JLPREVIDI@GMAIL.COM
NÃO LEVE A SÉRIO
QUEM NÃO SORRI!
Caros leitores,
Ontem, 24 de outubro, tivemos a data que simboliza os 94 anos da Revolução de 30, o evento que rompe os liames da abjeta política do "café com leite" da República Velha, que tanto mal (esse compadrio) fez ao crescimento do nosso Brasil.
Pra mim, o Brasil era um antes de 30 e tornou-se outro depois, mesmo com todos os problemas que tivemos e que são do conhecimentos de todos (Revolução Constitucionalista de 32, a ditadura de 1937 a 1945, centralizadora e autocrática e simbolizada pela famosa constituição ‘polaca’, etc.).
Eu escrevi uma biografia do presidente Costa e Silva (estou viabilizando o lançamento para os próximos dias), e decidi então, para prestigiar a data e propagandear o meu livro, publicar um inserto relativo ao evento em si e a participação do Costa e Silva no contexto do evento e seus desdobramentos.
Curtam!
Após os eventos da Revolta Paulista de 1924, a família Costa e Silva, a partir de 1926, com o acréscimo de um filho varão, finalmente teve uma certa paz e tranquilidade em seu seio.
Claro que dona Yolanda sentia, e este sentimento seria estendido à vida toda da sua vida conjugal, uma certa rivalidade com o exército, o permanente mister do seu esposo.
(É evidente que os dois episódios de conjura cometidos por seu marido à força de um dever ético na defesa da Pátria, à qual morreria se necessário fosse, produto de uma forte personalidade forjada no seu sacro ambiente familiar e vivências nas barrancas do rio Taquari em que foi criado, de seu extremo catolicismo e do sangue de seus valorosos antepassados ilhéus açorianos que, bem lá atrás, por volta de 1750, deixaram suas distantes ilhas na busca de uma vida menos dolorida para si e para seus filhos, deixaram marcas profundas em dona Yolanda.)
Mas o atávico espírito guerreiro de muitos brasileiros não estava conforme com a espúria situação política gerada com o domínio do Brasil por duas oligarquias dominantes, a chamada política do Café com Leite, o domínio da Nação por dois estados que se revezavam no poder há muito tempo, São Paulo e Minas. Mas – mesmo na política –- como não há mal que se eternize nem bem que dure a vida toda, São Paulo resolveu trair Minas ...
Então, sopros de conspiração vindo do Sul iniciaram a chegar ao centro do país.
Dois anos antes, na noite de 22 de junho de 1928, no palácio do governador do Rio Grande do Sul, ocorreu um diálogo simples, aparentemente comum, mas que, visto posteriormente, poderia ser entendido como o gatilho, uma antevisão à Revolução de 30:
– Não acreditas que na próxima sucessão presidencial seja a vez do Rio Grande? – pergunta o deputado federal recém eleito João Neves da Fontoura ao seu líder político e governador do Estado, Getúlio Dorneles Vargas, no contexto de uma conversa que já se estendia às altas horas da noite.
– Não, não creio – respondeu de pronto e sem hesitar o grande político gaúcho.
E Getúlio deu suas razões ao Fontoura:
– O candidato do Washington Luís inequivocamente é o Júlio Prestes. As ligações entre ambos têm a maior intimidade. Por outro lado, os interesses do PRP concorrem, de forma imperativa, para essa solução.
Esse aparente desinteresse pelas coisas em nível nacional por parte do seu amigo e chefe político, em nada desestimulava João Neves da Fontoura que, em conjunto com o também gaúcho Oswaldo Aranha, conversaram e muito com os grandes próceres da política nacional. A vez, pelo esquema "café com leite" era do Antônio Carlos. Até então essa política era seguida à risca, à exceção, e por motivos excepcionais, de Hermes da Fonseca e Epitácio Pessoa.
Vargas era, e sempre foi, muito cauteloso, cético, de certa forma pessimista. Cria que o mineiro Antônio Carlos não teria a menor condição de enfrentar nas urnas o paulista Júlio Prestes, o candidato ungido pelo presidente Washington que emergia, pós derrotas dos diversos movimentos revolucionários da década que iniciava finda, cada vez mais forte.
Mas, bem trabalhada (e a upla Fontoura e Aranha eram experts neste mister) a questão do descarte de Minas – Antônio Carlos, o choque das sempre presentes ambições regionais, haveria uma brecha, uma pequena abertura na sempre fechada janela do poder, para uma candidatura gaúcha apoiada por Minas e mais alguns estados do Nordeste, estes sempre dispostos a furar essa couraça.
E, dobrado o reticente Getúlio, acaba sendo lançada a chapa Getúlio – João Pessoa.
Em 1º de março de 1930, Prestes obtém quase 60% dos votos.
Venceu, mas não levou.
Da articulação nas urnas para a conspiração e revolução por armas foi um passo.
A Revolução de 30 encontrou o tenente Costa e Silva no Rio de Janeiro, onde acabara, justo dois dias antes da eclosão da Revolução, de cursar – com méritos e novamente em primeiro lugar entre todos os participantes – o curso de aperfeiçoamento de oficiais na EsAO – Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais.
Na data da eclosão da Revolução que apearia do poder o presidente Washington Luís, e que marcaria o fim da velha República, 3 de outubro, o tenente Costa e Silva estaria completando seus 31 anos.
(Nos registros oficiais há uma diferença de 3 anos a menos, pois quando da sua inscrição na Escola Militar de Porto Alegre, em 1912, seu pai teve que diminuir em três anos a sua idade para que fosse aceito na escola.)
Na noite anterior, dia 2 de outubro, em sua casa na Vila Militar, dona Yolanda ainda estava envolvida nos preparativos para a festa do dia seguinte em que o casal receberia seus amigos.
Seu marido, normalmente, não chegava tarde do seu expediente.
Mas, nesse dia tardou muito a ponto de deixar dona Yolanda preocupada, com maus pressentimentos – que houve?
Então, tarde, o relógio da parede quase anunciando um novo dia, ela ouve um barulho de uma viatura e algumas frases ditas alto entre duas pessoas. Ela abre a porta, e, rápido, o marido entra.
– Que houve?
Depois de dar um beijo na face da esposa, olhar um tanto pesado de preocupação, ou talvez excitação e cansaço, o tenente, em rápidas palavras, explica-lhe o que estava ocorrendo, que ela teria que deixar já na manhã seguinte a Vila Militar, que do Sul vinha uma revolta, ou pior, uma talvez revolução, que a reação poderia ser muito forte, e que ela e o pequeno Álcio deveriam ficar num local mais seguro, ou seja, na casa de seus pais, fora do Rio, em Niterói, bem mais distante à época do que hoje com a ponte.
Resolvido o problema da esposa e do filho, a questão era decidir o que fazer diante da iminente crise. Então juntou-se a seu colega, também tenente, Napoleão de Alencastro Guimarães e dirigiram-se ao 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, onde tanto o comandante coronel Alfredo Soares dos Santos, amigo de ambos, como praticamente toda a oficialidade estava alinhada à causa da revolução.
Desta vez, parecia, que o tenente Costa e Silva alinhava-se a uma causa muito possivelmente vencedora.
E foi o que ocorreu.
Mas antes, tinha que chegar à Praia Vermelha e o tráfego das barcas estava suspenso. Na busca de uma alternativa, acabam chegando a um clube náutico, na altura da enseada conhecida por ‘Saco de São Francisco’, local onde havia alguns pequenos barcos atracados tipo iate. Ali encontram um alemão com um barco relativamente pequeno para a travessia da baía. Se dissessem que a viagem era para a Praia Vermelha, o alemão diria, certamente, que era perigoso e que não poderia fazê-la. Então disseram Jurujuba, e acertaram a viagem. Assim que o barco com as velas já içadas e infladas pelo vento da baía movimenta sua proa na direção da praia de Jurujuba, o piloto e proprietário viu-se diante do cano de uma arma apontada para seu peito:
– Mude de direção, não vamos para Jurujuba, e sim para a Praia Vermelha!’
– Meus amigos, por favor, esse meu barco não aguenta, é loucura, vamos afundar, e baixem essa arma, por favor!
O barco cooperou e a causa da revolução acabou tendo esses dois personagens da história brasileira (Napoleão de Alencastro Guimarães, que era conterrâneo do Costa e Silva, nascido no município de Caí, desistiu da carreira militar e tornou-se político de sucesso, chegando a altos postos na República como, por exemplo, Ministro do Trabalho de Café Filho) como participantes voluntários do mais importante movimento revolucionário do século XX, movimento este que rompeu os grilhões e as amarras do abjeto compradio da política ‘Café com leite’. Com o sistema vigente, havia só duas alternativas conforme dito por João Neves da Fontoura em seu livro de memórias: a ordem tout court ou a renovação pelas armas.
Jamais, em qualquer época anterior, a nação estivera tão dividida, tão dilacerada, tão maltratada por tantos maus políticos.
Mas deixemos bem claro, o problema não era só no executivo, na presidência da República. O problema era geral desde a má representação na Câmara dos deputados e no Senado, com a regra do voto cumulativo existente e nunca melhorada desde a Lei Rosa e Silva, de 1904.
E se alguns brilhantes políticos conseguiam passar por esse pente final, ainda assim havia a terrível possibilidade de ‘degola’ no instrumento parlamentar chamado de ‘terceiro escrutínio’, no qual alguns ungidos pelos deuses da política faziam uma verificação final dos resultados, ‘este vai, esse não vai, aquele é inimigo do Bernardo...’
O Brasil precisava desesperadamente ser passado a limpo!
Mesmo com a maioria a oficialidade comprometida com a causa, a unidade somente veio a tomar uma posição no dia 24 de outubro, quando então os generais Augusto Tasso Fragoso e João de Deus Mena Barreto, mais o almirante Isaías de Noronha decidem então depor o presidente Washington Luís e constituir uma junta militar.
Costa e Silva e, assim como todos os demais oficiais do 3º RI e soldados, teve uma participação passiva no grande evento, pois o governo Washington Luís não conseguiu apoio civil nem mesmo militar, portanto não houve reação.
A famosa batalha do Itararé (Itararé, município paulista que fica na divisa com o Paraná), a luta que não houve, foi legada à história apenas como um chiste que serviu de mote para o jornalista e frasista gaúcho Apparício Torelly, conhecido por Apporelly, que se autodenominava ‘o Barão de Itararé’ .
Mesmo assim, foram registrados neste 24 de outubro dois eventos, mais protocolares que marciais, em que Costa e Silva tem participação: primeiramente ele, com a bandeira nacional à mão e ao ombro, segue com o regimento em missão de ocupação do palácio da Guanabara, onde se encontrava o presidente deposto; depois e em sequência, em pé nos estribos da limusine Lincoln modelo 1928, ele e mais três colegas tenentes faziam a guarda e proteção do inditoso ex-presidente, da fúria da turba, que seguia para a prisão do Forte de Copacabana.
Num dos primeiros decretos do presidente revolucionário, Getúlio Vargas, todos os tenentes e demais oficiais expulsos do exército por terem participado do Movimento Tenentista da década de 20 são reintegrados à Força. Entre eles, o irmão do Arthur da Costa e Silva, o tenente Riograndino da Costa e Silva.
1930, com a ascensão de Getúlio Vargas à chefia do cargo maior da nação e a derrota e exílio de Washington Luís, foi o ‘canto do cisne’ da fase revolucionária do então jovem gaúcho das barrancas do Rio Taquari, com meros 31 anos, o filho da dona Almerinda e do seu Aleixo.
Voltaria a conspirar, mas aí não existia mais aquele imberbe taquariense, mas sim o militar consagrado em sua carreira e com o elevado status de general.
*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.
Incrível, hoje, na Guaíba, o Cachorrão defendendo escola e universidade COM partido e outras asneiras monumentais, com argumentos fedidos. Ouvi até o limite do meu fígado...4 minutos.
ResponderExcluirE houve um tempo em que se dava crédito a essas figuras...
ExcluirMais um excelente relato bem fundamentado em pesquisa séria. Parabéns, João Paulo.
ResponderExcluirNota-se uma certa coincidência na situação do Brasil de 1930, às vésperas da ascensão de Getúlio, com o Brasil atual.
Políticos sem nenhum interesse pelos destinos nacionais. Composição do Congresso muito fraca, em termos de honestidade de propósitos, e o eterno bando de mequetrefes se acomodando como podem.
Mas o cachorro grande nao virou especulador imobiliário em canela?
ResponderExcluirAvisa a turma do Boules.
ExcluirO Cachorrão mal sabe desenhar o nome, é uma lorpa, uma nulidade.
ResponderExcluirUma nulidade que defende nulidades.
Excluir