Quarta, 26 de março de 2014 - parte 3

PORTO ALEGRE É ASSIM! - 4

A História da SAPA

Carlos Pires de Miranda*




Não saberia dizer exatamente como tudo começou. Sei, porque a coleção prova, que em muitas colunas assinadas em Zero Hora escrevi o quanto Porto Alegre ficava mais agradável no verão. Aquilo de trânsito sempre livre, de estacionar com facilidade, jamais enfrentar fila em restaurante, ir ao cinema e poder se esparramar na poltrona, uma fileira inteirinha só para a gente...
Lembro que um peso-pesado, Verissimo ou Scliar, não sei ao certo, comentou o caso espirituosamente. E não tardou para que se fizesse um coquetel no Chalé da Praça 15 e dali surgisse a Sociedade Amigos de Porto Alegre (SAPA), irônica provocação às sociedades amigos disso e daquilo que pululavam pelo litoral. Adesões em massa, diretoria eleita, a informal, quase anárquica sociedade ganhou corpo.
Dez anos depois, quatro horas de uma tarde calorenta de janeiro, programa do Ruy, na Gaúcha.
Em torno da mesa encontro Tânia Carvalho, Zé Antônio Pinheiro Machado e o publicitário Jesus Iglesias, então presidente da SAPA. Por quase uma hora somos todos unânimes nos elogios a Porto Alegre no verão. E nas discretas farpas endereçadas aos que gostam de água fria, do mar marrom, do trânsito congestionado, do Nordestão carregando barracas e pessoas com menos de 60 quilos na beira da praia, etc.
O Jesus mais ouvia do que participava, parecia constrangido. Até ser desmascarado – ele, com criança pequena em casa, fora visto em Capão Novo. Num ato insano, arranca de sua heróica leva-tudo um conjunto de dois clipes, três bolachas de chope com pouco uso, um lápis número dois, que constituíam o patrimônio da SAPA. Joga tudo em minha direção e me designa novo presidente.
Mas não tinha mais jeito. Aos poucos, os associados famosos foram migrando para o litoral. A Tânia tinha casa em Torres, o Pinheirinho andou por lá lançando um livro, descuidou-se e acabou comprando apartamento. Jesus Iglesias chegou a ser eleito síndico de seu prédio na praia, o Ruy rendeu-se à vontade dos netos e aos encantos de Garopaba, só não vai se o futebol obriga.
Por aqui, em valente resistência, mantinham-se Clovis Duarte, cuidando do seu jovem Câmera 2 (que acaba de completar 18 anos), um advogado amigo nosso que não veraneava porque sua sogra – argentina – iria junto, este colunista e sabe Deus mais quem. Este ano caíram os derradeiros bastiões: o advogado construiu uma casa tão grande que não encontra a sogra desde dezembro, quando levou comida a ela pela última vez; Clovis anda em Atlântida, filhinho de seis anos pela mão à guisa de salvo-conduto.
Não sei quantos ainda somos. Sei que somos muitos, todos orgulhosos veranistas de Porto Alegre. Sei que os bares da moda sempre têm lugar, que aqui ainda restam mulheres bonitas e bronzeadas – embora insistam em não andar de biquíni no Parcão – que o trânsito flui facilmente em qualquer horário, que aos domingos se pode atravessar a 24 de outubro sem olhar para os lados.
E que tudo isso é bom demais.

* Jornalista e advogado, colunista do Jornal do Comércio

(Dezembro de 2005)

Um comentário:

  1. Inteiramente de acordo! Porto Alegre, no período começando mais ou menos ali uma semana antes do Natal e que vai até o carnaval, é uma maravilha! Poderia ser melhor ainda se os vestibulares fossem remarcados pra outra data ou que fossem realizados em outro lugar...sei lá, já que tão todos nas praias, que os vestibulares se dessem lá! A UFRGS não tem qualquer coisa em Tramandaí?! A PUC também não tem algum curso em Torres? Então! Tá resolvido!

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