Sexta, 29 de maio de 2020




Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
Ou melhor, o meu lado sou eu
...
ANDO DEVAGAR
PORQUE JÁ TIVE PRESSA 









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especial

Nesta sexta, uma cesta
de
 Isaac Asimov!


Foi um dos três mais importantes escritores de ficção científica de todos os tempos






O maior bem do homem é uma mente inquieta.

A violência é o último refúgio do incompetente.

A maneira mais fácil de resolver um problema é negar a sua existência.






Eu não temo morrer e ir pro Inferno ou (o que seria consideravelmente pior) ir para a versão popularizada do Paraíso. Eu espero que a morte seja um nada e, por me remover todos os medos possíveis da morte, eu sou muito agradecido ao ateísmo






Isaac Asimov (Isaak Yudavich Azimov) nasceu em Petrovichi, Rússia Soviética, atual Rússia, em 2 de janeiro de 1920. Faleceu em Nova York,no Brooklyn, em 6 de abril de 1992. Escritor e bioquímico, tornou-se conhecido mundialmente pela ficção científica e divulgação científica.

Asimov é considerado um dos mestres da ficção científica, junto com Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke.

A obra mais famosa de Asimov é a Série da Fundação, também conhecida como Trilogia da Fundação, que faz parte da série do Império Galáctico e que logo combinou com a Série Robôs.

Também escreveu obras de mistério e fantasia, assim como uma grande quantidade de não-ficção. No total, escreveu ou editou mais de 500 volumes, aproximadamente 90 000 cartas ou postais, e tem obras em todas as categorias, exceto em filosofia.



A maioria de seus livros mais populares sobre ciência, explicam conceitos científicos de uma forma histórica, voltando no tempo o mais longe possível, quando a ciência em questão estava nos primeiros estágios. Ele providencia, muitas vezes, datas de nascimento e falecimento dos cientistas que menciona, também etimologias e guias de pronunciação para termos técnicos. Alguns exemplos incluem, "Guide to Science", os três volumes de "Understanding Physics" e a "Chronology of Science and Discovery", e trabalhos sobre Astronomia, Matemática, a Bíblia, escritos de William Shakespeare e Química.

Em 1981, um asteroide recebeu seu nome em sua homenagem, o 5020 Asimov. O robô humanóide "ASIMO" da Honda, também pode ser considerada uma homenagem indireta a Asimov, pois o nome do robô significa, em inglês, Advanced Step in Innovative Mobility, além de também significar, em japonês, "também com pernas" (ashi mo), em um trocadilho linguístico em relação à propriedade inovadora de movimentação deste robô.

Sua família emigrou para os Estados Unidos quando ele tinha três anos de idade, se estabelecendo em Nova York. Como seus pais falavam sempre iídiche e inglês com ele, nunca aprendeu russo. Enquanto crescia no Brooklyn (onde morou por toda vida e faleceu em 1992), Asimov aprendeu a ler, por si próprio, quando tinha cinco anos e permaneceu fluente em iídiche, bem como em inglês.



Seus pais tinham uma loja de doces. Revistas baratas de papel de polpa, chamadas pulp sobre ficção científica eram vendidas em lojas, e ele começou a lê-las. Por volta dos onze anos, começou a escrever histórias próprias e aos 19 anos, fã de ficção científica, começou a vender suas histórias a revistas. John W. Campbell, o editor de Astounding Science Fiction, para quem ele vendeu suas primeiras histórias, foi uma forte influência e amiogo.

Asimov foi aluno das New York City Public Schools (escolas públicas de Nova Iorque), inclusive a Boys' High School, de Brooklyn. A partir daí, ele foi para a Universidade de Columbia, onde se graduou em 1939, depois tirando um Ph.D. em bioquímica, em 1948. Entretanto, passou três anos, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhando como civil na Naval Air Experimental Station, do porto da Marinha em Filadélfia. Quando a guerra acabou, ele foi destacado para o Exército Americano, tendo só servido nove meses antes de ser honrosamente reformado. Durante sua breve carreira militar, ele ascendeu ao posto de cabo, baseado na sua habilidade para escrever à máquina, e escapou por pouco de participar nos testes da bomba atômica em 1946 no atol de Bikini.



Asimov casou-se com a canadense Gertrude Blugerman, em 26 de julho de 1942. Tiveram duas crianças, David (1951) e Robyn Joan (1955). Depois da separação, em 1970, ele e Gertrude divorciaram-se em 1973, e Asimov casou-se com Janet Jeppson mais tarde, no mesmo ano.

Asimov era um claustrofilo - gostava de espaços pequenos fechados. No primeiro volume da sua autobiografia, ele conta um desejo infantil de possuir uma banca de jornais numa estação de metrô de Nova York, dentro da qual ele se fecharia e escutaria o ruído dos carros enquanto lia.

Asimov tinha medo de voar, só o tendo feito duas vezes na vida - uma vez, durante seu trabalho na Naval Air Experimental Station, e outra, na volta para casa da base militar de Oahu, em 1946. Esta fobia influenciou várias das suas obras de ficção, como as histórias de mistério de Wendell Urth e as novelas sobre robôs de Elijah Baley. Nos seus últimos anos, ele gostava de viajar em navios de cruzeiro e, em várias ocasiões, ele fez parte do "entretenimento" no cruzeiro, dando palestras baseadas em ciência.

Asimov era um participante habitual em convenções de ficção científica. Respondia pacientemente a dezenas de milhares de perguntas e outro tipo de correio com postais, e gostava de dar autógrafos. Embora gostasse de mostrar seu talento, raramente parecia levar-se a si próprio demasiadamente a sério.

Dez anos depois da sua morte, a edição da autobiografia de Asimov, It's Been a Good Life, revelou que sua morte foi causada por AIDS - contraiu o vírus HIV através de uma transfusão de sangue recebida durante a operação de bypass em dezembro de 1983. A causa específica da morte foi falha cardíaca e renal, como complicações da infecção com o vírus.

No livro Escolha a Catástrofe, Asimov disserta sobre os futuros problemas que poderiam levar a humanidade à extinção e como a tecnologia poderia salvá-la. Em certa parte do livro, ele fala sobre a educação e como ela poderia funcionar no futuro.

"Haverá uma tendência para centralizar informações, de modo que uma requisição de determinados itens pode usufruir dos recursos de todas as bibliotecas de uma região, ou de uma nação e, quem sabe, do mundo. Finalmente, haverá o equivalente de uma Biblioteca Computada Global, na qual todo o conhecimento da humanidade será armazenado e de onde qualquer item desse total poderá ser retirado por requisição.”
“Certamente, cada vez mais pessoas seguiriam esse caminho fácil e natural de satisfazer suas curiosidades e necessidades de saber. E cada pessoa, à medida que fosse educada segundo seus próprios interesses, poderia então começar a fazer suas contribuições. Aquele que tivesse um novo pensamento ou observação de qualquer tipo sobre qualquer campo, poderia apresentá-lo, e se ele ainda não constasse na biblioteca, seria mantido à espera de confirmação e, possivelmente, acabaria sendo incorporado. Cada pessoa seria, simultaneamente, um professor e um aprendiz."




Apresentadas no livro Eu, Robô, as três Leis da Robótica foram criadas, como condição de coexistência dos robôs com os seres humanos, como prevenção de qualquer perigo que a inteligência artificial pudesse representar à humanidade. São elas:
1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inacção, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.

Mais tarde, no livro Os Robôs do Amanhecer, o robô Daneel viria a instituir uma quarta lei: a 'Lei Zero':
Lei Zero: Um robô não pode fazer mal à humanidade e nem, por inacção, permitir que ela sofra algum mal.


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Lida propriamente, a Bíblia é a força mais potente para o ateísmo jamais concebida.


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IMPRESSIONANTE!!
Há 35 anos Asimov fez previsões para 2019




O nome de Isaac Asimov ficou marcado na história por obras icônicas de ficção científica, como Eu, Robô, a série Fundação, O Homem Bicentenário, e tantos outros clássicos deste gênero. É de Asimov, inclusive, a frase que diz "a ficção científica de hoje é o fato científico de amanhã" — frase que, em muitos casos, se mostra verdadeira ao observar os avanços da tecnologia e da exploração espacial.

Asimov, nascido na Rússia, é um dos três grandes maiores nomes da ficção científica, ao lado de Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke. No total, escreveu mais de 500 obras entre livros, cartas e ensaios. Uma de suas características marcantes era o fato de explicar conceitos científicos reais em suas histórias, mesclando fato e ficção. E justamente por ter sido uma figura tão importante, em 1981 um asteroide foi nomeado em sua homenagem: o 5020 Asimov.

E o autor não era um visionário apenas em relação às histórias que saíram de sua mente criativa: em 1964, Asimov conversou com o jornal The New York Times e, naquela entrevista, proferiu uma série de previsões sobre o mundo do futuro, projetando o que ele acreditava que aconteceria em 50 anos (ou seja, em 2014). E, ainda que muitos termos usados por ele não fossem os que se mostraram acertados, ele previu com maestria a existência de fornos de micro-ondas, da fibra óptica, da internet, dos microchips e das TVs de tela plana. Contudo, foi otimista ao vislumbrar para 2014 a existência de carros voadores.

Já em outra entrevista, concedida em 1983, o Toronto Star publicou previsões de Asimov para 2019, justamente o ano que acabou de começar em nossa linha do tempo. A escolha da data, por sinal, foi pensando em um mundo 35 anos depois da história de 1984, de George Orwell.

Entre o que Asimov previu para este ano que acaba de começar, estão coisas como "o objeto computadorizado móvel penetrando as casas", o que pode ser entendido como a evolução dos gadgets mobile e também tem relação com a internet das coisas. O autor, nesse sentido, também previu que em 2019 já seria impossível viver sem essas tecnologias na sociedade — o que não deixa de ser uma verdade.

Além disso, ele previu que computadores transformariam os hábitos de trabalho, e que a robótica extinguiria "tarefas rotineiras e de linha de montagem", coisa que também vem acontecendo. Asimov disse também que neste ano a sociedade precisaria de uma "vasta mudança na natureza da educação, e populações inteiras precisarão ser alfabetizadas em computadores, e ensinadas a lidar com um mundo de alta tecnologia".

Tudo isso vem se mostrando verdadeiro, mas Asimov também fez previsões um pouco equivocadas, no entanto. Um exemplo é que, de maneira correta, ele previu que a tecnologia revolucionaria a educação, mas ele disse, de maneira incorreta, que a escolaridade tradicional já se tornaria desatualizada em um cenário em que as crianças pudessem aprender tudo o que precisassem em casa, em seus computadores. Isso é tecnicamente possível, mas não é uma previsão acertada pelo fato de que as escolas ainda existem em moldes tradicionais, com alunos aprendendo em sala de aula e sendo guiados por professores.

Quanto à exploração espacial, Asimov previu que em 2019 já estaríamos no espaço "para ficar", o que é uma previsão acertada se considerar nossa presença fixa na Estação Espacial Internacional, que vem sendo ocupada de maneira ininterrupta há quase vinte anos. Contudo, o autor imaginou que em 2019 a humanidade já estaria de volta à Lua, o que ainda não aconteceu, mas acontecerá nos próximos anos, então essa previsão também pode ser colocada na lista de acertos com um pouquinho de atraso. O que Asimov errou quanto à presença na Lua, no entanto, é que ele imaginou que em 2019 já teríamos operações de mineração, fábricas e até uma estação de energia solar em nosso satélite natural — o que ainda está longe de acontecer.

Outra previsão de Asimov para 2019 que ainda não se mostrou verdadeira, mas acontecerá no futuro, é que teríamos assentamentos fixos na Lua. Ele previu que "até 2019, o primeiro assentamento espacial deve estar em planejamento e talvez em construção, e este seria o primeiro de muitos em que os humanos poderiam viver às dezenas de milhares, e em que poderiam construir pequenas sociedades de todos os tipos, dando à humanidade um novo impulso".

É verdade que a NASA enviará astronautas à Lua novamente em breve, mas ainda não há uma data concreta para tal. Também é verdade que a agência espacial chinesa vem planejando a construção de uma base fixa na Lua, mirando em explorações futuras, mas isso também ainda está somente no papel, por enquanto, com a agência, no momento, focando seu trabalho na missão Chang'e 4, a primeira a pousar um rover no lado afastado de nosso satélite natural.


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A Internet que Isaac sonhou

Texto de Víctor Martín-Pozuelo

Isaac é famoso pela publicação de sua saga Fundação, foi membro da Associação Internacional de superdotados Mensa e um divulgador científico de renome.

Em 1988, deu uma entrevista na televisão em que imaginava como a Internet afetaria nossas vidas, especialmente no campo da educação. Bill Moyers faz ao escritor uma série de perguntas que Asimov responde diretamente dando uma visão da Rede muitos anos antes que seu uso pudesse se estender aos níveis atuais. Ele acertou em suas previsões? Vamos ver.

Aprender desde casa
Asimov sabia que os computadores pessoais se tornariam uma realidade nas casas de milhões de pessoas e adiantava que, graças a isto e à possibilidade de ter “bibliotecas” enormes a nossa disposição, a maneira de aprender mudaria. Ainda era impossível imaginar a Wikipedia, mas já se aproximava do conceito de banco de dados na Internet.

De acordo com ele, ao ter Internet, qualquer pessoa poderia fazer perguntas e obter respostas bem como materiais de referência, sobre qualquer assunto, mesmo no início de nosso aprendizado. Assim, se complementaria a atividade das escolas; possuindo uma tecnologia que nos permite consultar dados e livros, cada um pode aprender a seu próprio ritmo e, entretanto, escolas e institutos continuariam ensinando conhecimentos comuns a todos.

Mas a aprendizagem é também para os adultos. Asimov diz que o conceito do estudo está errado e que tanto em 1988 como hoje é uma etapa a superar, que deveria evoluir. De acordo com o que ele pensava, os computadores ajudariam a mudar esta dinâmica e fariam que, inclusive tendo superado a idade escolar, recuperássemos o interesse nos estudos.

Será que ele teria imaginado o surgimento da gamificação ou dos aplicações para melhorar nossa produtividade? Era muito cedo, mas o resto das previsões se tornaram realidade e podemos vê-las todos os dias em nossos telefones celulares.

Aprender matemática… através do esporte
O que acontece se não estivermos interessados em aprender ciência ou línguas? E se do que gostamos, na verdade, são dos esportes? Futebol, beisebol, tênis… Acabaríamos deixando de lado a aprendizagem? Asimov tinha uma visão clara: se você gosta de esportes, lerá sobre as estatísticas dos jogos, as chances de que seu time enfrente outro na final de um campeonato e uma grande quantidade de dados sobre matemática.

Talvez seja declaração mais arriscada do autor, porque quem consulta a imprensa esportiva às vezes só está interessado nisso. Mas também vira o jogo: alguém interessado em física e matemática pode acabar perguntando-se sobre esporte. Coloca como exemplo o caso de uma pessoa interessada em ciência, que pode acabar interessada em saber como age a física para bater uma bola.

A brecha digital e econômica
O entrevistador levanta então a questão da impossibilidade de que todos tenham acesso a um computador conectado à Internet. Asimov lhe dá a razão, mas se mostra otimista: é difícil que todo o planeta tenha acesso a um computador desde o princípio, mas foi o que aconteceu com todas as tecnologias em todas as épocas. Ele estava certo de novo: ainda estamos em um mundo em que, sendo comum encontrar dispositivos eletrônicos em qualquer lugar do planeta, falta ainda viver uma penetração global do mundo digital em todo o mundo.

Isaac Asimov era uma mente avançada para tempo, isso está claro. Ele estava 20 anos à frente da realidade, e quem sabe se outros estão a caminho. Se estiver interessado, pode vê-lo defender suas teorias sobre Internet antes que ela existisse como a conhecemos neste vídeo:





Na vida, ao contrário do xadrez, o jogo continua após o xeque-mate.


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A Última Pergunta

Assista:




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100 anos de Asimov e seu legado

Texto de Daniele Cavalcante

Em 2 de janeiro de 1920 nascia em Petrovich, na Rússia, o escritor e bioquímico Isaac Asimov. Autor com mais de 500 obras, incluindo romances, contos, ensaios e histórias de divulgação científica, ele foi um dos grandes nomes da chamada era de ouro da ficção científica nos anos 1950.

Seu trabalho ainda hoje ganha diversas reedições e adaptações para TV e cinema. É uma vasta bibliografia que soma 463 livros e 46 obras editadas - um total de 509. Nessas páginas, Asimov explorou diversos campos do conhecimento, e acabou se tornando amplamente conhecido pelas obras de ficção científica, principalmente por seus robôs.

Foi em uma dessas histórias que Asimov criou as famosas Leis da Robótica, até hoje estudadas por engenheiros e por legisladores do mundo todo. Também é famoso por prever e debater abertamente alguns dos temas mais delicados da nossa atual sociedade tecnológica.

Asimov e a robótica
Embora o conceito de seres autômatos já existissem na literatura, através de contos como O homem de areia (1816), de E.T.A Hoffman, e O feitiço e o feiticeiro (1899), de Ambrose Bierce, o termo robô tem origem na palavra tcheca “robota”, que pode ser traduzida como “trabalho forçado”. Essa ideia de que robôs são uma espécie de escravos da humanidade, que então se revoltam, foi bastante abordada antes de Asimov - ele próprio aproveitou o conceito, mas foi muito além disso.

A palavra “robota” foi usada primeiro para descrever os autômatos de uma peça de teatro do autor tcheco de ficção científica Karel Capek (1890-1938). Sua obra de 1920 contava uma história sobre autômatos de aparência humana criados por um cientista genial chamado Rossum. Em um artigo escrito para o dicionário Oxford, Čapek explicou que a princípio pensou em chamar suas criaturas de labori (do latim labor, “trabalho”), e que seu irmão Joseph, também escritor, propor roboti, que acabou sendo uma opção mais sonora.

Na peça de Čapek, os robôs fogem do controle humano, desenvolvem sentimentos próprios e terminam por destruir a espécie que os criou. Este é basicamente o enredo que inspirou uma infinidade de histórias de ficção científica na época - até a estreia de Asimov na literatura.

Em sua obra, Asimov preferiu abandonar a abordagem tradicional e se aprofundar no tema. É importante lembrar que, além de autor de ficção científica, Asimov era bioquímico, escrevia livros sobre ciência que explicam conceitos científicos, inclusive com cronologia histórica, além de trabalhos sobre astronomia e matemática. Por isso, sempre houve uma preocupação em lidar com a ciência com uma visão menos pessimista - e, certamente, mais realista, ponderando todos os prós e contras da evolução tecnológica à qual a humanidade se dirigia.

Ele deixou sua visão bem clara ao escrever: “Tornou-se muito comum, nas décadas de 1920 e 1930, retratar os robôs como inventos perigosos que invariavelmente destruiriam seus criadores. A moral dessas histórias apontava, repetidas vezes, que há coisas que o homem não deve saber. No entanto, mesmo quando era jovem, não conseguia acreditar que se o conhecimento oferecesse perigo, a solução seria a ignorância”. Percebe-se aí a constante preocupação em defender a ciência, mesmo sem fechar os olhos para os problemas sociais que ela pode nos trazer.

A ficção científica e as previsões do futuro incerto da humanidade - Parte 1
A ficção científica e as previsões do futuro incerto da humanidade - Parte 2
A ficção científica e as previsões do futuro incerto da humanidade - Parte 3

Assim, suas obras se tornaram um diferencial das demais histórias de ficção da época porque seus robôs ganharam nova complexidade e seus universos tinham as nuances importantes para uma discussão saudável sobre o avanço da tecnologia. Em seu primeiro conto sobre robôs, Robbie (1940), podemos ver grupos antirrobôs que protestam contra as máquinas, e uma criança que não consegue superar a perda de seu robô cuidador. O leitor se depara com dois lados da mesma moeda - o robô carinhoso com a criança e a realidade dos trabalhadores que perdem seus empregos.

Em um de seus livros mais emblemáticos, Eu, Robô, Asimov nos apresenta um mundo em que humanos e robôs convivem em sociedade, explorando possíveis relações que dali poderiam surgir, assim como o desenvolvimento de “sentimentos” nas máquinas criadas pelos humanos. O filme homônimo estrelado por Will Smith é inspirado na obra.

É nesta história que o autor introduz as famosas três leis da robótica. Mesmo sendo oriundas de um livro de ficção, elas são ótimas diretivas para robôs caso nossa ciência consiga desenvolvê-los de forma semelhante à dos livros de Asimov.

As três leis são:

1.Um robô não pode ferir um ser humano ou, por ócio, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2.Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
3.Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.
Mais tarde Asimov acrescentou a “Lei Zero” acima de todas as outras: um robô não pode causar mal à humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal. Alexey Dodsworth, autor brasileiro de ficção científica, afirma que a primeira lei deveria receber maior atenção, haja vista que alguns robôs virtuais atualmente podem induzir humanos a cometer erros, promovendo até linchamentos em massa nas redes sociais. Também afirma que as leis devem ser seguidas, sob risco de a humanidade ser destruída caso o contrário. “Os robôs não terão culpa, já que os programamos sem os imperativos éticos propostos pelo escritor”, afirma Dodsworth.

Outra obra de ficção de renome do autor é a Trilogia da Fundação, que inclusive ganhará uma adaptação no serviço de streaming da Apple. Posteriormente veio a se tornar Série Fundação, composta por um total de sete livros. A série conta, com riqueza de detalhes, as influências que o conhecimento científico pode ter em uma sociedade de proporções galáticas. Um conceito apresentado na obra é o da psicohistória, termo cunhado pelo próprio autor, que utiliza metodologias matemáticas e das ciências sócias para prever o futuro de sociedades.

Há ainda uma série de contos que têm os robôs como tema central os robôs positrônico - um conceito criado por ele próprio; são robôs com cérebros que possuem inteligência artificial, constituído de platina-irídio, cujos circuitos produzem e eliminam pósitrons, partícula recém-descoberta na época em que o autor criava suas primeiras histórias.

Inicialmente, os contos não foram concebidas como uma série, mas todas as história possuem o tema de interação de humanos, robôs e moralidade. Por isso, embora exista um punhado de inconsistência entre contos e romances, toda essa obra acabou sendo considerada como parte de um único universo. Muitos desses contos são de grande importância, como é o caso de O Homem Bicentenário, que recebeu o Prêmio Hugo e o Prêmio Nebula de melhor novela de ficção científica de 1976 e ganhou uma adaptação para o cinema estrelado por Robin Williams.

No campo da não ficção, um dos livros de Asimov foi o Cronologia das Ciências e das Descobertas, um compilado de descobertas realizadas pela humanidade, datando desde a pré história até o ano de 1988. A edição em inglês do livro conta com 791 páginas, e dentre as descobertas listadas, estão a dominação do fogo, a invenção do microscópio e a descoberta do DNA.

As previsões de Asimov
É interessante observar que, mesmo a psico-história sendo um conceito fictício, o próprio Asimov foi capaz de fazer “previsões” para muito além de seu tempo para as sociedades humanas, que ainda hoje vemos se concretizando. Essas previsões foram realizadas em entrevistas, primeiro em 1964 para o The New York Times, e depois em 1983, para o Toronto Star.

Entre essas previsões, ele falou sobre existência de aparelhos corriqueiros no nosso dia a dia, mas inexistentes na época: fornos de micro-ondas, televisores de tela plana e a própria internet, por exemplo. Outras previsões acertadas foram o ensino à distância (EAD), mesmo que não nas mesmas proporções que Asimov imaginava. Também previu a substituição do trabalho humano pelo robótico, além da inserção de aparelhos tecnológicos na vida cotidiana, que se tornariam essenciais (celulares que o digam).

O mais importante na declaração sobre a internet e o EAD não é a previsão da tecnologia em si, mas as possibilidades que ela traz para melhorar a vida das pessoas. Quando o entrevistador Bill Moyers questiona se as máquinas poderiam “desumanizar a aprendizagem”, o escritor oferece, mais uma vez, sua visão - a de que a internet, na verdade, seria benéfica por oferecer uma relação direta entre aluno e a fonte da informação. Essa reflexão servia para, já naquela época, ajudar a moldar a sociedade da melhor maneira quando essa tecnologia surgisse.

Muitas das contribuições de Asimov para os dias de hoje vieram de livros de ficção. Isto pode ser um grande exemplo de como a arte pode ser um meio de transmitir conhecimento, e não está distante do conhecimento científico: muito pelo contrário, tais obras foram profundamente embasadas nas descobertas e previsões científicas que existiam na época.

Podemos falar muito sobre como o impacto que as obras de Asimov, e de outros autores, podem influenciar a forma como lidamos com nossa realidade e como a imaginamos no futuro. Esse é um dos principais legados de Asimov - aprendemos com ele a antever não apenas os problemas que a tecnologia pode nos trazer, mas também seus potenciais benefícios. Assim, podemos preparar a sociedade para lidar com ambos os lados da moeda. Afinal, essa responsabilidade é nossa, que construímos hoje o mundo de amanhã.


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