DOIS MINUTOS
COM PRÉVIDI
A ANIVERSARIANTE
Continuação da Cesta da semana passada
Revolução de março de 1917
A Revolução Russa (ou as Revoluções Russas) de 1917 é considerada, e acho que aí há quase uma unanimidade, um dos três maiores acontecimentos do século XX – sendo os outros como Guerras Mundias. Mas essas mesmas duas guerras tiveram a influência – lateral ou direta – da gesta épica de 1917. Vou citar um exemplo: será que os aliados venceriam os nazistas se não fosse a determinação do 'doidivanas' Stálin (ninguém retrocede, quem retroceder ou deixar-se tornar prisioneiro será, se pego, fuzilado!) e dos seus 20 milhões de soldados mortos?
Ela vai muito além da eliminação do czarismo, pois sua consequência para a História Mundial permeou por todo o século XX.
A Rússia seguiu há séculos (exceção foi o período de Pedro, O Grande, já descrito algures neste ensaio) um modo de produção bastante atrasado. Era majoritariamente rural e se encontrava em um regime muito próximo ao feudal. As tentativas de industrialização, ao longo da história, várias vezes não deram certo, o que fez com que a aristocracia, ou seja, os nobres, concentraram toda a riqueza, enquanto o restante do povo vivia na miséria e na fome.
(Aqui vou abrir um parêntese: eu sempre tive dificuldades para aceitar o lugar comum entre os historiadores que apontam para uma situação muito atrasada, quase feudal, da economia russa por volta do início do século XX. Não quero dizer que a vida para o campesinato russo não era extremamente dura. Quero dizer, sim, que havia 'ilhas' de crescimento na economia, o nascimento de uma burguesia que curtia teatros, filmes, li livros, fofocava sobres amorosos no Café Nevski, principalmente da relação escandalosa da czarina Alexandra com o místico Rasputin, visitava os hipódromos aos domingos, formava trustes para enriquecer, aplicava na bolsa, formava uma casta de profissões liberais como advogados, médicos, professores, engenheiros, jornalistas, etc., à sombra do autocrático Czar, havia 40 mil operadores da bolsa, de ambos os sexos! Nikopol-Mariupol, onde um jovem Nikita Khruschev iniciou como operário chão-de-fábrica.
Havia ensino superior de qualidade, além das faculdades de direito. Exemplo: Alexandre, irmão mais velho do Lênin, participou com outros jovens radicais, da tentativa de morte do Czar Alexandre III, em 1887, utilizando materiais químicos complexos, como o ácido nítrico, para produzir explosivos. Este composto foi retirado do Laboratório de Faculdade de Ciências Naturais, onde o jovem revolucionário havia se formado recentemente. (Produzir esse composto, mesmo que em laboratório, não é, como sabemos, para países muito atrasados).
De tempos em tempos, principalmente a partir da segunda metade do século XIX, várias ideias positivas à monarquia absolutista foram surgindo, algumas delas revolucionárias, como as dos mencheviques e bolcheviques, essas, mesmo que lentamente, ganharam adesão crescente junto ao povo russo sofrido.
O czar Nicolau II, que havia reforçado o Império em 1896, era um dos governantes mais despreparados para a carga. Quando de sua ascensão escreveu 'foi a pior coisa que poderia ter acontecido comigo'. Era um homem tímido, devotado à esposa, e não curtia a vida na corte. Os trágicos acontecimentos de 'Domingo Sangrento', de 1905, é um exemplo bem didático de sua total falta de habilidade e determinação para com suas cortesões e povo. Sim, ele já poderia ter caído. Ganhou uma sobrevida. Mas a Guerra de 1914 foi o fim. Sua desqualificação e presunção (foi para a frente da guerra, para nada decidir e ainda atrapalhar seus ineptos gerais) premiou-o com a perda da coroa, a prisão, e em sequência, agora já com os bolcheviques no poder, a morte sua e de toda sua família.
Em março, com a abdicação e queda do seu governo, o poder passou para o efêmero Governo Provisório, com os membros da Duna, liderados por Kerensky, Gutchkov, etc., funcionando, em meio a uma crise sem fim, como um parlamento liberal europeu.
A chamada República da Duna, ou Revolução de março, ou Revolução Branca, ou Revolução Menchevique, ou Revolução dos Cadetes, fenece meros sete meses depois de entregar 'TODO O PODER AOS BOLCHEVIQUES'.
Lênin é pego, distante, lá na Suíça, inerte, desanimado: ' deixem que continuem essa guerra imperialista. ..' Mas recupera a saúde debilitada, anima-se e muda de tom: ' como vamos chegar lá? ' Consegue ajuda e saída: vai atravessar a Alemanha, rumo à estação Finlândia...
Revolução de novembro de 1917, a pra valer!
Repetindo o endereço posto acima, não há um só historiador que não aponte para esse evento do início do século XX como um – se não for 'O’ – dos mais importantes e dos que mais impactaram o curso dos eventos do século passado.
A Revolução Bolchevista de 1917 é sinônimo de URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e das suas derivações como a China, a Coreia do Norte, Cuba, o extinto Pacto de Varsóvia, a 'explosão' numérica e absurda dos arsenais atômicos mundo afora, etc.
Já falei na importância decisiva da União Soviética na vitória aliada na Segunda Guerra Mundial. Outro ponto importante foi que por quase meio século esse produto derivado da Revolução Russa de 1917 dividiu meio a meio o mundo com o seu inimigo ideológico – Os Estados Unidos, na temível 'Guerra Fria', a afiadíssima Espada de Dâmocles na cabeça da população mundial.
A utopia tritura a História, todo o poder aos bolcheviques.
Seis de novembro de 1917, véspera da queda e da ruína pessoal do primeiro-ministro da frágil república Menchevique, o famoso Teatro Aleksandr da cidade de Pedro, O Grande, apresentou, para delírio dos seus habitantes amantes do teatro, a peça 'A Morte de Ivan, O Terrível'.
Premonição?
No teatro da vida real, dois atores, Lênin e Kerensky, antigos contemporâneos, ex-amigos, preparam-se para uma luta mortal!
E a história poderia ter sido diferente. Bastava ao indeciso Kerensky retirar seus soldados da guerra, uma guerra que o povo russo odiava, e as provocações dos inimigos, os grevismos, as passeatas, não continham força para derrubá-lo.
Do outro lado, do lado bolchevique, houve ação e decisão. Para um velho Lênin, 47 anos, com vários problemas de saúde, que gastou sua juventude e meia-idade com estudos e pregações da teoria de Karl Marx, era uma janela estreita, a única, à qual teria que ultrapassar fosse como fosse. Se perder essa oportunidade, se 'sua' revolução não vingasse, nem mesmo nos rodapés de jornais interiores seu nome constaria. Sua pregação e vida foram vãs!
Na madrugada do dia seguinte, sete de novembro, os bolcheviques liderados por Lênin, Zinoviev, Radek, Stálin, Trotsky, e o apoio decisivo a elementos revolucionários organizados e afinados, doutrinados ideologicamente cercam a capital e tomam a sede do governo provisório, prendendo vários políticos que não conseguiram escapar.
Kerensky – ilhado no palácio sem luz e sem telefone – consegue fugir com ajuda de um automóvel da embaixada americana da, agora, 'Vermelha Cidade do Pedro'.
À tarde, no espaço da Duna, uma sessão do Soviete de Petrogrado delega o poder (do governo) ao Conselho dos Comissários do Povo, dominado pelos bolcheviques.
A Assembleia Constituinte, que organizava uma nova constituição no país, foi, no ato, dissolvida.
Antes do 'soco' final de novembro, em julho, os bolcheviques buscaram um levante contra os mencheviques do governo Kerensky. Houve fracasso nessa intenção, com mais de 150 pessoas mortas ou feridas. Lênin e outros líderes tiveram que fugir do país para não serem presos ou mortos. Mas nem tudo foi ruim: esses dias de julho revelaram uma grande vulnerabilidade do governo provisório. Os ensinamentos tirados desse intento organizaram o palco para uma revolução vitoriosa de novembro.
Finalizando este ensaio, já tão longo, esses sete meses de processos revolucionários, essa busca pela tão desejada utopia, parece-me com o 'caldeirão das bruxas de Macbeth', bruxas proféticas shakespearianas que aclamam Macbeth impedindo sua ascensão à realeza ao matar o rei e tomar o trono (podem trocar Macbeth por Lênin).
Igual aquelas bruxas havia um mar de escritores e poetas russos, ou melhor, russos soviéticos, que criam que o sucesso da revolução seria a tão aclamada e desejada redenção da sofrida classe operária, enfim a extinção do serviço humano.
Vejamos abaixo um dos versos do poeta Aleksei Tolstói (1883-1945):
'Imersos em três águas,
Banhados em três sangues,
Fervidos em três lavagens,
Somos puros entre os puros.
Será?
Lamentavelmente, não! Os 73 anos de laboratório da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas deram em quê? Dor, sofrimento, mentiras, traições, prisões, assassinatos, Arquipélagos Gulag, exílios siberianos em massa...
Nem vou me estender muito, mas a utopia foi rompida já no início: a alegria das repúblicas que participaram da revolução com a promessa da tão desejada 'liberdade' (Ucrânia, Bielorrússia, Estônia, Letônia, Lituânia, Geórgia, Armênia, e muito mais, totalizando 15) foram arbitrárias e compulsoriamente anexadas à Rússia para formar a URSS.
Aos líderes que não aceitaram essa união, as portas da Sibéria estavam abertas – acidentalmente.
O grande estadista Winston Churchill cunhou uma frase mais tarde, que a mim definiria claramente o novo estatuto da Europa, mas que, igualmente, serviria para o mundo: ' Uma cortina de ferro cobriu a Europa' .
Agora sim finalizando: Aleksei Tolstói, o poeta acima citado, morreu de morte natural em 1945, aos 62 anos. A mesma sorte não teve o seu colega Maiakovski, apodado 'O Poeta da Revolução', que morreu 'suicidado' em 1930, com apenas 36 anos.
Maiakovski mudou ou foi apenas apagado da foto oficial?
No contexto dos negros dias de busca da sonhada utopia, da brutal Tcheká, que, a ferro e fogo, tentava purificar a sacra revolução, um fanático Maiakovski, que entre um Marat e uma Charlotte Corday não escondia sua preferência pelo primeiro, descrevendo as seguintes (e ternas) palavras em relação ao comissário Djerjinski – o todo poderoso chefe da Tcheká:
' Ao jovem que medita sobre a existência,
Procurando quem lhe dê um exemplo na vida,
Direi sem hesitar: Tome como exemplo
Ó camarada Djerjinski !'
Uma reflexão de um pensador anônimo: 'o que é o leninismo/stalinismo e o nazismo senão a crueldade que perdeu até mesmo a fé numa meta utópica?
*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.
Boa tarde, algum amigo leitor deste prestigiado blog, sabe algo relativo a Trilha de abertura da jornada esportiva da Rádio Guaíba? Alguns comentam que foi retirada de um trecho de um filme. Caso alguém conseguir uma pista (nome do filme ou cantor, maestro etc) eu ficaria muito contente.
ResponderExcluirNovas trilhas e vinhetas modernizaram a estética da Guaíba, sendo um exemplo, o novo arranjo da clássica abertura das jornadas esportivas 24 lançado em novembro de 2015. Antiga marca da 24 Versão da canção Marina, de Dorival Caymmi. chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/157369/001013343.pdf?seq
ExcluirA trilha do esporte da Guaíba foi, lá pelo início da rádio, em abril de 1957, 'chupada' da trilha do seriado americano 'I Love Lucy' .
ExcluirDizem que o Fernando Veronesi, disque-jóquei da rádio, conseguiu de alguém um disco com o tema, e pediu para um maestro adaptá-lo - acelerando e alterando alguns compassos. Mas, quem copia de ladrão tem mil anos de perdão: esse tema musical do seriado americano é claramente cópia da música Marina, do Dorival Caymi, que havia sido lançada na década de 40, e que tornou-se sucesso mundial. A trilha é claramente 'Marina morena, Marina você é demais, Marina...' só que bem acelerada.
Abaixo o endereço do vídeo no YouTube:
https://youtu.be/VSvpFv0e_W4
Tirem o tema de I Love Lucy dessa polêmica. Simplesmente nada a ver.
ExcluirOlá João Paulo, obrigado pela resposta. Essa tese da adaptação de arranjos faz muito sentido.
ExcluirMas faço respeitosamente algumas considerações e contribuições (baseado na pesquisa que fiz no google e youtube).
No caso da trilha de abertura da Lucy, essa música em específico (da postagem) talvez não seja a inspiração mas sim outra da mesma série.
Um dos produtores desse programa era o personagem Rick Ricardo marido da Lucy na série (e na vida real). Seu nome era Desi Arnaz e fez toda trilha do programa.
Se escutarmos no youtube " I Love Lucy - The Best Of - Desi Arnaz (Full Album)" os instrumentais realmente são muito parecidos com o tema da rádio.
Quanto a Marina do Caymmi,
A versão do Maestro Lyrio Panicalli é a mais parecida em termos de instrumental (aos meus ouvidos) mas esse disco em específico pela pesquisa é de 1968. (colocar em modo 1,75 acelerado no youtube )
https://www.youtube.com/watch?v=sE7IRBENVkU&list=OLAK5uy_kBO3PFQnIstY545Ret_Ln1VpnIF6SEX3Q&index=16
Marina
Excluirhttps://www.youtube.com/watch?v=sE7IRBENVkU&list=OLAK5uy_kBO3PFQnIstY545Ret_Ln1VpnIF6SEX3Q&index=16
Realmente, acelerado 2X fica praticamente igual ao tema original da Guaíba. Outra coisa impressionante da velha Guaíba é ( era?) o tela de introdução do Correspondente Renner, criado no mesmo esquema, só não sei de onde veio o original.
ExcluirEmbora nao navegue muito nessa area, mas posso afirmar como Bem destacou Angelo Dourado no seu livro VOLUNTARIOS DO MARTIRIO quando foi acolhido por um casal de jovens indios. A maldade a humanidade produz pois A BONDADE E NATA.
ResponderExcluirAmbas nascem no mesmo solo. A pessoa é quem decide qual delas regar.
ExcluirÉ tortura apache aguentar os chatos e enjoativos narradores da GloboFedor gritarem a cada 10 minutos....."O IMORTAL TRICOLOR". PQP!!
ResponderExcluirE o Inter é o "Clube do Povo". Esses jargões dão um tempero especial ao futebol, mas, como todo tempero, devem ser usados com parcimônia, senão estragam o produto final.
ExcluirA do Inter é história linda, gostosa, verdadeira. A do Azulão é mentira grossa, fake, conversa pra boi dormir.
ExcluirNão misture coisas absurdamente diferentes.
O jargão pegou. Aceite que dói menos.
ExcluirEntão, quer dizer que aquela moça das visitas ao calabouço da PF, em Curitiba, "não nasceu para ser dona de casa"?
ResponderExcluirEu a admiro pela "visão a longo prazo", e concordo que ela faça o que bem entende e viaje por onde quiser, mas com os custos pagos pelo marido e não com verbas públicas!
Estás falando da Fernanda?
ExcluirNinguém da GloboLixo, nem de qualquer outra emissora grita uma única vez...."Inter o clube do.povo"!!!
ResponderExcluirO narrador Gustavo Villani, da Globo, usa esse jargão em todo gol do Inter.
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