Sexta, 23 de julho de 2021

 

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especial

Nesta sexta, uma cesta 
de 
Otto Lara Resende!


Quatro cavaleiros
de um íntimo apocalipse: 
Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos,
Hélio Pellegrino e Otto




Depois dos 50, a vida precisa de um anestésico.





O homem é um animal gratuito.


Otto Lara Resende (Otto de Oliveira Lara Resende) nasceu em São João Del-Rei, Minas Gerais, em 1º de maio de 1922. Filho de Antônio de Lara Resende, professor de português e fundador do jornal local, e de Maria Julieta de Oliveira Resende. Acreditem, o casal teve 20 filhos. Otto fez os estudos primário e secundário em sua cidade natal, no Colégio Padre Machado, dirigido pelo pai.

Desde criança mostrou interesse pela literatura. Aos 11 anos iniciou um diário que representava importante depoimento psicológico de um adolescente. Fez suas anotações até os 18 anos, e conservou-o até os 20 anos, quando inexplicavelmente desapareceu. Otto escreveu também poesias, sobretudo sonetos. Quando terminou o ensino secundário, tinha pronto um volume de contos, mas não publicou.

Em 1938, transferiu-se para Belo Horizonte. Em 1940 começou a publicar artigos de crítica em O Diário, ao mesmo tempo, que divulgava em suplementos locais e cariocas, poemas em prosa, sob o título de "Poemas Necessários". Em 1941 ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Nessa época dava aulas de Português, Francês e História em um colégio de Belo Horizonte.

Em 1945, Otto mudou-se para o Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar na imprensa, como cronista político da Constituinte de 1946. Entre os anos de 1946 a 1954 manteve intensa atividade jornalística. Trabalhou em Última Hora, O Globo, Jornal do Brasil e na Revista Manchete, chegando a diretor. Em 1949 foi nomeado para secretário na Prefeitura do Rio de Janeiro. Anos depois foi nomeado Procurador do Estado da Guanabara.


A amizade de Otto Lara Resende com Nelson Rodrigues levou Nelson, em meados dos anos 50, transformar Otto em personagem de suas crônicas e em título de uma de suas peças – “Bonitinha, mas Ordinária, ou Otto Lara Resende”, e incluído no texto a sua frase “Mineiro só é solidário no câncer”, que Otto refutava a autoria que lhe é atribuída.



Até então dedicado à crítica, Lara Resende estreou na ficção, em 1952 com "O Lado Humano", seu primeiro livro de contos, sobre temas do cotidiano. Em 1957 publica "Boca do Inferno", também contos, onde aborda o universo infantil, em sete histórias nas quais é mostrada a complexidade psicológica da criança.

Em 1957, Otto Lara Resende parte para Bruxelas, como Adido na Embaixada do Brasil. De volta ao Rio de Janeiro, em 1960, passa a escrever com regularidade na imprensa, desta vez, crônicas de sentido literário. Em 1962, publicou “O Retrato na Gaveta”, contos e novelas. Em 1963 publica o "Braço Direito", seu único romance, que recebeu o Prêmio Lima Barreto, instituído pelo livreiro Carlos Ribeiro, no Rio de Janeiro.


Em 1964, Otto publica a novela “A Cilada”, incluída no volume “Os Sete Pecados Mortais”, de vários autores. Entre os anos de 1966 a 1970 ocupou o cargo de Adido Cultural da Embaixada do Brasil em Lisboa. De volta ao Brasil, trabalhou no cargo de diretor do Jornal do Brasil. Em 1974 ingressou nas Organizações Globo, onde permaneceu durante dez anos.


Em 1979 é eleito membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº. 39. Em 1980, a Som Livre lançou o disco “Os Quatro Mineiros” com a gravação de leitura de poemas e textos em prosa de Otto, Fernando Sabino, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos. Em 1991, com 69 anos, Otto foi contratado como colunista do jornal A Folha de São Paulo. A coluna estreou com o título “Bom Dia Para Nascer”. Os ensaios publicados na imprensa lhe renderam o volume póstumo: “O Príncipe e o Sabiá”.

Otto Lara Resende faleceu no Rio de Janeiro, no dia 28 de dezembro de 1992.

Obras:

O Lado Humano, contos, 1952

A Boca do Inferno, contos, 1957

O Retrato na Gaveta, contos, 1962

O Braço Direito, romance, 1963

A Cilada, conto, (Os Sete Pecados Mortais), 1964

As Pompas do Mundo, contos, 1975

O Elo Partido e Outras Histórias, contos, 1991

Bom Dia Para Nascer, crônicas, 1993

O Príncipe e o Sabiá, ensaios 1994

A Testemunha Silenciosa, novelas, 1995



Um papo antológico, 1977








A morte é de tudo na vida, a única coisa absolutamente insubornável.



Otto casou-se, em 1948, com Helena Uchoa Pinheiro, neta de João Pinheiro, então governador de Minas Gerais, com quem teve quatro filhosentre eles o economista André Lara Resende, ex-diretor do Banco Central do Brasil e ex-presidente do BNDES durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.


Otto e Helena

Otto Lara Resende, Helena Lara Resende, Helena Pinheiro de Lara Resende e Cristiana Lara Resende (Londres – Inglaterra; Dez. 1981)


Os filhos André, Bruno  e Cristiana durante a viagem de volta ao Brasil, em 1959, depois de dois anos em Bruxelas



Calma que o Brasil é nosso

4 de julho de 1991

Pensar não dói. Mas pede esforço, treino. Como diria o Pacheco, o raciocínio é uma operação mental. Mas o sujeito aparece na televisão e, com a maior cara de pau, diz o que lhe vem à cabeça. Aliás, não vem; encontra porta fechada e vai-se embora. Cedinho, o cara sai de casa, leva consigo a pose e acha que está com o enxoval completo. Pode dar entrevista e massacrar os que ousem discordar.

Qualquer tema serve. Basta estar pautado, garantia de que sai no jornal. E borbota em close no vídeo. Parlamentarismo? Por exemplo. No que vier, ele atira o bombardeio de suas ideias feitas. Sempre viveu bem assim, confortável, deitado no berço esplêndido do lugar-comum. Jamais deixou de comprar feito e embrulhado. Para o presente ou para o passado. Para as ocasiões. Ah, sim: parlamentarismo. Que é que dita o interesse? Ou que é seu mestre mandou?

Postura de pigarro, lá vem chumbo grosso: não estamos preparados para o parlamentarismo. Não temos partidos nacionais de verdade. Nem uma sólida estrutura administrativa profissional. Seria o caos. Pausa. Nem a tosse é original. Vem do fundo de priscas eras.

O olhar tenta em vão pescar um brilho de inteligência. Aquela esquiva luz do raciocínio. Mas "de nihilo, nihil", dizia o Pérsio. Não o Arida, mas o romano do 1º século (ano do Senhor). Do nada, o nada. Só que aqui o nada fala. Solene, para a câmera. A câmera, coitada, é toda atenção na gravata.

Nenhum vislumbre de formulação pessoal. Nenhuma tentativa de alcançar a quota zero. Daí pra baixo, nada precisa ser dito. É a morada do óbvio ululante. Tipo o sol brilha. Ou a noite é escura. Mas o impávido entrevistado nada receia. O dom da palavra é nele um enfeite. Se não falar, corre o risco de ser estabulado. O conteúdo é outro departamento. Aqui estamos no reino do papagaio. Come o milho e leva a fama. Leva, não; ganha.

Onde está o parlamentarismo, leia-se qualquer outro item. A democracia? A democracia? Ainda não estamos preparados. Ensino e saúde para todos. É cedo. Temos de nos preparar. Previdência Social: nanja! O povo não sabe votar. Ainda. Voto não enche barriga. O voto da lavadeira não pode ser igual ao do general. Quem o disse foi o general, claro. Corrupção, desnutrição, crime organizado. A solução virá a seu tempo. Calma, gente. Ainda não estamos preparados.


O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. 


Vista Cansada

23 de fevereiro de 1992


Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa ideia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou. Fugiu enquanto pôde do desespero que o roía – e daquele tiro brutal.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê.

Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima ideia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprido o rito, pode ser que também ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia a dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.


O Brasil não vai acabar.


A bruxa do poeta


​1º de novembro de 1991


Eu não tenho o direito de enjoar a bordo do Brasil. Não sou passageiro de primeira viagem. Foi o que disse, quando ontem me perguntaram se não estou em pânico. Depois mudei um pouco o sentido de “enjoar”. A esta altura da vida, já vi tantas vezes esse filme que até tenho o direito ao enjoo. Enjoo no sentido daquele acesso de tédio que acometia o Afonso Arinos, em momentos de crise nacional aguda.

Mesmo investido de mandato popular, deputado ou senador, o Afonso tinha que lutar contra o sono. Mas não conseguia segurar o bocejo. Digamos que vai nisto um pouco de piada. Mas que dá um tédio medonho, ah isto dá. Você agora vê, por exemplo, esse corre-corre por causa do ouro e do dólar. Até onde o povo, o povão anônimo, tem a ver com isto? Acaba chegando lá, claro, no casebre do pobre. Ou pior: já chegou,com a perda salarial e o mais.

O pânico é um medo irracional, sem razão. Contagioso, se espalha como se alastra o fogo. Basta um boato e está aceso o rastilho de pólvora. Ninguém sabe por que, nem como é que começou. Se alguém grita calma, calma!, aí é que o susto se amplia e provoca o estouro da boiada. Ontem, foi o dia das bruxas. O Halloween teve origem na Irlanda. Na última noite do verão, no hemisfério norte, 31 de outubro, os mortos andam soltos e agarram o primeiro que bobear. É uma antiga superstição.

Séculos depois, na era da conquista do espaço, corre o boato em Nova York de que haverá um massacre. Se deu no The New York Times, e deu, aí então é que a doideira anda solta. E com ela as bruxas. Há um código de comunicação curioso em certas situações. Quando você ouve um amigo lhe dizer vou lhe falar francamente, está claro que lá vem pedrada. Agrado é que não é. Na hora do alarme, se um cara lhe diz calma, você sai correndo.

Ainda bem que aqui temos o Marcílio [Marques Moreira, ministro da Fazenda do governo Collor]. Todo mundo afobado e ele impassível garante que a turbulência é só até março do ano que vem. Podemos continuar até lá dançando ao som da orquestra do Titanic.

Mas ontem, para mim, foi o aniversário do Carlos Drummond de Andrade. Saudade do Carlos. Nasceu no dia das bruxas, em 1902. 40 anos depois escreveu o poema “A Bruxa”. Bruxa era a mariposa, que lhe fez companhia numa noite de solidão. “Certo não é vida humana, mas é vida” ― diz o poeta. Que mané pânico coisa nenhuma. Vamos ler os poetas e esperar. O Brasil não vai acabar.

2 comentários:

  1. ... Excelente ler øhh 🅱løg às $extas feiras & aprender alguma cø¡sa $øbre alguėm ¡mpørtante que $ó øhh 🌟🅿rėv¡di nøs prøpørc¡øna !!!😉👍 ...

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  2. Prévidi,
    Li numa golfada só.
    Gênio.
    Nasceu no mesmo ano do nosso ídolo (por incendiário) Brisola, 1922. Morreu novo, 70 anos.
    Lembro-me dele como o redator das notas da Globo na época do Roberto Marinho, e pela frase, que afirma não a ter escrito, 'O mineiro só é solidário no câncer!'

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