DOIS MINUTOS
COM PRÉVIDI
ESTOU ÓTIMO E
DISPENSO INVEJOSOS
Pessoal, na nossa última cesta cultural, falamos do carnaval, a festa que precede a Páscoa em 47 dias.
Nesta, falaremos um pouco sobre o evento referência, a Páscoa Cristã.
Falaremos da Páscoa da cristandade, mas não nos olvidemos de que os judeus também festejam essa data – para eles, Pessach – como uma rememoração da libertação do seu povo (os hebreus) da escravidão no Egito.
Agora neste próximo 20 de abril, um domingo, todos os cristãos do mundo festejam a Páscoa ou Domingo da Ressurreição. Conforme o Novo Testamento, esta data marca a ressurreição de Jesus (a vitória sobre a morte e o pecado) ocorrida três dias depois da sua crucificação no Calvário. O direito canônico manda que façamos abstinência e jejum na quarta-feira de cinzas e na sexta da Paixão de Cristo (alguém faz?). Ainda há alguns bons anos não se comia carne na quaresma, exceto peixe. Brincar nas quintas e sextas-feiras da Semana Santa, as mães prendiam seus rebentos em casa, e o nosso futebolzinho..., nem pensar...
Hoje, liberou geral!
A Páscoa é a principal celebração do ano litúrgico cristão e também a mais antiga e importante festa. É móvel e determina todas as demais, exceto as relacionadas ao Advento (o momento que antecede o nascimento de Cristo). Como uma festa móvel, não fixa no calendário, ela deve ser celebrada, e aí veio a complicação, sempre no 1º domingo após a 1ª lua cheia do equinócio (outono aqui, primavera no hemisfério Norte).
Para relembrar, abaixo seguem os eventos da Semana Santa deste 2025, que fecha na Páscoa, um momento para que todos os cristãos das diversas religiões reflitam e – também – celebrem:
Domingo de Ramos: 13 de abril;
Segunda-feira Santa: 14 de abril;
Terça-feira Santa: 15 de abril;
Quarta-feira Santa: 16 de abril;
Quinta-feira Santa: 17 de abril;
Sexta-feira Santa: 18 de abril;
Sábado de Aleluia: 19 de abril;
Domingo de Páscoa: 20 de abril.
A data da Páscoa foi fixada por decreto canônico em 325 d.C. no 1º Concílio de Niceia.
A complicação na fixação da data está relacionada ao advento do Calendário Gregoriano, nosso segundo tema.
Vejamos:
O mundo de então, a cristandade, o ocidente, convivia com o ‘moderno’ calendário juliano. Antes deste, os povos antigos tinham um sistema de contagem do tempo que vinha lá dos sumérios (explicaçãozinha: os sumérios não usavam o sistema decimal de numeração, e sim a base 12 – muito superior, pois divisível por mais números. Isto explica o ano com 12 meses, os 12 signos astrológicos, o dia de 24 horas, os minutos e segundos com a base 60, etc., etc.), mas que era muito inexato, prejudicando principalmente as épocas dos plantios. O calendário iniciava em março e tinha dez meses, tanto que setembro vem de sete, o sétimo mês; outubro, oito; novembro, nove, e dezembro, dez.
O imperador Júlio César, em 46 aC, criou o calendário (solar) com 365 dias e seis horas.
(O calendário romano em vigência, já então com 12 meses, era baseado nas fases da lua, o que provocava um desajuste entre as estações, datas e as épocas dos plantios e colheitas.)
Esse calendário (de Júlio César) foi inspirado no egípcio, e teve os seus complexos cálculos sob a responsabilidade do astrônomo Sosígenes de Alexandria.
Os ’sábios’ egípcios tinham muito conhecimento nessa área, pois tinham como referência as monções anuais do rio Nilo: como elas são periódicas, ou seja, cíclicas, estes ciclos levaram à criação do calendário egípcio. Cada um destes ciclos durava quatro meses.
A majestade de Júlio César não poderia deixar por menos, ficou imortalizada com a inclusão do seu nome, o mês de JULHO, em seu calendário.
Pouco tempo depois, em 8 dC, houve um pequeno ajuste com a inclusão de anos bissextos a cada 4 anos. Melhorou, mas assim mesmo ainda havia um atraso de 3 dias para cada 400 anos, absolutamente sem importância para à época. Bom, mas aí também entrou o despotismo do imperador Augusto Otávio: ele exigiu a inclusão do seu nome no calendário e, também, com 31 dias! A solução foi tirar um dia de fevereiro, que passou para 28, e assim nasceu o mês de AGOSTO.
Em meados do século XVI, mais de 1500 anos passados, o descasamento entre o evento astronômico da Páscoa (equinócio da primavera no hemisfério Norte) e o calendário juliano já alcançava 10 dias, e isso deixava as altas autoridades da igreja muito descontentes.
Então, o Papa Gregório XIII reuniu um grupo de astrônomos e matemáticos para consertarem o vigente e falho calendário juliano. Com a supressão de 10 dias, o equinócio da primavera voltou para 21 de março. A partir de 1582, os anos seculares só passaram a ser bissextos se divididos por 4, exceto se forem centenários e não forem divisíveis por 400.
O ano passou a ter 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos, só 27 segundos a mais que o ano trópico (ou astronômico). Não fiz as contas, mas dizem que só daqui a 3 mil anos teremos um dia de defasagem! (Haverá humanidade daqui a 3 mil anos?).
A Páscoa continua uma data móvel (fica entre 22 de março e 25 de abril), pois ela é uma combinação entre o calendário solar e o lunar. Alguém, ingênuo como eu, que nada entende da exegese cristã, poderá perguntar: ‘Por que eles não fixam uma data, 21 de abril, por exemplo, e param com este absurdo que faz com que o nosso carnaval varie tanto?’ Não há a menor chance. A Igreja jamais cederá numa questão que para ela é dogmática, pronto! Hoje, até podemos questionar; no passado, vide o incauto astrônomo Giordano Bruno, fogueira para os hereges!
Por fim, pessoal, o calendário Gregoriano se impôs no mundo todo. Mas não foi de imediato, demorou um pouco.
Um exemplo:
A revolução bolchevista russa (a igreja ortodoxa russa não seguia a igreja católica romana) ocorreu em 25 de outubro de 1917, quando os bolchevistas, liderados por Lênin, lançam o decisivo ataque final à sede do governo provisório. Com a adoção do calendário gregoriano pelos vitoriosos, passou para 7 de novembro de 1917.
Ainda que judeus, chineses, hindus, japoneses, muçulmanos mantenham - pro forma- seus calendários, eles seguem, ‘religiosamente’, a obra do Papa Gregório XIII.
* * * * * * *
Algumas curiosidades sobre o Calendário Gregoriano (retiradas da web)
- Foi oficializado em 1582, na Itália, Polônia, Portugal e Espanha;
- Apesar de ser instituído pelo Papa Gregório, o calendário gregoriano é uma criação de Dionísio, um monge que viveu em Roma no século VI, e que também foi responsável por determinar que esse calendário deveria ter como marco, para início de sua vigência, o nascimento de Cristo;
- A Turquia foi o último país a adotar o calendário gregoriano, em 1927;
- Foi criado por uma comissão científica convocada pelo papa Gregório XIII, liderada pelo astrônomo e filósofo italiano Luigi Giglio;
- Em alguns países protestantes, a mudança do calendário era vista como uma forma de frear a nova religião na Europa;
- Na Inglaterra anglicana, houve protestos contra a mudança do calendário. Só oficializaram a data em 1752;
- Não é perfeito, se comparado com o ano tropical;
- Até 4909, estará adiantado em um dia;
(essa informação/curiosidade não mais ocorrerá, pois a entidade mundial controladora do tempo/calendário dispõe de relógios atômicos, baseados na emissão radiativa de átomos de césio 133, que erram apenas 1 segundo a cada 30.000 a 65.000 anos);
- Foi promulgado pelo Papa Gregório XII (1502–1585) em 24 de fevereiro de 1582, pela bula Inter Gravissimas;
- Foram omitidos dez dias do calendário juliano, deixando de existir os dias de 5 a 14 de outubro de 1582. A bula ditava que o dia imediato à quinta-feira, 4 de outubro, fosse sexta-feira, 15 de outubro;
- Por praticidade, o calendário gregoriano é hoje adotado como convenção para demarcar o ano civil em praticamente todo o planeta. Essa unificação, que facilita o relacionamento entre os países, se deve em grande parte à exportação histórica dos padrões europeus para o resto do mundo.
- O astrônomo e matemático alemão Johannes Kepler (1571-1630), protestante, e que foi quem desenvolveu as três Leis que explicam o movimento dos planetas em torno do sol, chegou a observar que muitos dos países protestantes preferiram ‘ficar em desacordo com o Sol a ficar de acordo com o papa’.
*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.
Parabéns ao JP Fontoura, mais um belo texto.
ResponderExcluirperguntinha: por quê na capital da vanguarda do atraso até o carnaval é atrasado? pq depende de liberação de $$$$ público? mas são tão incompetetes que não conseguem se aliar ao submundo do crime para financiar desfiles? a exemplo da cidade maravilhosa?