Sexta, 26 de maio de 2023

 

NÃO LEVE A SÉRIO
QUEM NÃO SORRI!

 


RESISTA À TENTAÇÃO
DE SER IGUAL AOS OUTROS



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FORA LULA!!
FORA DILMO!!



EU JURO QUE
ACONTECEU (1)



No verão de 1974, fevereiro, resolvemos passar o carnaval em Camboriú. Rimon Rosek, Henrique Hoves e eu, com pouquíssima grana, encaramos a estrada no meu potente Volkswagen TL 1971, que também serviria de hotel. Naquela época não existiam hostels no nosso país.  As acomodações... horrível, porque eu e o Rimon tínhamos mais de um metro e oitenta. O Henrique, com menos de um metro e setenta, se arrumou bem no banco traseiro.

Nas manhãs, quando acordávamos, logo que o sol aparecia, as pernas custavam a funcionar. Calção vestido, íamos direto ao mar, para acordar. Nada como acordar com uma paisagem daquelas. Como bons farofeiros, aquelas brincadeiras bobas com areia. Lá pelas tantas, no primeiro dia, quando a praia estava lotada, mais do  meio-dia, resolvemos sair. Entrar no carro? Nem pensar. Conseguimos um boteco, numa rua lateral, tomar banho por um preço absurdo – pelo menos para nós.

Sábado de carnaval. Conseguimos uma festa num bar/restaurante muito legal. Como já tínhamos lanchado e tomado todas, dispensamos a mesa. E ficamos numa mesa de paulistas.  Uma baita festa, muitas meninas no nosso entorno – afinal, os paulistas baixavam muito uísque e nós éramos sempre servidos.

Nos demais dias de carnaval fomos a um clube – novamente não me peçam detalhes.

Na segunda, chegamos no carro e já estava clareando, Aí contamos os pilas e praticamente só tínhamos o dinheiro da gasolina. Tentei dormir e nada. Olhei para os dois e estavam de olhos abertos.

- Vamos embora?

Liguei o possante, paramos num posto de gasolina e pegamos a estrada. Já tinha andado bastante quando me deu sono. Sono mesmo. Parei na beira da estrada e desmaiei. Quando acordei, ao lado do carro, tinha uma guriazinha com uma bacia e uma toalha para. Jamais tinha visto uma gentileza igual. Juntamos o que tínhamos e dei pra guria. Ela abriu um baita sorriso.

Só eu dirigia.

Chegamos na casa do Rimon pouco depois do meio-dia. A família ainda não tinha almoçado e nos juntamos a eles. Deixo bem claro que tomamos K-Suco, com a fabulosa comida libanesa de dona Vitória, a mãe do Rimon.

Henrique e eu saímos pra encarar os 100 quilômetros da friuei. Já planejávamos como seria a noite em Porto Alegre.

Numa passarela no município de Cachoeirinha paramos na sombra e dormimos. Não foi uma longa parada.

Lembro bem que acordei, o Henrique ainda dormia, e liguei o carro. Primeira, segunda, terceira... quando coloquei a quarta perdi o controle do possante. Entrou no acostamento e encarou o barranco. Eu não tinha controle. Quando passou numa espécie de arroio ou riacho, sei lá, a porta se abriu e eu fui jogado para o alto e caí. O TL continuou até que capotou, bem adiante onde eu tinha ficado.

Me toquei e estava aparentemente bem. Só a perna direita doía um pouco. Tentei levantar e não consegui porque a dor ficou insuportável. Só que caí dentro do riacho. Do peito pra cima estava dentro do riacho, apoiado pelos cotovelos. Pensei que não iria durar muito ali.

Quando olhei para o lado direito, acima da minha cabeça, vi um homem preto, de chapéu de palha.

- O que aconteceu, moço?

- Meu carro capotou. Vai me tirar daqui?

Ele me puxou com muita facilidade de dentro da água. Pude ver que estava com uma camisa xadrez. Segundos depois aparece um cara loiro e outro mais velho. Foram eles que encontraram o Henrique, que estava embaixo da porta do lado direito, desacordado.

Vários carros pararam, inclusive um ônibus vazio. Pois deram um jeito e nos colocaram dentro do ônibus.

Nos largaram no Pronto Socorro.

Quando já estava no Hospital São Francisco, aguardando a cirurgia, recebi a visita, o cara loiro e o pai. Aí perguntei a eles:

- Me diz, vocês chegaram a falar com o velhinho que me tirou de dentro daquele riacho?

- Não, nós fomos os primeiros a chegar.

- OK, mas o velhinho me tirou de dentro da água.

Aí o pai me disse:

- O meu filho foi o primeiro a chegar onde estavas e eu cheguei logo depois.

Não tentei mais argumentar, mas durante todo o tempo jamais perdi a consciência.

Com o passar dos anos descobri que aquele homem de chapéu de palha é um dos meus anjos da guarda. Sei até o seu nome.

Não quero que ninguém acredite, mas isso foi rigorosamente o que aconteceu há quase 50 anos.

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