Ferro e Mais Ferro - 12 janeiro

Corruptos & corruptores?  

Glauco Fonseca*

Há sempre algum expoente intelectual, invariavelmente de esquerda, que defende que há dois lados até em DVD. Se toca de um lado, deve tocar do outro, pensa o cérebro privilegiado. Se os Castro estão há 50 anos ocupando o trono do reino caribenho de Cuba, também para eles tem o outro lado. A saúde cubana é “próxima à perfeição”, assim como a educação, dizem eles para tentar compensar a opressão e a gestão criminosa de uma nação que só perde em atraso para outra monarquia fajuta, a da Coréia do Norte.
Há duas coisas que não têm “outro lado”, como sempre almejam os geniais trotskistas de restaurante chique: Linguado e corrupção. O caso do linguado é simples. O bicho simplesmente tem um lado que fica arrastando no chão e no outro têm dois olhos. No caso do linguado, não dá pra dissertar acerca de seu equilíbrio funcional. O bicho, em síntese, só tem um lado. O outro lado é esteticamente irrelevante. A única argumentação que poderia gerar alguma controvérsia diz respeito ao sabor do peixe. Conheço alguns socialistas que antes gostavam de uma manjubinha frita, uma violinha e agora não abrem mão de um bom linguado a “belle meuniére”.
Outro papo absolutamente furado é defendido por imbecis ainda mais ilustres. Dizem eles “se há corruptos, é porque há corruptores”. Já pararam para pensar em tal pérola? Se há céu, há inferno; se tem colorados, há gremistas e assim por diante, desembarcando na seara tão em voga que inunda jornais no Brasil desde o Mensalão.
Imagino a cena de um “corruptor” oferecendo alguma vantagem a um funcionário público. Se o agente público aceita, o crime de corrupção envolve o aceite e não originalmente a oferta. Se o cidadão que recebe a oferta declina da “gentileza”, não acontece o crime de corrupção e, neste caso, não existe o desvio de recursos. É claro que ofertar também é crime, mas é um crime menor diante do aceite por parte do funcionário que lida com dinheiro público.
No entanto, o que ocorre de modo sistêmico é a sugestão de aceite por parte do agente público que, neste caso é corruptor e corrupto ao mesmo tempo. Ao sugerir ou exigir benefícios para si, o corrupto/corruptor é o agente público. E quando o agente privado aceita as condições, é também corrupto, pois não partiu dele a ação inicial de deterioração tanto do processo quanto de pessoas. No caso, não dá para enquadrar o agente privado como “corruptor”, pois que ele não ativou o processo.
Um agente privado, percebendo que arriscará um negócio, que deixará de faturar milhões e que perderá uma licitação se não aceitar as condições impostas pelo representante do ente público, se vê numa situação extrema: perde o negócio ou entra na dança? Ele pode ser considerado um “corruptor”? Claro que não!
Ele concorre na corrupção, por adotar as regras impostas pelo agente público, mas, de novo, não é um agente corruptor por não ter oferecido vantagens. Apenas iguala-se em ato criminoso ao corrupto, ao agente público deturpado.
Em síntese, para acabar com “corruptos e corruptores”, conforme preferem os atenuadores de irregularidades desde que praticadas por seus semelhantes ideológicos, basta que se dê cabo dos corruptos.
Se não houver corruptos, não haverá corruptores.
Por outro lado (como eles gostam...), não pode haver corruptores SEM que haja corruptos. Ou seja, não há “outro lado”, entenderam? Eu sei que parece complicado, mas não é.
Um resuminho: se eu oferecer algo ilícito e receber um NÃO como resposta, posso ser preso por ter oferecido, indo para a cadeia, contudo, com a consciência tranquila por não ter desviado UM CENTAVO SEQUER do erário. Já o funcionário que me disse NÃO fez nada mais do que sua OBRIGAÇÃO, tanto por negar quanto por me denunciar, se for de seu juízo E se colher provas materiais ou testemunhais suficientes.
Em síntese, vamos ser francos: corruptos eliminados eliminam a corrupção. Corruptores? Papo furado e com segundas intenções. Um dia falo sobre elas.

* Glauco Fonseca é consultor.

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