NÃO LEVE A SÉRIO
QUEM NÃO SORRI!
SEJA DA PAZ
é maior do que a minha vontade
PORQUE JÁTIVE PRESSA
(e minhas pernas não permitem)
ESCREVA APENAS PARA
jlprevidi@gmail.com
especial
Nesta sexta, uma cesta
de CAROLINA DE JESUS!
(...) quando percebi que eu sou poetisa fiquei triste porque o excesso de imaginação era demasiado.
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, Minas Gerais, em 14 de março de 1914. Foi escritora, poetisa e compositora. Ficou conhecida em todo o Brasil por seu livro "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada" publicado em 1960.
Sua obra permanece objeto de diversos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior..
Sacramento é uma comunidade rural. Os pais de Carolina eram analfabetos. Era filha ilegítima de um homem casado e foi maltratada durante toda sua infância. Aos 7 anos, sua mãe a obrigou a frequentar a escola, depois que a esposa de um rico fazendeiro decidiu pagar seus estudos, mas ela interrompeu o curso no segundo ano, tendo já conseguido aprender a ler e a escrever.
Em 1937, sua mãe morreu e ela resolveu viver em São Paulo. Carolina construiu sua própria casa, usando madeira, lata, papelão e qualquer material que pudesse encontrar. Saía todas as noites para coletar papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a família.
Eu classifico São Paulo assim: O Palácio é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos.
Em 1947, aos 33 anos, desempregada e grávida, Carolina instalou-se na extinta favela do Canindé, na zona norte de São Paulo - num momento em que surgiam na cidade as primeiras favelas - cujo contingente de moradores estava em torno de 50 mil. Ao chegar à cidade, conseguiu emprego na casa do cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini, médico precursor da cirurgia de coração no Brasil, o que permitia a Carolina ler os livros de sua biblioteca nos dias de folga. Em 1948, deu à luz seu primeiro filho, João José. Teve ainda mais dois filhos: José Carlos e Vera Eunice, nascidos em 1949 e 1953 respectivamente.
A tiragem inicial de Quarto de Despejo foi de 10 mil exemplares e esgotou-se em uma semana. Desde sua publicação, a obra vendeu mais de um milhão de exemplares e foi traduzida para catorze línguas, tornando-se um dos livros brasileiros mais conhecidos no exterior.
Depois da publicação, Carolina teve de lidar com a raiva e inveja de seus vizinhos, que a acusaram de ter colocado suas vidas no livro sem autorização. A autora relatou que muitos dos moradores da favela chegaram a jogar, nela e em seus três filhos, os conteúdos de seus penicos. Carolina definiu a favela como "tétrica", "recanto dos vencidos" e "depósito dos incultos que não sabem contar nem o dinheiro da esmola."
Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares vendidos e publicados em mais de quarenta países.
Em 1962, Quarto de Despejo foi publicado nos Estados Unidos pela editora E. P. Dutton com o título Child of the Dark. No ano seguinte, como parte da coleção Mentor, a tradução ganhou uma edição de bolso, publicada primeiro pela New American Library, depois pela Penguin USA. Segundo o autor Robert Levine, somente das vendas desta edição, que totalizaram mais de 300 mil cópias nos EUA, Carolina e sua família deveriam ter recebido, pelo contrato original, mais de 150 mil dólares. Contudo, não foi encontrado indício algum de que ela tenha recebido sequer uma pequena parte disto.
Em março de 1961, uma reportagem afirmou que a publicação de Quarto de Despejo havia rendido a Carolina seis milhões de cruzeiros em direitos autorais, contudo a quantia exata variava, de acordo com a reportagem. É certo que Carolina tinha direito a dez por cento do preço de venda das traduções, com trinta por cento de sua parte reservada a Audálio Dantas; ela recebia pequenos pagamentos em dólares das editoras estadunidenses, mas, por força do contrato original, não podia autorizar traduções de sua obra: este direito fora cedido à editora Paulo de Azevedo, uma filial da editora Francisco Alves.
Depois da publicação de Quarto de Despejo, Carolina mudou-se para Santana, bairro de classe média, na zona norte de São Paulo. Em 1963, publicou, por conta própria, o romance Pedaços de Fome e o livro Provérbios.
Em 1969, Carolina acumulou dinheiro suficiente para se mudar de Santana para Parelheiros, uma região árida da Zona Sul de São Paulo, no pé de uma colina. Próxima de casas ricas, local de algumas das habitações mais pobres do subúrbio da cidade, com impostos e preços menores, era lá que Carolina esperava encontrar tranquilidade.
Agora passando boa parte de seu tempo sozinha, lia o jornal e plantava milho e hortaliças, apesar de reclamar que seus esforços de jardinagem rendessem tanto quanto custassem.
Carolina nunca quis se casar para não ter que ser submissa aos homens. Manteve diversos relacionamentos afetivos ao longo da vida, tendo sido pedida em casamento por alguns namorados, mas nunca aceitou. As três vezes que engravidou não foram planejadas, e foram frutos de relacionamentos diferentes.
Seu primeiro filho era fruto de seu namoro com um marinheiro português, que era muito ciumento e a abandonou grávida; o segundo foi de um relacionamento com um comerciante espanhol, com quem ela terminou o relacionamento por conta das traições dele. Sua terceira filha foi fruto de seu namoro com um empresário brasileiro, cujo término se deu devido às agressões e humilhações que sofria.
Seus filhos desde cedo apegaram-se aos livros por influência da mãe, e todos frequentaram escolas públicas. Carolina registrou e criou seus filhos sozinha. Para sustentá-los, além de escrever e vender livros, fazia coleta de materiais recicláveis, realizava faxinas, lavava roupas para fora e dava aulas em casa, de alfabetização.
A filha de Carolina, Vera Eunice, tornou-se professora e contou em entrevista que sua mãe aspirava a se tornar cantora e atriz.
Carolina de Jesus morreu aos 62 anos em seu quarto, em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977. Foi vítima de uma crise de insuficiência respiratória, devido a asma, que apesar de realizar tratamento, havia se agravado.
Não digam que fui rebotalho,
que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho,
mas fui sempre preterida.
Digam ao povo brasileiro
que meu sonho era ser escritora,
mas eu não tinha dinheiro
para pagar uma editora.
Em 1975, a televisão alemã West Germans gravou um documentário protagonizado pela própria Carolina. O filme Favela: a vida na pobreza continuava inédito no Brasil quando foi exibido pela primeira vez na ocasião do centenário de nascimento da escritora, em 14 de março de 2014, no Instituto Moreira Salles.
Em 1977, foi publicada postumamente a obra Diário de Bitita, com recordações da infância e da juventude. Em 1982, publicou-se Um Brasil para Brasileiros. Em 1996, Meu Estranho Diário e Antologia Pessoal. Em 2014, as pesquisadoras Raffaella Fernandez e Maria Nilda de Carvalho Motta organizaram a coletânea Onde Estaes Felicidade, que trouxe textos originais da autora e sete ensaios sobre sua obra e, em 2018, lançaram Meu sonho é escrever – Contos inéditos e outros escritos, com narrativas da autora.
A pesquisadora Raffaella Fernandez organizou o material inédito deixado por Carolina de Jesus em 58 cadernos que somam 5 000 páginas de textos: são sete romances, 60 textos curtos e 100 poemas, além de quatro peças de teatro e de 12 letras para marchas de carnaval.
Dos livros escritos acerca da autora, destacam-se Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus (1994), de José Carlos Meihy e Robert Levine; Muito Bem, Carolina!: Biografia de Carolina Maria de Jesus (2007), de Eliana Moura de Castro e Marília Novais de Mata Machado; Carolina Maria de Jesus - Uma Escritora Improvável (2009), de Joel Rufino dos Santos; A Vida Escrita de Carolina Maria de Jesus, de Elzira Divina Perpétua; e Carolina: uma biografia (2018) de Tom Farias.
Em 2014, como resultado do Projeto Vida por Escrito - Organização, classificação e preparação do inventário do arquivo de Carolina Maria de Jesus, contemplado com o Prêmio Funarte de Arte Negra, foi lançado o Portal Biobibliográfico de Carolina Maria de Jesus e, em 2015, foi lançado o livro Vida por Escrito - Guia do Acervo de Carolina Maria de Jesus, organizado por Sergio Barcellos. O projeto mapeou todo o material da escritora, que passou a ser custodiado por diversas instituições, dentre elas: Biblioteca Nacional, Instituto Moreira Salles, Museu Afro Brasil, Arquivo Público Municipal de Sacramento e Acervo de Escritores Mineiros (UFMG).
Para o Carnaval de 2021, a escola de samba Colorado do Brás, do Grupo Especial de São Paulo, terá como tema a história de Carolina de Jesus. O enredo é assinado pelo carnavalesco André Machado e tem o título Carolina: A Cinderela Negra do Canindé.
Obras
Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960)
Casa de Alvenaria (1961): Diário de uma ex-Favelada
Pedaços de Fome (1963)
Provérbios (1963)
Póstumas
Diário de Bitita (1977)
Um Brasil para Brasileiros (1982)
Meu Estranho Diário (1996)
Antologia Pessoal (1996)
Onde Estaes Felicidade (2014)
Meu sonho é escrever – Contos inéditos e outros escritos (2018)
Resumo de Quarto de Despejo
Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos generos alimenticios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar.
Eu estava indisposta, resolvi benzer-me. Abri a boca duas vezes, certifiquei-me que estava com mau olhado.
Carolina encontra na fé força, mas também muitas vezes explicação para situações cotidianas. O caso acima é bastante ilustrativo de como uma dor de cabeça é justificada por algo da ordem do espiritual.
Saí indisposta, com vontade de deitar. Mas, o pobre não repousa. Não tem o previlegio de gosar descanço. Eu estava nervosa interiormente, ia maldizendo a sorte. Catei dois sacos de papel. Depois retornei, catei uns ferros, uma latas, e lenha.
Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos.
A tontura do álcool nos impede de cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago.
Além de covarde (como qqr direitista), é cínico.
ResponderExcluirPreso por ter cão e preso por não ter cão. Olha, cara, tu és patético.
ExcluirPrevidi: em tempos do pessoal falando do "trio forte" na rádio guaiba (Lasier Martins, Renato Martins, e agora, Rogério Mendelski), por que eles anunciam, no Correio do Povo, mais precisamente, neste final de semana, na página 13, do suplemento de domingo, o programa Agora, das 7h às 10h? O programa do Lasier não é às 9h? Ou vai mudar de horário?
ResponderExcluirÓtima cesta, Prévidi.
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