A NOVA ZERO HORA OU O ZH
Emanuel Mattos, jornalista
A imagem é a reprodução da capa infantilóide da ZH deste domingo. No dia em que o jornal completa 50 anos o que se vê é o resultado do onanismo mental de quem acredita ter criado o jornalismo pós-internet. Com a redução para apenas quatro editorias e a confusão de informações - você não sabe onde está o noticiário policial, de interesse vital para a sociedade, por exemplo - o resultado é uma barafunda, ou seja, a mistura desordenada de coisas diversas.
Pior, há um desfile sequencial de vaidades - anúncios institucionais sem sentido, a não ser retirar o espaço do noticiário. E culmina com a 'informação' que abre a página 70, cujo título é: "Mais de uma centena de colunistas em ZH". Trocar o noticiário diário - fundamento obrigatório em qualquer veículo - pelo colunismo fútil, teria feito com que o Fundador, profissional sintonizado, idealista e visionário, acabasse com a folia.
Já escrevi a respeito - e há vários comentários - no dia do lançamento desse novo 'projeto'. A crítica é unânime - exceção de quem tem interesse em ficar bem nas fotos (porque o noticiário factual, conforme qualquer Manual de Redação, ficou em segundo plano).
Para não fazer dessa análise samba de uma nota só, reproduzo a seguir algumas das opiniões mais abalizadas que li desde o lançamento da ZH cinquentona, porém já acometida do Mal de Alzheimer. Como assinante, espero que o bom senso retorne e que o jornal volte a ser um veículo de comunicação realmente útil para a comunidade gaúcha.
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Tiro no pé
“Reforma da Zero Hora de hoje começa com a negação do nome. Me chamem de Zé, ou melhor, ZH. Continua sem manchete. Cem anos atrás descobriram que a caixa baixa é mais legível. Caixa alta e espaços em branco podem ser usados como valor estético para quebrar a monotonia e valorizar reportagens especiais. Os claros indiscriminados e o corpo maior só tiraram espaço do texto. Partem do pressuposto de que seu leitor é um idiota que só quer saber de novidades na internet. Todas as informações estão misturadas em uma gigante salada de frutas, chamada Notícias. Os jornais foram divididos em editorias para orientar a leitura e remeter o leitor a suas áreas de interesse, como política, economia, mundo, polícia. Viva a não leitura!” (Tibério Vargas Ramos, professor na Faculdade de Meios de Comunicação da PUC/RS)
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“Na esteira do Fantástico, que afinal de contas já era uma revista televisiva, a Zero Hora retoma a logomarca dos anos 1970, diminui ainda mais o tamanho do texto, interrompe com intertítulos enormes que fracionam a já minúscula matéria jornalística. Radicalizando a magazinezação brinda o leitor com mais brancos do que substantivos e verbos. Mais grave: reserva ao jornalismo um quarto do jornal, distribui o resto em uma parte ao esporte que vem sendo afastado faz anos do jornalismo, uma parte à cultura e outra parte a não sei bem o que. Me parece que auto ajuda aplicada. Ou seja, para escapar de uma suposta crise do jornalismo o jornal opta por abandonar o jornalismo. O tempo dirá se esta foi a melhor maneira da empresa enfrentar seus fantasmas. Para a sociedade e a democracia que precedem do jornalismo tenho certeza que foi um passo atrás.” (Celso Augusto Schröder, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas - FENAJ)
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“O que me parece - inicialmente, porque é só o começo e esse benefício há q se conceder - é que para ser 'revista' não basta parecer revista. Tem que ter texto, apuração, densidade, aprofundamento. Mas estou tentando não ser rançoso, tentando olhar esperançosamente. Quem sabe as melancias se ajeitam. E eu vou para o céu, claro.” (Flávio Dutra, Secretário de Comunicação da Prefeitura de Porto Alegre) *
* Em tempo: o autor dessa opinião também chama-se Flávio Dutra, mas é professor de Fotografia da Unisinos e Ufrgs.
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“A Zero Hora - doravante só ZH - abdicou de ser um jornal diário para ser uma revista semanal.” (Flávio Ilha, correspondente do jornal O Globo no Sul)
O Metro vai tratar de dar a pá de cal na Zero Hora (ou no ZH?)
ResponderExcluirCaro Prévidi,
ResponderExcluirEu continuo com a minha teoria de que querem fazer jornal para quem não gosta de ler jornal.
Vão perder os leitores que gostam.
Abraço,
Caro Carlos Alexandre, quem gosta de ler jornais há muito tempo têm que buscá-los em outras plagas. Ou achas que jornal, jornal mesmo, jornal de verdade, há por aqui na capital? Já houve, mas não há mais. A mudança de ZH, emblematicamente, me diz que houve uma "desistência" em fazer Jornal, com J de verdade. Eu realmente lamento que ZH abdique de ser um dos grandes jornais do Brasil. Para que isto aconteça, há que ter um compromisso não com o futuro, ou com a estética, ou com a tecnologia, mas um profundo compromisso com a profissão, com a vocação, com a liturgia que significa fazer jornalismo.
ResponderExcluirNão basta logomarca com letras maiúsculas. Zero Hora e a RBS deveriam manter-se no desafio de fazer um jornalismo maiúsculo. Eles podem. Acham que não devem, mas estão redondamente enganados, o que é ruim para o RS.
Aliás, se a imprensa é o principal órgão de oposição que existe, mais do que nunca deveríamos ter um jornalismo de oposição, não ao PT mas a todos que não convergem aos interesses do estado democrático e de direito, no caso...o PT.