Sexta, 1º de julho de 2022


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especial

Nesta sexta, uma cesta
de Alceu Wamosy! 


25 anos de vida
e uma obra que perpassa o tempo

Prefácio de Mansueto Bernardi,
ilustrações de Lucilio de Albuquerque
Livraria do Globo, Porto Alegre, 1925.



As violetas, na sombra, iam-se lentamente
esvaindo-se em perfume – ametistas de aroma
que vestiram de luto a alma viúva do poente.


A ventura completa é céu que não se alcança


Com 18 anoos
Alceu Maya  (Alceu de Freitas Wamosy)  nasceu em em Uruguaiana, 14 de fevereiro de 1895. Foi um jornalista e poeta.

Filho de José Afonso Wamosy, de origem húngara, e de Maria de Freitas, foi poeta simbolista. Publica seu primeiro livro Flâmulas, em 1913, quando já escreve para o jornal A Cidade, fundado por seu pai em Alegrete.

Adquire em 1917 o jornal O Republicano, no qual permanece até a morte. No ano de publicação do seu Coroa de Sonhos, no qual enfeixa um dos mais belos sonetos da língua pirtuguesa - Duas Almas -, envolve-se ardentemente na Revolução de 1923, sendo ferido a bala e vindo a falecer em um "hospital de sangue" na companhia da mãe e da esposa, com a qual casa-se pouco antes de falecer, em Santana do Livramento, 13 de setembro de 1923.

É Patrono da Cadeira nº 40 da Academia Rio-Grandense de Letras e aclamado patrono da Feira do Livro de Porto Alegre de 1967.

O ex-governador Alceu Collares é fã do poeta e declama vários poemas de Wamosy


Essa foi em dezembro de 2019, contada na página da UVB Brasil:


O ex-governador do Rio Grande do Sul, Alceu de Deus Collares, emocionou a todos na tarde da sexta-feira (6 de dezembro) ao recitar um poema durante a solenidade de entrega do reconhecimento “Top Legislativo”, da União dos Vereadores do Brasil (UVB). Com um caminhar lento, mas a voz ainda forte para quem está com 92 anos, Collares fez questão de usar a palavra no grandioso evento da UVB. Em pouco mais de um minuto, concentrado e de pé, ele encarou dezenas de vereadores todas as regiões do Brasil e recitou o poema Duas Almas.

A lucidez deste que é um dos políticos mais atuantes do Brasil desde o processo da redemocratização surpreendeu e emocionou os participantes do evento. Antes de falar, Collares gentilmente ofereceu a palavra ao também ex-governador e octogenário Pedro Simon, que agradeceu e disse que falaria logo em seguida. Collares foi direto ao poema de Alceu Wamosy.

...

Obras:






Flâmulas, 1913

Terra Virgem, 1914

Coroa de Sonhos, 1923

Poesias Completas, 1925

Poesia Completa, 1994

-


O Simbolismo Invulgare
de Alceu Wamosy

Da malharmargem.com

Considerado muitas vezes como autor de somente uma obra relevante para a poesia brasileira, o gaúcho Alceu Wamosy (1895-1923) foi um poeta dos mais sensíveis de nosso Simbolismo. Muitas vezes assemelhando-se às influências francesas de seu conterrâneo Eduardo Guimaraens, foi Wamosy detentor de uma poesia crepuscular, sereno em seus mais belos cantos, e outoniço por essência: o calor não lhe atingia em beleza, mas somente o frio, com a sua atmosfera brumosa, de mistério, que evocava em suas fibras as mais belas canções. Não obstante a sua preferência ao Simbolismo, como bem definiu Massaud Moisés, em sua História da Literatura Brasileira, a poesia de Alceu Wamosy passava longe da metafísica de muitos do movimento. Em fato, a sua poesia cinge o sonho, a perscrutação do Eu, o descortinar das coisas mundanas em clara relação ao ser, quase nunca à busca do infinito e do absoluto, característica quase inevitável em uma poesia simbolista.

O seu primeiro livro, Flâmulas, publicado em 1913, é claramente influenciado por Cruz e Sousa, mas sem atingir a qualidade poética do último, apesar de certas características já começarem a se mostrar evidentes, como a preferência ao soneto. Somente em Terra Virgem, de 1914, é que o real valor da obra de Wamosy começa a se demonstrar. Sonetos como “Desiludido”, “Cítara” e “O Meu Anjo” já demonstram o grande poeta que estava se desenvolvendo. Em “Desiludo”, a poesia filosófica – não atingindo a mesma profundidade das de Augusto dos Anjos e Raul de Leoni -, segue um pouco do estoicismo muito buscado à época de Alceu:


DESILUDIDO (em Terra Virgem)

Por que te hás de aquecer ao sol dessa esperança

Nova, que despontou na tua alma ingênua e crente?

Se ela é como sorriso em lábio de criança,

Que se há de transformar em pranto, de repente...


A ventura completa é céu que não se alcança,

Mas que a gente vislumbra, além, perpetuamente:

Esse céu mentiroso é um céu que foge e avança

Se é maior ou menor a aspiração da gente.


Sê simples e sê bom, mas não julgues que um dia

Hás de o teu coração, repleto de alegria,

Para sempre fechar como quem fecha um cofre!


Crê que a desilusão é o sonho pelo avesso,

E que só se é feliz dando-se o mesmo apreço

Ao gozo que se goza e à mágoa que se sofre!

Em “Cítara”, a sua poesia simbolista atinge uma percepção temporal sensibilíssima, mas o próprio jogo de sensações, que não chega a ser uma clássica sinestesia, afasta-se da descrição simples do Parnasianismo, mas também daquele imaginismo sensorial transcendente do Simbolismo:


CÍTARA (em Terra Virgem)

Firo-te as cortas, cítara dormente,

Velha cítara poenta, abandonada,

Que um régio artista fez vibrar, pulsada

Pela divina mão, antigamente.


E, assim, por um instante despertada,

Na mesma vibração profunda e ardente

De outrora freme, cítara dolente,

Toda a tua alma, trêmula, acordada.


Nessa maviosa música embebido,

Escuto as notas, múrmuras, chegando

Como um coro celeste ao meu ouvido.


E eu julgo, então, sentir, no derradeiro,

No último som que morre, a alma chorando

Desse que as cordas te tangeu primeiro...


O belíssimo “O Meu Anjo” já nos soa mais clássico, principalmente no que se refere ao sentido que o soneto toma em sua finalização: é o amor que obtém as direções redentoras, em imagens luzentes, evocadoras, e não obstante, de certa inocência. É mais um soneto que mostra o berço Neo-Romântico em que se desenvolveu a poesia simbolista:

O MEU ANJO (em Terra Virgem)

Estende as asas pálpites e mansas,

Brandas, aéreas, tépidas, serenas,

Como um pálio de amor e de esperanças,

Sobre os meus males, sobre as minhas penas!


Desçam eflúvios mágicos, bonanças

Infinitas, etéreas cantilenas,

Num chuveiro de risos de crianças,

E de perfumes castos de açucenas!


Tudo desça, cantando, das tuas asas,

Sobre minha alma cheia de abandono,

Que a orfandade do amor de mágoas junca...


Para eu sonhar na luz em que me abrasas...

Para eu poder dormir um grande sono,

Um sono bom... que não se acabe nunca...

Em Coroa de Sonho, publicado em 1923, ano da morte do autor, é que vemos, enfim, surgir uma precoce maturidade literária em sua poesia. Contando com três partes, o clima penumbrista à Maeterlinck e à Rodenbach (entre outros europeus que acabaram, no Brasil, perdendo espaço para Verlaine, Rimbaud, Mallarmé e Baudelaire, prógono do movimento) revela-se em composições como no soneto “No Parque de Gabriel Volland”, em referência a esse quase agora desconhecido poeta francês. Vejamo-lo:


NO PARQUE DE GABRIEL VOLLAND (no “Jardim Noturno”, de Coroa de Sonho)

A César de Castro


Neste enterro do sol, dolente e mesto,

os olhos tristes volvo a ti, que trazes

nas harmonias clássicas do gesto

um perfume cinzento de lilases.


Pelo estranho prestígio que te empresto,

para que assim, de longe, inda me abrases,

vens num resto da tarde, como um resto

de sonho, envolta em música e gazes.


O teu vulto de brumas e de sedas

o coração da tarde todo ensalma,

num simples gesto que tu lhe concedas.


E eu te assisto passar, gloriosa e calma,

na sombra de ouro e azul das alamedas

que os loureiros do sonho me abrem na alma.


A poesia outoniça, saudosa de um cromatismo vivaz, mas por certo crepuscular, vagaroso, fazia-se mais evidente:


EM LILÁS E CINZA (no “Jardim Noturno”, de Coroa de Sonho)


O' mon âme, le soir est grave sur soi-même.

Henry de Régnier


Minha alma, agora, é como uma janela aberta

para o infinito azul de uma hora de saudade:

Todo o langor da tarde em sombra a invade,

enchendo-a de uma luz dúbia, esmaiada, incerta.


Não sei que estranhas mãos erguem véus de abandono,

num divino silêncio, entre minha alma e a vida,

para ela adormecer de distância, esquecida,

como uma flor serrôdia, às carícias do outono.

Para Massaud Moisés, as tentativas de versos polimétricos ou que fugissem de um aspecto mais rígido do engenho de Alceu Wamosy configuraram-se em “imprudências” de “resultados duvidosos”. É evidente que o domínio do soneto pelo autor fazia-o deslizar as suas palavras todo à vontade na formalidade da estrutura, porém, a avaliação de Moisés parece injusta em casos como “Eu e o Outono” e até em “Ofélia”. A estruturação rígida não se fazia necessária nesses casos, pois a criação imagética e musical do poeta acabou se tornando o princípio de sua poesia:


OFÉLIA (no “Jardim Noturno”, de Coroa de Sonho)

A lua,

- a saudade que o sol deixa na alma do espaço, -

pelas águas do lago

vai levando a doidice errante de seu passo,

como uma virgem nua,

delirante, em um sonho arcangélico e vago.

Há camélias de luz florindo entre a água verde-escura.

E como um triste cisne preto,

pela bruma,

passa a visão sonâmbula de Hamleto,

despetalando, uma por uma,

todas as rosas de um jardim de sonho e de loucura...


E em “Eu e o Outono”, o intimismo das paisagens decadentes e tão simbolistas do Rio Grande do Sul surgem-nos, talvez, da mais bela forma que o autor cantou. São versos alexandrinos de uma rara musicalidade, mas com uma quebra deveras curiosa na última estrofe. Note-se a genial sinestesia do sexto terceto:


EU E O OUTONO (em “Sonho de Estação Morta”, na Coroa de Sonho)

Quando, a primeira vez, eu encontrei o outono,

num fim de tarde triste, em um parque fanado,

o céu resplandecia em ouro, como um trono.


Andava pelo espaço um silêncio encantado,

magnífico, oriental, mágico, deslumbrante,

como se fosse a voz calada do passado.


A velha fonte, outrora alva Ninfa cantante,

que um lírio de cristal perenemente erguia

para despetalar em música um instante,


tinha os lábios sem som, de mármore, esse dia.

Tombavam, como pranto, as folhas mortas. Era

um imenso soluço verde de agonia


o parque, na atitude exul de quem espera

um mistério qualquer... Errava em todo o ambiente

a saudade da derradeira primavera.


As violetas, na sombra, iam-se lentamente

esvaindo-se em perfume – ametistas de aroma

que vestiram de luto a alma viúva do poente.


Nessa divina tarde

o outono me cobriu todo de uma redoma...

E eu, desde aí, reflito o outono, eternamente,

como um espelho ideal que um sonho guarde.


Inegavelmente, a obra-prima de Alceu Wamosy é o soneto “Duas Almas”, presente na última parte de Coroa de Sonho. O poeta, quando fora baleado durante a Revolução de 1923, na batalha do Ponche Verde, já era celebre no país por conta dessa obra. O Simbolismo, que se diga, conseguiu compor algumas obras que obtiveram sucesso no país. Por exemplo, “Saudade”, de Da Costa e Silva, foi um dos poemas mais famosos da época; o soneto “Minha Senhora, o Amor...”, de Azevedo Cruz também conseguiu vasta recepção popular, também obtida por Orlando Teixeira, com a fábula “O Sapo e a Estrela”; Edgar Mata e sua “Estalactite” só sobreviveram graças à popularidade que o poemeto atingiu em Minas Gerais. Hermes-Fontes e Gilka Machado, por outro lado, obtiveram fama para além de um poema, sendo realmente considerados os melhores poetas de suas épocas por muitos críticos e leitores (perdurando tal avaliação até os efeitos mais concretos da Semana de 1922, que fizeram com que esses poetas perdessem em popularidade e em hegemonia crítica). E o caso mais evidente: o “Eu”, de Augusto dos Anjos, livro repleto de poemas simbolistas e de um pessimismo voraz, é até hoje um dos mais vendidos do gênero no país.

“Duas Almas” é uma obra-prima porque todas as palavras nele se encaixam perfeitamente, contribuindo para a musicalidade doce, para a visualização clara e para a inquietação magnífica do último terceto. Ei-lo:


DUAS ALMAS (em Coroa de Sonho)

A Coelho da Costa

Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,

entra, e sob este teto encontrarás carinho:

Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,

vives sozinha sempre, e nunca foste amada..


A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,

e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.

Entra, ao menos até que as curvas do caminho

se banhem no esplendor nascente da alvorada.


E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,

essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,

podes partir de novo, ó nômade formosa!


Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:

Há de ficar comigo uma saudade tua...

Hás de levar contigo uma saudade minha...


A grande injustiça que se faz acerca do nome de Alceu Wamosy, porém, é acerca de “Duas Almas”. O fato dele ter escrito uma obra-prima superior ao resto de sua obra relativamente pequena – afinal, morreu precocemente, em batalha -, não o torna um poeta menor do Simbolismo, muito menos da Literatura brasileira. Ao menos o seu Coroa de Sonho tem de ser colocado como um dos mais belos livros da segunda geração simbolista brasileira (se há alguma referência de data, fico com a de Andrade Muricy, que defende que essa geração é a de poetas nascidos a partir de 1893), inclusive por diferenciar-se de muitos aspectos que se tornaram praticamente tiques dos nefelibatas, mas ainda mantendo-se fiel à estética do mistério. No Rio Grande do Sul, Alceu Wamosy foi evidentemente menor que Eduardo Guimaraens – este, possivelmente, foi o terceiro melhor poeta de nosso Simbolismo -, mas produziu uma poesia simbolista muitas vezes superior àquela belíssima de Filipe d'Oliveira, e inegavelmente superior às de Marcelo Gama, Homero Prates, Zeferino Brasil, entre outros. Portanto, classificá-lo como “poeta de um poema só”, como ainda se faz, não somente é uma injustiça, mas uma avaliação evidentemente errada e diminuta de uma obra de profundas belezas sentimentais, cromáticas e musicais.

2 comentários:

  1. Será que estamos nos dando conta do que está acontendo na Nova Ordem Mundial? Domingo na Band TV a Glenda teve "ousadia" de questionar/defender uma fala do Piquet na entrevista de 2021 em que está sendo acusado de racismo contra Hamilton por toda lacrosfera. Resultado: ela teve que se "retratar" e pedir desculpas. Pode isso?

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    1. Infelizmente isso já é uma rotina. A imprensa trata a fala de Piquet como racista, Ou seja, já decidiu que é racista, sem argumentos, sem fundamentação. É porque é.

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