Terça, 8 de janeiro de 2019




Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
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...
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especial


HISTÓRIAS DA URCA - 2

(continuação de Segunda, 7 de janeiro de 2019)





Minha mãe já dirigia e levávamos todo dia o meu irmão Paulo César no Colégio Andrews, na época na Praia de Botafogo. Meu sonho era estudar lá, mas ainda não tinha idade nem para o Jardim de Infância. Mas as vezes entrava e ficava brincando na gangorra com a minha mãe.

(clica em cima que amplia)



Não lembro quando começamos a ir na prainha do Forte São João (foto abaixo) - claro que na Urca. Lembro que os moradores do bairro podiam entrar no Forte e desfrutar da praia.
Bastava fazer uma carteirinha. No final de semana ia toda a família.
Não sei se os militares proibiram a entrada, mas começamos a ir em outras prainhas da Urca. A que eu mais ia com a minha mãe era ao lado do prédio onde funcionava a TV Tupi. Antes, ali funcionou o Cassino da Urca.
Meu passeio favorito era na Praia Vermelha. Me diziam que ali os portugueses desembarcavam das caravelas. Tem até lógica, porque não tem ondas e poucos passos um adulto fica "sem chão". 
Para quem não conhece, na Praia Vermelha as pessoas tomam o bondinho para os Morros do Pão de Açúcar e da Urca. Muitos prédios militares, como a Escola de Guerra Naval, a Escola Superior de Guerra e o Instituto Militar de Engenharia.


Era muito legal a pracinha da Praia Vermelha. Especialmente porque tinha a Pipoca do Bené. Era uma delícia e sempre que como a pipoca, da carrocinha que fica na esquina das avenidas Salgado Filho com Borges de Medeiros, me lembro da Praia Vermelha.
Desde a mais "tenra idade" que tenho dois problemas sérios: câimbras e diarreia. Por várias vezes ia direto para a carrocinha do Bené e minha mãe me cortava - "Você está tomando sopa branca e quer pipoca? Não senhor!". Sopa branca era apenas com arroz, batata e extrato de carne, que era comprado apenas em uma loja de importados, no centro da cidade.
Aí eu disfarçava. Começava a correr e quando ela descuidava eu ia na carrocinha do Bené e ele enchia as minhas duas mãos de pipoca ainda quente. Gostava mesmo quando aparecia o Dirceu, irmão de minha mãe e meu padrinho. Ele desconhecia as ordens da minha mãe para que não me desse nada. Sempre me dava o maior pacote de pipoca doce e logo depois um ou dois picolés. Minha mãe ficava furiosa e meu pai apenas ria. O tio Dirceu morava em Porto Alegre e ia ao Rio para conversar com o seu primo, como ele dizia, João Goulart, que casualmente era o vice-presidente da República e depois presidente por pouco tempo. Minha mãe, fã de Carlos Lacerda, não admitia esse parentesco.
Os familiares e amigos gaúchos de meus pais que nos visitavam conheciam a Praia Vermelha. Era um passeio obrigatório. E eu imitava a pose pensativa de Chopin. Todos riam muito e nunca soube o motivo.
Mas, por que uma estátua fantástica do compositor pensativo na frente da Praia? O que ele tem a ver com uma praia?
Vale a pena ler o motivo:




No dia 1º de setembro de 1939 as tropas nazistas atacavam a pacífica Polônia. O ataque foi tão devastador que três semanas depois os soldados alemães colocavam seu tacão em Varsóvia. Dentre as muitas barbaridades praticadas pelos invasores, uma das primeiras foi a de destruir o monumento ao compositor romântico polonês Frédéric Chopin existente naquela cidade. 
Quando a notícia chegou ao Brasil, a comunidade polonesa residente nno Rio resolveu reagir, organizando uma vaquinha para angariar fundos com o objetivo de erguer um monumento a Chopin no Rio de Janeiro. Encomendaram a estatua ao escultor Augusto Zamoyski. Com 2,5 metros de altura e todo em bronze, o monumento ficou pronto ainda em 1939. Entretanto, a politica dúbia do governo brasileiro, oficialmente neutro, mas relativamente simpático aos alemães, adiou sua instalação por alguns anos.
Com o torpedeamento de navios brasileiros e a posterior declaração de guerra do Brasil aos países do Eixo, desengavetou-se a ideia da estátua. Em 1º de setembro de 1944, no quinto ano da invasão da Polônia, foi inaugurado o monumento a Chopin na Praça Floriano, defronte ao Teatro Municipal. Lá ficou em paz por exatos quinze anos.
Em fins de 1959, o barítono Paulo Fortes iniciou uma campanha para erguer na Praça Floriano um monumento ao maestro e compositor Carlos Gomes. Conseguida rapidamente a estatua em bronze do maestro brasileiro, começou então uma campanha para dali remover a homenagem a Chopin, por considerarem incompatíveis os dois monumentos. Um outro grupo de intelectuais não via problemas na homenagem aos dois compositores na mesma praça, mas Paulo Fortes não pensava assim e, usando de sua influencia, conseguiu a remoção. Em 15 de Janeiro de 1960, o monumento a Chopin foi retirado à noite por funcionários da Prefeitura, sendo levado para um depósito. No dia 16, pela manhã, estava em seu lugar o maestro brasileiro.
Depois de algum tempo esquecido num depósito, o monumento foi colocado na Praia Vermelha em 1964.
Chopin foi retratado em posição de quem medita e escuta. No final das contas, a romântica Praia Vermelha acabou se tornando a moldura perfeita para o mestre do romantismo. A estátua tem 2,5 metros e está sobre um pedestal de granito com um metro de altura.

Que história, hein?


(continua amanhã)


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