Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
Ou melhor, o meu lado sou eu
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especial
Nesta sexta, uma cesta de
JOSÉ LUIZ PRÉVIDI
40 anos de Jornalismo - 4
NÃO FOI FÁCIL:
HISTÓRIAS NADA EMOCIONANTES
O verão de 1974 foi digno de um guri de 19 anos.
Comecei o ano me matriculando na Faculdade de Filosofia da UFRGS. Nessa época, o cara se inscrevia na faculdade que queria fazer e colocava uma segunda opção. Foi o meu caso.
Feliz da vida fui aproveitar as férias, com o patrocínio da minha mãe, a Etna.
A primeira farofada foi irmos para uma casa em Pinhal no meio da areia. Sem água e sem luz. O dono da dita era o pai do Homero Zanotta, que foi junto. E o Henrique Howes. Pouco antes de irmos, uma prima, a Stela, me liga e diz que estava vindo de S~çao Paulo. Quando falei da farofada ela disse que iria adorar.
Ficamos lá mais ou menos uma semana. Rodamos uns três, quatro filmes com uma máquina super 8.
Depois fui passar o Carnaval em Camboriú. Rimon Hauli, Henrique Howes e eu. Guris com pouca grana, dormíamos no carro, depois das festas.
Na quarta-feira de cinzas começamos a votar. largamos o Rimon em Atlântida, onde almoçamos com Q-Suco.
Quase chegando em Porto Alegre, pela friuei, deu uma pane no meu possante TL 1973 e tivemos um desastre e tanto. Sozinhos.
Quase fui para o espaço, junto como Henrique.
Seis meses de recuperação, deitado - não levantava nem para fazer xixi.
Uma das promessas que fiz foi fazer uma faculdade "decente", tipo Economia. Afinal, a minha mãe teve que gastar comigo o equivalente a um apartamento de dois quartos na rua Santana.
Mas não cumpri a promessa.
Quando recomecei a caminhar fui cursar a Filosofia.
Logo depois passei no vestibular para a Famecos-PUC.
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Comecei a acreditar que um dia seria jornalista quando entrei na faculdade. Sério. Já cursava Filosofia na UFRGS e no vestibular de inverno de 1975 fui aprovado para a Famecos. Era um bom curso. Muita conversa de política, livros, revistas e jornais. O recreio era o melhor das aulas. Gurias aos borbotões no saguão e no barzinho. Lindas, felizes e falantes. Fora da Universidade, tomávamos cerveja e muita conversa seriíssima, fiada. Bons professores – os doutores e mestres ainda não tinham tomado conta.
Tinha terminado o terceiro semestre quando tive a primeira provação: havia passado no concurso do Banco do Brasil e antes de começar o período letivo fui mandado para Palmeira das Missões. Fiquei exilado por lá 14 meses, lendo sempre tudo que aparecia pela frente. Pedi demissão no início de 1978 e voltei para Porto Alegre. Aí a situação ficou feia, porque tinha me acostumado a ter sempre dinheiro no bolso e, pior, tinha comprado na prestação um flamante Opala. Tinha que ir à luta.
Com mais três colegas fizemos um suplemento para o Diário de Notícias, que rendeu uma boa grana. O editor do jornal, um mineiro gente fina chamado Sinfrônio Veiga, foi com a minha cara e me contratou como repórter da Geral. Mesmo que o Sindicato dos Jornalistas lutasse para que estudantes não trabalhassem, está lá na minha carteira: Data da admissão – 1º de junho de 1978. Outra provação: fui chamado para ser promotor de vendas da Varig. Era o dobro do que iria ganhar no jornal.
Faculdade de manhã, Diarinho à tarde e a Filosofia de noite. Fazia ainda boletins, matérias para jornais de sindicatos e do interior, o que pintava eu traçava. Nesse tempo comecei a aprender alguma coisa de jornalismo com o primeiro chefe direto: Renan Antunes de Oliveira. No primeiro dia me disse, depois de ler a minha "matéria": “Isso aqui é uma merda, mas tu vai aprender a ser repórter”.
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Tinha métodos simples. Me dava uma pauta e eu fazia o melhor que podia. No outro dia, chegava na redação e ele estava com todos os jornais abertos na mesma matéria. “Qual das matérias está melhor”, perguntava. A minha estava ali também. “A da Folha da Manhã está melhor”, respondia. Ele me olhava, um discreto sorriso, e sempre falava: “Ainda bem que tu é honesto”. A Leila Weber era a editora da Geral e cada bronca que levava valia por uma semana de aula.
A busca por grana era tão intensa que tive nesse ano uma passagem por uma agência de propaganda. Era redator. Não era o meu negócio e pouco fiquei por lá. Mas, imagine, os dois empregos e as duas faculdades. E mais os frees.
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No início de 1979 fui promovido a editor de Economia do DN e em maio comecei como repórter de setor da Rádio Farroupilha, que começava a ter uma programação de jornalismo. Aí era assim: tinha voltado a fazer a Famecos de manhã e através de um orelhão me tornava, no período, repórter da rádio. Passava inclusive boletins. A tarde fazia meus frees (entre muitos outros, para o Rio Grande Semanal, um projeto da Coojornal) e apresentava um programete chamado “Farroupilha Economia”. No início da noite fazia uma cadeira na Filô e ia para o jornal, baixar a Economia.
Era uma vida emocionante. Mas era feliz
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O Diário de Notícias fechou em 31 de dezembro de 1979 e eu já tinha saído da Farroupilha – tinha um chefe de reportagem, dublê de policial, daqueles repulsivos, que não ia com a minha cara e fez de tudo para me ferrar.
Comecei 1980 desempregado, justamente no ano em que me formaria.
O grande Marçal e eu tentamos conseguir emprego. Tínhamos grana, porque nos pagaram tudo direitinho, até o FGTS. Fizemos até um teste na Rádio Gaúcha. Ele iria apresentar um programa na madrugada, sua especialidade, e eu seria o repórter. A direção da RBS não gostou de ter o Marçal de volta.
Um parêntese.
Jornalista adora dizer que foi “convidado” para um “novo desafio”. É raro ouvir ou ler algum dizer que batalhou para conseguir um trabalho. Como sempre fui meio gauche, briguei muito para conseguir as coisas. Os convites foram raríssimos em minha vida profissional.
Fora aqueles que começaram na profissão “por acaso”. Algo assim: um amigo perguntou se não gostaria de ser repórter na rádio ou no jornal da cidade. Depois de alguns meses, com o sucesso que fazia, foi convidado para trabalhar na melhor rádio ou no mais popular jornal da capital. E aí a carreira de sucesso veio naturalmente.
Comigo não foi nada assim.
Fechar parêntese.
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Mas, acreditem, um amigo de faculdade, Carlos Sávio, me ligou dizendo quer tinha uma vaga na Política da Zero Hora, onde trabalhava. Que fosse falar com o João Carlos Terlera, o editor, na imprensa da Assembléia. Conversamos uns 15 minutos e acertamos que começaria na semana seguinte.
Por que a demora para começar?
Porque ainda tinha um vínculo com o Correio do Povo. Explico. Quando estava na pior, pintou uma vaga temporária no Correião para cobrir o período que antecedia o Carnaval.
Fazia matérias sobre os ensaios das escolas de samba e eventualmente cobria um baile.
O Carnaval terminou e senti que estava desempregado de novo. Mas me conseguiram uma vaga de repórter. Só que fui ser setorista do Tribunal de Justiça.
Não era o sonho da minha vida de repórter.
Foi nessa época, quando já passava as tardes percorrendo os andares do Tribunal, que o Sávio me ligou.
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Fiquei pouco mais de três anos na Zero Hora. Mas, claro, o início foi dramático (como escrevi, só comigo é tudo muito difícil). O presidente do Sindicato dos Jornalistas era funcionário do jornal e marcava de cima, não permitindo que estudante fosse contratado. Mas beirava a sacanagem, porque estávamos em março e eu me formaria em junho. O Carlos Fehlberg, editor-chefe da ZH, bateu pé e assinaram minha carteira como “Repórter C”.
Comecei a me sentir repórter de verdade.
Tinha tempo de ler, novamente, e estava numa editoria que era o sonho de muito jornalista experiente. Trabalhei na cobertura da primeira visita do Papa João Paulo II a Porto Alegre, conheci o Banhado do Colégio, os movimentos tímidos pela reforma agrária, os colonos que foram enviados para o norte do país... Tudo bem, e a Política? É, às vezes eu era emprestado para a Geral, Polícia, fiz matérias 500 e até setorista de aeroporto nos domingos.
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Na Política conheci figuras fantásticas. Até hoje não consigo entender como almocei ao lado de Luiz Carlos Prestes, sem tremer a perna. “Olá, José Luiz, como vai?”, me atendia Leonel Brizola ao telefone. Bati grandes papos com dona Neuza Brizola, principalmente quando ligava para a casa do casal aos domingos.
Com os dois fiz grandes matérias. No período que antecedeu a histórica eleição de 1982, fui a uma coletiva de Prestes. Nada de mais. Ao final, me aproximei dele e perguntei, como quem não quer nada, se os comunistas teriam candidatos.
– Claro, meu filho, a todos os cargos e em quase todos os estados.
– E por qual partido?
– Qualquer partido.
– Inclusive no PDS?
– Inclusive no PDS.
Saí de fininho e fiz a matéria. Teve uma boa chamada na capa do jornal – afinal, o PDS era o partido que apoiava os militares – e repercussão nacional. Os coleguinhas, das sucursais dos jornais do Rio e de São Paulo, foram aguardar o líder comunista no aeroporto, para nova entrevista antes do embarque para o Rio de Janeiro.
Ele confirmou a minha matéria.
Brizola era diferente de todos. Falava só o que queria e somente aquilo que lhe interessava. No entanto, uma vez consegui arrancar um fato novo, inédito.
Ainda no período que antecedeu a eleição de 82, os militares inventaram o voto vinculado – o pobre eleitor teria que votar nos candidatos do mesmo partido, em todos os níveis. Era um golpe nos partidos de oposição – PMDB, PDT, PP e PT. Nos primeiros momentos, o PP de Tancredo Neves foi incorporado pelo PMDB. E todos queriam que Brizola fizesse o mesmo. Os jornais davam como certa a adesão do PDT ao PMDB. O ex-governador estava no Uruguai e todo dia adiava a sua volta.
Numa noite, consegui uma frase de Brizola, com a interferência de um grande jornalista brizolista chamado Carlos Cunha Contursi. Depois de enrolar muito, me disse antes de desligar: “É muito difícil estarmos ao lado do PMDB”. O Terlera matou a charada: como o Brizola concorreria ao Governo do Rio com a hegemonia dos seguidores de Chagas Freitas no PMDB?
Deu manchete.
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Boa a vida de repórter, mas se ganhava muito pouco. Já tinha os meus luxos.
O deputado Aldo Pinto iria presidir a Assembléia Legislativa e – creiam, é verdade! – me chamou e lascou: “Tu vais trabalhar comigo”. Topei, era uma grana que jamais ganharia em um jornal e não havia, na época, impeditivo para os dois empregos. Aliás, os chefes de redação incentivavam o duplo emprego e inclusive eles, os chefes, tinham empregos públicos. Praticamente todos.
Assessorias de imprensa não são emocionantes. Não é um lugar legal para repórter. Mas pagavam muito bem. Passei por várias. Um período muito agradável foi na assessoria de imprensa do Governo Brizola no Rio.
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Sempre senti muita falta de escrever reportagens. Aí, enquanto percorria assessorias de imprensa, inventava jornais onde publicava as minhas reportagens e era colunista. O primeiro foi o Rua da Praia – Jornal do Centro, em 1987. Mais de 10 títulos de jornais até hoje.
Fiz grandes entrevistas e reportagens. Numa edição do Rua da Praia entrevistamos o radialista Sérgio Zambiasi, em quatro páginas, e na central uma matéria sobre os travestis da avenida Farrapos. As pessoas faziam fila na porta da nossa Editora para comprar uma edição.
Queria ter o poder de síntese de um redator de rádio para transformar quase 29 anos de jornalismo em 9 mil caracteres. Já passei dos 9 mil e faltou muita história. Nem falei do tempo em que editei a Press e um semanário antológico, o Press Advertising, quando pude, vez que outra, ser repórter.
Hoje, muitos ganham bem e têm tranqüilidade para trabalhar. Nossas TVs, rádios e jornais nos brindam com grandes repórteres.
Sei lá, mesmo com todas as provações e dramas, faria tudo de novo. Mesmo que tenha passado boa parte da vida em assessorias de imprensa. Paciência, era repórter nos jornais que inventava.
Caro Prévidi,
ResponderExcluirEm relação ao caso da soltura do Lulla, e toda a polêmica gerada, à noite, lendo na Istoé, vi que o tal desembargador destrambelhado, Favetro, havia dado uma entrevista a uma rádio de POA. Não tive dúvidas, foi na isenta. Olhando a matéria por inteiro ficou claro que a entrevista era na Guaiba - a isenta!!!
Deus meu esses caras perderam totalmente a vergonha!
Por certo, devem ter chamado o Voz Fina para fazer a entrevista!
Quero minha Guaiba de volta!
Prezado Previdi, caros leitores – Paz e Bem!
ResponderExcluirA fundamentação de Favreto para soltar Lula, livra da prisão também o líder do PCC Marcola, o megatraficante Fernandinho Beira-Mar e a todos os demais criminosos condenados do Brasil, que requeiram a soltura, com fundamento no "fato novo": a condição de pré-candidato.
A absurda alegação do desembargador nomeado por Dilma Rousseff, Rogério Favreto, em seu equivocado despacho de soltura do ex-presidente Lula, na manhã de ontem (Domingo, dia 8 de julho de 2018) cita, como "fato novo", a “condição de pré-candidato à Presidência dele", poderia soltar qualquer preso que afirme ser candidato.
Assim, prevalecendo a vontade de Favreto, se o líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital – PCC, MARCOLA (Marcos Willians Herbas Camacho) se declarar pré candidato, será solto, bem como o megatraficante FERNANDINHO BEIRA-MAR e a todos os demais criminosos condenados do Brasil, que requeiram a soltura, com fundamento no "fato novo": a condição de pré-candidato.
Paulo Vendelino Kons
Brusque/SC