Sexta, 12 de novembro de 2021

 

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especial

Nesta sexta, uma cesta 
de Herbert Caro
!


O mais fiel tradutor
de Thomas Mann



“Cabe ao livreiro envidar esforços para impedir os erros. Ele, que tem a obrigação de saber alguma coisa sobre o conteúdo de cada uma das obras expostas, pode servir de casamenteiro entre o presente e o destinatário. Como na maioria das vezes desconhecerá o segundo, deverá indagar do tipo de pessoa que este representa, dos assuntos que lhe interessam e, melhor ainda, dos livros que nos últimos tempos tenha lido com agrado.

Embora na época do Natal haja muito movimento, sempre sobrará o tempo necessário para fazer algumas perguntas rápidas neste sentido. No começo, alguns fregueses estranham o pequeno interrogatório ao qual os submete o livreiro, mas depois de pouco tempo notam que desta forma se facilita a escolha. Em última análise ficam bem impressionados e retornam à livraria”.

(Herbert Caro, Balcão de Livraria - 1960)







Eu tive uma vida relativamente folgada desde criança, embora o meu pai não me  mimasse  excessivamente.  Tive,  como  era  de  costume  naquele  tipo  de casas, governanta que cuidava de mim até a idade de 8, 9 anos. Nos primeiros anos do curso primário, eu ia à escola ainda acompanhado por ela, mais tarde já podia ir sozinho.



Herbert Caro (Herbert Moritz Caro) nasceu em Berlim, em 16 de outubro de 1906. Foi tradutor, crítico de arte, música e literatura, ensaísta e jornalista naturalizado brasileiro, radicado em Porto Alegre. Durante sua vida foi um destacado intelectual e tradutor, participando entre as décadas de 1930 e 1940 da  equipe reunida pela Editora Globo. Também escreveu na Revista do Globo e Correio do Povo.

Herbert nasceu em uma tradicional e abastada família berlinense, filho do advogado Ernst Caro e de uma cantora lírica amadora, Helena Simonsohn. Sua casa era um ponto de encontro de artistas, atores e músicos.

Seguindo os passos do pai, formou-se advogado e obteve o título de doutor em Direito pela Universidade de Heidelberg, trabalhando como assessor do Tribunal Regional de Berlim. Foi esportista - ao longo de sete anos foi membro da seleção nacional de tênis de mesa e diretor da Federação Alemã.

Em 1933, já perseguido pelos nazistas por suas origens judaicas, mudou-se para a Dijon, na França, onde estudou línguas clássicas e viveu de dar aulas de línguas e tênis de mesa.

Como era um refugiado clandestino, sua situação complicou-se novamente, decidindo partir para o Brasil após receber uma carta de um primo lá radicado que lhe dizia haver boas condições de trabalho no país.

Ele e sua esposa Nina Zabludowski chegaram em 9 de maio de 1935. Passaram por grandes dificuldades iniciais, embora tivessem feitos preparativos para a viagem e já dominassem perfeitamente a língua portuguesa. Nina, também culta, trabalhou inicialmente como professora de línguas, e seu marido empregou-se como caixeiro viajante.

Em 1936 foi convidado por Bernhard Wolff para juntar-se a um grupo de judeus que desejavam criar de uma sociedade judaica beneficente, com o objetivo de ajudar a recepção e instalação de outros refugiados, que veio a ser a Sociedade Israelita do Brasil, da qual foi o segundo presidente, conduzindo a entidade por vários anos e dando aulas de português para os recém-chegados.

Permaneceu trabalhando no comércio até 1938, quando foi contratado pela Editora Globo como tradutor, dicionarista e pesquisador. No ano seguinte passou a fazer parte da equipe principal de tradutores, que incluía nomes como Erico Verissimo e Mário Quintana, quando inicia a fase dourada da Editora, tornando-se conhecida e respeitada em todo o Brasil.

Ao mesmo tempo passou a colaborar na Revista do Globo como articulista e ensaísta.

Em 1947 recebeu a cidadania brasileira, e em 1948, com a dissolução da Sala de Tradutores da Globo, começou a trabalhar na seção de livros importados da Livraria Americana, na Rua da Praia, que veio a gerenciar. Quando a livraria fechou em 1957, começou a trabalhar como autônomo e colaborador do Correio do Povo. Em 1959 foi contratado pelo Instituto Goethe para dirigir sua biblioteca, onde trabalhou até sua aposentadoria em março de 1976, atuando decisivamente para uma grande expansão do acervo, que passou de 300 volumes para 11 mil. Neste período, e mesmo depois, nunca deixou de publicar crítica de arte, música erudita e literatura e fazer palestras pelo Brasil e exterior, trabalhando também como tradutor independente.

Faleceu em 1991 vítima de insuficiência cardíaca.

...

Uma coleção de seus ensaios intitulada Balcão de Livraria foi publicada em 1960 pelo Ministério da Educação, merecendo o elogio de Erico Veríssimo: “Debaixo daquele título despretensioso, cabe um mundo". Suas críticas de música erudita, publicadas na coluna "Os Melhores Discos Clássicos" do Correio do Povo entre 1959 e 1980, formaram o gosto de toda uma geração de ouvintes no estado.

Tinha uma vasta cultura musical e um estilo de escrita atraente, fazendo uso da linguagem informal para trazer a música de concerto "do universo dos códigos eruditos para o cotidiano”. Também foi membro da Câmara de Música e Artes do Instituto Cultural Judaico Marc Chagall.

Sua reputação contemporânea, contudo, permanece centrada no campo da tradução, tido como um dos principais tradutores do alemão em atividade no Brasil, recebendo em função disso importantes prêmios e distinções. Traduziu clássicos como Os Buddenbrooks, A Montanha Mágica e Doutor Fausto de Thomas Mann, Auto-de-Fé de Elias Canetti, Quatro Ditadores, de Emil Ludwig, A Morte de Virgílio de Hermann Broch, O Lobo da Estepe e Sidarta de Hermann Hesse, dentre as mais de trinta obras que traduziu ao longo de sua carreira. Seu trabalho foi elogiado por vários críticos. Marcus Mazzari, por exemplo, disse que tinha "uma soberania e liberdade que lhe facultam desviar-se, por vezes, da estrutura linguística, ou mesmo do significado de uma frase isolada, sem, contudo, jamais transgredir o sentido mais profundo da obra", sabendo "captar com maestria o tom, o ritmo, a perspectiva que moldaram o original".[3] Para Paulo Valadares, Caro fez parte de um seleto grupo de intelectuais judeus que "abriram uma brecha na cultura latino-católica, hegemônica no país à época, através de artigos na imprensa brasileira sobre autores e livros desconhecidos entre nós, e também pelas traduções destes livros".

Foi homenageado com os títulos de Cidadão Emérito de Porto Alegre e Gaúcho Honorário, a Cruz do Mérito Alemão de Primeira Classe (1974), o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (1983), o Prêmio Nacional de Tradução do Instituto Nacional do Livro (1985), a Medalha Cidade de Porto Alegre e a Medalha Simões Lopes Neto. Em 1996 uma praça em Porto Alegre foi batizada com seu nome. Na ocasião, foi louvado como "enciclopédia viva, símbolo do erudito não sisudo, intelectual destacado, aberto aos prazeres da vida, gourmet refinado, colorado fanático, amigo de seus amigos".

Em 2006 o centenário de seu nascimento foi comemorado pelo Instituto Goethe, que promoveu um seminário e uma exposição. Em 2012 foi objeto de outra exposição, organizada pelo Instituto Marc Chagall, que circulou por várias cidades. Em 2016 seu perfil foi apresentado na série televisiva Canto dos Exilados, sobre o legado deixado por refugiados da Segunda Guerra Mundial ao Brasil em vários campos das artes e da cultura, produzida com apoio da Casa Stefan Zweig de Petrópolis, RJ, e reprisada nos canais Arte 1 e Eurochannel.



Todas as faces de Herbert Caro

Rosana J. Candeloro (FSP), janeiro de 1995

Se estivesse vivo, Herbert Moritz Caro seria amplamente festejado, em Porto Alegre, neste ano que inicia, pela passagem dos 60 anos de sua chegada ao Brasil. Foram seis décadas de significativas contribuições em múltiplas áreas do conhecimento: na música erudita, nas artes plásticas, na crônica jornalística e sobretudo no campo da tradução.

A referência ao intelectual alemão está muito além da efeméride, que coincide com a dos 50 anos do final da Segunda Guerra Mundial, período histórico que forçou a vinda ao Brasil de legítimos representantes da intelligentsia europeia.

Todos conhecem um Otto Maria Carpeaux, um Paulo Rónai, um Anatol Rosenfeld. Os três deixaram uma marca estilística, associada a um rigor teórico, inconfundíveis na crítica literária brasileira.

Herbert Caro, por sua vez, é conhecido por muitos apenas como um nome expressivo da arte de traduzir, vertendo obras da literatura universal, de línguas inglesas e alemã, para o português, trabalho esse executado com habilidade e competência.

Neste país desmemoriado, que mantém na obscuridade relevantes nomes na formação da cultura nacional, quem conhece a obra interdisciplinar de Herbert Moritz Caro? Uma dica para os que querem se iniciar na vida e na produção intelectual do judeu alemão é procurar o verbete Caro no "International Biographical Dictionary of Central European Emigrés" (1). Curiosamente, abaixo de seu nome encontra-se o verbete Carpeaux, imigrante austríaco chegado a São Paulo em 1939.


Três mil palavras

Herbert Caro chegou ao Brasil em 9 de maio de 1935, numa época em que o número de refugiados alemães aumentava drasticamente. Logo, a imigração foi restrita pelo governo brasileiro, o que tornou cada vez mais difícil a obtenção da permanência definitiva, imprescindível para que os imigrantes pudessem trabalhar legalmente, assegurando um mínimo de dignidade.

Preparando-se para sua vinda ao Brasil, por três meses Caro teve aulas de português ainda em Berlim. Com seus conhecimentos de latim e de grego, chegou a Porto Alegre com um vocabulário de três mil palavras.

Ele e sua mulher Nina passaram momentos de dificuldade (2). Para manter um padrão de vida razoável, desde os primeiros tempos Nina ministrou aulas de línguas e, mais tarde, chegou a publicar, no Brasil e na Alemanha, livros didáticos sobre o ensino de alemão. Caro, por sua vez, teve de trabalhar no ramo da indústria e do comércio, de 1935 a 1938, até ser contratado pela Editora Globo, como tradutor, dicionarista e pesquisador. Em depoimento à Folha, Bernard Wolff, amigo pessoal de Caro, conta que se lembra do dia em que o intelectual alemão entrou em seu escritório para comercializar fechaduras, todas perfiladas num mostruário.

A partir de 1939, é contratado para integrar, junto a Erico Verissimo, Leonel Valandro e Mário Quintana, a Sala dos Tradutores, iniciativa da Globo, que marcou a época de ouro da efervescência cultural porto-alegrense. Já em 1935, Erico Verissimo inaugura a fase gloriosa da Editora Globo com a tradução de "Contraponto", de Aldous Huxley.

A Sala de Tradutores era constituída de enciclopedistas, inseridos na mais requintada tradição humanista, que ficavam confinados, em uma espécie de "baias" envidraçadas. Também havia uma biblioteca e uma cozinha para os intelectuais conversarem nos intervalos do trabalho e exercitarem suas preferências gastronômicas.

Na época, o poeta Mário Quintana realiza um importante número de traduções do francês, em especial do "Em Busca do Tempo Perdido", de Proust. Em 1948, passando por momentos difíceis, a Editora Globo vê-se obrigada a fechar sua sala e, com isso, encerra seu período áureo.

Concomitante ao trabalho de tradutor, Herbert Caro firma-se como colaborador da "Revista do Globo", escrevendo ensaios e numerosos artigos para a mesma.


O balconista erudito

A experiência sui generis de Caro como balconista de uma antiga livraria do centro de Porto Alegre –a Livraria Americana– pode ser desfrutada através da leitura de suas crônicas publicadas no "Correio do Povo".

Caro inicia a redação de suas memórias de livreiro, após cinco anos de experiência como balconista e gerente da seção de livros importados da Americana. Mantendo uma intensa correspondência com Erico Verissimo –quando este trabalhava nos EUA–, oportunidade não lhe faltava de submeter suas crônicas ao crivo apurado do amigo distante.

Timidamente, aparecem suas primeiras crônicas, nas páginas do "Correio", encabeçadas pelo título "Balcão de Livraria", que também batiza o volume de 17 crônicas selecionadas, integrando a série "Aspectos", editada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), em 1960.

Muitas das questões abordadas e das discussões promovidas por Caro –ao longo de dezenas de textos– continuam atuais e revitalizam o debate de hoje. Exemplo disso é o trecho que segue:

"Em minha opinião, não há bastante revistas literárias no Brasil. Há pelo menos uma, que falta, e que poderia ser de grande utilidade para muita gente –livreiros, editores e leitores".

Para divulgar o lançamento do volume publicado, "Balcão de Livraria", Geir Campos, à frente do programa "Movimento Literário", da Rádio do Ministério da Educação e Cultura, apresenta, em uma das noites, a leitura e os comentários da crônica jornalística de Caro. Esse programa foi ao ar em 14 de julho de 1960.

As crônicas mantêm uma veia estilística inconfundível, domínio invejável da língua portuguesa e um humor não raras vezes refinado.



(...) o exilado não tem escolha; quando tem alguma coisa no país que não lhe agrada,   ele   tem   que   aceitar.   Ele   não   tem   que   tentar   mudar   o   país. Compreende? Quando a Nina se assustava ao ver a primeira barata grande no nosso  apartamento,  eu  dizia  a  ela:  “olha,  baratas  são  pardas,  nazistas  são pardos;  prefiro  as  baratas”.  A  gente  não  tinha  escolha,  mesmo  que  não  me agradasse Porto Alegre (e não posso dizer que não me agradou), mas mesmo que não me agradasse tinha que aceitar.



Correspondência entre
Erico Verissimo e Caro

Matéria do Correio do Povo, de 19 de janeiro de 2021


“Erico Verissimo: Cartas da União Pan-Americana 1953-1958” é o livro que reúne e recupera a correspondência do escritor gaúcho, nos cinco anos em que trabalhou na União Pan-Americana como diretor do Departamento de Assuntos Culturais, em Washington DC.. Os textos eram trocados com dois velhos amigos, o tradutor Herbert Caro e o escritor Clodomir Vianna Moog. A obra foi organizada pela professora e pesquisadora Maria da Glória Bordini (UFRGS), com transcrição e notas das mestrandas Juliana Pauletto e Gabriela Guindani. 

As cartas contam episódios de um conturbado momento político, durante a Guerra Fria, de muita burocracia na OEA, hierarquias desrespeitadas, regras mal entendidas, pouca ação e muita discussão, além de alguns líderes demasiadamente autoritários. No Brasil, vivia-se uma década de grandes tensões, marcada pelo suicídio de Getúlio. O livro reúne 40 cartas, em ordem cronológica, para manter a continuidade da correspondência. Todas foram transcritas dos originais, trazendo informações preciosas sobre figuras nacionais e mundiais da arte. Ela cita músicas, teatro e literatura, bem como filmes, pois o cinema hollywoodiano estava em sua considerada melhor fase. Além das relações de amizade com os destinatários, elas revelam as dificuldades do romancista e o posicionamento político diante da hegemonia norte-americana. Erico estabelece diferenças entre os latinos-americanos e os norte-americanos, não teme a repercussão de seu ponto de vista e mostra um pulso democrático e combativo. Os rumos familiares, informações de bastidores, relatos de conferências realizadas nos Estados Unidos e Américas Central e do Sul, a sólida amizade com Clarice Lispector são encontrados nas mensagens. 

O lado “escritor de cartas” de Erico Verissimo ainda é pouco conhecido do grande público. Como outros escritores de sua geração, o autor da trilogia O Tempo e o Vento utiliza-se da correspondência como forma de socialização, um meio de se comunicar e transmitir suas percepções literárias, trocar informações, nutrir suas relações de amizade, denunciar o que testemunhava nas Américas. Constitui uma outra História das relações internacionais de então. 

A obra está disponível gratuitamente através do endereço da Editora Makunaíma: http://www.edicoesmakunaima.com.br/


8 comentários:

  1. Prévidi, bela cesta nesta sexta com o Herbert Caro, parabéns.
    Aproveitando o mote, quanta gente boa tinha a ‘nossa’ Editora do Globo aqui em POA. Um deles, o poetinha Mário Quintana, ora vejam, antes de se projetar em seu mister principal, que era o de cometer poemas fantásticos (Mapa da Cidade, que coisa mais linda!), era um dos principais tradutores da editora, especialmente dos clássicos franceses e alemães. Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo (no qual aparece o adjetivo ‘formidável’ em seu sentido original) é traduzido por ele. E também, do alemão, o livro de memórias do grande biógrafo judeu alemão Emil Ludwig, Memórias de um Caçador de Homens, que tenho comigo, não empresto, não vendo, de 1939, uma preciosidade!

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  2. Prévidi, faz uma cesta da Fernanda Montenegro.

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  3. Confirmados shows na Arena/OAS/2022: Banda Kiss & GRE-NAU.

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