Sexta, 1ª de março de 2024

 

NÃO LEVE A SÉRIO
QUEM NÃO SORRI! 




NÃO SEJA GUERREIRO.
SEJA DA PAZ


minha preguiça
é maior do que a minha vontade


ANDO DEVAGAR
PORQUE JÁTIVE PRESSA
(e minhas pernas não permitem)


PLANEJE SEUS VOOS


ESCREVA APENAS PARA
jlprevidi@gmail.com


especial

nesta sexta, uma cesta de
José Mauro de vasconcelos


A "intelligentsia" brasileira despreza
um autor que vendeu dois milhões de
exemplares de apenas uma obra


Na outra encarnação eu vou querer nascer um botão.
Qualquer um. Mesmo que seja um botão de cueca.
É melhor do que ser gente e sofrer pra burro.


A OBRA PRIMA DE
JOSÉ MAURO


Este livro foi publicado em 1968.
Foi traduzido para 52 línguas em 19 países.
Adotado em escolas, já foi adaptado para      TV, teatro e cinema.



José Mauro de Vasconcelos________________

Nasceu no Rio de Janeiro em  26 de fevereiro de 1920.

De família nordestina, que migrou para São Paulo, os pais tinham poucos recursos. Ele, ainda criança, foi morar com  tios em Natal. Ingressando na Faculdade de Medicina mas abandonou o curso no segundo ano, retornando ao Rio de Janeiro. Trabalhou como carregador de bananas em uma fazenda do litoral do Estado, instrutor de boxe, e, devido ao belo porte físico, até garoto de programa. 

Em São Paulo, foi garçom de boate. Obteve uma bolsa de estudos na Espanha, mas não suportou a vida acadêmica. Abandonou os estudos depois de uma semana, preferindo conhecer a Europa. A atividade mais importante que exerceu foi junto aos irmãos Villas-Bôas pelos rios da região do Araguaia, conhecendo o ambiente inóspito e lutando pelos índios.

Lançou o seu primeiro livro, o romance Banana Brava, de 1942, onde trata dos homens do garimpo. Mas a obra não alcançou bons resultados na época, apesar de algumas críticas favoráveis. Rosinha, Minha Canoa, de 1962, marca seu primeiro sucesso. No livro Meu Pé de Laranja Lima, de 1968, seu maior sucesso editorial, é a sua experiência pessoal para retratar o choque sofrido na infância com as mudanças da vida. Foi escrito em apenas 45 dias.

O autor de romances tinha método originalíssimo. De início, escolhia os cenários onde se movimentariam seus personagens. Transportava-se então para o local, onde realizava estudos minuciosos. Para escrever Arara vermelha, por exemplo, percorreu cerca de "450 léguas no sertão bruto".

Em seguida, José Mauro dava asas às imaginação. Tinha uma memória que, durante longo tempo, lhe per­mitia lembrar dos mínimos detalhes do cenário estudado. "Quando a história está inteiramente feita na imaginação", revelava o escritor, "é que começo a escrever. Só trabalho quando tenho a impressão de que o romance está saindo por todos os poros do corpo. Então vai tudo a jato".

"Escrevo meus livros em poucos dias. Mas em compensação passo anos ruminando ideias. Escrevo tudo a máquina. Faço um capítulo inteiro e depois é que releio o que escrevi. Escrevo a qualquer hora, de dia ou de noite. Quando estou escrevendo entro em transe. Só paro de bater nas teclas da máquina quando os dedos doem. Só aí percebo quanto trabalhei. Sou um cara capaz de varar dias escrevendo até a exaustão.”

José Mauro trabalhou em diversos filmes, como Modelo 19, que lhe valeu o prêmio Saci como melhor ator coadjuvante, Fronteiras do Inferno, Floradas na Serra, Canto do Mar, do qual escreveu o roteiro, Na Garganta do Diabo, obtendo o prêmio Governador do Estado como melhor ator, A Ilha, conseguindo o prêmio de melhor ator pela Prefeitura, e culminando com Mulheres & Milhões, sendo laureado com o Saci de melhor ator do ano. Dos seus livros, Meu Pé de Laranja Lima, Vazante e Arara Vermelha foram filmados, assim como "Rua Descalça".

José Mauro morreu de broncopneumonia, em 24 de julho de 1984, aos 64 anos, em São Paulo.


OBRAS

Banana Brava (1942)

Barro Blanco (1948)

Longe da Terra (1949)

Vazante (1951)

Arara Vermelha (1953)

Arraia de Fogo (1955)

Rosinha, Minha Canoa (1962)

Doidão (1963)

O Garanhão da praia (1964)

Coração de Vidro (1964)

As Confissões de Frei Abóbora (1966)

O Meu Pé de Laranja Lima (1968)

Rua Descalça (1969)

O Palácio Japonês (1969)

Farinha Órfã (1970)

Chuva Crioula (1972)

O Veleiro de Cristal (1973)

Vamos Aquecer o Sol (1974)

A Ceia (1975)

O Menino Invisível (1978)

Kuryala: Capitão e Carajá (1979)


Matar não quer dizer a gente pegar revólver de Buck Jones e fazer bum!
Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um dia a pessoa morreu.


Um universo tão modesto acabou ganhando o mundo. Em 50 anos, Meu Pé de Laranja Lima vendeu mais de 2 milhões de exemplares só no Brasil, onde teve 150 edições nos mais variados formatos. Fez uma carreira invejável fora do País também: foi traduzida em 15 idiomas, entre eles, turco, coreano, catalão e mandarim. Foi publicada em 23 países, sendo que no Japão e na Coreia ganhou uma versão em forma de mangá (história em quadrinhos).



RESUMO DE
O MEU PÉ DE LARANJA LIMA

O livro, dividido em duas partes, é protagonizado pelo menino Zezé, um garoto comum, de cinco anos, natural de Bangu, periferia do Rio de Janeiro.
Muito esperto e independente, Zezé é conhecido pela sua malandrice e é ele quem narrará a história em O meu pé de laranja lima.
Devido a sua sagacidade, diziam que Zezé "tinha o diabo no corpo". O garoto é tão esperto que acaba, inclusive, aprendendo a ler sozinho. A primeira parte do livro se debruça sobre a vida do menino, as suas aventuras e as consequências dela.
A vida de Zezé era boa, tranquila e estável. Ele vivia com a família em uma casa confortável e tinha tudo o que era preciso em termos materiais, até que o pai perdeu o emprego e a mãe viu-se obrigada a trabalhar na cidade, mais especificamente no Moinho Inglês. Zezé tem três irmãos: Glória, Totoca e Luís.
Empregada em uma fábrica, a mãe passa o dia no trabalho enquanto o pai, desempregado, fica em casa. Com a nova condição da família, eles se veem obrigados a mudar de casa e passam a ter uma rotina muito mais modesta. Os Natais fartos de outrora foram substituídos pela mesa vazia e por uma árvore sem presentes.
Como a nova casa tem um quintal, cada filho escolhe uma árvore para chamar de sua. Como Zezé é o último a escolher acaba ficando com um modesto pé de laranja lima. E é a partir desse encontro com uma árvore franzina e nada vistosa que surge uma forte e genuína amizade. Zezé batiza o pé de laranja lima de Minguinho:
— Quero saber se Minguinho está bem.
— Que diabo é Minguinho?
— É o meu pé de Laranja Lima.
— Você arranjou um nome que se parece muito com ele. Você é danado para achar as coisas.
Zezé arruma também um apelido para Minguinho que dizia em privado, nos momentos em que sentia mais ainda mais afeto pela árvore: Xururuca. É Minguinho, ou Xururuca, que escuta as suas aventuras e os seus lamentos.
Como vivia aprontando, era recorrente Zezé ser pego em uma das travessuras e apanhar dos pais ou dos irmãos. Depois lá ia ele se consolar com Minguinho, o pé de laranja lima.
Numa das vezes que aprontou, Zezé apanhou tanto da irmã e do pai que precisou ficar uma semana sem ir à escola.
Além de Minguinho, o outro grande amigo de Zezé é Manuel Valadares, também conhecido como Portuga, e é sobre ele que girará a segunda parte do livro. O Portuga tratava Zezé como filho e dava toda a paciência e afeto que o garoto não recebia em casa. A amizade entre os dois não era partilhada com o resto da família.
Por uma fatalidade do destino, o Portuga é atropelado e morre. Zezé, por sua vez, adoece. E para piorar a vida do menino ainda decidem cortar o pé de laranja lima, que vinha crescendo mais do que era suposto no quintal.
A situação muda quando o pai arranja um emprego depois de um longo período em casa. Zezé, entretanto, apesar dos seus quase seis anos, não se esquece da tragédia:
“Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de Laranja Lima.”
A narrativa é extremamente poética e cada travessura do menino é contada a partir do olhar doce da criança. O ponto alto da história acontece ao final da narrativa, quando Minguinho dá a sua primeira flor branca:
Eu estava sentado na cama e olhava a vida com uma tristeza de doer.
— Olhe, Zezé. Em suas mãos existia uma florzinha branca.
— A primeira flor de Minguinho. Logo ele vira uma laranjeira adulta e começa a dar laranjas.
Fiquei alisando a flor branquinha entre os dedos. Não choraria mais por qualquer coisa. Muito embora Minguinho estivesse tentando me dizer adeus com aquela flor; ele partia do mundo dos meus sonhos para o mundo da minha realidade e dor.
— Agora vamos tomar um mingauzinho e dar umas voltas pela casa como você fez ontem. Já vem já.

INTERPRETAAÇÃO E
ANÁLISE DA HISTÓRIA

Apesar da sua pouca extensão, o livro O meu pé de laranja lima toca em temas chave para se pensar sobre a infância. Percebemos ao longo das breves páginas como os problemas dos adultos podem acabar por negligenciar as crianças e como as crianças reagem a esse abandono se refugiando em um universo particular e criativo.
Notamos também o caráter transformador do afeto quando essa mesma infância negligenciada é abraçada por um adulto capaz de acolher o até então abandonado (no caso da história contada por José Mauro de Vasconcelos essa personalidade é representada pelo portuga, sempre disposto a partilhar com Zezé).
O fato do livro ter rapidamente se expandido para além das fronteiras brasileiras (Meu pé de laranja lima foi logo traduzido para 32 idiomas e publicado em outros 19 países) demonstra que os dramas vividos pela criança no subúrbio do Rio de Janeiro são comuns a inúmeras crianças ao redor do globo - ou ao menos aludem a situações semelhantes. Como é possível perceber, a negligência infantil parece ter um caráter universal.
Muitos leitores se identificam com o fato do menino escapar do cenário real esmagador rumo a um imaginário que é um manancial de possibilidades felizes. Vale lembrar que Zezé não era apenas vítima de violência física como também psicológica por parte dos mais velhos. As piores punições vinham, inclusive, de dentro da própria família.
O livro abre os olhos do leitor para o lado sombrio da infância, muitas vezes esquecido diante da enorme quantidade de material que tem como tema a infância idealizada.

personagens principais
Zezé
Um menino travesso, de cinco anos, morador de Bangu (subúrbio do Rio de Janeiro). Super independente e curioso, Zezé vivia aprontando e apanhando quando era descoberto.

Totóca
O irmão mais velho de Zezé. É interesseiro, mentiroso e por vezes extremamente egoísta.

Luís
Irmão caçula de Zezé, era chamado pelo menino de Rei Luiz. É o grande orgulho de Zezé por ser independente, aventureiro e muito autônomo.

Glória
Irmã mais velha e muitas vezes protetora de Zezé. Está sempre a postos para defender o caçula.

Pai
Frustrado com o desemprego e desiludido com a incapacidade de sustentar a família, o pai de Zezé acaba sendo impaciente com os filhos. Também costuma beber com muita frequência. Quando tenta disciplinar as crianças faz uso da força e algumas vezes se arrepende das surras que dá.

Mãe
Extremamente cuidadosa e preocupada com os filhos, a mãe do Zezé quando percebe a situação financeira complicada da família arregaça as mangas e vai trabalhar na cidade para sustentar a casa.

O portuga
Manuel Valadares trata Zezé como um filho e enche o menino de carinho e atenção que muitas vezes o garoto não recebe em casa. Era rico e tinha um carro de luxo que dizia para a Zezé que pertencia aos dois (afinal de contas os amigos dividem, dizia ele)

Minguinho
Também conhecido como Xururuca, é o pé de laranja lima do quintal, grande amigo e confidente de Zezé.=

CONTEXTO HISTÓRICO

No Brasil vivíamos tempos duros durante as décadas de 1960 e 1970. A ditadura militar, implantada em 1964, era responsável por manter uma cultura repressora, que perpetuava o medo e a censura. Felizmente a criação de José Mauro de Vasconcelos não sofreu qualquer tipo de restrição.
Por enfocar mais no universo infantil e não abordar propriamente nenhuma questão política, a obra passou pelos censores sem apresentar qualquer tipo de problema. Não se sabe ao certo se o desejo de mergulhar no universo da infância surgiu de um desejo de mergulhar no universo autobiográfico ou se a escolha foi uma necessidade para fugir da censura, que na época não se preocupava tanto com o universo infantil. De toda forma, vemos no cotidiano do protagonista de José Mauro, como o menino sofria repressões (não pelo governo, mas dentro da própria casa, pelo pai ou pelos irmãos). As formas de sanção eram tanto físicas quanto psicológicas, observe o trecho abaixo:
"A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua. Totóca vinha me ensinando a vida. E eu estava muito contente porque meu irmão mais velho estava me dando a mão e ensinando as coisas. Mas ensinando as coisas fora de casa. Porque em casa eu aprendia descobrindo sozinho e fazendo sozinho, fazia errado e fazendo errado acabava sempre tomando umas palmadas. Até bem pouco tempo ninguém me batia. Mas depois descobriram as coisas e vivem dizendo que eu era o cão, que eu era capeta, gato ruço de mau pelo. Não queria saber disso. Se não estivesse na rua eu começava a cantar. Cantar era bonito. Totóca sabia fazer outra coisa além de cantar, assobiar. Mas eu por mais que imitasse, não saía nada. Ele me animou dizendo que era assim mesmo, que eu ainda não tinha boca de soprador. Mas como eu não podia cantar por fora, fui cantando por dentro."
José Mauro de Vasconcelos nasceu e foi criado durante os anos vinte e foi de lá que extraiu as experiências para escrever o livro. A realidade do país na época era de renovação, de liberdade e de denúncia dos problemas sociais. A publicação, no entanto, foi efetivamente escrita em 1968, em um contexto histórico completamente diferente: no auge da ditadura militar quando o país vivia os anos de chumbo sob forte repressão. Em junho de 1968, ano da publicação de O meu pé de laranja lima, foi realizada no Rio de Janeiro A Passeata dos Cem Mil. No mesmo ano foi promulgado o AI-5 (Ato Institucional número 5), que proibia qualquer manifestação contrária ao regime. Foram anos duros marcados pela perseguição de opositores políticos e pela tortura.
Culturalmente a televisão passou a ter um papel importante na sociedade uma vez que conseguiu entrar nas casas das mais diferentes classes sociais. A história contada por José Mauro de Vasconcelos ficou conhecida pelo grande público principalmente devido às adaptações feitas para a televisão. No dia 30 de novembro de 1970 a extinta Rede Tupi levava ao ar o primeiro capítulo da novela baseada na criação de José Mauro de Vasconcelos.
Na música vivíamos a Tropicália e o período dos festivais, lembre-se do marco inicial, o Festival de Música Popular realizado em 1967 pela TV Record. Grandes nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Jorge Bem, Gal Gosta e Maria Bethânia surgiram nessa época. A TV Record destacava-se no universo do audiovisual ao lado da Band e da Tupi, as duas últimas emissoras foram as responsáveis pelas adaptações de O meu pé de laranja lima.
No mundo do futebol convém lembrar a Copa de 1970, a primeira a ser transmitida a cores pela televisão. O Brasil venceu e levou para a casa a taça do tricampeonato. 1970 foi também o ano de estreia da primeira adaptação cinematográfica de O Meu Pé de Laranja Lima.


7 comentários:

  1. Livro maravilhoso, junto com Éramos Seis de Maria José Dupré, e as obras de Monteiro Lobato, coloriram e trouxeram magia a vida de tantas crianças nas decadas de 20 a 70.

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  2. O Brasil já é a 9ª economia do mundo, Prévidi. Felizmente, o Estadão entrou em campo com toda a sua idoneidade e está explicando para a patuleia que é ruim crescer 3% ao ano e reduzir demais o desemprego, porque pode voltar a inflação do tempo do Bolsonaro. Os malditos comunistas estão enganando o povo com emprego, renda e comida! Paulo Guedes, o melhor economista do mundo, já disse onde isso acaba: Venezuela em seis meses; Argentina em um ano e meio, no máximo.

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    1. Tolinha, olhe os gráficos antes de falar bobagem. Esse crescimento é praticamente todo no 1º semestre de 2023, impulsionado pela grande safra agrícola, mas já apresentava nítida tendência de queda. No 2º semestre o Brasil literalmente estagnou.

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    2. Lembrando que dois trimestres seguidos sem crescimento configuram recessão técnica. Mas, claro, a patota vai relativizar.

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  3. Já estava com saudades dos biografados das sextas.

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  4. Tem imbecil por aí comemorando voo de galinha, turbinado pelo gasto público, o que só alimenta o desarranjo fiscal. O investimento privado está caindo a passos largos. Apertem os cintos.

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