O município de Dom Pedrito acaba de receber parte do acervo pessoal do intelectual, doado pela filha, constando de mais de 2 mil livros de sua Biblioteca, além de cartas, fotografias, arquivos, recortes de jornais e documentos. O material irá compor o acervo do Centro Cultural Gisele
Bueno Pinto.
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No dia 27 de outubro completaram-se 10 anos do falecimento de Janer Cristaldo, escritor polêmico por sua consistente formação cultural, irônico por injunções filosóficas, tradutor, jornalista, professor, viajante por diletantismo, leitor ecumênico, praticante profícuo da escrita epistolar por atenção aos que lhe eram caros ou até mesmo a conhecidos ocasionais.
Cristaldo nasceu em 1947 em Santana do Livramento, RS, passou a juventude nas cidades gaúchas de Dom Pedrito e Santa Maria, formou-se em Direito e graduou-se em Filosofia. Nos anos 1970, decidiu exilar-se
voluntariamente em Estocolmo, impulso decisivo para seu ingresso na vida intelectual quando escolheu estudar cinema, língua e literatura suecas.
O Paraíso Sexual Democrata, publicado em 1973, relata sua experiência na Suécia, alcançando quatro edições em português, no Brasil, e uma emespanhol, em Buenos Aires, quando chegou a ser proibido na Argentina.
Uma de suas primeiras traduções do sueco para o português, Kalocaína, de Karin Boye, acaba de ser relançada no Brasil, em 2024, pela Editora Aleph.
Sua iniciação no jornalismo se deu no extinto Diário de Notícias, levando-o a passagens pelos jornais Correio do Povo e Folha da Manhã, onde assinava coluna diária desde Paris, enquanto cursava doutorado em
Letras Francesas e Comparadas. Sua tese La Révolte chez Ernesto Sábado et Albert Camus, traduzida ao português foi publicada pela Editora da UFSC com o título de Mensageiro das Fúrias. No início dos anos 1990, o jornalista passou a residir em São Paulo onde foi redator de Política Internacional na Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo.
O interesse do escritor, ensaísta e cronista centrava-se em temas ligados às religiões, à política, ao homem gaúcho e às mudanças na sociedade contemporânea, sempre traduzidos em textos de fácil compreensão, eivados de fina ironia tangenciando o sarcasmo, o que atraia admiradores, leitores incautos, polêmicas e, por consequência, críticos ferozes.
No campo da tradução, seu trabalho inclui 20 títulos, do espanhol, francês e sueco. Do espanhol, traduziu, entre outros, Jorge Luís Borges, toda a obra de Ernesto Sábato (a pedido do próprio autor), Camilo José Cela eRoberto Arlt. Residiu uma temporada em Madrid, com bolsa do governo espanhol para um curso de Língua e Literatura Espanholas.
A par de publicações de artigos e crônicas em diversos jornais on line, revistas e sites brasileiros, como o Mídia Sem Máscara e Baguete, Janer mantinha um blog, https://cristaldo.blogspot.com/, cuja última publicação antes de sua morte foi em 3 de setembro de 2014, já como paciente de várias internações hospitalares em sua luta de mais de dois anos contra o câncer que o levou à morte em 27 de outubro daquele ano. A última postagem, inserida postumamente no blog, indica algumas desuas obras com os respectivos links para acesso on line, constituindo-se em roteiro oportuno para o resgate do pensamento e da obra de Janer
Cristaldo, que podem adaptar-se, inclusive, ao momento atual, funcionando como lampejos de lucidez em meio ao cenário cultural nacional.
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Obras do autor:
1973
O Paraíso Sexual Democrata
(Disponível em e-book)
Companhia Editora Americana
1976
A Força dos Mitos
(Crônicas publicadas na Folha da Manhã, em Porto Alegre, RS)
Editora Alpha-Omega
Assim Escrevem os Gaúchos
(Antologia, seleção e organização de Janer Cristaldo)
Editora Alfa-Ômega
1986
Mensageiro das Fúrias
(Ensaio. Uma leitura camusiana de Ernesto Sábato, segundo o autor)
Editora: UFSC .
Ponche Verde
(primeiro romance)
Editorial Nórdica
Disponível em e-book:
2006
Como Ler Jornais
(Organização de textos críticos - crônicas e ensaios - com análise dos bastidores e entrelinhas da imprensa nacional e internacional do final dos anos 1990 e início do novo século).
Editora: Fonte digital: Documento do Autor
Engenheiros de Almas (O Stalinismo na Literatura de Jorge Amado e Graciliano Ramos)
Editora: Record
2012
Sobre os Prazeres da Teologia
Edição do autor
Entre suas obras inacabadas Janer deixou um rascunho de sua auto-biografia e uma tradução inédita do sueco da obra A Saga do Grande Computador, de Olof Johanesson.
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Texto: Iracema Pamplona Genecco
Que legal, Prévidi, este resgate de um personagem da nossa cultura que acabou por nos deixar tão cedo.
ResponderExcluirNesta semana do início da nossa tão tradicional Feiro do Livro, posso (devo) fazer uma observação - talvez triste: por que o Janer não teve a elevada honra de ser indicado Patrono da Feira ?
Por desmérito certamente não foi.
Abraços.
Obrigado!
Não conhecia o Cristaldo. Bom escritor. Obrigado, Prévidi.
ResponderExcluirANTES:
ResponderExcluirANTES:
ANTES:
“Queremos a volta da ditadura”
“A ditadura nem foi tão dura assim”
“Bom mesmo era nos tempos dos militares”
“Vamos acampar em frente aos quartéis e pedir para que eles cumpram com seu dever cívico”
“O povo quer intervenção militar já”
DEPOIS:
DEPOIS:
DEPOIS:
“Que horror, é a ditadura da Toga”
“Vivemos numa ditadura do STF”
“O STF está rasgando a Constituição”
“Onde está nossa liberdade de expressão?”
“Anistia, anistia...”
Quem falou isso?
ExcluirEra, sou e serei fã do Janer enquanto houver algum texto dele que não tenha lido!
ResponderExcluirLinda descrição, Prévidi, à altura do intelectual que deixou sua marca no meio jornalístico e literário do seu tempo. Obrigada pela homenagem no momento em que lembramos dos 10 anos da morte dessa pessoa especial a seu modo. Obs.: por pertinente, esclareço apenas não termos sido casados. Abraço.
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