Sexta, 1º de novembro de 2024

 


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nesta sexta,
UMA cesta EM
homenagem

JANER CRISTALDO
10 ANOS DE SUA MORTE



Amigos,

Antes dos 20 anos, metido a ixquerdista, lia escondido as crônicas do Janer Cristaldo na Folha da Manhã. A ixquerda gaudéria não se importava com o estilo impecável do escritor e o tratava de direitista. Ou seja, era queimado para o pessoal que se achava de ixquerda. Para a direita não era confiável, "um perigo".
A partir desse tempo sempre o acompanhei.
Li alguns de seus livros.
Passam anos e Janer escrevia em O Estado de S.Paulo. Tornara-se "um paulistano".
Lá pelas tantas eu estava escrevendo um livro sobre pessoas famosas de Porto Alegre. Um destes era o extraterrestre Carlos Ducatti. Sabia muito pouco dele. Conversei com o jornalista Rogério Mendelski que me disse: "O Ducatti é invenção minha". E quem contribuiu para o "sucesso terráqueo do homem de Orion Central" foi o colunista  Cristaldo.
Imagino o que não fizeram com o Ducatti.
No meu livro "Apaixonados por Porto Alegre - Personagens do Centro" tem um texto do Janer, "O SNI, OVNIS E O HOMEM DE ORION". Sensacional.
A partir daí, 2011, por aí, tinha contatos constantes com ele. Por texto e telefone. Eu já o tinha como amigo.
Janer morreu num domingo - é incrível, vários amigos queridos faleceram em finais de semana. Vale a pena ler o que escrevi, e reproduzi impressões do professor Deonísio da Silva. Também conto quando selecionou dois contos para um livro que nunca foi publicado:
https://previdi.blogspot.com/2014/10/atualizado-diariamente-ate-o-meio-dia.html

Abaixo um texto de Iracema Pamplona Ginecco,com quem Janer foi casado e teve a filha Isadora:


Dom Pedrito preserva obras do jornalista, escritor e tradutor gaúcho Janer Cristaldo,
aos 10 anos de sua morte



O município de Dom Pedrito acaba de receber parte do acervo pessoal do intelectual, doado pela filha, constando de mais de 2 mil livros de sua Biblioteca, além de cartas, fotografias, arquivos, recortes de jornais e documentos. O material irá compor o acervo do Centro Cultural Gisele
Bueno Pinto.
---]
No dia 27 de outubro completaram-se 10 anos do falecimento de Janer Cristaldo, escritor polêmico por sua consistente formação cultural, irônico por injunções filosóficas, tradutor, jornalista, professor, viajante por diletantismo, leitor ecumênico, praticante profícuo da escrita epistolar por atenção aos que lhe eram caros ou até mesmo a conhecidos ocasionais.
Cristaldo nasceu em 1947 em Santana do Livramento, RS, passou a juventude nas cidades gaúchas de Dom Pedrito e Santa Maria, formou-se em Direito e graduou-se em Filosofia. Nos anos 1970, decidiu exilar-se
voluntariamente em Estocolmo, impulso decisivo para seu ingresso na vida intelectual quando escolheu estudar cinema, língua e literatura suecas.
O Paraíso Sexual Democrata, publicado em 1973, relata sua experiência na Suécia, alcançando quatro edições em português, no Brasil, e uma emespanhol, em Buenos Aires, quando chegou a ser proibido na Argentina.
Uma de suas primeiras traduções do sueco para o português, Kalocaína, de Karin Boye, acaba de ser relançada no Brasil, em 2024, pela Editora Aleph.
Sua iniciação no jornalismo se deu no extinto Diário de Notícias, levando-o a passagens pelos jornais Correio do Povo e Folha da Manhã, onde assinava coluna diária desde Paris, enquanto cursava doutorado em
Letras Francesas e Comparadas. Sua tese La Révolte chez Ernesto Sábado et Albert Camus, traduzida ao português foi publicada pela Editora da UFSC com o título de Mensageiro das Fúrias. No início dos anos 1990, o jornalista passou a residir em São Paulo onde foi redator de Política Internacional na Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo.
O interesse do escritor, ensaísta e cronista centrava-se em temas ligados às religiões, à política, ao homem gaúcho e às mudanças na sociedade contemporânea, sempre traduzidos em textos de fácil compreensão, eivados de fina ironia tangenciando o sarcasmo, o que atraia admiradores, leitores incautos, polêmicas e, por consequência, críticos ferozes.
No campo da tradução, seu trabalho inclui 20 títulos, do espanhol, francês e sueco. Do espanhol, traduziu, entre outros, Jorge Luís Borges, toda a obra de Ernesto Sábato (a pedido do próprio autor), Camilo José Cela eRoberto Arlt. Residiu uma temporada em Madrid, com bolsa do governo espanhol para um curso de Língua e Literatura Espanholas.
A par de publicações de artigos e crônicas em diversos jornais on line, revistas e sites brasileiros, como o Mídia Sem Máscara e Baguete, Janer mantinha um blog, https://cristaldo.blogspot.com/, cuja última publicação antes de sua morte foi em 3 de setembro de 2014, já como paciente de várias internações hospitalares em sua luta de mais de dois anos contra o câncer que o levou à morte em 27 de outubro daquele ano.
A última postagem, inserida postumamente no blog, indica algumas desuas obras com os respectivos links para acesso on line, constituindo-se em roteiro oportuno para o resgate do pensamento e da obra de Janer
Cristaldo, que podem adaptar-se, inclusive, ao momento atual, funcionando como lampejos de lucidez em meio ao cenário cultural nacional.
—-]
Obras do autor:
1973

O Paraíso Sexual Democrata
(Disponível em e-book)
Companhia Editora Americana
1976
A Força dos Mitos
(Crônicas publicadas na Folha da Manhã, em Porto Alegre, RS)
Editora Alpha-Omega

Assim Escrevem os Gaúchos
(Antologia, seleção e organização de Janer Cristaldo)
Editora Alfa-Ômega
1986
Mensageiro das Fúrias
(Ensaio. Uma leitura camusiana de Ernesto Sábato, segundo o autor)
Editora: UFSC .
Ponche Verde
(primeiro romance)
Editorial Nórdica
Disponível em e-book:
2006
Como Ler Jornais
(Organização de textos críticos - crônicas e ensaios - com análise dos bastidores e entrelinhas da imprensa nacional e internacional do final dos anos 1990 e início do novo século).
Editora: Fonte digital: Documento do Autor


Engenheiros de Almas (O Stalinismo na Literatura de Jorge Amado e Graciliano Ramos)
Editora: Record
2012

Sobre os Prazeres da Teologia
Edição do autor
Entre suas obras inacabadas Janer deixou um rascunho de sua auto-biografia e uma tradução inédita do sueco da obra A Saga do Grande Computador, de Olof Johanesson.
—-]
Texto: Iracema Pamplona Genecco
Contatos: iracemapg@gmail.com; fone: (011) 965036804; Facebook; Twitter


janer,
por joão paulo da fontoura



Nesta segunda, recebo um e-mail do Prévidi avisando-me que nesta sexta, a cesta cultura do blog seria  da responsabilidade dele (Prévidi), pois queria fazer uma homenagem ao Janer Cristaldo, escritor, tradutor, poeta, um sujeito multicultural, que neste último domingo, 27 de outubro, completou 10 anos de sua ausência. Estava em São Paulo, quando faleceu, jovem, muito jovem, meros 67 anos, uma injustiça (divina) a todos nós, seus admiradores.

A minha lembrança mais forte de Janer Cristaldo é o Janer cronista. Eu sempre lia o Correio do Povo, quando gurizote, pois meu pai era assinante. De repente, quase do nada – como diz a gurizada, tive contato com uma nova Folha da Manhã, totalmente repaginada, modernizada, hiper legal, e – parece-me, não tenho certeza, sob a direção do Ruy Carlos Ostermann. Compro o jornal, abro-o e, de cara, uma crônica assinada pelo nosso resenhado, e era diária!

Acho que a experiência vanguardista do velho Breno Caldas durou uns dois anos, pois não mais aguentou a pressão dos militares.  Fiquei depois sabendo que o Janer aproveitou o embalo e foi, à convite, fazer cursos na área do jornalismo e cinema na Europa, livrando-se de qualquer problema por aqui, dos tempos perigosos do AI-5.

Interessante, mas sempre fiz confusão entre ele e o Tabajara Ruas. E de cara, à comunicação do Prévidi, nova amnésia: novamente confusão e o associei a dois livros que tenho comigo, lidos e relidos, mas que na verdade são do Tabajara, não do Janer. Mas li coisas dele, principalmente traduções, e, entre elas, a obra maior do argentino Ernesto Sábato – Sobre Heróis e Tumbas, da editora Francisco Alves, 1981. Este livro, não tenho comigo, é da ‘minha’ biblioteca pública de Taquari, e já o li duas vezes. Vou pegá-lo novamente.

Janer escreveu alguns livros, poucos, acho que uns oito, mas foi extremamente produtivo em termos de traduções, certamente mais de 20, grande parte do Sábato e do Jorge Luís Borges. O nosso Janer era ecumênico, pois o Sábato era famoso por seu esquerdismo e o Borges, direitista consumado!

Ele especializou-se em cinema, mas diferente do Tabajara Ruas – Cabeça do Gomercindo Saraiva – não dirigiu nenhum filme, mas produziu centenas de textos sobre cinema e seus personagens. Extraí um que já havia lido e consegui resgatar na web. Ele, num corte de um debate com outros críticos, fala sobre o cineasta sueco Ingmar Bergman e sua obra ‘Gritos e Sussurros’:

(...) A meu ver, Bergman era o cineasta das neuroses sexuais. Em sua filmografia, o relacionamento físico entre os personagens é sempre sofrido, doloroso, traumatizante. (Quem não lembra o episódio dos cacos de vidro introduzidos na vagina, em Gritos e Sussurros?). Não por acaso, o cineasta estava em seu quinto casamento. Homem que não se acerta com uma mulher - afirmei - não se acerta com cinco nem com vinte e cinco. Mal terminei a frase, fui interrompido por um dos psicanalistas: "Não podemos invadir a privacidade de Bergman, que está vivo. Falemos de sua mãe, que já morreu".

 
viagens,
POR Janer cristaldo


Minha primeira foi de bicicleta, 60 quilômetros de areia e barro, de Upamaruty, distrito rural de Livramento, a Dom Pedrito. Certamente foi a mais significativa. Eu teria dez anos e não conhecia cidade. Em meu imaginário, fruto talvez de contos de fadas, as cidades seriam douradas e brilhantes. Pedalando, avancei pela estrada real e, por mais que aguçasse a vista, não conseguia ver nada de dourado nem brilhante. Fui penetrando aos poucos por seus arrabaldes poeirentos, entrei pelas ruas de paralelepípedos e só apoiei o pé no chão frente a igrejinha da praça. Então aquilo era cidade? Fosse como fosse, seria minha nova geografia. Meu universo rural já pertencia ao passado.
A segunda mais significativa foi de navio, no finado Eugenio C. Estava abandonando o Brasil e não fazia parte de meus projetos voltar. No salão Opala, encontrei uma francesa que voltava da Amazônia, fascinada. C'est magnifique, me repetia com olhar sonhador. Eu não conseguia entendê-la. Mas na Amazônia só há árvores, índios e bichos – objetei. C'est ça! - me respondeu. Ela, oriunda de um mundo milenar e cosmopolita, queria ver o que ficara à margem da civilização. Eu, que nascera naquelas margens, queria a civilização propriamente dita.
Brasileiro, de índios só quero distância. Com eles nada tenho a ganhar, culturalmente. Que antropólogos os adorem, entendo. Índio, hoje, é o ganha-pão da antropologia. A francesa, européia e cosmopolita, queria ver atraso e primitivismo. Eu, vizinho do atraso e primitivismo, queria ver o presente e o futuro.
Fui, vi e voltei. Como Chesterton, considero ser impossível conhecer uma catedral olhando-a apenas por dentro. Se você quiser conhecer seu país, saia logo de seu país. O homem só conhece comparando. Nutro profunda lástima por essa espécie de patriotas, que louva o Brasil sem jamais dele ter saído. Hoje, um de meus prazeres diletos é incitar amigos ao viajar e já consegui convencer alguns a fazer malas e enfrentar oceanos. Mas atenção. Há viajar e viajar. Excursão não é viagem. É uma bolha de seu próprio país que o envolve, e dela você não sai. (Há exceções, é claro. Você não pretenderá, por exemplo, enfrentar a China ou o Sahara sozinho).
Viajar é largar-se na aventura, buscar geografias distantes, tentar entender e fazer-se entender em línguas esdrúxulas, perder-se por ruelas e tentar encontrar-se por mapa. Por tais razões, não vejo sentido algum em viajar por país em que todos falam nossa mesma língua, assistem à mesma novela nos mesmos horários e bebem as mesmas bebidas e comem as mesmas comidas que se bebem e comem em sua geografia nativa. Isto é: viajar pelo Brasil não é viajar. É mesmice. Claro que o Rio merece uma visita. Mas você não estará viajando. Apenas foi do quarto para a sala do mesmo apartamento.
Viajar, hoje, não mais é privilégio de milionários. Por pouco mais que o preço de um televisor de 29 polegadas você já está na Europa. Pelo preço de um carro de porte médio, você passa um mês na Espanha, Itália ou França. Uma casa na praia rende mais de uma volta ao mundo. Não estamos mais na época em que só os barões do café podiam permitir-se o estrangeiro. Nos anos 70, milhares de jovens sem maiores posses fizeram a Europa, eu entre eles. Muitos embarcaram literalmente sem nenhum vintém. Para pagar a passagem, trabalhavam em navios. Chegando lá, sempre havia algum restaurante onde se podia lavar pratos. Nem todos se deram bem e suicídios não faltaram. Mas coragem sobrava. Esta tradição de viajar sem um vintém é antiga e por ela optaram nomes ilustres, como Henry Miller e George Orwell. A luta de Miller para matar a fome de todos os dias está em seus Trópicos. A odisseia de Orwell está em Down and Out in Paris and London.
Mas se você acha melhor aplastar-se diante de uma televisão, tudo bem: fique em casa a ver novelas na telinha. Se preferir comprar um monte de lata para arriscar a vida nas estradas ou assaltos nas ruas, melhor ficar por aqui e irritar-se com o tráfego, com assaltantes e com as multas. Você pode também preferir uma casa para usar um mês ou dois durante o ano e renunciar ao vasto mundo. Falo de pessoas que apertam seu orçamento para conquistar estes mesquinhos sinais de status, mesquinhos mas indispensáveis à auto-estima de quem não tem personalidade. Quem tem tudo isto e folga econômica para viajar – e não são poucos – está excluído desta reflexão.
Bem entendido, nunca tive carro nem casa na praia. A cada vez que pensava em carro, juntava meus trocados e atravessava o oceano. Com um carro não se vai longe. A pé, o mundo não tem fronteiras. Usufrui também de bolsas e viagens patrocinadas por consulados. Bolsa também exige fazer opções. Ou você fica, segurando seu lugar no mercado. Ou parte, sem saber onde cair na volta. Quando voltar, seus colegas e amigos estarão empoleirados em altos cargos e dificilmente lhe darão colher de chá. Quem o mandou gozar o mundo enquanto eles mourejavam? Ocorre que o mundo é grande e a vida é breve. Além disso, não tem estepe.
Em meu dia-a-dia paulistano, tenho encontros esporádicos com pessoas de alto poder aquisitivo, para quem viajar é, no máximo, ir a praias no Nordeste. Constituem aquele tipo padrão que considera o Brasil o melhor país, sem nada conhecerem do mundo. Alguns, mais audazes, já foram a Cancun ou Orlando. Isto é, a locais exclusivamente turísticos, onde não existe o que se poderia chamar de nacional.
Se você é jovem, parta logo, antes que o mercado o escravize. Se é adulto, aproveite sua maturidade e vigor para explorar o planetinha. Está aposentado e se aproximando da velhice? Vá logo, antes que seja tarde. Kafka tem um apólogo, onde fala de casas onde se pode entrar a qualquer hora, encontrar ou não encontrar pessoas, ficar ou sair quando bem entender. Essas casas existem mundo afora. Nelas, milhares de pessoas o esperam, de bandeja na mão, prontas a recebê-lo com carinho e prestimosidade.
Ergue o traseiro desse sofá, leitor. Dá férias a teu medo do desconhecido. Esquece essa luta inglória por sempre mais dinheiro.
E vai.

DO VENTRE AO DIVÃ
POR Janer cristaldo


Há horas venho denunciando os gigolôs das angústias humanas, isto é, os psicoterapeutas, psicólogos e psicanalistas, Há não muito tempo, surgiu uma nova vigarice no mercado, a terapia do luto.

Quando minha mulher morreu, coincidiu que na semana seguinte eu tinha consulta marcada com uma nefrologista. Ainda abalado, falei do acontecido e, inevitavelmente, chorei. “Quem sabe tu procuras um terapeuta?” – me sugeriu a médica. Quase perdeu o cliente. Eu passara minha vida toda denunciando essa malta de exploradores da fé dos incultos que, sem terem bem gerido suas vidas, dão-se ainda ao desplante de cobrar caro para gerir vidas alheias. No meu luto ninguém mexe.

Neste ano, completo cinco anos de luta contra um câncer renitente, e nunca falta um médico que me pergunte se não tenho o suporte de um psicólogo. Parece que a moda invadiu até o campo da medicina. Ora, que vão me dizer estes senhores para atenuar a dor que sofri com a partida de minha companheira ou com as consequências de um tumor? Já surgiram inclusive o que chamei de gigolôs de dekasseguis. O caminho de volta pode gerar depressão. É a "síndrome do regresso", termo cunhado pelo neuropsiquiatra Décio Nakagawa para designar certo "jet lag espiritual" que aflige ex-imigrantes.

Morto em 2011, Nakagawa estudava a frustração de brasileiros que voltavam ao país após uma temporada de trabalho em fábricas japonesas. Psicanalista neles. Ora, se toda pessoa que perde um ente querido, se todo doente grave, se todo migrante que volta precisa de tratamento psiquiátrico, os psiquiatras, psicólogos e psicanalistas têm um mercado inexaurível e eterno a explorar.

Mas a situação é mais grave do que se possa imaginar. Nos conta a Veja São Paulo:

"Na sala de aula do 4o e do 5o ano do ensino fundamental, a professora pergunta: “Quem faz terapia?”. Metade dos alunos, por volta dos 10 anos, levanta a mão. A cena, ocorrida na semana passada no Colégio Nossa Senhora do Morumbi, ilustra o recente aumento na procura por atendimento psicológico infantil na capital".

Segundo levantamento da revista realizado em dez dos consultórios que mais atendem pessoas dessa faixa de idade, o número de pacientes abaixo dos 13 anos dobrou nos últimos dez anos.

"Entre os menores, até 3 anos, o índice triplicou. Pipocam até casais grávidos: quando o rebento vem ao mundo, é incluído nas sessões. A corrida em busca do tratamento, que custa a partir de 120 reais por sessão, aumenta nesta época do ano, devido à divulgação do boletim do primeiro trimestre. Pais e professores queimam neurônios em reuniões, e o psicólogo entra na pauta. Em alguns casos, nem é preciso ir ao consultório, ele vai à casa da criança".

Ou seja, dos psi só escapa quem não pode pagar. Do ventre ao divã. Pode-se imaginar um recém-nascido participando de sessões de análise? Do ventre para o divã. A moda parece ter contaminado a classe média e hoje já constitui uma caput diminutio ter um filho que não faça psicoterapia. O aluno é vagabundo, não estuda e tira más notas? Nada que a psicoterapia não resolva.

"Virou sinal de status: tenho paciente de 9 anos que só vem à terapia porque as amigas fazem“, conta Anderson Mariano. formado em psicomotricidade.

A reportagem lista os casos em que uma criança precisa de apoio psicológico. Começa pela separação dos pais. Aqui o mercado já é vasto. Provavelmente uma boa metade da população infantil já está na mira dos gigolôs. Em segundo lugar, hiperatividade. Segue-se o isolamento pela vida digital. Medo da violência urbana e de sequestros, problemas de adaptação escolar, dificuldade de integrar-se com os colegas. Frustrações, dificuldades dos pais em dizer não, mimos excessivos. Isto é, a criança só escapa se for bruxo.

Costumo afirmar que há vigarices, como a psicanálise e o marxismo, que só atingem as classes minimamente cultas. Isto é, minimamente endinheiradas, pois educação, por menos que custe, sempre custa algo. Os psicólogos e psicos outros tomaram conta do pedaço e hoje, por definição, toda criança ou adolescente, é doente se não contar com uma muleta psicológica.

E adultos também. Você não tem apoio terapêutico? Só pode ser doente. Ou um pobre diabo que nem sequer tem recursos para curar-se.


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