Segunda, 21 de novembro de 2022

 

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especial

APENAS HISTÓRIAS 1


JOSUÉ E EU


Em março de 1980 fui trabalhar na Zero Hora. Ainda não estava formado mas consegui ser contratado como repórter para trabalhar na Editoria de Política, o desejo da maioria dos jornalistas daquela época. O meu trabalho inicial não era legal, porque queria estar metido nas articulações políticas dos partidos que estavam sendo formados. Fui fazer uma coluna apenas com os discursos da sessão plenária.

Muitos jornalistas dizem que não aprendem nada na faculdade. Sempre contestei isso, porque podíamos aprender algo com a experiência dos professores. Por exemplo, nas aulas de Português as professoras nos faziam ler autores gaúchos. Exigiam a leitura de alguns livros do Erico Verissimo - que eu adorava, porque já tinha lido tudo dele. Mas li Moacyr Scliar, Dyonélio Machado, Josué Guimarães, é os que me lembro.

As leituras me ajudaram a aprender o pouco de jornalismo que sabia, acrescido dos ensinamentos de jornalistas como Renan Antunes de Oliveira, Tibério Vargas, Sérgio Caparelli, Antoninho Gonzales. E esta "mistura" de escritores e jornalistas, que também eram escritores, foi excelente.

Bem, eu chegava todo dia as duas da tarde na Assembleia Legislativa, onde funcionava a Editoria Política da Zero Hora. Tomava um café, batia um papo com os amigos, o Terlera (editor) dava uma panorâmica do dia e eu subia pro plenário. Como eu acordava muito cedo, no segundo discurso eu já estava dormindo. Literalmente. No início eu anotava o falatório, mas aí me deram um toque fundamental: as sessões eram tiradas integralmente pela Taquigrafia. Poucos minutos depois do término, as folhas já estava na assessoria de imprensa.

E eu dormia, mesmo. Até as 4, 5 da tarde, quando a sessão terminava.

O ruim é que como eu era uma espécie de curinga, muitas vezes tinha que fazer um evento noturno - nesta época o plenário da Assembleia podia ser usado para eventos políticos. E eu ficava lá, meio dormindo, quando o assunto era bobagem. Já estava treinado: acordava quando valia a pena.

Numa dessas noites, estava tirando uma soneca quando senti que uma pessoa sentou ao meu lado. Passou uns minutos e me ajeitei na poltrona. Aí o cara ao meu lado viu que acordei e perguntou:

- Oi, aconteceu alguma coisa importante?

Nem olhei pro lado:

- Não, tá uma conversa mole desde que começou às 8 e pouco.

O cara:

- Ainda bem que não perdi nada.

Quem seria aquele cara que não conheci a voz?

Dei uma olhada pro lado.

Meu Deus, era um os meus mais novos ídolos!

Sim, senhores, estava sentado ao meu lado, de caneta e bloquinho na mão, nada menos do que o escritor e jornalista (Folha  de S.Paulo) Josué Guimarães. Uau!!!

Devo ter ficado num vermelhão. E nem ouvia mais o que ele falava.

Tive vontade de pedir um autógrafo numa das folhas em branco que estavam ali para eu anotar.

Mas, não dava, o cara estava me tratando como colega.

E eu estava ao lado de um dos meus ídolos.

Disse apenas ao Josué:

- Li a maioria dos seus livros e pena que não tenho um aqui para que me faça uma dedicatória.

Josué, na sua simplicidade, apenas sorriu.



A SUICIDA E EU


Em 2003 fui convidado para um festival de propaganda em Portugal, numa cidade balneária chamada Figueira da Foz.

Cheguei em Lisboa um dia depois do meu aniversário, 21 de maio. Fui para um hotelzinho legal, no Centro, indicado pelo escritório de turismo do aeroporto. Na recepção, um português imenso, depois de conferir o  passaporte, saiu do balcão para me dar um abraço pelo meu aniversário um dia antes. Depois de dois dias fui para Figueira da Foz. De manhã fui para a rodoviária e o ônibus do dia já havia saído.

- Vais a Coimbra e tomas um para Figueira.

Pois, fui a Coimbra, dei uma banda rápida, e fui para uma parada.

A minha estadia na praia foi muito legal. O festival mais do que frio.

Dois dias depois fui de ônibus para a cidade do Porto, que é tão maravilhosa quanto Lisboa.

Uma noite fui para um restaurante na beira do rio. Um lugar muito bonito.

Jantei e fiquei sentado ali, olhando as pessoas, um movimento grande, apesar de dia da semana.

Aí na mesa ao lado vi que tinha uma mulher, tomando vinho e fumando loucamente, olhando o tempo todo pro cigarro. As vezes olhava pro lado dela e ela sempre estava tragando ou acendendo um cigarro.

Passou um tempo, ela se levanta com a garrafa de vinho numa mão e outra o copo. Veio em minha direção.

- Sento?

Não entendi, e ela colocou o copo e a garrafa na mesa.

- Posso?

Fiz sinal com a mão para que sentasse.

Aí pude ver melhor. Era uma mulher bonita, mas tinha um sobrepeso grande. Estava bem vestida.

Começamos um papo legal quando ela viu que eu era brasileiro. Disse o que eu fazia em Portugal e indaguei no que ela trabalhava.

- Sou cozinheira. Vocês dizem chef.

Era chef de um restaurante de hotel. Bola cheia a gordinha.

Papo foi indo até que eu já estava cansado e não tinha mais vontade de pedir outro drink.

Aí ela voltou a olhar pro cigarro e lascou:

- Já tentei me matar quatro vezes. E acho que vou tentar novamente.

Meu Deus, era o que faltava. Eu aguentar uma suicida. Imaginei ela sair correndo da mesa e se atirar no rio, bem próximo de onde estávamos.

Não sabia como sair daquela fria.

E ela me contando as tentativas. Eu já estava ficando com vontade de me matar, de tão detalhista na descrição das tentativas.

Bem, o restaurante iria fechar e aí cada um pagou a sua conta.

Saí caminhando e ela ao meu lado.

Será que ela queria alguma coisa comigo? Bah, meu Anjo da Guarda ia me ajudar. Não queria confusão, presenciar um suicídio em Portugal!! ED muito menos comer a suicida.

Finalmente, quando chegamos na esquina de uma avenida, ela parou e disse que iria pegar um táxi.

Que alívio!!

Fiquei esperando alguns minutos e ela entrou no táxi.

Estava completamente de cara. Ainda bem que ao lado do hotel, tinha um bar aberto.

E um chope maravilhoso.

Foi o melhor chope da minha vida. Sozinho.



O FESTIVAL DE GRAMADO E EU


No verão de 1976 aconteceria a quarta edição do Festival de Cinema de Gramado.

Eu era um cinéfilo - assistia de quatro a cinco filmes por semana. Fora o que via na TV. Queria ser jornalista - havia iniciado a faculdade em 1975, mas queria ser diretor de filmes. Brincava com uma câmera Super 8, mas não existia no Brasil uma faculdade específica. Só nos Estados Unidos e Europa.

Em 76, com 22 anos, ainda tinha esse sonho.

Estava em casa no verão porto-alegrense e um amigão, Jaime Cimenti, me liga:

- Zé, vamos a Gramado? Está começando o Festival de Cinema.

- Bah, te ligo daqui a pouco.

Falei com a minha mãe para ver se ela me conseguia uma grana e ela não tinha muito - a época não era boa.

Falei como Jaime e ele matou a charada:

- Dormimos no carro.

No final da tarde ele passou lá em casa, com o Opalão do pai, e fomos para a serra.

Naquela noite começaria o Festival.

Antes de irmos para lá, compramos pão, mortadela e uma Coca. Alimentados fomos para a sede do Festival, no Serra Azul, se não me engano. No caminho ele me explicou:

- Eu escrevo para um jornal universitário, o Minuano, de um amigo, o Fernando Di Primio. Vamos lá e nos apresentamos como repórteres do jornal.

No credenciamento, o Jaime falou no Minuano.

- Está aqui a credencial, o senhor é o Fernando?

O Jaime levou um susto.

- Não, o Fernando é o editor. Nós somos os repórteres.

Nos deram as credenciais.

Íamos a todos os locais - coletivas, palestras e assistimos aos filmes. O mais legal era a piscina, onde as estrelinhas se exibiam, mostrando os seios. Sério, este era o ponto alto do Festival.

Pois bem, um dia estamos assistindo a um filme concorrente e um cara se senta ao lado do Jaime. E os dois começaram a conversar. E eu pedia para que parassem. Quando pedi pela terceira vez, o Jaime me diz:

- Esse é o Fernando, editor do Minuano.

Suei frio. Nem vi o filme direito.

Bobagem, porque o Jaime limpou a nossa barra.

Nos dias seguintes, íamos a tudo, até mesmo nas festas com boca livre.

Não sei quando foi que o Jaime encontrou uma amiga, que tinha um casarão na cidade, e nós três íamos fazer algumas refeições lá. O problema é que ela ia a tudo conosco. E era muito inconveniente. Chata, mesmo. Se metia nas conversas. Uma noite eu estava conversando com uma atriz argentina, que fazia sucesso nas pornochanchadas brasileiras, o maior papo, e a chata veio nos interromper e a deusa saiu de fininho...

Foi muito legal. Lembro de entrevistas com Roberto Farias, Lilian Lemmertz, Eduardo Escorel entre outros.

O melhor desta aventura é que eu comecei a colaborar com o Fernando Di Primio no jornal Minuano, uma experiência maravilhosa, mesmo que o mensário fosse "de direita", patrocinado pela UEE.

Mas eu não ligava pra isso, queria ser jornalista..

(continua amanhã)

7 comentários:

  1. Até a cerimônia onde o Carniça discursou no Egito foi fake. Alugaram um salão para isso, longe do local onde as autoridades discursaram oficialmente.

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    1. Vale sempre conferir: https://www.boatos.org/politica/lula-nao-fez-discurso-na-cop27-e-tudo-e-uma-farsa-da-imprensa-boato.html

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    2. Ele ainda não é presidente, não poderia estar na mesa junto dos outros chefes de estado. Este lugar estava reservado ao Bolsonaro, que aliás abandonou o cargo desde que perdeu a eleição...mais um papelão, aliás. Deveria saber se portar como um estadista, mas prefere ser um guri birrento. E mesmo que ele não concorde com a pauta, mais um motivo para ir lá e defender sua posição. Mas não, prefere desdenhar, fazer pouco caso. Aí da nisso, abre margem para o outro ir lá e fazer a sua mídia...

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    3. Desculpa esfarrapada, 23:31. O Brasil foi representado pelo Ministro do Meio Ambiente, que fez um discurso honesto e esclarecedor. Já o Carniça fez uma das coisas que mais gosta: mentir desbragadamente. Mais um momento deplorável da velha imprensa, que simplesmente não quis informar o que realmente lá aconteceu.

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    4. Sr. 'Anônimo'/23:31: como você acha que Bolsonaro deveria se "comportar" com 90% da imprensa contra, STF/políticos sacaneando e Militares em cima do muro?

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    5. Seu Alberto, deveria ser um estadista, não um guri mimado. Vejo muita "imprensa"reclamando da imprensa... O Lula tbm leva ferro da imprensa, lembra? Mas achei que Bolsonaro poderia finalizar o seu governo de forma menos melancólica. Sair de pé. Entrega a faixa e começa uma oposição séria e que o traga de volta em 4 anos. Mas o rapaz sumiu, tá magoado. Enfim...

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  2. Excelentes histórias! Abração

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