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DOIS MINUTOS
COM PRÉVIDI
- PODERIAM VOLTAR OS PROGRAMAS PARA CRIANÇAS NAS MANHÃS E TARDES. E TAMBÉM OS PROGRAMAS DE VARIEDADES.
PELO MENOS NÃO ENSINARIAM COMO SE TORNAR CRIMINOSO, COMO OS PROGRAMAS QUE EXISTEM HOJE.
Caros leitores, grande parte dos municípios, ou a maioria, tem um fundador.
Neste exato momento a nossa coirmã Lajeado, a partir de um responsável trabalho de pesquisa histórica cometido pelo meu colega professor Schierholt, aponta para a oficialização do nome do taquariense Antônio Fialho Vargas, como o fundador, em março de 1855, deste belo município do Vale do Taquari
E nós, taquarienses, ‘Habemus’ fundador?
Explico e justifico.
O nosso estado só passa a existir, como uma unidade administrativa da colônia brasileira, em 19 de fevereiro de 1737, quando da fundação do Forte/Presídio de Rio Grande, e, em consequência, do povoado do Rio Grande, o primeiro povoado do nosso estado.
O fundador foi o brigadeiro José da Silva Pais, que acabou sendo o nosso primeiro governante, ou comandante militar, pois iniciamos nossa existência como uma simples Comandância Militar, status mantido até 1761, quando então nos tornamos uma Capitania.
Em 1763 (um ano antes da fundação do povoado de Taquari, o sexto povoado do nosso estado) quem governava a nossa então capitania já há algum tempo era o coronel Inácio Elói Madeira.
E, nesse ano, ocorreu a inditosa invasão do sul do Brasil quando o governador de Buenos Ayres dom Pedro de Ceballos, liderando numerosa tropa, invade e toma a fortificação de São Pedro, em 18 de abril de 1763 – a porta de entrada da capitania de São Pedro do Rio Grande.
E é a partir dessa tragédia que os eventos conspiram para a formação do povoado de Taquari, ou melhor, Tebiquary.
O governador coronel Inácio, junto com seus soldados e parte da população local, foge dos espanhóis e vem para Viamão – em cuja câmara se instala a nova sede provincial.
Como esse coronel governador não gozava mais das simpatias do vice-rei conde da Cunha, ele é substituído pelo coronel Custódio, à quem caberá organizar as defesas da capitania.
Custódio está no Rio de Janeiro. Ele então embarca e consegue chegar a Viamão, onde, em 16 de junho, toma posse como governador provincial.
Uma das suas primeiras decisões é organizar a defesa da nossa terra.
Então ele decide fundar duas fortificações, e uma delas em um passo do rio Tebiquary. Junto aos soldados, ele manda vir os 60 casais açorianos. Isso ocorre por volta de aproximadamente meados do mês de julho de 1764. Essa fortificação, em terra batida e com vinte canhões, foi executada a partir de um mapa detalhado e colorido (esta relíquia histórica está sob a guarda do Arquivo do Exército – Rio de Janeiro).
O local exato da fortificação ainda não é conhecido, mas com esse mapa, vontade política e um ‘determinado’ grupo de especialistas, creio ser possível determiná-lo.
Portanto, sem dúvida, Taquari é fundada por ordem do coronel José Custódio de Sá Faria. Com isso, aproveito e provoco nossos historiadores locais para que criemos algo que marque, destaque esse eminente nome. Uma rua, um ginásio, uma praça com seu nome vai bem, mas o melhor mesmo é que nossos edis oficializem o nome desse coronel Custódio como FUNDADOR de Taquari.
(Importante, por Lei municipal, os edis taquarienses já o fizerem!)
Une petite bio,
Nascido em Portugal, em local não precisado, por volta de 1723, e falecido em Bueno Aires, Argentina, em 08 de janeiro de 1792, esse importante e decisivo personagem da fundação de Taquari e, mais ainda, de todo o território que hoje abrange o Sul do Brasil, a Argentina e o Uruguai, foi quase tudo em sua laboriosa vida: engenheiro militar, cartógrafo, arquiteto, geógrafo e administrador colonial.
Foi, como acima descrito, um laborioso governante da nossa capitania quando da invasão dos castelhanos de Ceballos.
Com aproximadamente 22 anos, formou-se na Academia Militar das Fortificações de Portugal em 1745; partiu de Lisboa para o Brasil em 1751 como integrante da comissão de demarcadores do Tratado de Madri – que havia sido lavrado um ano antes, em 1750.
Essa comissão, designada pelo Vice-Rei do Brasil, Gomes Freire de Andrade, teria a importante tarefa de assentar os limites ultramarinos das possessões dos reinos de Portugal e Espanha.
Executados os trabalhos no Sul, ele volta ao Rio de Janeiro em 1759, substituindo o próprio Gomes como governador da Capitania.
Quando veio, era somente um sargento-mor, mas dez anos após, em 1760, devido aos seus trabalhos magnificamente executados (entre outros feitos cartográficos, preparou os dois mapas que ornariam a ‘História Topográfica e Bélica da Nova Colônia do Sacramento’, somente publicada em 1900!), teve confirmada a patente de tenente-coronel, dada provisoriamente por Gomes em 1756, pelas autoridades da Corte.
José Custódio comandava um regimento de infantaria na capitania do Rio de Janeiro quando nova e grave crise eclode no sempre turbulento Sul: tropas castelhanas, lideradas pelo governador de Buenos Aires Dom Pedro de Ceballos, invadem e tomam a fortificação de São Pedro, a porta de entrada da capitania.
Custódio é então nomeado governador-militar assumindo, na câmara de Viamão, em 16 de junho de 1764, o pesado encargo de limitar o avanço desses inditosos castelhanos.
(Eis a razão pela qual Taquari somente foi fundada, estima-se, em julho de 1764. Antes era impossível, pois o homem que decidiu fundar a tranqueira às margens do Rio Tebiquary, só assumiu seu cargo de governador, como já dito e amplamente documentado, em 16 de junho de 1764.)
Mas, em política as coisas nunca são simples, um pesado opróbrio desaba sobre sua cabeça.
Em 18 de maio de 1767, ele tentou reconquistar a fortificação e a vila de Rio Grande em, é o que parece, desacordo às ordens emanadas pela corte na Metrópole.
Esse homem, valoroso homem, foi apeado do governo, preso e substituído pelo brigadeiro José Marcelino de Figueiredo, isso em 1769.
Somente escapou de ser enviado a Lisboa, para ser julgado, visto ter sido defendido pelo vice-rei, conde da Cunha, cujas ordens secretas Custódio apenas as executara.
Além de militar conspícuo e um cidadão de elevado espírito patriótico, era também possuidor de vasta erudição como comprovam seus trabalhos legados à história.
Entre 1772 e 1775, já brigadeiro, atuou em São Paulo e em Mato Grosso. Em 1776, com a iminência de uma nova ação espanhola no sul do continente, mais uma vez sob os auspícios do determinado Dom Pedro de Ceballos, seu velho conhecido, o velho militar torna à ilha de Desterro e ao continente de Santa Catarina, cobiçados agora do general espanhol.
Os portugueses acabam derrotados, cabendo ao brigadeiro assinar a rendição das suas tropas. Submetido ao ódio do Marquês de Pombal, que o ameaça publicamente de execução, deserta do seu posto, tendo seus bens (todos) confiscados e vendidos em hasta pública.
Mesmo sendo depois absolvido em Conselho de Guerra, viveu o resto da sua vida em terras espanholas, mais precisamente em Buenos Aires, onde em pouco tempo torna-se o arquiteto e urbanista mais importante da região.
Sobre ele, escreve Ceballos, seu antigo inimigo e que o acolheu na desgraça: “não há nas duas nações que haja visto e reconhecido como ele, nem tenha seu conhecimento dos confins de ambos os domínios neste continente.”
Está enterrado, o fundador de Taquari, no Convento de Santo Domingo, em Buenos Aires.
Tenho um amigo argentino, o eng, Falconi, de Buenos Ayres, que me disse que vai bater uma foto do túmulo e me enviar para nosso arquivo público. Ainda aguardo.
Post scriptum,
Este meu texto acima foi escrito originalmente há uns seis anos, e tinha como objetivo incentivar, dar subsídios, para que as autoridades municipais da minha Taquari honrassem a biografia do José Custódio de Sá e Faria como fundador de Taquari. Houve êxito.
Como prova da sua elevada importância e valor, os pesquisadores e historiadores Luisa Durán Rocca e Ramón Gutiérrez escreveram e editaram o livro/documento – lindíssimo – JOSÉ CUSTÓDIO DE SÁ E FARIA – Um engenheiro na América além das fronteiras, editado pela UFRGS, em 2020, e no qual, para minha honra, tenho uma pequena contribuição.
*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.