Quarta, 9 de janeiro de 2019




Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
Ou melhor, o meu lado sou eu
...
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Cumpro pedido da Laís Legg Da Silveira Rodrigues


especial


HISTÓRIAS DA URCA - 3

(continuação de terça, 8 de janeiro de 2019)


Ah, por que Praia Vermelha?
Simples, a areia era avermelhada - hoje não é tanto.
Meu sonho foi sempre estudar no Andrews, o colégio que meu irmão fez o primário. Antes, ele tinha sido interno no Colégio São Bento, por um ano - não me pergunte o motivo, não tenho a menor ideia. Lá nós íamos buscá-lo toda sexta-feira. Os freis diziam que estavam me esperando e eu nem olhava para a cara deles.
Quando era adolescente e me diziam que a vida é feita de pequenas recordações eu não conseguia entender. O tempo me mostrou que isso é uma verdade maravilhosa.
Neste tempo da rua Octavio Corrêa lembro que todo dia passava um sujeito vendendo aquelas bananadas no palito, cobertas com açúcar cristal. Eu era alucinado pelo doce, mas nem sempre podia comer por causa das diarreias. Tinha também as carrocinhas da Kibon.


Gostava muito dos picolés, mas a minha fissura era as "balas com furinho no meio". É óbvio que tinha que enrolar muito para ganhar um pacotinho, porque, como já disse, vivia com diarreia (eu dizia disarreia). Aquelas balas que vem enroladas e geralmente se comprava nas portarias dos cinemas. Também gostava das jujubas.


Na praia, naquela ao lado da TV Tupi, tinha o delicioso Chá Mate Leão e os Biscoitos de polvilho Globo, doce e salgado. Até hoje nas praias cariocas se toma Mate com os Biscoitos Globo.
Minha mãe fez uma tentativa de me colocar em uma escolinha. Maternal. Tenho a impressão de que era dentro do Forte São João. Não durei muito lá.
Passávamos o dia sentado e brincando em uma mesa. Lembro de uma menina que sempre estava ao meu lado e brincávamos de médico. Sério, e eu estava sempre aplicando injeção nela e ela até colaborava. Juro que me lembro disso. Até que a professora nos separou.
Fiz seis anos em maio de 1960. Levamos esta vida na Urca até o final de 1959. Eu praticamente não conhecia outros bairros - só o que estava ali perto, como Botafogo e Flamengo, além de Copacabana, Leme. E o centro da cidade, onde era o escritório do meu pai. Ah, e o Aeroporto Santos Dumont, quando ia com meu pai, todo dia, buscar "a correspondência", que vinha de Caxias do Sul e São Paulo pelos aviões da Varig.

Fomos morar num edifício recém construído, na Rua das Laranjeiras, 130 (foto). Meu pai comprou o apartamento 201 e em todos os andares viviam famílias com crianças. No prédio haviam mais de 40 crianças. Era uma festa. Tinha um espaço que poucas pessoas conheciam, um playground.
Gostava muito de lá, até porque fui estudar - Pré-Primário - num colégio bem pertinho, o Franco-Brasileiro.
Íamos muito a Copacabana, mas jamais deixamos de ir na Praia Vermelha.
Em 1966 meu irmão já estava estudando em Porto Alegre, novamente interno no Colégio Champagnat, e nós íamos todo final de semana na Praia Vermelha.
Em julho desse ano fomos buscar na rodoviária o meu irmão que vinha passar as férias.
Lembro que no dia 15 estávamos jantando e meu pai disse que ia parar de trabalhar no Eberle, já tinha acumulado dinheiro suficiente para abrir um negócio. Estava com 48 anos. Antes disso, iria fazer uma viagem com a minha mãe, por todo Brasil.
No dia seguinte, enquanto dormíamos, ele saiu para ir na Igreja no Largo do Machado, conversar com um padre amigo. Tínhamos combinado de ir a praia com o Tio Juca, que estava no Rio. 
Quando meu irmão e eu acordamos minha mãe estava preocupada porque o Waldemar ainda não tinha voltado da Igreja. Minha mãe conversou com o Tio Juca sobre a demora e ele foi na Igreja. Ele tinha saído pouco depois das 9 horas e já era quase meio-dia.



Não lembro do que fiquei sabendo, até que chegaram lá em casa o meu Tio com um médico chamado Silvio Brauner, que tinha uma clínica e era amigão do meu pai. Minha mãe abriu a porta para eles e os dois estavam chorando.
O Waldemar tinha se afogado. Exatamente na Praia Vermelha (foto) .
Presumiu-se que ele acreditou que estava atrasado e foi direto para a praia. É possível que tenha tido uma forte câimbra e não conseguiu nadar - era bom nadador, treinava no Fluminense, mas sempre tinha fortes câimbras, como eu até hoje.
Aí viemos morar em Porto Alegre e a minha vida mudou completamente.
Mas isso é outra história. Ou outras...

Amanhã voltamos ao normal

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