Sexta, 14 de fevereiro de 2024

 



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ACREDITO NOS ANIMAIS
(DE OLHOS FECHADOS)







DOIS MINUTOS
COM  PRÉVIDI

- VERDADES SOBRE O AGRO.
IMPERDÍVEL!!




nesta sexta,
a cesta do
j.p. da fontoura

TEXTOS DE
JOÃO PAULO
DA FONTOURA*






JOSEF STÁLIN
–  O Homem de Aço ou
o Novo ‘Gengis Khan’ 

             Dupliquem, tripliquem a guarda
         Cerquem a tumba!
          Que Stálin não possa
          Sair, que fique lá para sempre.
          E o passado com ele.**

(** Versos do poeta Evgeny Evtuchenko que sintetizam o sentimento de alívio de milhões de soviéticos quando da morte de Stalin, em março de 1953)



Prefácio


No ensaio biográfico que cometi sobre o líder inglês Winston Churchill, aqui publicado na sexta passada, fiz uma observação em relação ao fato desse grande personagem do século XX não constar do índex das ‘100 maiores personalidades da História’, livro – famoso – do escritor estadunidense Michael H. Hart, editado por aqui em 2001. Mas o georgiano Josef Stálin lá está, firmão, ocupando a posição número 66, com direito a oito páginas das mais de 600 da obra!

E nada adianta a gente gostar ou não! Ele, ou melhor, sua biografia – pro bem ou pro mal – está, assim como a do Hitler, Mussolini, Gengis Khan, Pedro o Grande, Mao Tsé-Tung, Pol Pot, Franco, grafada em bronze no mural dos grandes da humanidade, mesmo que a simples citação desses nomes ainda hoje traga arrepios de pavor e medo aos ouvidos da maior parte da população mundial.

Stalin, durante o curso do tempo em que governou a extinta URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), quase 26 anos, com poderes e ações tirânicas e despóticas muito superiores aos antigos czares governantes que a revolução, à qual foi um dos principais líderes, apeou do poder, transformou o país, ou melhor, uma coleção de países, de uma terra de camponeses pobres e atrasados, muitos desses verdadeiros escravos brancos, em uma das mais poderosas nações industrializadas do mundo.

Isso é fato inquestionável.

Mas tudo isso teve um enorme custo aos povos dessas repúblicas em termos de sofrimento, dor, humilhação, exílios forçados e mortes. Quando dos expurgos e  repressões, cíclicos, nas quais o ditador vingava-se de inimigos reais e imaginários, o rodo da maldade era geral, não sobrava para ninguém, nem mesmo para seus companheiros do partido. Um exemplo, dos 140 membros eleitos em 1934 para o Comitê Central do Partido – dos quais era formado o Politburo (o órgão principal de poder nas decisões políticas, econômicas, e que detinha o controle absoluto sobre o partido e sobre o Estado) apenas 15 desses não haviam sido mortos ou presos três anos após.

Políticos, oficiais militares de alto e baixo escalão, cientistas, professores, artistas, escritores, intelectuais, jornalistas, todos sob o apodo de ‘inimigos do povo’ foram sacrificados ao altar do Deus Estado, largados à sanha assassina das polícias políticas stalinistas.

 

Valeu a pena?

Vale a pena, em nome do Estado, privar-se toda uma população de seus direitos mais elementares como o livre pensar, o livre expressar-se, o livre protestar, enfim livre arbítrio de decidir o que é melhor para si, o que é melhor para a sua família, o que é melhor para o seu pequeno orbe?

A resposta foi dada na noite de 9 de novembro de 1989 quando o mundo todo viu, estupefato, a queda do Muro de Berlim, ato que simbolizou o término de 70 anos da existência da União Soviética, um ‘laboratório político/econômico’ que findou por exaustão!

Stálin, nesses 70 anos, foi responsável por 25, certamente os 25 anos mais penosos da história dos povos que formaram a extinta União Soviética.

 

Uma pequena bio



Josef Vissarionovich Dzhugashvili nasceu no dia 21 de dezembro de 1879, filho da dona de casa Ekaterina Geladze e do sapateiro Vissarion Dzhugashvili,  em Gori, um pequeno burgo na Geórgia, no Cáucaso, que  então pertencia ao império russo desde 1803.

Vissarion era um homem muito violento, um valentão dado a brigas e que costumava bater na mulher e filhos. ‘Surras terríveis e sem propósitos’, lembrou um amigo de infância do Joseph, tempos depois. Essas surras, às quais o menino Joseph enfrentava calado (de acordo ainda com o depoimento desse mesmo amigo de infância) acabaram quando da morte do pai em uma briga de rua, quando o menino tinha apenas 11 anos. Stalin teve três irmãos, sendo que todos morreram cedo.

(Aqui uma divagação: muito provavelmente o temperamento agressivo e vingativo do adulto Joseph tenha forte conexão com a violência que recebia de seu pai, pois, ‘remember’ Jung, ‘o homem é produto do meio’.)

Ekaterina, sua mãe, teve que batalhar muito com lavagens de roupas e  costuras em vestimentas para manter a família. Durante esse período, Joseph era muito religioso e sua mãe sonhava em transformar o seu pequeno ‘Soso’ (Zezinho) em  um sacerdote da Igreja ortodoxa russa.

Quando ouço ‘experts’ em história falando que o revolucionário Stalin era um ‘tosco e iletrado’, em contraponto aos intelectuais Lênin, Trotsky, Kamenev, etc., nada oponho a não ser achar graça: o menino Joseph estudou dos 8 até os 20 anos, nos primeiros anos em escola da aldeia e os últimos em um seminário religioso de Tiflis, do qual recebeu uma bolsa de estudo. Todos sabemos que ‘seminários’, em regra, são repositários do ensino e alto saber. Stalin, até se revoltar contra a ortodoxia e a rotina rigorosa e asfixiante dessas clausuras, era um aluno dedicado e de bom comportamento e que nas horas vagas até mesmo escrevia, ora vejam!, poemas românticos, muitos deles publicados em revistas culturais locais.

A partir daí, 1899, já com 20 anos, inicia sua vida política participando da ala bolchevista do partido socialista de Tiflis, então capital do Estado.



Foi membro ativo do partido, trabalhando na organização de movimentos sociais (protestos, greves, passeatas) contra o  governo central russo – o Império Oligárquico dos Romanov, sendo preso em pelo menos seis vezes. Por esses tempo foi que começou a adotar codinomes para se  proteger da polícia czarista: primeiro utilizou ‘Koba’, nome de um personagem mítico, um Robin Hood georgiano, depois, ‘Stalin’ – homem de aço.

Até 1917, ano da revolução comunista, seu papel no movimento não teve destaque. Com a tomada do poder pelos bolcheviques – novembro desse mesmo ano – tudo muda.

A partir de abril de 1922, torna-se secretário-geral do Partido Comunista.

Com habilidade política e um cinismo/pragmatismo  ilimitado, consegue afastar seus opositores (Trotsky, o indicado por Lênin – morto em 1924 – para sucedê-lo, principalmente) um a um, chegando em 1928 à posição de líder inconteste.

 

Stalin, 2ª Guerra Mundial



Muitas pessoas estranham o fato de os dois maiores inimigos do período pré-guerra (entre a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, 30 de  janeiro de 1933, e o início, em setembro de 1939, da invasão da Polônia) terem assinado um ‘acordo de não-agressão’, em agosto de 1939.

Na realidade, Stalin tentou de tudo que foi maneira acerta-se com a França e a Inglaterra numa frente contra a Alemanha, pois temia uma invasão nazista como gesto primeiro de Hitler. Isto está registrado, a meu ver, claramente, no livro ‘ Ascensão e Queda do Terceiro Reich’, do escritor estadunidense William  L. Shire - em um dos seus tomos. Mas a cada acerto entre diplomatas seguia-se uma traição ou volta atrás por parte da França, principalmente, e da Inglaterra.



Na realidade, Stalin sabia que seria traído por Hitler, mas não tão cedo. Com o mapa da Europa praticamente todo coalhado de cruzes nazistas, Hitler partiu para a tomada da ilha inglesa. Mas todos seus planos não vingaram. Os ágeis Hurricanes e Spitfires ingleses e seus valorosos jovens pilotos (‘nunca tantos deveram a tão poucos’ – Winston Churchill) humilharam os então invencíveis aviões da luftwaffe do marechal Goering.

E Hitler partiu para seu plano ‘B’ – aquele que nunca deixou de existir!

Em 22 de junho de 1941, um oceano de soldados, aviões e tanques nazistas invadem a União Soviética, na famosa ‘Operação Barbarossa’.

O avanço foi avassalador, por pouco a União Soviética não foi completamente destruída e tomada pelas hordas nazistas. Já em fins de setembro, 2,5 milhões de soldados soviéticos estavam mortos ou aprisionados; 18 mil tanques e 14 mil aviões haviam sido destruídos. A produção industrial do país estava reduzida à metade pré-invasão.

Stalin não teve alternativa, apelou ao seu povo (‘(...) que as imagens de nossos antepassados... os inspirem nesta luta... viva a Rússia gloriosa, livre e independente! ’), à Igreja, e aos aliados da hora, Inglaterra e Estados Unidos – que ainda não havia entrado na guerra, e dos quais recebeu aviões, tanques, caminhões, etc.

 

(Os caminhões fornecidos pelos americanos foram os famosos ‘Studebaker’ – de 2,5 toneladas. Sobre estes, os russos posicionavam seus terríveis e eficientes lançadores de foguetes ‘Katyusha’ que podemos ver nos filmes PB da guerra.)



A tática do Stalin e de seus generais de não retroceder, não se render (prisioneiros russos eram os novos ‘inimigos do Estado’. Seu único filho homem, Jacob, morreu executado em um campo de concentração alemão, mesmo que os nazistas tenham tentado trocá-lo por prisioneiros alemães), a despeito das montanhas de soldados russos mortos (mais de 20 milhões até o final da guerra) acabou por dobrar os exércitos inimigos, sendo a vitória em Stalingrado, com a rendição do general Von Paulus e de mais de 90 mil soldados, em 31 de janeiro de 1943, o ponto de virada da guerra.

 

Quando a guerra acaba, com a invasão da Alemanha e a tomada de Berlim, em maio de 1945, pelos russos e aliados americanos e ingleses, a União Soviética tinha quase toda a Europa Oriental sob seu domínio .

Essa vitória – mesmo que com seu país literalmente estraçalhado, mais de 20 milhões de mortos entre civis e militares, 25 milhões de desabrigados, 25% de todos os prédios em escombros, fábricas e maquinários arruinados, marcou a culminância do poder e do prestígio do regime stalinista.

Stalin dispensou o dinheiro do Plano Marshall e reergueu, junto com o esforço e sacrifício de seu povo, a nação soviética.

Nesse novo mundo, com Inglaterra, França e Alemanha ‘rebaixadas’, a União Soviética e os Estados Unidos tornaram-se as nações hegemônicas do Mundo.

Stalin continuou como o czar absoluto até sua morte em 6 de março de 1953.

 

Epílogo


Finalizando este meu ensaio, alguém poderá questionar o motivo de se remoer a história de um personagem que tem em seu currículo de vida muito mais desfavores que méritos. Eu respondo com tranquilidade, Stalin, pro bem ou mal, faz parte da História, pronto! Também não dá pra se subestimar a sua influência no contexto geral dos eventos do século XX. Mesmo com a sua morte em 1953, mesmo que os líderes que o sucederam  tenham em regra agido com muito mais moderação em relação à sua população, a influência que Stalin deixou na União Soviética – sendo a maior delas a Guerra Fria – uma permanente ‘Espada de Dâmocles’ sobre a cabeça de toda a população do planeta (remember outubro de 1962 e a crise dos mísseis em Cuba que, por pouco, não eclodiu em uma mortal guerra atômica) permaneceu até o ano 1990 com o fim da União Soviética.

Na verdade, como disse o historiador Michael H. Hart, ‘Stalin foi um titãs da história: um gênio cruel que tão cedo não será esquecido. ’

 

 


 

·        Por fim, uma cronologia resumida dos eventos da vida de Stálin

 

1879 – 21 de dezembro, nasce Josef Vissarionovich Dzhugashvili em Gori, Geórgia;

1898 –   Junta-se a um grupo de marxistas georgianos;

1901 –   Filia-se ao Partido Operário Social-Democrata da Rússia;

1905 – Em dezembro encontra-se com Lênin, pela primeira vez, em uma   reunião bolcheviques, em Tammerfors, Finlândia;

1907 –   Encontra-se com Trotsky pela primeira vez;

1912 –  Torna-se membro do Comitê Central Bolchevique;

1913 –  É preso e condenado ao exílio na Sibéria;

1917 –  Em 25 de março, chega a Petrogrado depois da revolução de fevereiro;

             Em 23 de outubro, é indicado membro do Politburo;

             Em 7 de novembro, começa a Revolução de novembro (ou outubro conforme o calendário juliano);

1919 –  24 de março, casa-se com Nadezhda Alliluyeva;

1922 –  Em abril é nomeado secretário-geral do Partido Comunista;

1925/27 – Afasta vários opositores consolidando sua posição de ditador;

1928 –  1º Plano Quinquenal;

1934 –  Tem início o Grande expurgo logo após assassinato de Sergei Kirov;

1939 –  23 de agosto, assina o pacto de não agressão com a Alemanha;

1941 –  22 de junho,  Alemanha invade a União Soviética;

1943 –  Novembro, participa da Conferência de Teerã;

1945 –  Fevereiro, participa da Conferência de Yalta;

             Dois de maio, forças soviéticas tomam a cidade de Berlim;

             Julho, participa da Conferência de Potsdam;

1953 –  Em 6 de março, morre aos 74 anos. 


*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.

25 comentários:

  1. Respostas
    1. Este gentílico é complicadinho de se escrever, mas creio tê-lo escrito corretamente.
      Abraços.
      Obrigado.

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    2. Ele diz muito sobre quem o usa.

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    3. Republicofederativense.

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  2. Penso que é esse o grande calcanhar de Aquiles da humanidade, jogar a história no cesto do lixo. Com isso nada aprendemos com o passado e costumamos repetir os mesmos erros de forma cíclica.

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  3. Excelente, JP!
    Stalin talvez tenha inaugurado a era dos ditadores (de direita ou de esquerda) que, para maximizar seus poderes, lançaram mão da superestatização. A diferença de Stalin para outros ditadores sanguinários é que este tinha um país enorme ao seu dispor.

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    1. Que tal citar exemplos de superestatização na direita?

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    2. Segue, 21:43: Hitler, Sadan, Família Saudita, Geisel. Este último, em especial, criou estatais gigantes, reforçou o monopólio da Petrobrás e turbinou a burocracia estatal.

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  4. Excelente ensaio, como TODOS que li e que a coluna do Prévidi nos proporciona. E, para o caro Editor desse blog, cumprimentos pela honestidade e humanidade nestes tempos de totalitarismo que haveremos de superar.

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  5. Adriano Luis Turelli Spezia15 de fevereiro de 2025 às 14:20

    Texto bem claro e muito bem resumido.

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  6. Só uma perguntinha: quem matou mais, ditadores de direita ou ditadores de esquerda?

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    1. Só mais uma perguntinha: quem matou menos teria que ser elogiado pela "virtude"?

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    2. Como se não soubesse a resposta (óbvia).

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    3. Pra mim, que mais matou foi o ditador tirano comunista do Camboja (1976-1979) Pol Pot, que exterminou aprox. 25% da sua população. Hoje o Camboja tem 17 milhões. Então seria como matar 4,25 milhões de pessoas. Parece que há um museu por lá com cerca de um milhão de crânios de cambojanos - mortos pelo tirano!
      Isso tudo em somente 4 anos de (des) governo! Credo!

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    4. Pol Pot é páreo duro, pois matou diretamente.

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  7. Stalin, ídolo inconfesso de boa parte da trinca de partidos.

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  8. Carolina Ferraz, de o "Domingo Espetacular", da Record, é um show de mulher: belíssima, bem vestida, discreta, elegante, voz poderosa, competente. E não faz caras & bocas, trejeitos, firulas, sorrisos, espalhafatos, olhares enigmáticos.

    É a melhor e mais completa apresentadora de TV do país.

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    1. Concordo plenamente.

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    2. Carolina Ferraz é autêntica, não faz jogo de cena, não faz salamaleques, não faz desfiles para as câmeras. Eita, fêmea que honra a espécie e nos deixa encantados aos domingos a noite.

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    3. Os melhores jornalistas não são jornalistas.

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  9. "Ainda Estou Aqui"...tô fora.

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  10. Fernando Bharalho Roth17 de fevereiro de 2025 às 11:36

    Incrível ! Fantástico! O aiatolá gremistóla das 2as.feiras, do programa do Mendelski, criticando o Inter com argumentos de que este estaria condicionando/pressionando os árbitros do Gaúchão.

    Essa mesma figura, enquanto dirigente do tricolor, ficou conhecida como 'Doutor Abijeato', num triste episódio de porta de vestiário.

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  11. Acima, 11:36, onde se lê abijeato, leia-se abigeato.

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