Sexta, 21 de fevereiro de 2025

 



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TEXTOS DE
JOÃO PAULO
DA FONTOURA*






ADOLF HITLER
–  A Sublimação da Maldade Humana 

"Primeiro eles vieram buscar os socialistas, e eu fiquei calado — porque não era socialista.
Então, vieram buscar os sindicalistas, e eu fiquei calado — porque não era sindicalista.
Em seguida, vieram buscar os judeus, e eu fiquei calado — porque não era judeu.
Foi então que eles vieram me buscar, e já não havia mais ninguém para me defender".

Esta citação, atribuída ao pastor alemão Martin Niemöller, explica, analogicamente, a triste leniência do povo alemão aos avanços ditatoriais dos nazistas.



Prólogo,

No livro ‘As 100 Maiores Personalidades da História’, do escritor e historiador norte-americano Michael H. Hart, já destacado nos dois ensaios anteriores aqui apresentados (sobre Churchill e sobre Stálin), o ditador nazista Adolf Hitler ocupa a posição 39.

Vejam como Michael introduz o texto sobre o tirano nazista: ‘Devo confessar que foi com repugnância que incluí Adolf Hitler neste livro. Sua influência foi quase totalmente perniciosa, e não tenho o menor desejo de honrar um indivíduo cuja principal importância foi a de ter causado a morte de cerca de trinta e cinco milhões de indivíduos. Entretanto, não há como escapar ao fato de que Hitler teve enorme importância na vida de um enorme número de pessoas.’

Eu entendo que Hitler foi um indivíduo extremamente inteligente e, ao mesmo tempo, um indivíduo com uma mente extremamente estreita movida por dogmas que hoje são difíceis de se aceitar, ou de não se cair numa sonora gargalhada com o seu anunciado, como a questão da ‘pureza racial, o arianismo e outras bobagens’ .

E aqui não há uma contradição, uma coisa não invalida a outra.

Interessante que isso não era uma exclusividade da mente estreita do tirano nazista.

Outros grandes homens, tidos às suas épocas como luminares, pensavam igual, como, por exemplo, o americano Henry Ford, que além de purista racial era um ferrenho antissemita, igualmente o compositor alemão Richard Wagner, também ferrenho antissemita, cuja obra Parsifal é uma ode à mitologia nórdica, branca, ariana... idem Shakespeare e seu Mercador de Veneza ...

Para não ficar somente com o primeiro-mundo esse problema da eugenia e preconceito étnico, que se eu for listar encherei páginas de nomes, vou citar um depoimento provinciano retirado do livro ‘Reminiscências’, do Visconde de Taunay – Affonso d’Escragnelle Taunay, de 1908, no qual ele escreve, com a naturalidade dos áulicos, sobre a fundação de uma Sociedade Central de Imigração da qual (ele) era um fervoroso opositor de projetos ‘de introdução de infelizes coolies (*chineses) que desalmados traficantes, patrocinados aliás por pessoas esclarecidas e de boa fé, pretendia trazer ao Brasil à semelhança do vergonhoso tentame de imigração chinesa no Peru (...) Falhou completamente o plano, deixando o país de ser inundado por amarelos (...) Duas ou três tentativas foram feitas posteriormente no mesmo sentido; tentativas em que os chinófilos, mesmo depois da República, em 1892, o encontram (*Taunay) vigilante e temível adversário.’

 

A emergência do nazismo na Alemanha é produto de quatro fatores que se alinharam perfeitamente para a produção de um estado totalitário e de uma máquina de moer seres humanos:

 

1) O aparecimento de um indivíduo – líder – terrivelmente antissemita, terrivelmente nacionalista, com um ódio doentio às repúblicas democráticas e à Rússia comunista, somando a isso tudo um total desprezo pela vida, inclusive a sua. Este indivíduo (Hitler) desde jovem era contra, por exemplo, o Império dos Habsburgos com o seu multietinicismo. Para ele, a Alemanha era tudo e bastante;

 

2) O Tratado de Versalhes, 1919, imposto pelas nações vencedoras da 1ª Guerra, e  que legou à Alemanha um fardo econômico impossível de ser cumprido  e, também, um mar de dificuldades à população e revoltas;

 

3) A catastrófica quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, que deu início à Grande Depressão, uma crise econômica que afetou o mundo capitalista global e muito contribuiu para a grande votação do partido nazista nas eleições de 1932;

 

4) O antissemitismo dos derrotados alemães que culpavam os judeus pela derrota do Império. Esse sentimento, que já era pan-europeu desde séculos, foi habilmente explorado pelos líderes nazistas.

 

 

Uma curta biografia


Parecia normal

Hitler nasceu em 20 de abril de 1889 na cidade austríaca de Braunau am Inn, filho de Alois Hitler e de Klara Pölzl, numa região muito próxima da fronteira do então Império alemão, mas foi criado em Linz, também na Áustria.

Seu pai, Alois, era um funcionário público alfandegário local, um viúvo que casou com a sua prima, Klara, bem mais nova, em 2ª núpcias.

O casal teve sete filhos, sendo que três morreram na infância.


Ainda parecia normal

A história do nome Hitler é um pouquinho complicada, mas vamos lá: o pai do menino Adolf era filho ilegítimo de Maria Anna Schicklgruber, e no seu registro batismal não constava o nome do seu pai. Então ele ficou conhecido como Alois Schicklgruber. Quando tinha cinco anos, sua mãe acabou casando-se com Johann Georg Hiedler, sendo que então o menino Alois passou a viver na família do seu tio Georg, irmão do agora marido de sua mãe e seu padrasto. Quando da ida à escola, ele resolveu usar o sobrenome do padrasto, porém alterou levemente para Hitler, não se sabe exatamente o porquê.

O sobrenome Hiedler e suas derivações Hitler, Hütler ou Huettler vem, muito provavelmente, da palavra ‘hütte’, significando ‘cabana’ ou ‘aquele que mora numa cabana’.

Como eu já tinha apontado no ensaio sobre o Stálin (a existência de uma pai violento, autoritário), aqui também ocorre uma semelhança que explica, mas não justifica, o autoritarismo e violência do Hitler ditador. Um historiador austríaco teve acesso a 31 cartas escritas pelo Alois, por volta de 1895 (Hitler tinha seis anos), na qual ele se mostra como uma figura autoritária e doentia. Hitler é citado em apenas três cartas, sempre como ‘o garoto’ – sem a menor afetuosidade ou empatia.

Alois e o filho jamais tiveram uma boa relação, sobretudo devido à rebeldia e à mágoa do garoto que se negava a seguir os passos do pai no setor público, e sonhava em ser artista.

Hitler sênior morreu em 1903, ao sofrer uma hemorragia enquanto tomava vinho – a bebida era um vício que o mantinha longe de casa. Adolf tinha 13 anos.

Resumindo: a fruta não caiu longe do pé, ou Jung, o médico psiquiatra alemão: o homem é produto do meio.

Depois da morte do pai, Hitler resolveu sair de casa, emancipar-se.

Com apenas 16 anos, passou a viver em Viena, vagabundeando, com ajuda da mãe e da pensão de órfão. Com a morte de sua mãe, passa a viver em abrigos para sem-tetos. Em 1913, já com 24 anos, muda-se para Munique, no sul da Alemanha, com a justificativa, dada aos amigos, que iria estudar numa Academia de Artes. Mas, Hitler continuou levando a mesma rotina de desocupado que tinha em Viena.

Vivia basicamente de pinturas tipo aquarelas de prédios, paisagens, etc. Não era medíocre (existem muitas telas dele por aí que provam), mas tinha uma absoluta impossibilidade de pintar figuras humanas. Era também um voraz leitor, lia tudo, com especial atenção a livros que relatam a história dos povos germânicos, as grandes gestas épicas.


Sobre a origem do antissemitismo de Hitler e a primeira vez que ele a expressou, há motivos de debates. Ele afirmou, no livro Mein Kampf, que se tornou um antissemita em Viena.

Seu amigo de infância, o musicista August Friedrich Kubizek (1888-1956), afirmou que Hitler era um ‘convicto antissemita’ antes de deixar Linz. Paradoxalmente, várias outras fontes dão evidência que Hitler tinha amigos judeus quando jovem no começo da sua estada em Viena.


Fracasso na 1ª Guerra

No entanto, sua vida mudou drasticamente quando estourou a Primeira Guerra Mundial, em 1914. Nela, Hitler conseguiu, mesmo sendo austríaco, alistar-se no exército alemão e servir como soldado mensageiro (correio), o que era uma atividade de enorme risco. Foi promovido a cabo e ganhou, por heroísmo, a Cruz de Ferro – de segunda classe, em fins de 1914, e a mesma Cruz de Ferro, agora de primeira classe, em maio de 1918. Interessante que o presidente da Alemanha em 1932, o velho general Paul Von Hindenburg, sempre que instado por seus conselheiros a nomeá-lo Chanceler, de pronto repelia com ‘jamais vou nomear esse cabo austríaco’.

Mas não teve jeito, acabou fazendo em janeiro de 1933.

 

Acabada a guerra em 1918, com a Alemanha derrotada, o seu já forte antissemitismo explodia num ódio mortal contra ‘os judeus traidores’, os quais, pela ótica dele e de muitos outros alemães, foram os principais responsáveis.

Com a derrota e a queda do Império, instala-se em 1919 a República de Weimar, uma democracia representativa. E nela, Hitler sentia-se ainda muito mais desconfortável. Ele consegue manter-se no Reichswehr numa função de vigia (infiltrado) dos movimentos nacionalistas que explodiam em cada canto da Baviera e da Alemanha.

Então, em 12 de setembro de 1919, Hitler encontra o seu destino histórico: tem o primeiro contato com o partido alemão dos trabalhadores, em um encontro com não mais de 50 assistentes/bebedores de cerveja.

De repente, nesse pequeno comício, alguém inicia falar na necessidade de separar a Baviera da Alemanha ou algo nessa linha. De sua discreta posição de ‘vigia’, ele dá um sobressalto e berra: ‘não, nunca, isso jamais, a grande Alemanha não pode ser dividida’. Então, dão-lhe a palavra e ele fala, e como!, durante quase uma hora. Todos prestam atenção. É convidado para a próxima reunião, seus chefes o autorizam, e ele volta. A audiência aumenta geometricamente. De repente, adona-se do partido e muda seu nome para ‘partido nacional socialista dos trabalhadores alemães – o Partido Nazista.

 

O resto é história.


Galã

Com o partido organizado, ele e seus companheiros tentam um golpe de estado: o famoso Putsch da Cervejaria em Munique, a tomada da Baviera, em 8 de novembro de 1923. Dá errado, morre muita gente. Hitler vai preso.

Escreve Mein Kampf na cadeia, o livro vira a bíblia nazista. É solto. O partido cresce numa eleição, decresce noutra, começa a ganhar apoio da classe endinheirada, e ocorre, em 1929, um desastre que coloca em crise profunda a República, a queda da bolsa de valores dos Estados Unidos que tem reflexo em todo o mundo ocidental e na Alemanha, com sua economia já muito debilitada – principalmente.

Com dinheiro sobrando, o uso da máquina do partido, uma massa de milhões de trabalhadores desempregados todos revoltados com a ‘inoperância da República’, e o intenso uso, pela primeira vez, de aviões na campanha, fazendo o candidato à presidência Adolf Hitler varrer todo o país em comícios com a claque das SAs, faz com que o partido alcance 36% do total de votos. Perdem a eleição, mas todos sabem – até mesmo o reeleito Hindenburg: sem os nazistas, a República não sobrevive.

 

Em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler é empossado Chanceler da Alemanha.

O clímax de sua carreira política.

E o desastre de uma nação!



  

Hitler e a 2ª Guerra Mundial

Falar do Hitler e sua ação na Grande Guerra Mundial, é chover no molhado. O que há de filmes, documentários, livros, revistas falando dele e da 2ª Guerra é algo absolutamente singular, extraordinário.

Há alguns anos, li que havia mais de 35 mil livros escritos relacionados ao 35º presidente norte-americano John F. Kennedy. Imaginei então que, em relação ao ditador nazista a coisa passava de 50 mil. Errei feio: ‘escrevendo em 2006, Ben Novak, um historiador especializado em estudos sobre Hitler, estimou que em 1975 havia mais de 50.000 livros e artigos acadêmicos, enquanto esses números aumentaram para 120.000 em 1995, totalizando cerca de 24 livros e artigos todos os dias, acrescentando também que esse número está crescendo exponencialmente’.


Mulheres apaixonados pelo tirano

 A impressão que tenho é que Hitler e a 2º Guerra Mundial nunca estiveram tanto em voga quanto nos dias atuais, tamanha a quantidade de filmes que são lançados anualmente, documentários na TV, livros, ensaios, programas em canais tipo History Channel que perscrutam se Hitler morreu em 1945 ou fugiu para a Argentina, entre outras bobagens.

 

Há muitos eventos na história que são ligados a personagens como, exemplos, os irmãos Wright e o nosso Santos Dumont  com  a invenção do avião.

Mas a ligação não é intrínseca, pois, sabemos, se estes não tivessem existido, o avião certamente teria sido inventado por outro ou outros.

Agora, no caso da 2ª Guerra Mundial, ela certamente NÃO TERIA EXISTIDO sem o histórico e a  presença física do indivíduo Adolf Hitler.

Igualmente, jamais teria havido o Holocausto do povo judeu.

Pode haver exagero, mas estima-se um número entre 70 e 85 milhões de pessoas mortas nessa cruenta gesta nada épica, ou cerca de 3% da população mundial em 1940. Só de judeus foram imolados 6 milhões!




Hitler é aquilo que em física é chamado de singularidade, algo difícil de ser explicado, definido, dissecado!

O historiador israelense Yuval N. Harari – do qual escrevi recentemente um ensaio sobre o seu livro Nexus, nos diz no seu ‘best-seller’ Sapiens que os partidos políticos viraram religião, e religião é dogma, e dogma é em regra a negação da razão.

Este mesmo Yuval faz uma separação entre Inteligência – que Hitler tinha ao limite – e Consciência. Inteligência é a capacidade de alcançar determinados objetivos; Consciência (ou empatia) é a capacidade de se ter sentimentos subjetivos, como dor, amor, ódio, pena, etc. Os grandes psicopatas da humanidade (no alto do pódium está o tirano nazista) normalmente são indivíduos inteligentes e possuem zero empatia ou consciência.

 

 

* * * * * * * * *

 

Por fim, uma cronologia resumida dos eventos da vida de Hitler:



 

1899 – Em 20 de abril nasce em Braunau , Áustria;

1903 – Alois Hitler, pai, morre por problemas relacionados à bebida;

1905 –  Passa a viver em Viena, com a pensão de órfão e a ajuda da mãe;

1907 –  Klara, mãe, morre de câncer, aos 47 anos;

1913 –  Em maio, com 24 anos, muda-se para Munique, ao sul da Alemanha;

1914/1918 – Participa como soldado mensageiro na 1ª GM;

1919 –  Em 12 de setembro torna-se membro do Partido Alemão dos

             Trabalhadores;

1923 –  Em 8 de novembro envolve-se no Putsch da Cervejaria, em Munique,

             uma tentativa de golpe fracassada;

1924 –  É julgado pela tentativa de golpe de estado;

             Em 1º de abril, é condenado a 5 anos de prisão;

             Escreve – na cadeia – o livro Mein Kampf, a bíblia nazista;

             Em 20 de dezembro, é solto;

1929 –  Em 29 de outubro, quebra da Bolsa de Valores dos EEUU;

1933 –  Em 30 de janeiro é empossado Chanceler da República;

1939 –  Em 23 de agosto, a Alemanha assina o Pacto de Não-Agressão com a 

             União Soviética;

             Em 1º de setembro, a Alemanha invade a Polônia, início da 2ª GM;

1940 –  A partir de abril, a Alemanha invade e toma em sequência: a

              Dinamarca,  Noruega, Bélgica, Luxemburgo, Holanda e França;

1941 –  Em 22 de junho, Alemanha invade a União Soviética;

1944 –  Em 6 de julho, Aliados invadem à Normandia, norte da França, dia ‘D’;

             Em 20 de julho, atentado fracassado, à bomba, contra Hitler;

1945 -   Em 6 de maio, Exércitos Aliados entram em Berlim;

             Em 30 de abril, aos 56 anos, Hitler comete suicídio.

 

That’s All, Folks!
 

*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.

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