como vai o presidente Afonso Pena?

O nosso diplomata respondeu e se despediram. Mas o Rui ficou invocado (gíria daquela década) com aquilo. Resolveu testar o czar. Deu a volta e pegou a fila de novo. Quando chegou, foi anunciado:

- Rui Barbosa, Brasil.

E ele perguntou ao czar:

- Nicolau, Nicolau, vamos comer mingau?

O russo apertou a mão dele e respondeu:

- Só se for de araruta, seu filho da puta! (um de nós mentiu).





Quem escreve as bulas?


Quando me perguntam a profissão e eu digo que sou escritor, logo vem outra em cima: de que? De tudo, minha senhora. De tudo, menos de bula. Romance, cinema, teatro, televisão, poesia, ensaios, tudo-tudo, menos bula!

Uma vez, num barzinho uma gatinha me perguntou o que eu escrevia e disse que escrevia bula. Ela não deu a menor atenção para mim. Se dissesse que era cronista do Estadão talvez tivesse mais sucesso. Por que o preconceito contras as geniais bulas? Quando é bula papal todo mundo leva a sério, mesmo que seja para dizer que não se pode fazer amor sem a intenção da procriação (que palavra mais animal!)

Não que eu não aprecie as bulas. Pelo contrário. Adoro lê-las. E com atenção. E, sempre, depois de ler uma, já começo a sentir todas as “reações adversas”.

Admiro, invejo esse colega que escreve bulas. Fico imaginando a cara dele, como deve ser a sua casa. Que papo tal escrivão deve levar com a mulher e com os vizinhos?

Tal remédio “é contra-indicado a pacientes sensíveis às benzodiazepinas e em pacientes portadores de miastenia gravis”. Dá vontade de telefonar para o autor e perguntar como é que eu vou saber se sou sensível e portador? Quanto ele ganha por bula? Será que ele leva os obrigatórios dez por cento de direitos autorais? Merecem, são gênios.

Jamais, numa peça de teatro, num roteiro de um filme ou mesmo numa simples crônica conseguiria a concisão seguinte: “é apresentado sob forma de uma solução isotônica (que lindo!) de cloreto de sódio, que não altera a fisiologia das células da mucosa nasal, em associação com cloreto de benzalcônio”. Sabe o que é? O velho e inocente Rinosoro.

Vejam o texto seguinte e sintam na narrativa como o autor é sádico: “você poderá ter sonolência, fadiga transitória, sensação de inquietação, aumento de apetite, confusão acompanhada de desorientação e alucinações, estado de ansiedade, agitação, distúrbios do sono, mania, hipomania, agressividade, déficit de memória, bocejos, despersonalização, insônia, pesadelos, agravamento da depressão e concentração deficiente. Vertigens, delírios, tremores, distúrbios da fala, convulsões e ataxia”. Pronto, tenho que ir ao dicionário ver o que é ataxia: “incapacidade de coordenação dos movimentos musculares voluntários e que pode fazer parte do quadro clínico de numerosas doenças do sistema nervoso”. Já sentindo tudo descrito acima.

Quem mandou ler?

E quem tem úlcera pélvica não pode tomar remédio nenhum. Está condenado à morte? Toda bula odeia essa tal de úlcera pélvica. As demais úlceras entram como coadjuvantes nos textos dos autores buláticos (tem a palavra no Aurélio).

E as gestantes (é como os buláticos chamam a grávida)? Elas não podem tomar nenhum remédio. Os nobres coleguinhas protegem a gravidez.

E se você tem “intolerância conhecida aos derivados pirazolônicos”, te cuida, irmão. Deve dar em gente nascida em Pirassanunga e região.

Para todo remédio uma bula diferente, um estilo próprio, um jeito de colocar a vírgula diferente.

Tudo isso para dizer que outro dia, na cama, com a parceira amada, pego uma camisinha na mesinha e abro. Sabe o quer estava escrito lá dentro? “Parabéns! Você adquiriu o mais avançado e seguro preservativo do mercado brasileiro”. Era uma bula. Escrita por algum conhecedor, é claro, dentro da caixinha da camisinha. Claro que me entusiasmei e segui a leitura deixando a amada de lado. Broxei, é claro. Mas, em compensação, fiquei sabendo que “o agente espermicida nonoxinol (essa não tem no Aurélio) 9 (logo o 9?) é contra as DSTs”.

Depois dessa informação, aí sim, voltei para a alcova. Mas e a amada, onde estava?

E lembre-se sempre: todo medicamento deve ser mantido fora do alcance das crianças. E não tome remédio sem o conhecimento do seu médico. Pode ser perigoso para a sua saúde.

E pra cabeça.

Agora, falando sério. Admiro os escritores de bula. Assim como invejo os poetas. Talvez por nunca ter sido convidado (nem teria experiência) para escrever uma e nunca tenha conseguido escrever um poema. Sempre gostei de escrever as linhas até o final do parágrafo.

Para mim o poeta é um talentoso preguiçoso. Nunca chega ao final da linha. Já repararam?

Já o bulático, esse sim, é um esforçado poeta!


3 comentários:

  1. Sábado ao meio dia a repórter da record entra no ar e diz que está apavorada com a situação. Lamentável

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