Sexta, 24 de janeiro de 2020




Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
Ou melhor, o meu lado sou eu
...
ANDO DEVAGAR
PORQUE JÁ TIVE PRESSA PRESSA





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especial

Nesta sexta, uma cesta
de H.L. Mencken!






Só há uma coisa na qual homens e mulheres concordam: nenhum dos dois confia nas mulheres.


Quando um homem e uma mulher se casam,
tornam-se um só.
A primeira dificuldade é decidir qual deles.





Pode ser um pecado pensar mal dos outros.
Mas raramente será um engano.








O melhor frasista de todos os tempos?
O melhor jornalista norte-americano?





Henry Louis Mencken, conhecido como H.L.Mencken, nasceu em Baltimore, Maryland, em 12 de setembro de 1880. Foi jornalista, crítico literário, ensaísta, autobiógrafo, escritor, historiador e linguista. Mencken escreveu The American Language, um estudo de como a língua inglesa é falada nos Estados Unidos.
Era cético em relação a teorias econômicas.
Também se dizia anti-intelectual, anti-populista, contra o cristianismo fundamentalista, contra a religião organizada, cético sobre a existência de Deus.
Mencken morreu dormindo em um domingo, 29 de janeiro de 1956. Suas cinzas foram enterradas perto de seus pais e sua esposa no cemitério Loudon Park.
Depois de sua morte, novas controvérsias sobre HL surgiram. As coletâneas de seus trabalhos se tornaram populares. Foi acusado de anti-semitismo, e essas acusações ganharam mais espaço com a publicação de seu diário, em 1989. Seus amigos judeus o defenderam. Diversas biografias, voltadas para aspectos diferentes de sua vida, foram publicadas.
Sua mais conhecida obra é O Livro dos Insultos.
...
A respeito dessa obra, Julio Daio Borges escreveu:



"Pode-se dizer com bastante segurança que qualquer artista de alguma dignidade é contra seu país".
"Todo homem decente se envergonha do governo sob o qual vive".
"O principal conhecimento que se adquire lendo livros é que poucos livros merecem ser lidos"
Essas e outras frases estão impregnadas no inconsciente de quem passou os últimas décadas lendo atentamente os melhores jornalistas culturais brasileiros do século XX. Porque todos eles, direta ou indiretamente, foram influenciados por H.L. Mencken.
A começar por Paulo Francis, que o tinha como um de seus heróis, junto a Bernard Shaw e Edmund Wilson.
Emendando com Ruy Castro que, além de compilar essas frases em suas coletâneas de Mau Humor, organizou a mais célebre edição de Mencken em português - justamente, O Livro dos Insultos, que teve sua primeira tiragem em 1988, com tradução e posfácio de Ruy, mais orelha de... Paulo Francis.
O livro sai, agora, com novo projeto gráfico, dentro da coleção Jornalismo Literário da Companhia das Letras.
Mencken não é bom filósofo, mas estão lá, igualmente, suas opiniões filosóficas.
Não gostava de música popular, mas coincidiu com o nosso Vinicius de Moraes quando afirmou que "a paixão é o mais perigoso de todos os inimigos da suposta civilização" (ambos, na verdade, devem ter bebido em Freud). Admirava, imensamente, Beethoven e imaginava que ele devia ter realizado seu ideal de "artista livre": "o homem que ganha a vida, sem nenhum patrão, fazendo coisas que lhe agradam, e que continuaria fazendo mesmo sem pressões econômicas".
Mencken soa hoje mais inteligente e engraçado do que literário e profundo. Mas suas observações, de tão verdadeiras, ficam impregnadas em nós.
Quando, por exemplo, diz que o camponês que vem para a cidade precisa se alienar, para não se sentir constantemente esmagado e explorado; ou quando conclui que ninguém está imune às opiniões e aos preconceitos de sua própria mulher; ou, ainda, quando prova que toda autobiografia sincera é uma contradição em termos.
Mencken escreveu mais do que deveria, mas merece ser decorado, em muitos de seus trechos, como sugeria seu ídolo Nietzsche.


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Na história humana, não há registo de um filósofo feliz

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Trechos de uma biografia do escritor,
assinada por Jim Powell:

Mencken expressou seu ultraje em relação à violência contra os negros e, à medida que Hitler passava a ameaçar a Europa, Mencken atacava o presidente Roosevelt por se recusar a admitir refugiados judeus nos Estados Unidos: “Só existe uma forma para ajudarmos os fugitivos, e essa forma é encontrarmos lugar para eles em um país onde possam realmente viver. Por que os Estados Unidos não podem aceitar algumas centenas de milhares de fugitivos, ou até mesmo todos eles?”

Mencken era inflexível para que os Estados Unidos não voltasse a ficar emaranhado em outra guerra européia. Ele acreditava que isso significaria uma maior expansão do poder governamental, da opressão, das dívidas e das mortes, sem livrar o mundo da tirania. Era melhor manter os Estados Unidos como um santuário pacífico para a liberdade:

“Acredito que a liberdade é a única coisa genuinamente valiosa que os homens inventaram, pelo menos no campo governamental, em mil anos. Acredito que é melhor ser livre do que não ser livre, mesmo sendo a primeira opção perigosa e a segunda segura. Acredito que as melhores qualidades do homem apenas podem florescer ao ar livre – que o progresso obtido sob a sombra do bastão dos policiais é um progresso falso, e não tem nenhum valor permanente. Acredito que qualquer homem que coloque a liberdade de outro sob sua guarda irá, certamente, se tornar um tirano, e que qualquer homem que abra mão de sua liberdade, mesmo que seja apenas um pouco dela, se tornará, certamente, um escravo.” Mencken acrescentou: “Em qualquer disputa entre um cidadão e o governo, é meu instinto ficar ao lado do cidadão... Sou contrário a qualquer esforço para tornar os homens virtuosos através da lei.”

Quanto ao capitalismo, Mencken declarou:

“nós devemos ao capitalismo quase todas as coisas que possuímos sob o nome de civilização atualmente. O progresso extraordinário do mundo desde a Idade Média não foi causado pelo mero gasto de energia humana, nem mesmo pelos vôos de nossa imaginação, já que os homens trabalharam desde os tempos mais remotos e alguns deles tinham um intelecto inigualável. Não, esse progresso foi causado pela acumulação de capital. Essa acumulação permitiu que o trabalho fosse organizado economicamente e em grande escala – aumentando, assim, enormemente a sua produtividade. Ela forneceu a maquinaria que diminuiu gradualmente a labuta humana e que libertou o espírito do trabalhador, que anteriormente era indistinguível de uma mula. E, principalmente, possibilitou uma preparação mais longa e melhor para o trabalho. Assim, toda arte e artesanato expandiram o seu escopo e alcance, e uma grande quantidade de artes novas e altamente complexas apareceram.”

(...)

Embora fosse intensamente controverso, Mencken chegou a ser respeitado como o maior jornalista e crítico literário dos Estados Unidos. Produziu estimadamente dez milhões de palavras: cerca de 30 livros, contribuições a mais de 20 livros e milhares de colunas para jornais. Escreveu cerca de 100 mil cartas, algo entre 60 e 125 por dia de trabalho. Catava milho com os dois indicadores para formar cada palavra – por anos, usou uma pequena máquina de escrever Corona, que era mais ou menos do tamanho de uma caixa de charutos.

Mencken tinha coisas interessantes a dizer sobre política, literatura, culinária, saúde, religião, esportes e muito mais. Ninguém sabia mais da nossa língua americana. Especialistas influentes do passado, como Walter Lippmann, já foram esquecidos há tempos, mas Mencken ainda é lido. Na última década, foi publicada quase uma dúzia de livros dele ou sobre ele. O biógrafo William Nolte diz que Mencken está entre os autores americanos mais citados.


Certamente, Mencken está entre os mais brilhantes. Por exemplo: “Puritanismo – o medo constante de que alguém, em algum lugar, possa estar se divertindo”; “a democracia é a teoria do que o povo sabe o que quer, e deve recebê-lo integralmente” “o New Deal começou como o Exército da Salvação, prometendo salvar a humanidade, e acabou como o Exército da Salvação, administrando pensões e perturbando a paz”. Mencken tinha um metro e setenta e um de altura, e pesava em torno de 80 quilos. Usava o seu cabelo liso e castanho partido ao meio. Sempre tinha um charuto apagado na boca. Vestia um par de suspensórios e um paletó amassado. De acordo com um cronista, Mencken em seus melhores momentos parecia “um encanador acordando para ir à igreja.”



Nunca pus um charuto na boca antes dos nove anos.






Um homem perde o senso de orientação após quatro drinques; uma mulher após quatro beijos.






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Ele exercia seu ceticismo militante

Texto de Eduardo Cesar Maia:


Antes de que pudéssemos contar com os hoje já comuns “sebos virtuais”, alguns livros, apesar de não tão velhos e nem tão raros, viravam objeto de verdadeiras caçadas pelo simples fato de estarem esgotados na editora. É o caso de O livro dos insultos, uma compilação de textos do polêmico jornalista norte-americano Henry Louis Mencken (1880-1956), organizada por Ruy Castro e fora de catálogo há mais de 20 anos. Agora, para os admiradores do “sábio de Baltimore”, uma boa nova: a Companhia das Letras reeditou a obra numa edição bem cuidada e que, de quebra, além do prefácio do próprio Ruy Castro, traz um texto de Paulo Francis sobre “o mais poderoso cidadão privado na América” daqueles tempos, como o definiu Walter Lippmann, do New York Times.

Neto de imigrantes alemães e filho do dono de uma fábrica de charutos, Mencken se interessa pela literatura a partir da leitura de Mark Twain, escritor e também jornalista, de quem herda o humor irônico e o espírito libertário — Huckleberry Finn foi seu livro preferido durante toda a vida. Iniciou a carreira como foca no jornal Baltimore Morning Herald, em 1899, e posteriormente foi contratado pelo Baltimore Sun, em 1906. Sua verve de crítico cultural começou a ser destilada na revista The Smart Set, em 1908.

Em 1924, já consagrado e com algum dinheiro, Mencken pode fundar uma publicação própria, o magazine The American Mercury, que teve sua primeira edição circulando no mesmo ano, e, em pouco tempo, começou a ser distribuída com sucesso em todos os Estados Unidos. Entre seus amigos íntimos — os quais nem sempre escapavam de seu sarcasmo —, estavam importantes artistas e escritores da época, como George Jean Nathan, Theodore Dreiser, F. Scott Fitzgerald e Alfred Knopf.

Mencken entendia o jornalismo como uma atividade essencialmente de combate e de oposição ao poder constituído. Suas únicas crenças inamovíveis eram a defesa da liberdade de consciência e a preservação dos direitos civis dos indivíduos contra a força do estado e contra a “tirania da maioria”. Ficou célebre uma anotação em seu diário no dia da morte de um presidente americano: “Foi o primeiro americano a penetrar nas profundezas da estupidez do vulgo. Nunca cometeu o erro de superestimar a inteligência da multidão”. Referia-se assim a Franklin Delano Roosevelt, único presidente eleito por quatro vezes na história americana.

Sua capacidade de falar mal dos outros não tinha limites: desmoralizou políticos e acadêmicos, humilhou seus pares jornalistas inúmeras vezes; vilipendiou judeus, puritanos, católicos, filósofos; menosprezou os negros e ao mesmo tempo combateu a Ku Klux Klan e o fundamentalismo cristão. Afirmava que sempre odiara os pastores protestantes, mas começava a compadecer-se deles tão logo conhecia suas mulheres… Enfim, não poupava ninguém. Um de seus alvos preferidos era o que ele chamava de boobsie, o homem médio americano, deslumbrado, cheio de superstições, ignorâncias e medos — o Homer Simpson da época.

Polemista
A fama de polemista e “elitista preconceituoso” é rigorosamente merecida, mas o destaque unilateral dessa faceta acaba distorcendo seu perfil e diminuindo a amplitude de seu pensamento. De fato, Mencken foi o jornalista mais mordaz e influente de seu tempo, mas também foi crítico literário, tradutor, editor e lexicógrafo — autor do monumental The american language, obra filológica em que mostrava que o inglês falado na América se diferenciava cada vez mais do britânico e adquiria identidade e dinâmica próprias.

O homem foi ao mesmo tempo retrato e antítese do espírito americano: livre-pensador, mas que nutria um profundo desprezo pelas massas e pelo sistema democrático, pois desconfiava do bom-senso e da inteligência das maiorias. Disse certa vez que a democracia era “a arte e a ciência de administrar o circo a partir da jaula dos macacos”. Detestava os militantes e sua única mandeira era o ceticismo, ou melhor, a capacidade que o indivíduo tem de não acreditar, de não seguir a manada, de pensar por si mesmo. Era um adepto do princípio “Hay gobierno? Soy contra!”, e acreditava que todo homem decente deveria se envergonhar do governo sob o qual vive.

Como Nietzsche, na Alemanha, e Ortega y Gasset, na Espanha, Mencken combateu ferozmente o democratismo, a crença de que a maioria — por ser maioria — estava necessariamente certa. O jornalista conhecia muito bem a obra de Nietzsche e foi um dos seus primeiros tradutores para o inglês. Pode-se dizer que Mencken reconhece no pensador alemão uma personalidade de intelecto e temperamento semelhantes aos seus: alguém que não se rebaixava a ídolos — fossem religiosos, ideológicos ou românticos.

O que dá unidade à visão crítica desse intelectual sui generis é a sempre presente desconfiança em relação ao homem e suas supostas grandes capacidades e dotes. Para Mencken, as principais características da espécie humana são a preguiça, a vaidade sem propósito, o espírito de rebanho e, a mais destacada entre todas, a covardia. Sem exceções, do gari ao mais pomposo acadêmico de Harvard, a cretinice uniria em comunhão sagrada esse animal que se coloca na hierarquia natural como o ápice da criação.

Durante os anos 1920, ele se destacou como crítico cultural e literário implacável. Jogava com valores: construía e destruía méritos e reputações, e não perdoava os renomados e famosos. Os jovens literatos ansiavam por sua apreciação, que podia ser o começo — ou o fim precoce — de suas pretensões artísticas. Edmund Wilson o chamou de “crítico impressionista”, por seu personalismo, e acusou-o de não ter consistência por não obedecer a normas maiores, exteriores a seu próprio juízo e sentimento. Mas reconheceu que Mencken, por um lado, e T. S. Eliot, por outro, fizeram a cabeça dos jovens literatos americanos de sua época. O filósofo espanhol Fernando Fernando Savater enfatizou que a condição de autodidata deixou várias brechas na formação intelectual de Mencken, mas isso era perfeitamente compensado pelo seu virtuosismo retórico e pelo estilo contundente de seus escritos.

Em 1948, H. L. Mencken foi vítima de uma trombose cerebral, da qual nunca se recuperou completamente. Manteve-se ainda consciente, mas era incapaz de ler e de escrever e caiu numa inevitável depressão. Um dos mais brilhantes — e, com certeza, o mais polêmico — jornalistas americanos faleceu em 1956, convicto de que seu corpo apodreceria na terra e nada restaria dele, neste ou em outro mundo. Mesmo em seus dias finais, ao contrário de muitos arrependidos de última hora, Mencken continuou afirmando a falta de sentido que cerca a existência do homem — e zombando disso.

Mencken produziu — e continua produzindo — inumeráveis seguidores no jornalismo, inclusive no Brasil, mas certamente nenhum deles ainda conseguiu igualá-lo em brilho, ousadia e no poder de sacudir as pessoas, retirando-as da tranquilidade e do conforto do senso comum por meio de textos tão desconcertantes. A reedição de O livro dos insultos é uma oportunidade para que velhos admiradores e novos leitores brasileiros entrem em contato com alguns dos melhores textos e reconheçam seu legado: a lição de que ninguém merece ser tão reverenciado a ponto de não podermos rir dele.


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O homem que se gaba de só dizer a verdade é simplesmente um homem sem nenhum respeito por ela. A verdade não é uma coisa que rola por aí, como dinheiro trocado; é algo para ser acalentada, acumulada e desembolsada apenas quando absolutamente necessário. O menor átomo da verdade representa a amarga labuta e agonia de algum homem; para cada pilha dela, há o túmulo de um bravo dono da verdade sobre algumas cinzas solitárias e uma alma fritando no Inferno.


Quanto mais envelheço, mais desconfio da velha máxima de que a idade traz a sabedoria.


Todos os homens são fraudes. A única diferença é que alguns admitem isso. Eu mesmo nego...


A diferença entre o sexo pago e o sexo grátis é que o sexo pago costuma sair mais barato.


Digam o que quiserem sobre os Dez Mandamentos. Devemos nos dar por felizes por eles não passarem de dez.


O adultério é a democracia aplicada ao amor.


Digam o que disserem sobre os Dez Mandamentos. Devemos nos dar por felizes por eles não passarem de dez.



Um homem educado: aquele que nunca bate numa mulher sem ter um motivo justo.



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