ANDO DEVAGAR
PORQUE JÁ TIVE PRESSA
ESPECIAL
ALFREDO OCTÁVIO - O MAIOR JORNALISTA DO BRASIL
EM CUBA
Não
se falava mais nada,
a
não ser em Jango e Brizola
–
Acompanhei da redação do jornal a chegada ao Brasil de João Goulart para tomar
posse como presidente da República. Muita gente contente e festejando a vitória
sobre os militares golpistas que não queriam a Legalidade de Brizola. Senti que
não haveria vencedores, porque os de farda não admitiam perder – basta conferir
a História do Brasil para concluir isso.
Falei
com o Turcão e com o doutor Roberto que estava indo embora para o Sul, para
terminar a faculdade. Foi um período muito legal da minha vida.
Porto
Alegre estava um inferno. Todos muito felizes, havia um ar de baderna nas ruas.
Não se falava mais nada, a não ser em Jango e Brizola. Sempre achei muito mais
importante o atentado sofrido por Che Guevara, no Uruguai – poucos dias antes
da Campanha da Legalidade.
Só
te digo que Guevara tornou-se o meu primeiro ídolo. Ao ponto de botar na cabeça
que iria fazer a minha primeira grande entrevista com ele. Uma loucura. Mais
uma vez larguei a faculdade e comecei a montar a minha estratégia para chegar a
Cuba. Não sei se sabes, mas o passaporte brasileiro não permitia o ingresso no
país de Fidel.
–
Mas...
–
Como cheguei lá? É uma longa história de aventuras.
Para
resumir te digo que pisei na ilha depois de horas de balsa ou bote, sei lá.
Levava algumas roupas e muitos dólares. E louco para beber rum!
–
Mas tu conseguiste conversar com o Che?
–
Rapazinho, tudo lá foi difícil, porque eles me consideravam um espião ianque.
Quase, por muito pouco não desisti. Chegar a Havana foi marcante demais, um
pesadelo. Mas consegui, graças aos dólares que levei. Aí começou uma nova
gincana – encontrar Che. Tinha comigo uma foto com Brizola governador e
pretendia mostrar ao meu ídolo, como prova da minha intenção positiva.
–
Uma estratégia interessante.
–
Foram quase três meses de negociações, até que consegui. Comprei um gravador de
rolo e me levaram ao seu encontro. Fui completamente no escuro com os olhos
vendados. Horas depois, quando me tiraram da escuridão, tomei um choque quando
vi meu ídolo sentado na minha frente, com a mão estendida. Um tímido sorriso.
Não
sei o porquê, mas me lembrei do Cantinflas...
Mas
confesso que Guevara jamais disse isso,
porque
ele não tinha nada de “terno”
–
Minha primeira entrevista de fôlego foi sensacional. Correu o mundo. Mais de
150 publicações a reproduziram em todos os continentes. Para ele topar, fiz
várias concessões. Os chefes da Revolução iriam ler antes de o material ser
enviado para fora do país. E que eu não venderia – a entrevista teria um
caráter de propaganda revolucionária.
–
Que loucura!
–
Outra muito boa. Uma frase que consta como de Che é famosa até hoje:
“Hay
que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”. Mas confesso que Guevara
jamais disse isso, porque ele não tinha nada de “terno”. Eu precisava de algo
interessante para um título geral. E construí a frase que sonhadores com a
revolução socialista não cansam de repetir até hoje.
–
Tu és o responsável por esse monte de camisetas com uma frase falsa?
– Quantas camisetas foram feitas com a minha frase? Não cobrei royalties! Ernesto confiava em mim, a cada dia que passava. A espionagem cubana descobriu que os ianques não permitiriam que eu entrasse no país do Norte.
–
Imagino...
–
Numa tarde estava tomando uns drinques numa bodeguita genérica quando um
emissário de Che me encontrou. Queria falar comigo. Fui correndo ao seu
encontro. Estava radiante. Os americanos sentiram o golpe, me disse, pela
primeira vez, dando uma gargalhada. A partir daí jogamos partidas intermináveis
de xadrez. Era um exímio enxadrista. Aprendera com seu pai. Adorava poesias,
devorava livros de Sartre.
–
Bah!!
–
Fui ficando por lá. Só sentia muita saudade de minha mãe. Não havia uma forma
de me comunicar com ela. Mas eu não poderia desistir. Tinha que viver alguma
aventura com o meu mais novo amigo ídolo. Como era “Amigo da Revolução” tinha
amplos direitos, que somente os amigos de Che e Fidel tinham. Desse tempo, não
consigo precisar, até 1965 vim várias vezes a Porto Alegre. Mamãe não reclamou,
porque sabia que a situação do nosso país era terrível. “Filho, compra um
palacete para nós em Havana!”, choramingava ela.
9
Tenho
a certeza de que acreditava que seus
planos
dariam certo, por causa da vitória em Cuba
–
Em 1965 – não me peça detalhes como dia e mês! – acompanhei Che e um grupo de
cubanos que foram lutar no Congo. Foi um fracasso, porque ele acreditava que a
revolução se fazia em qualquer parte do mundo, do mesmo jeito. Na África
Central as coisas não funcionam como na América.
Fracassou
redondamente.
–
Na real, era um aventureiro.
–
Posso dizer que sim. Aí o acompanhei até a Bolívia. Ernesto era turrão.
Colocava uma tese na cabeça e não tinha jeito de rever. Sabe qual era o plano
dele? “Simples”: iria unificar os países da América Latina, de onde partiria
para invadir a Argentina. Só isso. Tenho a certeza de que acreditava que seus
planos dariam certo, por causa da vitória em Cuba.
–
Cuba foi uma exceção, não?
–
Pois bem, não vou entrar em detalhes. Mas te digo que não conseguiu gerar
nenhum sentimento de confiança com os camponeses que viviam na região que
escolheu para o acampamento e, pior, não tinha como se comunicar com os índios
locais, por causa da língua. Foi capturado em outubro de 1967. E assisti quando
foi assassinado. Claro que estávamos muito bem escondidos, sem resistir. O que
ele não admitiu – tentou enfrentar o exército boliviano.
–
Que loucura!
–
Adivinhe de quem é a única foto de Ernesto Guevara morto? Modestamente,
calo-me.
10
Fiquei
mal em Porto Alegre quando chegou a notícia
de
que tinha ganho o Prêmio Pulitzer, de Fotografia Especial
–
Deixei baixar a poeira e voltei para Porto Alegre. A milicada estava em
polvorosa, fazendo de tudo para que o regime fechasse ainda mais. E eu no meio
disso tudo. Ainda bem que mamãe e eu sabíamos por onde andei.
–
Devia ser um horror, mesmo.
–
Fiquei mal em Porto Alegre quando chegou a notícia de que tinha ganho o Prêmio
Pulitzer, de Fotografia Especial. Sim, meu amigo, a foto de Che morto. Aí a
foto foi publicada em todos os continentes, com o meu nome. Repórteres de todo
o mundo querendo saber como a foto foi feita, tal e coisa. E eu não era
suficientemente louco para dar detalhes, como o de que eu estava com Che, na
Bolívia. Era impossível eu ficar em Porto Alegre. Avisei a mamãe e fui para São
Paulo. De lá para Paris, antes que confiscassem o meu passaporte. Paris estava
pior, uma bagunça geral – mas ao menos poucas pessoas me conheciam.
–
Ainda bem...
–
Sempre tive a “sorte de repórter”. Em maio de 1968 eu estava em Paris!
Um
dia depois de me instalar em nosso apartamento, fui acompanhar uma manifestação
comandada por Daniel Cohn-Bendit. Todos que o escutavam ficavam apaixonados,
com o ineditismo de suas doces palavras – jamais vou esquecer desta frase:
"O mundo nos pertence, somos capazes de governar nossas vidas e o planeta
de forma diferente".
–
Conhecia esse pensamento.
–
Daniel falava que tudo girava em torno do desejo de liberdade. A grande matriz
era o espírito da liberdade e independência. Um negócio muito diferente para a
época. Nesse dia, quando voltava para casa, tomei mais uma decisão: iria
entrevistar Daniel, ou melhor, Dany, le Rouge.
–
Missão impossível!
–
Em tese, sim, mas aí tive que me tornar um manifestante. Comprei roupas
adequadas, passei a frequentar o
Quartier Latin, onde jamais tinha colocado os meus pés. E fui me
inteirar de tudo na Université Paris-Sorbonne (Paris IV). Lá fervia! Descobri
que para chegar em Dany deveria ter a confiança de outros dois líderes, Alan
Geismar e Jacques Sauvageot. Foi o que fiz. Não foi difícil me aproximar dos
dois, porque me apresentava como jornalista brasileiro free-lancer, exilado em
Paris.
–
Que imaginação!!!
–
Foi uma conversa que colou, mas não fiquei com a consciência pesada por ter
mentido – afinal, eu não era exilado. Mas realmente tinha fugido do Brasil e da
casa de minha mamãe. Me perguntavam sobre exilados e eu disfarçava, não tinha
contato com essa gente. Mas discorria sobre a censura imposta aos brasileiros e
os movimentos contrarrevolucionários.
Estou lendo pela segunda vez as memórias do inigualável Alfredo Octávio. O autor tem razão: Como não invejar o profissional retratado no livro?( Flávio Pereira)
...Em formato de entrevista-depoimento, transformou-se numa novela eletrizante. (Tibério Vargas Ramos)
...Devorei o livro numa tarde noite de sábado e confesso, fiquei com a sensação de quero mais... (Gustavo Victorino)
...Divertido, tem uma graça envolvente. Parabéns! (Anonymus Gourmet)
...meu querido colega AO que me foi apresentado pelo autor da biografia numa tarde qualquer no Tuim. Leiam o livro!! (Rogério Mendelski)
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JOSÉ LUIZ GULART PRÉVIDI
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E em terras tupiniquins um bandido quer ser Presidente apoiado pela imprensa marrom e a esquerda "caviar"! Vergonha.
ResponderExcluirPrévidi,
ResponderExcluirJá havia dito, repito, excelente livro. Parabéns.
O gambá lacrador continua defendendo que deve haver uma ruptura no Inter. A ruptura ocorreu, ora bolas, e não deixou pedra sobre pedra.
ResponderExcluirA hora é de reconstrução, mas a atual direção só sabe destruir.