Sexta, 24 de janeiro de 2025

 



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ACREDITO NOS ANIMAIS
(DE OLHOS FECHADOS)






DOIS MINUTOS
COM  PRÉVIDI

- NOVOS TEMPOS!!
LUCIANO HANG RESOLVEU MOSTRAR OS LADRÕES QUE TENTAM ATACAR SUAS LOJAS!!
SENSACIONAL!!



nesta sexta,
a cesta do
j.p. da fontoura


TEXTOS DE
JOÃO PAULO
DA FONTOURA*






Die Aufklärung
ou A Idade da Razão




“O iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma menoridade que estes mesmos se impuseram a si. (…) Sapere aude! (Ouse saber!). Tenha coragem para fazer uso da tua própria razão!”

                        * Immanuel Kant, filósofo (1724 – 1804)


Curto os eventos do Iluminismo muito mais como um leitor curioso com essa importante página da história da humanidade, mas também com as suas visíveis contradições, exemplos:

1)   O ensaísta e romancista Jean Jacques Rousseau, uma das expressões máximas desse do movimento, ter se tornado um ardoroso defensor de uma visão bem mais esclarecida em relação à educação das crianças e, ao mesmo tempo, ter abandonado seus cinco filhos aos cuidados do negligente estado;

2)   A Revolução Francesa, representação maior do movimento, ter tornado as ruas parisienses um rio de sangue dos milhares de ‘cidadãos libertários’ guilhotinado por ‘divergências de ideias’.

 

Essas contradições apenas confirmam como nós, seres humanos, somos seres extremamente complexos. Agora, recentemente, ouvimos uma declaração de um dos mais cultos membros do poder judiciário brasileiro, o doutor em Direito Público Luís Roberto Barroso, humanista graduado e com mestrado na Yale Law School, e pós-doutorado na Harvard Law School – universidades americanas  nata do ensino humanístico e jurídico, em que afirma:

 

          ‘(...) Quero deixar como legado a total recivilização do Brasil’.

 

Na realidade, certamente, o digno ministro presidente do nosso Supremo Tribunal Federal, o poder que, na visão dos construtores da teoria do estado ideal, deveria funcionar (apenas) como contrapeso, como o elemento moderador nas divergências entre os poderes executivo e legislativo, ambos ungidos pelo voto popular.

Certamente, o ministro Barroso leu aos detalhes toda a obra produzida por esses luminares, na qual, direta ou indiretamente, está claramente implícita a necessidade da ‘civilização’ da sociedade em seu todo.

Como ato civilizatório podemos entender, por exemplo, penas proporcionais aos delitos ou crimes praticados pelos seus membros, de qualquer sorte. À época desses grandes pensadores e reformadores da sociedade, o ato roubar uma galinha ou produzir uma desavença religiosa era punido severamente, até mesmo – vejam o absurdo – com pena morte. Voltaire, por exemplo, saiu do princípio filosófico da justiça para a prática: em 1762, Jean Calas foi vítima da intolerância religiosa. Acusado falsamente de ter matado seu irmão para evitar que ele se convertesse ao catolicismo, foi condenado à morte na roda. Voltaire brigou, usou da sua influência, até conseguir  revogar a sentença, para a honra e paz na família do morto.

Um respeitoso questionamento ao douto juiz Barroso: é civilizatório a aplicação de pesadíssimas penas de até 17 anos de prisão para os participantes do ato de protesto de 8 de janeiro de 2023, com a invasão e depredação de  prédios públicos em Brasília?  É para tanto? Será que, como apontou o ex-presidente do STF, ministro Nelson Jobim, não houve simplesmente uma ‘catarse da frustração’, e não um atentado à democracia?

Será?

 

Para mim, LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE são três palavras, três termos que sintetizam o triunfo do século XVIII.

Não me importa que a revolução Francesa tenha acabado no desastre em que acabou. Para entender essas questões de avanços e retrocessos, tenho que me afastar de eventos pontuais, temporais, como quem opta por visualizar a floresta e não uma determinada árvore. Igual ao bêbado que cambaleia do bar, a torto e a direito, mas acaba chegando em sua casa, os avanços do Iluminismo do século XVIII, mesmo com  revoluções e as guerra decorrentes, nos trouxeram até o presente século XXI com inegáveis avanços civilizatórios. Estamos, mesmo que alguns divirjam, na MAIORIDADE da humanidade.

Kant estava correto!

 

A Europa nessa época,  mais do que qualquer outro local ou qualquer outra época, era o tambor do mundo,  o seguro homizio da nascente razão humana, na qual, libertos dos seculares grilhões impostos pela longa idade das trevas pós decadência dos Império Romano, homens amigos da sabedoria explodiam em coragem, ousadia e criatividade intelectual.

Os muros do dogmatismo retrógrado de uma igreja milenar que punia com castigos cruéis mínimos desvios da hermética exegese das sacras escrituras, e, pior ainda, dos permanentes tiranos absolutistas que governavam seus reinados como se deuses fossem, estavam agora, pedra por pedra, sendo postos abaixo.

Ouse conhecer’, dizia o filósofo alemão Immanuel Kant, expressando o espírito ( novo) do século. ‘Tenha coragem para usar sua inteligência’.

O movimento Iluminista ocorreu na Inglaterra, Itália, Suíça, Holanda, nos inúmeros estados germânicos, na Polônia, nas distantes colônias americanas,  e na Rússia. Mas foi na França que atingiu, talvez, o seu clímax .

Um mito que sempre ouço é o de encerrarmos os maravilhosos eventos do  Iluminismo em um cesto de preceitos políticos, da organização do estado, da prevalência do cidadão sobre o estado, etc.

É isso, reconheço, mas muito mais.

Antes dos livros, ‘livros à mão cheia... Que manda o povo pensar (obrigado, Castro Alves), precisamos do prelo.

 

Então, como pré-condição, tivemos:

–  A invenção da prensa e a democratização da informação, do conhecimento;

– Os necessários avanços na matemática. Sem o cálculo integral, as derivadas, as tabelas logarítmicas, como calcular as órbitas dos planetas?

– O despertar da química como ciência, deixando de lado a mística alquimia,  com o genial francês Antoine Lavoisier que descobriu, entre outros, o processo de combustão/fogo;

– As leis da termodinâmica, que produziram, entre outros, as máquinas a vapor que moveram os teares da revolução industrial inglesa, e os velozes navios, trens, etc.;

– As descobertas dos cientistas Galileu, Copérnico, Kepler, Isaac Newton, das leis que governam o sistema solar e a gravitação universal;

– As invenções do telescópio e do microscópio que nos revelaram as luas do planeta Júpiter e o mundo das bactérias –  desmistificando preceitos religiosos seculares;

– A implantação do sistema métrico de peso e medida.

Sobre este assunto, peço vênia para me estender um pouco: quase no final desse século das luzes, e, como diriam nossos narradores esportivos, ‘no apagar das luzes’,  a Assembleia da Convenção da Revolução Francesa, em 7 de abril de 1795, dá uma folga na ‘árdua’ tarefa de condenar inimigos do povo à famigerada guilhotina e aprova o sistema métrico de pesos e medidas. Baseado numa constante não arbitrária de simples entendimento, tão simples que é de se admirar o porquê não foi aplicado antes, foi um grande avanço do confuso e arbitrário sistema até então vigente, e que muito atrapalhava o desenvolvimento dos negócios entre nações, pois cada uma tinha um sistema próprio: polegada, pés, braças, arrobas, léguas, jarda, milhas, etc.

Hoje, à exceção dos Estados Unidos,  é praticamente universal.

 

O genial inglês Isaac Newton (1643-1727) foi tão importante que dá para se dizer que é o cientista mais profícuo que a humanidade já produziu, uma figura chave na revolução científica que muito ajudou a moldar o Iluminismo do século XVIII, mesmo que tenha vivido só 27 anos neste século.

Vejam abaixo as palavras, em forma de epigrama, escritas alguns anos depois da sua morte, pelo seu conterrâneo o poeta Alexander Pope (1688-1744):

 

                                  ‘A natureza com suas leis,

                                     Na noite se escondia;

                               Deus disse: que Newton seja!

                                        E tudo virou dia. ’

 

Pensei em listar os nomes dos luminares desse movimento e falar um pouco sobre estas pessoas, suas áreas de atividade, suas contribuições legadas à posteridade, separando em áreas específicas nas quais mais se destacaram. Sabemos que muitos contribuíram em mais de uma área.

Fiquei um pouco confuso em como dispor essas informações.

Então resolvo dar um passei no Google e, ora vejam – modernidade, avanço tecnológico –  o AI do Google fê-lo para mim.

 

Alguns dos luminares do Iluminismo foram: 

René Descartes: Considerado o pai do racionalismo moderno, Descartes (1596-1650) foi um precursor do Iluminismo. Sua obra principal foi Discurso do Método, na qual defendeu que para compreender o mundo, era preciso questionar tudo. 

Voltaire, poeta, polemista, romancista de origem burguesa. Utilizou muito dos seus romances e da enciclopédia do amigo Denis Diderot, da qual era colaborador, para divulgar suas ideias. Um dos seus livros de maior sucesso (li, tenho comigo, é maravilhoso!) é ‘Cândido, ou o Otimista’ (tudo está bem, tudo vai dar certo...), no qual ele fazia um contraponto crítico ao ‘otimismo metafísico’ de Leibniz;

Barão de Montesquieu, filósofo da história e da política, vinha de uma família aristocrata francesa cada vez mais decadente. Um forte crítico da política e dos poderosos de sua época, e uma das principais figuras que sustentou a Revolução Francesa. Sua maior contribuição teórica foi a separação dos poderes estatais, que se sistematizou em três tipos: executivo, legislativo e judiciário. Essa teoria, publicada em sua obra principal, ‘O Espírito das Leis’, teve um grande impacto na política e muito influenciou a organização das nações;

Jean Jacques Rousseautalvez o visionário de influência mais profunda. Era um simples filho de relojoeiro suíço. A par de ser um artífice do iluminismo, também era muito critico em relação ao movimento. Colaborou com Enciclopédia do Diderot. Sua principal obra, ainda muito estudada nos dias de hoje, é O Contrato Social, o catecismo para a Revolução Francesa. Seu livro, no qual destaca a importância do desenvolvimento natural na criação e educação das crianças, é Émile. Neste, ele rejeita a concepção vigente de tratar criança como adulto. Pena que não praticou o que ensina o livro;

Denis Diderot, filósofo e enciclopedista francês. A obra que Diderot coordenava cobria tudo dentro do iluminismo, todos os aspectos da indagação humana: da filosofia à agricultura, da carpintaria à cirurgia lá estava. Eram 17 volumes entre textos  e figuras;

Jean Le Rond d'Alembert, filósofo e  matemático de origem francesa, co-editor da Enciclopédia, um nome muito importante no movimento;

Adam Smith, a maioria dos nomes dos iluministas veio da Europa Continental. O economista Adam Smith, do outro lado da Mancha, da Escócia.

Eu, bem gurizão, tive contato com seu livro ‘Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações’, publicado em 1776 (muito provavelmente minha não simpatia com sistemas de produção e governos de esquerda vem daí).

Foi um dos maiores expoentes do movimento, mas pelo viés da economia, do conflito entre o bem comum com o bem coletivo, ou ‘cada indivíduo se esforça para encontrar a aplicação mais vantajosa para o seu capital’. Isso, ao fim e ao cabo é mais vantajoso para a sociedade, ergo, dogmas religiosos caiam, pois ‘a busca pelo lucro máximo não iria excluir os donos de moinhos e de tecelagens do reino do céu’. Na minha visão, Adam Smith e John Locke, que falarei abaixo, foram os dois pensadores que mais contribuíram para esse movimento.

 

Immanuel Kantfilósofo alemão, entusiasta do século das luzes. Escreveu um livro, ‘O que é o Iluminismo’, que podemos afirmar ser um reflexo da sua ligação com o Movimento. Sapere aude! (Ouse saber!), uma simples locução, mas que vale mais que mil palavras,  resume bem, penso, o seu pensamento e a sua importância.

 

A AI do Google, sabiamente colocou René Descartes (1596-1650); Roger Bacon (1214-1292), John Locke (1632-1704) e Isaac Newton (1642-1727)  como precursores do Iluminismo, por uma razão simples e cartesiana (olha o René aí, gente): eles, como nasceram bem antes do século de ouro, foram aquilo que alguém apontou poeticamente como ‘ombros de gigantes’, ou, como na linguagem do futebol, ajeitaram a bola para outros chutarem. Mas ajeitaram com perfeição!

 

John Locke,

Para mim, por tudo que já li em relação ao tema do ‘Estado Moderno’ (organizado em termos da economia, das relações sociais entre seus cidadãos, do ente político e suas relações, da separação dos poderes, etc.) eu o vejo através de três grandes momentos da história:

a)    A Carta Magna de 1215, base da liberdades inglesas (habeas-corpus), um marco na questão dos direitos humanos;

b)   A Revolução Gloriosa de 1688, também na Inglaterra, com a assinatura da Declaração dos Direitos por parte dos reis Guilherme Orange e Maria Stuart;

c)       A Revolução Americana de 1776, republicana e com a implantação prática  da separação dos poderes.

O filósofo John Locke, inglês nascido em 1632, filho de pais pequenos proprietários de terras,  foi um dos primeiros a estudar e divulgar a teoria dos três poderes, separados, e da aplicação dos freios e contrapesos (checks and balances), certamente baseada nos estudos e propostas de outros filósofos como, exemplos, o grego Aristóteles e o francês Montesquieu. O objetivo dessa teoria era evitar a concentração do poder num indivíduo (rei) e, por consequência, a tirania.

Suas ideias de liberdade, tolerância, igualdade, de que a soberania não reside no estado, mas sim na população foram muito importantes. Também professou a defesa de muitas outras ideias liberais que acabaram, quase todas, florescendo no Iluminismo e explodindo na Revolução Francesa de 1789.

Portanto, a introdução da Declaração de Independência das 13 Colônias Americanas de 1776, escrita por Thomas Jefferson e que afirma que ‘Todos os homens nascem iguais e têm direitos inalienáveis à vida, liberdade e a busca da felicidade (...)’, e as três magníficas palavras que simbolizam a Revolução Francesa de 1789 – Liberté, Égalité, Fraternité –, sem a menor sombra de dúvida, tem o DNA do filósofo inglês.

 

Finalizando,

Como dito algures neste texto, o Iluminismo ocorreu na Europa, Rússia, e nas treze colônias da América do Norte.

Por aqui, tirando as Minas Gerais com a tentativa de criar uma república com o desastrado episódio da inconfidência mineira, de 1789, nada ocorreu, até mesmo porque a divulgação do conhecimento era absolutamente proibida na colônia.

A prensa, e a possibilidade de termos jornais e livros, só aparece em terras brasilis em 1808.

Os poucos leitores que conseguiam receber livros, vindos da Europa como contrabando em navios, arriscavam suas vidas se pegos lendo-os.

Vejo hoje no mundo, Brasil incluso, um movimento muito perigoso, algo que pode, se vencedor, jogar todo o avanço civilizatório dos últimos 300 anos na lata de lixo da história, como se lixo fosse.

Usando como justificativa o problema climático e o aumento avassalador da automação no trabalho, a elite do poder mundial: a ONU, as big techs, as grandes corporações bancárias e industriais, as corporações militares, etc. unem-se para estabelecer um novo estado mundial, obviamente com o aumento da prevalência do estado sobre seus cidadãos.

Esse pessoal, sempre avesso a pagar qualquer tipo de imposto, agora aceita a criação de taxas de toda espécie aos estados, para que as utilizarem na compra da nossa sacra liberdade, para que fiquemos em casa, sem nada questionar, vendo jogos, filmes e novelas nas tevês, consumindo os googles e youtubers da vida, anestesiados.

Rogo que esse meu sentimento esteja completamente errado, mas temo que o Big Brother da ficção esteja –  tristemente – se materializando.

Como diz um meu amigo argentino, ‘a ver’!


*joão paulo da fontoura é escritor e historiador diletante, membro da ALIVAT – Academia Literária do Vale do Taquari, titular da cadeira nº 26.


Um comentário:

  1. Ótimo texto, JP.
    Vc cita a Revolução Gloriosa como um dos três grandes momentos da história. Esta é pouco conhecida, infelizmente. Mas marca os limites que foram impostos ao Estado e à Monarquia. Foi um passo importantíssimo à garantia do direito de propriedade, resultando em aumento de poupança e investimento e em seguida no crescimento econômico da Inglaterra, que à época era um país falido. Limites ao poder de tributar e o arranjo do governo limitado complementaram o ambiente favorável à iniciativa privada. Os EUA, através dos pais fundadores, herdaram e aperfeiçoaram as instituições inglesas. Os grandes Adam Smith e Alexis de Tocqueville foram proféticos em prever que esta terra de homens brutos tinha tudo para superar o seu colonizador e se tornar uma potência econômica. Fantástico ver a semente plantada pela Revolução Gloriosa!

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