Sexta, 23 de abril de 2021

 

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...

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especial

Nesta sexta, uma cesta 
de 
F. Scott Fitzgerald! 





Autor de um dos mais
importantes romances americanos





Uma grande cena de O Grande Gatsby:




Mostre-me um herói e eu escreverei uma tragédia.

Na noite profunda e escura da alma, são sempre três horas da madrugada.

Não beber é uma grande vantagem quando se está ao redor de pessoas que bebem muito.





F. Scott Fitzgerald (Francis Scott Key Fitzgerald) nasceu em 24 de setembro de 1896, em Saint Paul, Minnesota, Estados Unidos. Foi um brilhante romancista, poeta e roteirista, considerado um dos mais importantes escritores americanos. De família católica irlandesa, Francis aos 13 anos, escreveu The Mystery of the Raymond Mortgage, uma história sobre um detetive, que foi publicada no jornal da escola.


Depois de ter passado por uma escola católica, ingressou em 1913 na Universidade de Princeton, mas apostou mais no desenvolvimento da literatura do que a estudar as matérias do seu curso. Em 1917, por exemplo, escreveu argumentos e letras para espetáculos musicais e textos humorísticos para revistas.


Sem interesse pelo curso, ainda em 1917 alistou-se no exército, onde chegou a segundo-tenente. Os Estados Unidos estavam na Primeira Guerra Mundial e Fitzgerald acreditava que ia morrer em combate. Por isso, escreveu rapidamente o romance The Romantic Egoist.

Começou a carreira literária em 1920, com This Side of Paradise (Este Lado do Paraíso), romance que lhe deu grande popularidade e lhe abriu espaço em publicações de grande prestígio, como a Scribner's e o The Saturday Evening Post. Seu segundo romance, The Beautiful and Damned (Belos e Malditos), foi publicado em 1922.


Com a esposa, Zelda Sayre, que traria um componente trágico na vida do escritor, Fitzgerald mudou-se para a França, onde concluiu o terceiro e o mais célebre de seus romances, em 1925, The Great Gatsby. Essa obra, uma das mais representativas do romance americano, descreve a vida em alta sociedade com uma aguda reflexão crítica. Em 1934 publicou "Suave é a Noite", romance pungente que o autor considerava sua melhor obra.

Com a saúde já abalada pelo alcoolismo, Fitzgerald mudou-se então para Hollywood, onde trabalhou como roteirista cinematográfico. Em 1939 começou a escrever seu último romance, O Último Magnata, publicado postumamente em 1941. A obra era sua última tentativa de retratar a personalidade de um grande artífice do sonho americano.

Fitzgerald tinha sido um alcoólatra desde os tempos de faculdade, e tornou-se famoso na década de 1920 pelas bebedeiras. Os Fitzgeralds se tornaram o casal mais badalado de Nova York na Era do Jazz. Com uma vida regada a festas e muita bebida, o casal tinha que escrever contos para revistas para se sustentar e Scott até mesmo vendeu os direitos de suas obras para Hollywood.


Em 1925, Scott conhece Ernest Hemingway, de quem se torna um grande amigo, apesar de Zelda e Hemingway se detestarem. A vida do casal continua marcada por conflitos e, nos anos de 1930, Zelda é diagnosticada com esquizofrenia e internada em hospitais psiquiátricos diversas vezes. Scott nunca parou de escrever, mas o sucesso de seu primeiro romance nunca foi repetido. Ele também foi hospitalizado diversas vezes por causa do alcoolismo.

De volta aos Estados Unidos, em 1931, internada por causa de sua doença mental, Zelda escreve Save Me the Waltz, um romance semi-autobiográfico sobre sua conturbada relação com Scott, o que o deixa furioso. O motivo? Ela usou trechos dos próprios diários que Scott pretendia usar em obras futuras. Ele então obriga Zelda a remover tais trechos de seu livro, que é publicado.


Em 1937, Scott volta a Hollywood sem Zelda para trabalhar para um estúdio de cinema. Lá, tem um caso conturbado com Sheilah Graham, uma crítica de cinema. Em 39, Fitzgerald começa a trabalhar de forma freelancer e escreve um bom número de histórias curtas. Com uma má-reputação e alcoolismo não tratado de tantos anos, sua saúde mental e física se deteriora.

De acordo com o biógrafo de Zelda, Nancy Milford, Fitzgerald afirmou que ele havia contraído tuberculose, mas Milford acreditou que era um pretexto para encobrir seus problemas com a bebida. No entanto, o estudioso Matthew J. Bruccoli afirma que Fitzgerald tinha, de fato, a tuberculose recorrente e o biógrafo Arthur Mizener disse que Fitzgerald sofreu um ataque leve de tuberculose em 1919, e em 1929 tinha "o que provou ser um hemorragia tuberculosa".

Fitzgerald sofreu dois ataques cardíacos no final de 1930. Após o primeiro foi obrigado pelo seu médico a evitar esforços. 

Em 21 de dezembro de 1940, Fitzgerald comeu uma barra de chocolate e fez anotações. Sheilah  o viu levantar da poltrona, perto da lareira, suspirar e cair no chão. Ela foi buscar o administrador do prédio. Ao entrar no apartamento para ajudar Fitzgerald, ele disse: "Tenho medo que ele esteja morto". Morreu de um ataque cardíaco aos 44 anos. Seu corpo foi levado para o necrotério Pierce Brothers.


Foi sepultado em Old Saint Mary's Catholic Church Cemetery, Rockville, Maryland no Estados Unidos.



Eu não estava realmente apaixonado, mas eu senti algo como uma terna curiosidade.



Obras


Romances

Este Lado do Paraíso
Belos e Malditos
O Grande Gatsby
Suave é a Noite
O Último Magnate

Coletâneas de contos

Flappers and Philosophers (1920)
Tales of the Jazz Age (1922) (
All the Sad Young Men (1926)
Taps at Reveille (1935)
Babylon Revisited and Other Stories (New York: Scribners, 1960)
The Pat Hobby Stories (Esquire Magazine, 1940–41)
The Basil and Josephine Stories (New York: Scribners, 1973)
The Short Stories of F. Scott Fitzgerald (New York: Scribners, 1989)
The Price Was High: Fifty Uncollected Stories (New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1995)

Contos notáveis

Bernice Bobs Her Hair (1920) (em Flappers and Philosophers)
Head and Shoulders (1920) (em Flappers and Philosophers)
The Ice Palace (1920) (em Flappers and Philosophers e Babylon Revisited and Other Stories)
The Offshore Pirate (1920) (em Flappers and Philosophers)
The Curious Case of Benjamin Button (1921) (em Tales of the Jazz Age)
Sonhos de Inverno - no original Winter Dreams (1922) (em All the Sad Young Men)
The Baby Party (1925) (em All the Sad Young Men)
The Freshest Boy (1928) (em Taps at Reveille)
The Bridal Party (1930)
A New Leaf (1931)
Babylon Revisited (1931) (em Babylon Revisited and Other Stories)
Crazy Sunday (1932) (em Babylon Revisited and Other Stories)

Outras obras

The Vegetable (peça de teatro, 1923)
The Crack-Up (ensaios e histórias, 1945)



Cuidado com o artista que também é um intelectual: é o artista que está a mais.



Para entender F. Scott Fitzgerald


O Grande Gatsby

"O Grande Gatsby" é um livro que marcou a história da literatura e se tornou um dos maiores clássicos do século XX. Publicado em 1925, após quase cem anos de sua estreia, a história de Jay Gatsby continua a unir fãs do mundo todo, e já foi adaptada ao cinema, teatro e ópera. No centro da história estão a riqueza, o jazz e o romantismo de Jay Gatsby por Daisy, uma aristocrata prima de Nick Carraway, o narrador. Gatsby é um grande anfitrião de festas regadas à música e bebidas alcoólicas, apesar da lei seca. Assim, o livro traz reflexões sobre essa geração, que almeja riqueza e diversão.

Suave é a Noite



“Suave é a Noite” é o quarto e último livro completo de Fitzgerald, publicado em 1934, que conta a história do brilhante e jovem psiquiatra Dick Diver, em que sua carreira acaba quando ele se casa com uma de suas pacientes, Nicole Warren. Ele foi escrito numa época muito difícil para Fitzgerald, logo após a internação de sua esposa, diagnosticada com esquizofrenia, e quando ele estava sem dinheiro.

Este Lado do Paraíso


"Este Lado do Paraíso" é o livro de estreia de Fitzgerald, e também se passa nos Estados Unidos do século 20. Publicado no ano de 1920, o livro retrata a geração perdida, os jovens que vivem iludidos no pós-guerra e que são marcados pela irreverência e elegância. Amory Blaine é o protagonista, um garoto privilegiado, obcecado por prestígio social e com aspirações literárias. Prestes a ir para a Universidade de Princeton, ele vive seu tempo entre namoros, clubes e festas. "Este Lado do Paraíso" possui tom autobiográfico e trata a imaturidade e insensatez daquela geração.

O Último Magnata


“O Último Magnata” é o quinto livro de Fitzgerald e que nunca foi finalizado. Publicado em 1944, a obra conta a história de Monroe Stahr, um magnata da indústria do cinema que ascende rapidamente a Hollywood e possui conflitos com o dono do estúdio, seu rival Pat Brady. O livro foi concluído pelo estudioso Edmund Wilson, que reuniu os manuscritos e ensaios que o escritor deixou para sua última obra.

Os Belos e os Malditos


Segundo livro do escritor, “Os Belos e os Malditos” foi publicado em 1922 e retrata a elite americana da era do jazz. Seus personagens, o casal Anthony Patch e Glória, são complexos. O livro, que conta uma história de amor, de riqueza, de excessos, de beleza e de insensatez, é inspirado na relação entre Fitzgerald e Zelda, sua esposa.



E assim prosseguimos, barcos contra a corrente, arrastados incessantemente para o passado.



Ernest Hemingway dá conselhos
a Scott Fitzgerald (em carta)



Caro Scott,

Gostei e não gostei. Começa com aquela descrição maravilhosa da Sara e do Gerald (droga, o Dos [Passos] levou o livro e eu fiquei sem referência. Portanto, se eu errar…). Depois você começa a brincar com eles, fazendo-os vir de onde não vieram, transformando-os em outras pessoas, e você não pode fazer isso, Scott. Se está escrevendo sobre pessoas reais não pode mudar os pais delas (elas são frutos dos pais e do que acontece com elas) não pode mostrá-las fazendo coisas que não fariam. Você pode escrever sobre você ou sobre mim ou sobre Zelda ou Pauline ou Hadley ou Sara ou Gerald, mas tem de mantê-los como de fato são e mostrá-los fazendo o que realmente fariam. Não pode mudar ninguém. Inventar é ótimo, mas você não pode inventar nada que não aconteceria na realidade.

É isso que se espera de nós em nossos melhores momentos — inventar — mas inventar com tanta verdade que acabe mesmo acontecendo.

Droga, você toma uma liberdade com o passado e o futuro das pessoas que acabam resultando em histórias irreais. Você, que sabe escrever melhor do que ninguém — que diabo. Scott, pelo amor de Deus, escreva e escreva com verdade, doa a quem ou a que doer, mas não faça essas concessões bobas. Você escreveria um livro ótimo sobre o Gerald e a Sara, por exemplo, se soubesse o bastante sobre eles e, se fosse verdade, eles não ficariam chateados por muito tempo.

Há passagens maravilhosas e ninguém escreve uma história tão bem quanto você, mas você inventou demais nesta aqui. Sem necessidade.

Em primeiro lugar, eu sempre disse que você não sabe pensar. Tudo bem, vamos admitir que você sabe pensar. Mas digamos que não saiba; então você tem de escrever, inventar a partir do que você conhece e respeitar os antecedentes das pessoas. Em segundo lugar, faz tempo que você só escuta as respostas para suas próprias perguntas. E com toda a sua capacidade, não precisa fazer isso. É isso que seca um escritor (todos nós secamos. Não é ofensa nenhuma), não escutar. Tudo vem daí. Ver, escutar. Você vê muito bem. Mas parou de escutar.

É muito melhor do que eu estou dizendo. Mas não é tão bom quanto você é capaz de fazer.

Você pode estudar Clausewitz e economia e psicologia e não vai lhe servir de nada quando está escrevendo. Somos péssimos acrobatas, mas damos bons saltos, e existem todos aqueles acrobatas que não saltam.

Pelo amor de Deus, escreva sem se preocupar com o que os caras vão dizer ou se vai ser uma obra-prima ou não. Eu escrevo uma página de obra-prima para cada noventa e uma páginas de merda. Tento jogar a merda no lixo. Você acha que tem que publicar qualquer bosta para ganhar dinheiro para viver. Tudo bem, mas se você escrever bastante e escrever bem, como sabe, vai produzir a mesma quantidade de obras-primas (como dizemos em Yale). Você não pode pensar que vai sentar e escrever uma obra-prima, e se você se livrasse do Seldes e daqueles caras que quase o arruinaram e os pusesse na rua, como você bem pode, e deixasse os espectadores gritarem quando é bom e vaiarem quando não é, seria ótimo.

Esqueça sua tragédia pessoal. Nós todos estamos fodidos desde o começo e você em especial tem de sofrer muito para ser um escritor sério. Mas quando estiver sofrendo use o sofrimento — não trapaceie. Seja fiel a ele como um cientista — mas não pense que uma coisa é importante porque acontece com você ou com algum dos seus.

A essa altura não vou achar ruim se você me xingar. Nossa, é maravilhoso ensinar os outros a escrever, a viver, a morrer, etc.

Eu gostaria de conversar pessoalmente com você sóbrio. Você estava tão bêbado em N.Y. que não fomos a lugar algum. Você não é uma personagem trágica. Eu também não sou. Tudo o que somos é escritores e tudo o que temos de fazer é escrever. Você é a criatura que mais precisava de disciplina no trabalho e foi casar justamente com uma mulher que tem ciúmes do seu trabalho, que quer competir com você e está destruindo você. Não é fácil e eu achei que a Zelda era louca assim que a vi pela primeira vez e você complicou ainda mais as coisas se apaixonando por ela, e naturalmente você é um pinguço. Mas não é mais pinguço que o Joyce e a maioria dos bons escritores. Mas Scott, os bons escritores sempre voltam. Sempre. Agora você é duas vezes melhor do que quando se achava maravilhoso. Tudo o que você precisa fazer é escrever de verdade e não se preocupar como o que vai acontecer.

Vá em frente e escreva.

De qualquer modo eu gosto um bocado de você e queria ter a oportunidade de conversar com você de vez em quando. A gente passou bons momentos conversando. Lembra daquele cara que estava morrendo em Neuilly e nós fomos visitar? Ele esteve aqui no inverno. Canby Chambers, um cara danado de bom. Passou muito tempo com o Dos. Agora ele está muito bem, mas um ano atrás esteve muito doente. Como vai a Scotty? E a Zelda? A Pauline manda beijos. Estamos todos bem. Ela vai para Piggott passar duas semanas com o Patrick. Depois traz o Bumby. Nós pegamos um bom barco. É uma longa história. Difícil de escrever.

Seu amigo de sempre

Ernest.


Eu não quero repetir a minha inocência. Eu quero o prazer de perdê-la novamente.

 


Babilônia Revisitada


E onde está o senhor Campbell?”, perguntou Charlie.

“Foi para Suí­ça. Ele está muito doente, senhor Wales.”

“Que pena. E George Hardt?”, continuou Charlie.

“Voltou para a América, para trabalhar.”

“E que fim levou o Pássaro da Neve?”

“Esteve aqui na semana passada. O amigo dele, senhor Schaeffer, está em Paris.”

Apenas dois nomes familiares numa longa lista de um ano e meio antes. Charlie rabiscou um endereço em seu bloco e rasgou a página.

“Se encontrar o senhor Schaeffer, dê-lhe isto”, disse. “À o endereço de meu cunhado. Ainda não me instalei num hotel.”

Na verdade, não estava desapontado por encontrar Paris tão vazia. Mas o marasmo no bar do Ritz era estranho e imponente. Já não era um bar americano ” sentia-se elegante ali, e não como se fosse o dono. Era um bar que voltara a pertencer à França. Pressentiu o marasmo assim que desceu do táxi e viu o porteiro, antes em frenética atividade naquela hora, fofocando com o chasseur na porta dos empregados.

Ao passar pelo corredor, ouviu apenas uma voz entediada, vinda da toalete feminina, em outros tempos tão ruidosa. Quando se encaminhou para o bar, atravessou os seis metros de carpete verde com os olhos fixos à frente, por força de hábito; depois, com o pé plantado no batente da porta, virou-se e contemplou a sala, encontrando apenas um par de olhos que surgiu por cima de um jornal, num canto. Charlie perguntou pelo barman Paul, que, nos últimos dias de alta na Bolsa, vinha para o trabalho em seu carro fabricado sob medida ” só que, educadamente, desembarcando na esquina mais próxima. Mas Paul estava hoje em sua casa de campo, e era Alix quem lhe passava as informações.

“Agora chega”, disse Charlie. “Ando devagar, esses dias.”

Alix felicitou-o. “O senhor estava exagerando na dose há uns dois anos.”

“E pretendo continuar devagar”, Charlie assegurou-lhe. “Já estou assim há um ano e meio.”

“Como estão as coisas nos Estados Unidos?”

“Há meses que não vou à América. Estou com negócios em Praga, fazendo umas representações. Eles não me conhecem por lá”.

Alix sorriu.

“Lembra-se da noite de despedida de solteiro de George Hardt?”, disse Charlie. “Por falar nisso, que fim levou Claude Fessenden?”

Alix baixou o tom de voz para uma confidência: “Está em Paris, mas não vem mais aqui. Paul não permite. Deixou uma conta de trinta mil francos, pendurou todos os drinques e almoços, e quase sempre o jantar, durante mais de um ano. Quando Paul finalmente lhe disse que ele tinha de pagar, Fessenden deu-lhe um cheque sem fundos”.

Alix sacudiu a cabeça com tristeza.

“Não entendo isso, um sujeito tão bacana. Agora está todo inchado…” Suas mãos estão redondas como uma maçã.

Charlie observou um grupo de mulheres estridentes instalando-se num canto.

Nada as afeta, pensou. As ações sobrem e descem, as pessoas vadiam ou trabalham, mas elas continuam firmes. O lugar o oprimia. Pegou os dados e apostou um drinque com Alix.

“Chegou há muito tempo, senhor Wales?”

“Há uns quatro ou cinco dias, para ver minha garotinha.”

“Ahhh…. O senhor tem uma filha?”

Lá fora, os neons vermelho-fogo, azul-gás e verde-fantasma piscavam esfumaçados através da chuva tranquila. Era um fim de tarde e as ruas estavam vivas; os bistros refulgiam. Na esquina do Boulevard dês Capucines, tomou um táxi. A Place de la Concorde se movia em rósea majestade; cruzaram o Sena, e Charlie sentiu a súbita atmosfera provinciana da Rive Gauche.

Charlie mandou o táxi seguir pela Avenue de L”Opéra, que estava fora de seu caminho. Mas queria ver a hora azul se espalhar pela magní­fica fachada e imaginar que as buzinas dos táxis, tocando interminavelmente os primeiros compassos de “La plus que lente”, eram os trompetes do Segundo Império. O portão de ferro da livraria Brentano estava sendo fechado, e as pessoas já começavam a jantar atrás da bem aparada cerca-viva do Duval. Ele nunca jantara num restaurante barato em Paris ” jantar com cinco pratos, a quatro francos e cinquenta, mais dezoito centavos se houvesse vinho incluí­do. Por alguma razão, gostaria de ter experimentado.

Ao rodar pela Rive Gauche e sentindo seu súbito provincianismo, pensou: Estraguei esta cidade para mim. Eu não percebia, mas os dias foram correndo, um atrás do outro, dois anos se passaram e tudo se acabou, inclusive eu.

(Fragmento de “24 Contos”. Tradução de Ruy Castro. Publicado pela Companhia das Letras em 2004.)


Nunca confunda uma única derrota com uma derrota final.

4 comentários:

  1. Prévido, que bela escolha,
    Francis Scott Fitzgerald, uma baita escritor, mas que vida complicada. Li, mais de vezes, seu quatro grande livros, inclusive o póstumo que me parece inacabado. Fitzgerald, filho do Geraldo, denota origem irlandesa. Dizem, não sei se está em sua biografia, que quando escrevia roteiros para Hollywood, bebia o dia inteiro sem nada comer, só bebendo, COCA-COLA! Legal. Há um filme da Netflix sobre o casal, um mais louco que o outro!

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  2. Tem um episódio completamente louco do casal, não sei se está no filme. Consta que um dia ela ligou para os bombeiros, gritando FOGO!! FOGO!! e deu o endereço. Não demorou muito e os bombeiros chegaram. Ela abriu a porta e o bombeiro, com a mangueira na mão, pergunta:
    - Onde é o fogo?
    Ela espalmou as duas mãos no peito e respondeu:
    - AQUI!!!

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  3. Zelda era completamente doente da cabeça!!

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  4. Boa tarde Previdi bom domingo.
    Já notaste que todas essas entidades que usam a palavra Democracia são tudo do contra?
    Sempre quando tem uma ação no juDiaciario contra qualquer coisa, la estão eles os defensores da democracia.

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