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QUE NÃO SABEM MULTIPLICAR?
Caros amigos leitores,
Neste 15 de novembro próximo passado, publicamos aqui nesta cesta um texto/ensaio sobre a Proclamação da República, a qual, justo na data, completava 135 anos.
Para que não ficasse muito extenso e, por consequência, cansativo ao preclaro leitor, optamos por deixar de fora um texto/complemento com algumas curiosidades (e coisas sérias) sobre os eventos adrede, do dia e posteriores.
Faço-o agora.
Curiosidades (e coisas sérias)
sobre a Proclamação da República
+ Proclamação, segundo Houaiss, é declaração pública e solene. Não há juízo de valor entre os termos golpe ou revolução, podendo-se tranquilamente usar-se o termo golpe, mas, lamentavelmente, este está estigmatizado. Melhor então, Proclamação! (Mas foi golpe!);
+ Nos anos que antecederem a Proclamação da República as relações entre Exército e Governo Imperial estavam muito deterioradas;
+ O Governo (Conselho de Ministros, presidente do Conselho de Ministros) pensava em substituir muitos dos batalhões do Exército pelo Guarda Nacional, que era mais confiável;
+ Dia 14 de novembro, forte boato de que Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant seriam presos;
+ Já tinha havido vários episódios que usaram a República com bandeira, por exemplo, a Inconfidência Mineira, 1789, e a dos Farrapos, 1835;
+ A maioria, ou grande parte, dos Republicanos eram moderados e queriam reformas no sistema constitucional, não pela força e, sim, pela negociação política;
+ Exemplos dos moderados: Quintino Bocaiúva, Assis Brasil, Rui Barbosa, Benjamin Constant, Campos Sales, Prudente de Morais, e até mesmo Deodoro que era muito amigo de Dom Pedro;
+ Mas também havia os radicais, chamados Jacobinos, que, baseados na Revolução Francesa, queriam resolver logo nem que cabeças rolassem;
+ Exemplo: Benjamin pergunta a um grupo de militares: ‘que faremos com o Imperador?”– ‘Exila-se’, a resposta deste grupo jacobino. Mas se ele resistir? Simples, fuzila-se!
+ Um dos principais jacobino da teoria do "fuzila-se" era o alferes Joaquim Inácio Cardoso, um jovem de 29 anos que viria ser o avô do presidente Fernando Henrique Cardoso;
+ Outro jacobino é nome de rua aqui em POA, Silva Jardim (Antônio da Silva Jardim). Depois, desentendeu-se com os republicanos que o deixaram de lado e emigrou para Itália onde morreu, jovem, meros 30 anos, no vulcão Vesúvio, muito provavelmente por suicídio;
+ Outro jacobino era o nosso Júlio de Castilhos, que usava com rara habilidade de sua pena para jogar militares contra o governo por meio do jornal A Federação, fundado por Venâncio Aires e por ele em 1883. É dele a famosa frase: "a inimigo não se dá quartel";
+ Enquanto as críticas a partir de 1870 contra a monarquia se avolumavam, poucas vozes levantavam-se a seu favor. Na Proclamação, a única voz que se levantou (contra) foi em São Luís, no Maranhão. Ninguém mais apareceu para a reação. Só anos depois alguns jornais e livros contestaram;
+ Dos críticos, os militares sentiram-se traídos pelos governos monárquicos, pois eles acreditavam que, por terem derramado sangue na Guerra do Paraguai, mereciam um tratamento melhor;
+ No caso dos tradicionais apoiadores do governo – os grandes fazendeiros escravocratas –, estes já haviam desgostado da proibição do tráfico de escravos (1850) e, logo depois, com a Lei do Ventre Livre (1871). Ficaram ainda mais raivosos com a abolição (Lei Áurea) de 1888 SEM INDENIZAÇÃO! O pouco apoio que ainda havia foi então retirado.
+ Outro problema gerador de desgaste, este na área dos políticos, era que com o uso do poder moderador pelo rei, ele (o rei) acabava por se indispor com o grupo que era apeado do poder, os Liberais e os Conservadores;
+ Os paulistas reclamavam que de cada mil réis pagos em impostos só retornavam à província 15% desse dinheiro. Então, a elite dessas regiões (do centro e do sul) começou a enxergar vantagens na descentralização e na federalização do poder, pautas dos Republicanos;
+ Traduzindo, houve uma união de interesses das classes dominantes contra o governo de Dom Pedro II, contra a Monarquia atual e contra a possibilidade de um 3º reinado com a princesa Isabel e seu marido, o mal amado Conde D’Eu. As elites – civis, militares, e religiosas – passaram a conspirar veladamente, mas unidas.
+ Quase que somente os negros alforriados em 1988 apoiavam a Monarquia, e principalmente a princesa Isabel, a libertadora. A Guarda Negra chegou a ter cinco mil participantes. Mas na hora ‘H’, o líder desse grupo de negros, o também negro José do Patrocínio, apoiou os Republicanos.
Segundo a historiadora Maria Lúcia Rangel Ricci, "os idealizadores da Guarda Negra foram os abolicionistas mais exaltados, como José do Patrocínio, que queriam combater a influência do Partido Republicano perante a população do Rio de Janeiro. Patrocínio queria que a ideologia de proteção à Redentora Isabel, construída por esse grupo, se estendesse para as demais províncias do Império";
+ A prova de que Deodoro realmente gostava e era amigo de Dom Pedro II: em 11 de novembro, recuperando-se de uma crise de apneia, apertado por Benjamin Constant em relação à necessidade de não só derrubar o ministério sem trocar o regime, Deodoro, que sempre tergiversava, desta vez responde com: ‘Eu queria acompanhar o caixão do imperador, que está velho e a quem respeito muito’;
+ Benjamin Constant, que tramava o golpe, era quem ligava os militares às lideranças civis republicanas;
+ O Marechal Floriano foi uma figura enigmática: ocupava um dos cargos mais alto dentro da hierarquia do exército, deveria ser fiel ao Imperador e seguir as ordens do Visconde de Ouro Pedro, mas não, traia esses dois personagens e estava envolvido com os republicanos;
+ Dom Pedro II, às vésperas dos 64 anos, estava muito doente, diabético, velho, cansado, sem energia, parecido com Deodoro. Procuravam deixá-lo à margem da crise. Quando teve que decidir, era tarde demais;
+ Ouro Preto até que poderia reagir às tramas republicanas, mas decidiu completamente errado: saiu do Arsenal da Marinha e foi para o Quartel do Exército onde, disseram-lhe, era estratégico para a defensa da República, mas, lamentavelmente para ele não, era sim o covil dos inimigos, ponto de convergência das tropas rebeladas;
+ Os comandantes da marinha, Eduardo Wandenkolk e Frederico Lorena, também estavam entre os conspiradores;
+ Importante, segundo o historiador Celso Castro, mesmo na manhã de 15 de novembro, a maioria dos oficiais e soldados acreditavam que somente iriam derrubar o ministério, nunca o Imperador;
+ O único ferido no episódio foi o ministro da Marinha, o Barão do Ladário, que chegou ao local para reunir-se com o Visconde e, numa confusão, foi metralhado. Socorrido, levado ao hospital, salvo, uma semana depois virou Republicano!
+ Aqui no RS, o último governador provincial foi Gaspar Silveira Martins, nomeado por carta imperial, que saiu às vésperas do dia 15 (premonição?);
+ José do Patrocínio, abolicionista ferrenho, líder da Guarda Negra, e amigo da princesa Isabel, proclamou a república na tarde do dia 15 na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro;
+ Joaquim Nabuco e José do Patrocínio eram jornalistas propagandistas da República;
+ O Amor por princípio, A Ordem por base e o Progresso por Fim: esta frase contém um dos muitos princípios dos fundamentos da filosofia positivista do francês Augusto Comte, uma espécie de tutor intelectual dos republicanos. Comte era a favor de uma república ditatorial, na qual indivíduos mais capacitados e métodos mais científicos, avançados, deveriam ser os utilizados. Sabiamente, os vencedores republicanos, quando da definição dos brasões da república, colocaram na bandeira somente Ordem e Progresso. A questão do amor tem valor intrínseco moral, só.
+ José Bonifácio de Andrada e Silva foi tutor de Dom Pedro durante dois anos;
+A Escola militar da Praia Vermelha era cognominada de ‘Tabernáculo do Saber’;
+ No caso de Sena Madureira de 1883, 4 anos depois o Governo limpou o seu nome por exigência do marechal Deodoro e do marechal Visconde de Pelotas;
+ Deodoro, 60 dias antes: "Os brasileiros estão mal educados para a República. Ruim com a Monarquia, pior sem ela";
+ Deodoro em relação a Dom Pedro II – "é meu amigo, devo-lhe favores";
+ A Sede do Exército ficava no Campo de Santana, no Centro do Rio;
+ Aristides Lobo, ‘O Povo assistiu bestializado e atônito aos eventos no centro do Rio’.
+ Por fim uma observação e uma dúvida deste escrevinhador e historiador: por que os líderes republicanos escolheram Tiradentes para simbolizar a república recém-proclamada, e não o nosso Bento Gonçalves?
Afinal, 100 anos separavam os dois eventos, a Inconfidência Mineira e o advento da República. Praticamente, ninguém se lembrava do episódio mineiro e de seu líder, aliás, líder de algo que não houve, algo que não ultrapassou o campo das ideias, dos ideais republicanos baseados nos antecedente da vitoriosa revolução das 13 colônias americanas e da inditosa revolução dos franceses.
Bento Gonçalves e a Revolução Farroupilha, todos sabemos, gaúchos e brasileiros, foi uma revolução que vingou durante dez anos, e destes quase todo o tempo como uma República independente do Império. A memória do evento e do seu líder, o general Bento, ainda era relativamente recente, meros 50 anos. Muitos dos futuros republicanos formaram-se advogados em São Paulo, em cujas classes os ideais republicanos permeavam intensamente.
Sei a resposta:
Bento foi um herói vencedor; Tiradentes, um mártir perdedor
Vencedor como símbolo – um perigo para o político temer!
Um mártir perdedor, um místico cristo redivivo – um herói para o povo clamar!
*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.
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