Sexta, 28 de agosto de 2020




Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
Ou melhor, o meu lado sou eu
...
ANDO DEVAGAR
PORQUE JÁ TIVE PRESSA





Escreva apenas para






especial

Nesta sexta, uma cesta
de Luiz Coronel!






Afinal, que Coronel sou eu
e que comando tenho sobre minha alma
desguarnecida cidadela,
se dos mosquetões só saltam flores
e há um pierrô de sentinela?















Na infância o pai é o herói. Na adolescência somos convidados a molestar e até mutilar nosso mito. Adultos faremos a síntese, o pai não é o herói nem o vilão, é um ser humano, com sua grandeza e fragilidade, mas tudo que nele foi carinho, cuidado, dedicação toma forma de amor e encantamento em nosso coração!





Nas minhas palestras o público bate palmas de pé.
Quando faltam cadeiras.





Luiz Coronel (Luiz de Martino Coronel) nasceu em 16 de julho de 1938, em Bagé. É publicitário, poeta, escritor, professor, compositor, advogado. Ocupa a cadeira 26 da Academia Rio-Grandense de Letras.
Cidadão Emérito de Porto Alegre e Piratini.
Foi Patrono em mais de 20 feiras do livro.



Coronel veio para Porto Alegre com o objetivo de estudar Direito e Filosofia. Logo que chegou vendia polígrafos na frente do prédio do Curso Mauá, onde tornou-se mais tarde professor.

Entrou para a propaganda em 1963, para ser redator na agência Vox Publicidade. Após concluir Direito, exerceu a magistratura de 1965 a 1970. Foi professor de Teoria Geral do Estado na Faculdade de Ciências Jurídicas, por 12 anos. No entanto, o poeta, o escritor e o compositor prevaleceram, mesmo ele se dedicando a propaganda.

 Em 1971, fundou a Êxitus Publicidade, com Plínio Monte e Ricardo Campos, atuando como diretor de criação da agência até 1999. Neste mesmo ano fez sociedade com os publicitários Alberto Freitas e Roberto Philomena, fundando a Agência Matriz.

Na Rádio Continental produziu os textos de humor crítico em relação aos "anos de chumbo". Tem-se como verdadeiro criador de uma linguagem afetiva e poética com a qual consolidou a propaganda e a imagem do grupo Zaffari. Atualmente é diretor institucional da Agência Matriz.


Foi presidente do Festival Mundial de Propaganda (1996), presidente da Associação Latino-Americana de Propaganda - Nacional (1999), presidente da Associação Latino-Americana de Propaganda – Internacional (2001-2005) e é atual presidente emérito da Associação Latino-Americana de Propaganda.

De amores sempre findam, das dores que não terminam

Com mais de 70 obras, recebeu prêmios no Brasil, Espanha e México (Prêmio Nacional de Poesia, MEC 1973, com a obra Mundaréu) e tem edições traduzidas para o inglês e alemão. Destaque para a produção da Coleção Dicionários, projeto de sua criação para o Grupo Zaffari Cada um dos dicionários envolve 42 profissionais. Dentre os autores dicionarizados estão William Shakespeare, Machado de Assis, Gabriel García Mârques, Mario Quintana, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Erico Veríssimo, Guimarães Rosa, Luis Fernando Veríssimo, Miguel de Cervantes, Clarice Lispector.



A série de livros infantis "Coleção Esquilo" chega a sua sétima edição, atingindo mais de 100 mil exemplares distribuídos nas feiras do livro infantil, feira do livro de Porto Alegre, ônibus da Carris, no dia da criança. "A Comédia Gaúcha" é um projeto à moda Bocaccio, ou seja o anedotário popular interiorano e campesino do Rio Grande do Sul escrito com zelo literário, como o fizeram Simões Lopes Neto, Elvo Piccoli e tantos outros contadores de causos.

Algumas obras

1973 - Mundaréu – Editora Garatuja
1978 - Pensamentos Azuis – Editora Garatuja
1981 - Buçal de Prata – Editora Tchê
1984 - Os Retirantes do sul - Editora Movimento
1987 - Os Cavalos do Tempo – Editora Tchê
1987 - Lunarejo - Editora Tchê
1988 - Cinco Ensaios Incontidos - Editora Tchê
1991 - Baile de Máscaras - Editora Tchê
1993 - Pirâmide Noturna – Editora Tchê
1994 - Clássicos do Regionalismo Gaúcho - Editora Tchê
1997 - Um Girassol na Neblina – Exitus Editora
1999 - Álbum de Retratos – WS Editor
2000 - Poemas de Natal – textos, ilustrações e CD - Mecenas Editora
2000 - O Legado das Missões – Fotografias - WS Editor
2001 - Coração Farroupilha – edição luxo com CD – Mecenas Editora
2001 - Concerto de Cordas - Antologia Poética de Luiz Coronel – Imago Editora/RJ
2001 - Amor Seja Lá como For – L&PM Editores
2003 - Sabores de Uma Grande História, com César Guazelli.
2004 - Um País no Coração - Mecenas Editora




2005 - Um Querubim de Pantufas – Mecenas Editora
2006 - Vinte Poemas de Amor e uma Balada Indagativa – Mecenas Editora
2007 - Recreio da segunda infância - Mecenas Editora
2009 - Palmas para o teatro - Mecenas Editora
2009 - Retratos da terra - Mecenas Editora
2010 - Quirelas e cintilações - Mecenas Editora



2011 - O Mar - Mecenas Editora
2012 - A esperança e o desalento, poesia social de Luiz Coronel - Mecenas Editora
2012 - Dicionário Amoroso de Luiz Coronel - Mecenas Editora
2013 - Luiz Coronel, Um cronista inesperado - Mecenas Editora
2014 - Amar o mar - Mecenas Editora



2015 - A Revolução Farroupilha - Mecenas Editora - Ilustração Danúbio Gonçalves

2016 - A geração Polegar - Mecenas Editora - "Crônicas envolvendo,sombras e luzes sobre o ano inquietante"
2019 - Forma Fêmea dos Figos - com ilustrações de Heloisa Beckman

Coleção Esquilo

1998 - Ave fauna   recebeu prêmio da revista mexicana Plural
2010 - A eleição dos animais
2011 - Declaração Universal dos Direitos Animais, com capa e ilustrações do colombiano Pedro Lopes



2012 - O Dia da inauguração do Mundo
2013 - Saturnino desce ao pampa 5° volume
2014 - Negrinho do Pastoreio
2015 - Dom Quixote, memórias de um cavaleiro andante
2016 - Venturinha, o amigo do vento

1997 - Portfólio Poético e Documental do Rio Grande do Sul
Volume 1 - Porto Alegre que Bem Me Faz o Bem que Te Quero
Volume 2 - Cidades Gaúchas
Volume 3 - Pampa Gaúcho, a Terra e o Homem

A Comédia Gaúcha – Quinteto do humor pampeano



2002 - O Cavalo Verde – edição luxo e brochura com CD – Mecenas Editora
2003 - O Cachorro Azul – edição luxo e brochura com CD – Mecenas Editora
2005 - O Gato Escarlate – Mecenas Editora



2011 - Filé de Borboleta - Mecenas Editora

2017 - O dia em que o major Alarico virou estátua - Mecenas Editora

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Lua Cheia

Duas gotas de sangue nas dunas,
duas rosas rubras na areia.
Se foi prazer ou suplício,
sabe o amor e a lua cheia.

Foi de amor esse gemido?
Ou foi de gozo esse grito?
Sabem tudo e nada dizem

as estrelas no infinito.

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Gaudência Sete Luas



A lua é um tiro ao alvo
e as estrelas bala e bala.
Vem minuano e eu me salvo
no aconchego do meu pala.

Se troveja a gritaria,
já relampeja minha adaga.
Quem não mostra valentia
já na peleia se apaga.

Marquei a paleta da noite
com o sol que é ferro em brasa.
O dia veio mugindo,
pra se banhar n'água rasa.

Pra me aquecer mate quente,
pra me esfriar geada fria.
Não vai ficar pra semente

quem nasceu pra ventania

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Leontina das Dores




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Amigos


Assis Brasil, Moacyr Scliar, Luis Fernando Verissimo
e Luiz Coronel no Museu do Sapato, em Novo Hamburgo

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Bicho Macho

Machista como Seu Tertuliano D’Ávila pode haver igual; mais machista, nem que a vaca tussa. Imagine. Na noite de núpcias com Dona Mimosa, se deitou no chão e disse: pisa em cima de mim agora. Se não pisar agora, não pisa nunca mais.

Para comemorar os 25 anos de casado, Seu Tertuliano foi ao aviário do Tibiriçá Mendes procurar uma papagaia. E foi logo dizendo:

– Na minha casa, macho basta eu e já é uma porção satisfatória. Na minha fazenda quem canta de galo sou eu. E não tem cachorro, só cadela.

Touro não tem, só vaca. E por aí foi seguindo a ladainha. Seu Tibiriçá em vão argumentou das dificuldades dessa definição de sexo. Na verdade nunca ouvira a palavra papagaia, a não ser por referência e apelido de uma vivaracha que deitou Canabarro nos pelegos e botou a perder a Revolução Farroupilha.

– Mas deixa estar, que isso são outras escaramuças – disse o fazendeiro. – Fico por aqui mateando e cuidando os modos e proceder dos bichos. Quando se pegarem de namoriscos, sei bem quem é quem pela conduta do que quer muito e da que faz que não quer. Isso vale pra jaguatirica, lebre, vale pra homem e mulher.

Treze horas depois, começaram a se empoleirar. Rápido e rasteiro, o homem deu uma volteada de fita vermelha em torno do pescoço do bicho que ficara por baixo nos entreveros. Enrolou a papagaia num jornal e se foi no rumo das casas.

Como é normal com os psitacídeos, com a mudança de querência o bicho se aquietou num bárbaro silêncio. De manhãzinha, o gaúcho se acordou, deu uma sacudida de água nas bochechas, fez um gargarejo e fez chover pela janela.

Calmamente, como era de seu feitio, foi pondo as pilchas. A relação homem/pássaro era uma operação de reconhecimento. Seu Tertuliano, de olho atento, se vestia. Meias, bombacha, botas, cinturão, guaiaca, camisa branca. Na hora em que ia dar as voltas no rubro lenço Maragato para afeitar o pescoço, o louro rompeu o mutismo radical e, atrevido, numa exclamação contundente lascou:

– Mas o que é isso companheiro, quer dizer que te cobriram também!

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Padre Ludovico,
o espanador de pecados

Os dias corriam, em trote lento, quando se arranchou em Soledade o padre Ludovico Borghesi. Os pecados estavam em banho-maria à espera de uma alma sacramenta que lhes viesse conceder perdão e penitência. O padre caiu na cidade qual bergamota no pátio do recreio. Era um gringo buona gente, contente de ter nascido. O Capitão Caraguatá, anticlerical de boa cepa, estabanava dizeres: "Não se deve dar trela pra essa gente que tempera churrasco em gamela". À bem da verdade, nem bem os sinos repicavam, a igreja botava gente até na sacristia. O salão enfeitava-se de bandeiras para as jantarocas paroquiais.

Em matéria de castidade, Padre Ludovico ia muito além dos mandamentos do Senhor. A moçada quando vinha fazer uma boca no salão paroquial levava seus discos de vinil. Nas férias, o filho do vice-prefeito apareceu com discos de um tal de Lupicínio. Padre Ludovico ficou de orelha em pé. Não era música apropriada pra ganhar guarida no ouvido das moças donzelas. A las tantas, a voz do Jamelão soltou: "De dia me lava roupa, de noite me beija a boca". O cura sentiu que não era fácil por freio no potro arredio da sensualidade. Mas o diabo faz a panela, mas não faz a tampa. Fim de festa, solito no más, munido de um canivete, o padre raspou o disco, exatamente no giro das indecentes intimidades.


Pois foi num sábado de maio, após polentas e galetos, que deram-se os fatos até hoje alcançados por cima dos muros. Após tarantelas e pudicas canções, muchachos e prendas se puseram a ouvir e cantarolar o tal Se acaso você chegasse. Quando os anjos se distraem, o diabo toma dianteira. Gira o samba amoroso e safado, quando a agulha bailou nas curvas fatais do disco de vinil, para espanto e riso geral se fez ouvir: "De dia me lava roupa... de noite Fuc! Fuc! Fuc! Fuc! Fuc!". Padre Ludovico deu com os burros n'água. De mãos erguidas aos céus, bradava: "Mama Mia, Porca la Miseria!". A moçada, embalada em cantorias, clamava pelo padre Ludovico: "Amigo, boleia perna, puxe o banco e vá sentando...".


9 comentários:

  1. Excelente escolha para esta sexta-feira. Sou fã do Luiz Coronel, de sua poesia, seus textos, e até do seu jeito tranquilo de falar. Acredito que seja uma experiência incrível bater um papo com ele, sobre qualquer assunto.

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  2. Que bela cesta com o Coronel! Gosto muito do trabalho dele.

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  3. Esta Sexta-feira não poderia ser melhor. Luiz Coronel no Blog e a SAÍDA DO JUREMIR DA GUAIBA. QUE FELICIDADE.

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    1. Concordo plenamente. Só acho que o funcionário da Universal poderia sair também do Correio.

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  4. Talvez, nosso maior poeta depois do Quintana. Adorava curtir seus poemas, curtos, (muitos dos quais musicados e tranformados em sucesso nacional) numa época em que era leitor do falecido CP.

    Prévidi, Cadê a 'Edição Extra do Blog' para repercurtir a saída do Juremir Machado e do Nando?; E as novidades? Será que ainda tem salvação? Volta Rogério Mendelski!!!

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  5. Linda homenagem ao nosso Porta Luiz Coronel! Que nos brinda com a profusão de sua poesia nas campanhas publicitárias do Zaffari. Privilégio ser seu contemporâneo. Viva!

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  6. Essa notícia do desligamento do Juremir Machado da Rádio, ex havana, Guaíba, mostra que estão desinfetando a emissora. Não que um lada ou outro estão certos, no fundo nenhum. Mas nos últimos anos estava demais a tendência só para um lado.
    Essa ilusão e conto da sereia da esquerda não cola mais e essa nova política hoje do país, que de nova não tem nada, no fundo é a mesma coisa. Só que em tese, até o momento, parece que roubam menos. Política aqui neste país não é para amadores, mas os demagogos estão com os dias contados.

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    1. Depois de sair da Rádio Havana o Juremir poderia também ser demitido do jornal Granma.

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  7. Uma, curtinha, do Luiz Coronel, 'Mulheres, as mulheres são muito doenteiras mas pouco morredoras!'
    Genial!

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