O FANTÁSTICO IMPRESSO?
É um exagero, uma brincadeira afirmar que não há diferença entre o novo Fantástico e o novo ZH ou nova Zero Hora. O programa dominical da Globo virou uma coisa inominável. Não tem mais nada de jornalismo, só a fina flor da abobrinha. Triste de ver.
Acredito que com o tempo este novo caráter fru-fru da Zero Hora vai terminar. Ou melhor, pode ser.
Engraçado, me passou a seguinte situação: As pessoas, quando quiserem uma informação, comprarão o Diário Gaúcho, um jornal de venda avulsa. Ou sairá desesperadamente atrás de uma banca que ofereça o Correio do Povo, O Sul ou o Jornal do Comércio! Buscar numa esquina o METRO!!
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Na semana passada, logo depois de circular o jornal com a nova proposta, o jornalista Marco Poli foi um dos poucos - foi o único? - que gostou do que viu. E ainda me deu uma cutucada. Escreveu mais ou menos isso: Prévidi, lembro de um jornal teu que era assim - muitas fotos, pouco texto, espaços em branco, e todo mundo gostava.
Editei, mesmo. A minha última experiência com jornal, o Porto Alegre é Assim!. Com muitas diferenças, óbvio. Era mensal, uma "revista" de 16 páginas, eu escrevia e o Ricardo Stricher fotografava. Ah, e dois colunistas, Jayme Copstein e Fernando Albrecht (melhores do que a grande maioria da ZH). E todo mundo gostava.
Não tinha notícias e muito menos críticas. Apenas tratávamos de lugares interessantes de Porto Alegre. Um jornal "do bem". Durou pouco mais de um ano, claro.
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Há muito tempo que não pego numa ZH papel. Só leio na internet, às vezes. Tanto é que acreditava que não existia mais o Classificados. Mas era um jornal tradicional, com editorias definidas, tal e coisa. Para quem queria se informar, de manhã. De quebra, levava um monte de abobrinhas.
Nesta nova fase continuo sem folhear a ZH papel. Só na internet.
Estranho, por exemplo, as colunas com poucas informações, especialmente a da Rosane de Oliveira, que sempre teve uma página. E, pior, um amigo me diz que ela não escreve mais na edição de domingo.
Estranho, também, um jornal ter uma editoria chamada "Notícias".
Mais estranho ainda é não ter uma editoria de Polícia, nos tempos horrorosos em que vivemos.
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Outro dia assisti a um jornalista da RBS falando na TV, ao justificar este novo projeto, dizendo que as pessoas estão se informando "pela internet, principalmente". Só faltou dizer que o jornal papel não tem mais função. E estou acreditando que eles pensam isso mesmo: o jornal papel está sepultado!!
Sei não, me dizem que estão fazendo ajustes diários.
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Curioso é que mesmo agora, depois de tantos mudernismos, não "resgatem" práticas maravilhosas do passado. Como o bom e velho revisor (errinhos bobos e constantes), o copidesque (evitariam os textos de lascar) e nem sei se ainda existe a figura do secretário. Aquele cara que dava a última olhada antes de rodar. Acho que não.
Veja o que tinha ontem na contracapa:
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É, tem dezenas e dezenas de jornalistas mas não existe aquela figura que "dá uma olhada" antes de rodar...
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E aquilo que eles chamavam de "portal de notícias", o ZH online?
Ah, não, me nego a comentar.
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Sério, espero que a nova Zero Hora ou o novo ZH não se torne um fiasco tão grande quanto o Fantástico. Sabe, no domingo passado assisti ao programa. Quase todo. Deu pena de ver e a impressão que tenho é que os apresentadores estavam até constrangidos.
Quero estar errado, mas me dá a impressão de que alguns jornalistas do ZH estão também constrangidos.
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Quem será que inventou esta encrenca???
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EU E A ZH
Eduardo Escobar, arquiteto
Já trabalhei na Zero Hora!
Quando faço essa afirmação, a maioria dos interlocutores pensa logo que fui jornalista no império dos Sirotsky. Depois, lembrando que sou arquiteto, imaginam que trabalhei em algum setor de projetos ou na Engenharia. Nada disso!
Fui entregador de jornal, de assinaturas. Acordava bem cedinho (às vezes nem dormia) e fazia minha rota, de motocicleta, pelas vilas Cecília, Santa Isabel e Augustas em Viamão. Fiz isso até uma semana antes de colar grau, como arquiteto na UFRGS. Antes disso, era eu quem montava as edições dominicais, lá no armazém que meu pai e minha mãe tinham na Vila Aparecida. Por isso até hoje me irrita pegar uma ZH mal montada. Montar os diversos cadernos é uma arte.
Por isso sempre nutri um carinho pelo jornal. Perder algumas horas lendo e relendo virou um hábito saudável, gostoso. E espinafrar a novíssima geração de repórteres, virou um hobby dividido com outros amigos. Não é ódio do diário. Muito pelo contrário: é recurso de quem se preocupa com a qualidade.
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Na faculdade de Arquitetura o finado Edgar Timm, um dos melhores professores de representação gráfica sempre nos alertava:
- A mente lê de trás pra frente, mesmo que a civilização ocidental nos obrigue a ler da esquerda pra direita.
E usava como exemplo os mangás e revistas orientais. E ainda explicava porque as últimas páginas dos jornais eram espaços nobres, disputados por editorias de esporte e polícia. E pelos melhores colunistas. Porque todo mundo lê o jornal de trás pra frente.
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Sobre algumas mudanças em ZH, o que é certo é que o periódico jogou a toalha. Se a internet é a nova maneira de se informar, que sejam desligadas as rotativas. Passadas as edições de lançamento do novo design e os salamaleques dos 50 anos, ZH privilegiou a venda das páginas ímpares que todo mundo sabe que valem mais que as pares. Privilegiou tanto que nem dá bola se a sequência de uma grande reportagem será interrompida pela oferta do frango congelado de uma rede de supermercados.
Outro crime (esse eu já considero premeditado) é a desvalorização da última página, dividida agora entre o Paulo Sant'ana e (pasmem!) as Palavras Cruzadas. Já que todo mundo sabe que no futuro David Coimbra vai ocupar o posto de seu desafeto de bengala (que pelo jeito vai se segurar até a morte em sua coluna), mais digno torná-la sem valor jornalístico e adiantar a aposentadoria do bobo da corte do 'Seu' Maurício.
E por falar em crimes e premeditações, a extinção da editoria policial é de cair os "butiá do bolso". Então, tirando as últimas páginas (que saudade do Nobre...), o Esporte, que virou uma alegoria de comentaristas, e a crônica policial, o que realmente sobrou que justifique o preço de um exemplar? Eu respondo: nada!
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Zero Hora transformou-se em um repositório de notícias requentadas, coletadas das redações de Caxias (O Pioneiro/Gaúcha Serra), Santa Maria (Diário de Santa Maria/Gaúcha SM) e da editoria de cotidiano de Porto Alegre. Sobre essa interiorização da RBS, uma observação: antigamente os repórteres que trabalhavam nas sucursais nos brindavam com excelentes matérias, e com coberturas honestas dos acontecimentos dos diferentes rincões. Hoje um repórter "multi plataforma" perde mais tempo alimentando os diferentes veículos do grupo, do que realmente aprofundando-se no assunto. Aí sobram "panos pretos sobre as letras na entrada da cidade" e faltam considerações dos envolvidos.
Mas como já disse aos amigos que como eu se sentiram desconfortáveis com as mudanças: talvez sejam apenas resmungos de idiotas que não querem que o mundo mude. Talvez seja a vontade de congelar o tempo de quando éramos felizes.
Se for isso, desconsiderem tudo o que eu escrevi...
Concordo com quase tudo que o Eduardo Escobar escreve, só tenho minhas dúvidas quanto ao David e o Santana. Ali o jogo é duro. Tá difícil de saber quem pega o lugar de quem.
ResponderExcluirOs dois são reconhecidos intelectuais (somente nos bastidores desse jornal). O Santana é aquilo que já sabíamos faz muito tempo, ou seja um mala sem alça e o David é o maior intelectual que eles tem por lá, pois ano passado em uma de suas colunas deu por extinta a antropologia ao escrever que é APOLÍTICO.
ExcluirBom o texto desse arquiteto. Às vezes me pergunto a mesma coisa: será que eu é que sou saudosista?
ResponderExcluirÉ o fim dos tempos. Fábio Bernardi agora tem uma coluna quinzenal no ZH. Ainda que fosse mensal, ele até teria algo a dizer; mas quinzenal? Ele vai ter que contratar um ghost writer, pois é muita letra, palavra e linhas. Duas colunas do Fábio por mês? Esse ZH...
ResponderExcluirCaro Prévidi, deixe de fazer parte da "família RBS" há pouco tempo e tenho total propriedade para falar - afinal foram 20 anos lá - que existe um processo de modificação grande da essência da empresa. Tudo tornou-se digital, a palavra inovação é invocada igual a mantra. É preciso inovar, mudar, ter isso e aquilo. Conquistar o publico online de alguma forma, independente do preço que se pague por isto. Hoje quando falo com o povo que ainda está lá e vejo as babadas homéricas que são publicadas ou faladas na TV e Rádio, me sinto um privilegiado. Sim, não estarei mais no barco quando ele vier a pique...
ResponderExcluirSr. Prévidi, também deixei o grupo há pouco tempo. Trabalhava na opec do comercial. Uma das coisas que mais me incomodou nos últimos anos foi o tal do Superação 2.0. Minha promoção ou ajuste dependia da minha nota nestes projetos. De três a cinco projetos, como se eu não tivesse mais nada a fazer no meu dia. A chegada de novos gestores com cabeça mais voltada aos modernismo, que não é ruim, mas deve-se tomar cuidado com certas escolhas, trouxe um ar de desconfiança a todos. Exemplo: Barato DG. Uma página com cupons de descontos, não temos este hábito aqui, este Barato saiu caro, afinal a farmácia Panpanpan nem queria de graça, ganhou várias páginas, quando acabou o período do contrato nem uma linha da farmácia.
ResponderExcluirDepois este "caderno" chegou a veicular com apenas três, quatro anúncios. A gerência, queria fidelizar o cliente dando estas veiculações de graça. O que rola na rádio corredor é: "o último, apaga a luz!" É, este é nosso jeito de ser e de fazer. E nem se fala das falcatruas descobertas no clube, que parecia uma trama do CSI.