Terça, 19 de março de 2013

 O SUICÍDIO DE CHORÃO

 Texto do Rogério Mendelski, publicado na edição de domingo, 17 de março, do Correio do Povo.
Assino embaixo:

Confesso que o cantor Chorão e sua banda “Charlie Brown Jr.” nunca estiveram dentro de minhas preferências musicais e jamais os programei no “Classe Especial”, aos domingos na Rádio Guaíba. Sequer saberia dizer se Chorão tinha boa voz e se o seu grupo produzia algo interessante.
Mas o noticiário sobre o seu suicídio por overdose, é claro, me obrigou a acompanhar as manifestações quase histérica de seus admiradores e os motivos de sua morte. A morte de determinados ídolos da música popular é quase sempre dentro de um formato com ingredientes muito semelhantes: fama, assédio incontrolável dos fãs, dinheiro fácil, deslumbramento alimentado pela mídia e- finalmente – as drogas para “manter” o novo status.
Do jeito que o necrológio de Chorão foi mostrado pela mídia amiga, o cantor se matou por estar se tornando um outsider de si mesmo, um “cara incompreendido”, na definição de um admirador. Como se diz lá em Viamão, “péra aí”. Chorão era um viciado em cocaína, ou, um dependente de drogas, como manda a cartilha do politicamente correto. Como ele poderia ser incompreendido se fazia sucesso na sua tribo, vendia muito disco, tinha shows lotados e era o queridinho da mídia?  Suas apresentações e seu visual eram a própria “moral do espetáculo”, na definição do psicanalista Jurandir Freire Costa.
Para o seu público, Chorão era uma referência de comportamento, daí as manifestações lamuriosas dos fãs adjetivando sobre sua generosidade, imenso coração e talento em pleno apogeu. Se era essa a imagem de Chorão na sua comunidade de adoradores, bem diferente era a sua vida privada.
Sua ex-mulher tocou na chaga exposta, praticamente ignorada pela mídia amiga. Chorão morreu simplesmente por que perdeu a luta contra as drogas, as quais ele tinha livres acesso e jamais fez questão de resistir
Não há heroísmo nisso e nem Chorão é um mártir da juventude roqueira. Ele cheirou, consumiu e se consumiu porque quis. Porque tinha dinheiro e facilidade para obter cocaína e fez a sua opção. Chorão e tão culpado pela sua morte quando o traficante que lhe fornecia a droga.

O ENTERRO

O esquife de Chorão estava coberto pelas bandeiras do Santos e do Brasil. A do Santos é perfeitamente compreensível. Era um torcedor do clube, dos mais famosos, e ele fazia questão de se dizer santista. Mas a bandeira do Brasil? O pavilhão nacional não deveria estar ali sobre o caixão.  Chorão não foi um herói e muito menos referência de comportamento. Ele foi apenas uma vítima voluntária da desgraça brasileira da atualidade. A bandeira nacional, sem querer, ficou ligada ao vício.

A TENTATIVA


“Vale destacar que pouco antes da morte do Chorão, seus familiares buscaram a internação compulsória na justiça, sua mulher foi buscá-lo no hotel onde ele estava hospedado e foi impedida de levá-lo pelo pessoal do próprio hotel. Disseram que ele era “muito querido” por lá e não a deixaram fazer essa “maldade” com o Chorão. Medida que talvez tivesse salvado a sua vida!” (depoimento de um conhecido de Chorão).

 O INÍCIO É IGUAL

Os “astros” e as “celebridades” criam o seu mundo paralelo e nele se auto-alimentam de elogios e de drogas. Sempre aparece alguém, amigo de um amigo, que se aproxima e oferece de graça alguma novidade que traz novas emoções e muito estímulo erótico. Há casos onde há sorteio de prêmios e o mais cobiçado é a branca pura. As festas são animadas com porções de cocaína (nas mais chiques) e com crack no meio da chinelagem.  Mas o resultado é mesmo. Na horizontal todo mundo é igual.

UMA LISTA TRISTE

Vale lembrar os nomes de alguns ídolos da música e do cinema que morreram de overdose (medicamentos e drogas como heroína, cocaína, etc.) Todos acreditaram que “comigo é diferente, eu controlo a droga e ela não me controlarà”. Elis Regina, Renato Russo, Marilyn Monroe, Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Kurt Cobain,  Heath Ledger, Michael Jackson, Amy Winehouse, Jim Morrisson, Billie Hollyday, Whitney Houston, Cassia Heller, apenas para citar alguns. Mas vale lembrar que 40 mil pessoas morrem por ano no Brasil tendo a droga como a causa principal. Dentre elas, oito mil são por overdose. Como não são “celebridades” nem a lápide do túmulo registra a causa mortis.

3 comentários:

  1. Boa análise - mas com um erro crasso: Renato Russo morreu de Aids

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  2. Chorão recebeu o apelido por chorar ao errar manobras de skate. Se tivesse chorado mais e cheirado menos, nos pouparia da chatice de ter que aturar as "retrospectivas" de sua vida!

    Garivaldino Ferraz - Brasília/DF

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  3. Cassia Eller tinha um problema cardíaco, ia morrer do coração mesmo se fosse uma freira. Nada teve a ver com drogas

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