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- NÃO SE METAM COM ELE! SERÁ? - O deputado federal Marcel Van Hattem afirma que não comparecerá para dar depoimento à Polícia Federal em razão de declarações feitas da tribuna da Câmara dos Deputados, que são integralmente protegidas pela Constituição Federal.
Marcel decidiu enfrentar os ditadores.
CHICO DIABO
e a Faca Prateada de Solano Lópes
“La guerra del Paraguay es el produto de tres siglos de egoísmos Y de uma hora de pasión desbordante. Es um fenómeno de formacion como La guerra cisplatina".
Ramón Cárdano – historiador e político conservador argentino
Caros amigos que prestigiam esta cesta histórica,
Dias atrás, foi publicado aqui neste espaço um texto (longo) sobre a Guerra do Paraguai. Pensei em aditar outro, complementar, mas ficaria muito extenso, desisti.
Publico-o agora.
Mas, antes, quero acrescentar umas poucas palavras sobre os motivos dessa cruenta e ignóbil guerra.
A maioria das razões apontadas em livros escolares, poucos livros, pois, interessante, essa guerra é parcamente discutida nas classes das nossas escolas, nos sinaliza uma questão central: a guerra foi instigada pela Inglaterra, pelo antagonismo que a política isolacionista dos paraguaios provocava nos negociantes e banqueiros ingleses que queriam emprestar dinheiro a gordos juros, comprar matéria-prima a preço vil, e vender produtos industrializados a altos preços.
Pode ser que essa política isolacionista dos paraguaios tenha influenciado, mas, a meu ver, é uma questão bem, mas bem lateral, de somenos importância. Há outras razões bem, mas bem mais importantes, penso.
Eu, quando quis me informar em relação a esse tema, fui procurar livros, mas pouca coisa encontrei.
De repente, por sorte, achei num sebo em Porto Alegre um belo livro/depoimentos sobre o tema, coordenado pelo pesquisador Aliatar Loreto, e tem como título CAPÍTULOS DA HISTÓRIA MILITAR DO BRASIL, e foca centralmente nas razões, nos antecedentes da Guerra.
O livro inicia lá em 1811, quando da independência do Paraguai, com a formação da Junta de Governo Provisório, sob a liderança do religioso Gaspar Francia, que forma (ele parece ter sido tio do Carlos López) uma dinastia que vai até 1870, com a morte do Francisco Solano López – El Mariscal.
A questão principal que o livro aponta é a famosa ‘Questão Uruguaia’, também por uns chamada de ‘Guerra do Uruguai’, uma forte crise interna no país vizinho, uma talvez guerra civil na qual o Brasil acabou envolvendo-se com o objetivo de proteger os cidadãos brasileiros, em torno de 40 mil, 20% da população uruguaia, estancieiros da fronteira norte, entre estes o famoso Antônio Souza Netto, que inclusive havia ido à corte, no Rio de Janeiro, queixar-se da prepotência da ditadura dos blancos uruguaios que maltratavam os brasileiros e vilipendiavam nossos símbolos (bandeiras, brasões, etc.).
...
Um resumo rápido,
Quem governava o Uruguai – despoticamente - era o presidente Bernardo Berro, do partido Blanco.
Venâncio Flores, ex-presidente, colorado, estava exilado na Argentina, quando decidiu invadir o seu país natal e derrubar o ‘tirano’ Berro.
Para isso conseguiu o apoio (velado) da Argentina, por meio do presidente Bartolomé Mitre, que, oficialmente, negava tudo.
O Brasil também fez o mesmo, ao mesmo tempo em que tentava negociar com o presidente uruguaio uma saída honrosa.
O Brasil tinha uma base naval no Prata, chefiada por Joaquim Marques Lisboa, futuro Almirante Tamandaré.
As ações ocorrem entre 10 de agosto de 1864 e 20 de fevereiro de 1865.
Berro sai da presidência e o Congresso uruguaio coloca o Atanásio Aguirre, outro blanco fervoroso e inimigo de morte do Flores.
Nesse meio tempo, o político uruguaio que cuidava da área externa, d. Juan J. Herrera, usa de toda a sua habilidade política para inflar o ego do ditador López no sentido de conseguir sua ajuda na guerra contra o Brasil e o general Flores, propondo vários esquemas políticos, inclusive o de formar uma grande nação platina liderada pelo Paraguai, incluindo o Uruguai, a província do Rio Grande do Sul, e as províncias argentinas Corrientes e Entre-Rios.
O Paraguai não pode intervir, pois teria que enviar uns 4 mil soldados até o fronte (Montevidéu, que estava cercado) por navios, algo totalmente impossível pela presença da armada brasileira vigiando os rios da região.
Aguirre acaba renunciando, sendo então o general Flores empossado pelo presidente do Congresso como novo presidente.
Acabava uma crise, iniciava outra crise!
Em novembro de 1864, militares paraguaios aprisionam um navio mercante brasileiro – o vapor Marquês de Olinda – arrestando mercadorias e prendendo passageiros e tripulantes, inclusive o governador do Mato Grosso que seguia para ser empossado no cargo. Logo a seguir, em dezembro, o Mato Grosso é invadido por tropas militares a mando do tirano.
É a Guerra!
Não dá para se negar a crise uruguaia como uma das razões muito importantes para a Guerra.
As demais, na minha opinião, listo abaixo:
- López considerava o Mato Grosso como uma simples continuação territorial do Paraguai. Ainda havia outras questões de limites a resolver. Vencendo o Império numa guerra – rápida – tudo se resolveria;
- A megalomania do ditador paraguaio que não aceitava a posição menor que seu país tinha no contexto das nações do Prata. Essa sua megalomania, que já era alta, foi incensada ao limite pelo uruguaio Herrera;
- A questão da navegabilidade pelo Prata. Brasil e Argentina tinham bases navais em ilhas na região, e isso era um fator de estorvo em relação à política platina. Não esquecer que o ditador López, em recente viagem à Europa, entre outros armamentos, havia comprado um moderno navio a vapor, nomeado Tacuari, já pensando em aumentar seu poder naval. Portanto, a questão do livre trânsito pelo Prata e demais rios da região era super importante.
Abaixo segue o texto sobre
Chico Diabo e a Faca Prateada de Solano López:
Quando da inauguração do Memorial do Theatro São João, aqui da minha querida Taquari, há uns dois anos e meio, fui provocado pela gerente da unidade do SESC de Venâncio Aires, Diana Lacerda:
- João, tu conheces a história do cabo Chico Diabo e da faca prateada do el mariscal Francisco Solano López? Ele é um antepassado meu, sou tataraneta, e seu nome é José Francisco Lacerda.
Não só sabia da história, como também a recitei de pronto para alegria da Diana, pois, como é natural, a maioria das pessoas conhece mal e parcamente os eventos da Guerra do Paraguai, o que se dirá então de um inserto menor da trágica página dessa gesta nada épica.
No continente americano, a Guerra do Paraguai, em termos de infâmia e mortandade, só perde para a Guerra da Secessão.
Nessa guerra intestina dos americanos do norte morreram por volta de 600 mil, entre soldados e civis.
Na nossa, estima-se 150 mil mortos, sendo que destes, 80 mil foram somente de paraguaios – algo em torno de 20% do total da sua população, à época, de 400 mil, ou seja, um horror!
Dos nossos irmãos brasileiros envolvidos, um total de 150 mil nos cinco anos de luta, muitos os famosos ‘Voluntários da Pátria’, pouco mais de 33% não voltaram à terra pátria.
(Desses ‘voluntários’, grande parte eram pegos nas ruas ou mesmo dentro de suas casas e enviados a ferros para as frentes de batalhas nos pântanos paraguaios. Os negros, sabemos, iam substituindo seus patrões com a promessa de alforria quando retornassem.)
Interessante que um evento praticamente sucedeu ao outro.
A guerra dos americanos do norte acaba em 1865 (seis dias antes do assassinato do presidente Abraham Lincoln, em 15 de abril). A nossa inicia um pouco antes, em 12 de outubro de 1864, e acaba, com a morte do el mariscal, em 1º de março de 1870.
É na morte do inditoso tirano que o nome do cabo gaúcho projeta-se na história.
Nascido em Camaquã, José Francisco Lacerda (1848-1893), era um menino de família muito pobre, o que o obrigou muito cedo a buscar trabalho para ajudar na renda familiar.
O apelido parece ter vindo do fato dele ter matado seu patrão a facadas, em um açougue onde trabalhava – numa desavença.
Para escapar da polícia que o procurava, fugiu para a segurança da fazenda de seu tio Vicente Lacerda, em Bagé: fugiu do iminente aprisionamento, mas não do apodo dado pela população, diabinho, que se espalhou rápido e virou Chico Diabo.
Quando com 17 anos, em 1865, entrou como voluntário da pátria no pelotão do coronel bajeense Joca Tavares – que seguia para o conflito platino.
Nele, Chico Diabo foi promovido a cabo.
E foi no capítulo final dessa cruenta guerra que o jovem camaquense, na região de Cerro Corá, entra para a história como herói no Brasil e infame assassino no Paraguai.
E tudo acontece no começo da tarde de 1º de março de 1870.
Não havia mais guerra, havia sim um ‘estropiado exército de crianças esquálidas, velhos envergados, mulheres disformes seguindo el mariscal em direção a um desesperado e inalcançável couto na Bolívia’.
Na perseguição, quatro mil soldados sob o comando do general José Antônio Correia da Câmara.
No ataque surpresa ao acampamento paraguaio em Cerro Corá, Solano López consegue montar seu cavalo e, espada em punho, grita: morte a esses macacos.
Atrás dele, o cabo José Francisco Lacerda, galopando à margem do rio Aquidabã, perseguia-o.
Quando chegou a uma distância certeira, arremessou sua lança que atingiu o baixo-ventre do mariscal. Esse ataque foi seguido por um golpe de sabre em sua cabeça dado pelo capitão João Pedro Nunes.
López cai de costas no rio.
Logo chega o general Câmara e ordena ao ditador que se renda.
O tirano não o faz.
É morto com um tiro de fuzil no peito por um terceiro soldado.
Aí então vem a mítica história da faca.
Chico Diabo examina o corpo morto de López e vê em sua cintura uma faca prateada com duas letras douradas ‘FL’, que, por incrível coincidência, também eram as iniciais do seu nome, Francisco Lacerda.
Dá um jeito e fica com a posse da faca como troféu de guerra.
Há no Museu público de Bagé uma faca prateada relacionada ao cabo Chico Diabo que muito provavelmente seja a que pertenceu ao el mariscal.
(Sabe-se que a faca pertenceu ao el mariscal, mas não se pode afirmar esta verdade, pois, do contrário, basta a uma autoridade paraguaia – embaixador, cônsul, um funcionário graduado – exigir a devolução e o governo brasileiro mandará devolvê-la de pronto.
As autoridades paraguaias pressionam permanentemente o Itamarati para que esses troféus retornem ao Paraguai. Muitos já o foram.
*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.
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