Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
Ou melhor, o meu lado sou eu
...
ANDO DEVAGAR
PORQUE JÁ TIVE PRESSA
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ANDO DEVAGAR
PORQUE JÁ TIVE PRESSA
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JOSÉ ALDO PINHEIRO:
O HORROR DO BICHO CHINÊS E A
CURA COM MEDICAMENTOS, ENTRE
OS QUAIS A HIDROXICLOROQUINA
O texto foi publicado no domingo de Páscoa, no Facebook:
Quando a gente quase morre, ou sente a morte próxima, tudo muda.
Mesmo que a nossa percepção acerca da morte estivesse equivocada do ponto de vista clínico, ninguém nos retira da memória esse sentimento único do quase ter ido para a imaterialidade, do quase ter deixado de estar onde gostamos, com quem gostamos, partindo do mundo que conhecemos para um mundo desconhecido.
Hoje é Páscoa 12 de abril de 2020. Nesta data nos últimos anos nossa família sempre se reuniu numa fazenda em São Vicente do Sul, para o que chamamos “Encontro da Família Pinheiro”. A páscoa deste 2020, infelizmente, não teve as danças da tia Maria Inez, as cantorias do primo Jânio, as churrascadas do primo Ronaldo, o peixe recheado do tio José, o peixe ensopado do primo Jorginho, as tortas do primo Dárcio, os barris de chopp do primo Luciano, as saladas da prima Idênis, os ovos de Páscoa artesanalmente feitos pela tia Margarida, o parente que se excedeu na bebida e deu aquele fiasco, o ônibus lotado levando familiares da grande Porto Alegre, os parentes chegando em seus carros particulares vindos de outros Estados e sendo recebidos na porteira da fazenda com grande festa, os passeios a cavalo pelos campos da fazenda da prima Valquíria e do primo Jovaní, o bolo gigante da prima Lúcia Isabel, as camisetas comemorativas da prima Fabiane, as canecas comemorativas do primo Elísio, um universo infindo de motivos para me sentir feliz na Páscoa deste ano eu não tive.
Mas eu estou feliz. E muito feliz!
E tenho boas razões para tanto. Não sei precisar exatamente o dia, acredito que tenha sido em 18 de março, uma quarta-feira, período em já estava atuando em Home Office. Naquele dia tocou o despertador as 05:30 da madrugada para eu entrar no ar na Rádio Guaíba; Levantei, tentei me manter, mas não resistindo, lembro de ter dito em breves palavras, pelo WhatsApp, aos colegas, que pedia desculpas por não suportar, por deixá-los na mão, mas lamentavelmente não tinha condições de trabalhar.
Talvez pela minha origem pobre, desde jovem aprendi o gosto pelo trabalho, e só não trabalho quando não posso mesmo, pois esse é o meu vício. Daquele 18 de março em diante se seguiram os piores dias da minha vida em matéria de sofrimento físico. O que compartilho com vocês que me conhecem não com intenção de nada, porque não há heroísmo algum em sobreviver a um vírus, só há a felicidade de estar vivo, o que é uma conquista individual.
A única intenção é dividir com vocês o prazer de estar aqui, neste plano, e agradecer as incontáveis manifestações de carinho e votos de recuperação de que fui destinatário.
Tudo começou de modo muito estranho, suave, me deixando em dúvida sobre se de fato eu era mais uma vítima do pandêmico coronavírus. No primeiro dia era como se soprasse um vento leve dentro do meu cérebro. No segundo dia era como se passasse uma pomba voando suave dentro da minha cabeça. No terceiro dia tudo mudou, a impressão era que passava um morcego se debatendo dentro da minha a cabeça. Erra horrível. Tudo se sucede muito rápido e vai te aniquilando física, psíquica e espiritualmente.
Logo às fortes dores de cabeça vieram as dores na garganta, no corpo e a febre que nunca passava. Mas era muito pior que uma gripe. Gripes já tive muitas. Após seis dias de sofrimento domiciliar, sem forças para falar e tremendamente amedrontado com tudo que estava assistindo na TV, fui ao hospital Moinhos de Vento, sendo muito bem tratado com medicação para dor, febre, náuseas, raio-x e tomografia. Constatou-se que meu pulmão apresentava inflamação, porém eu não tinha tosse e a saturação de oxigênio não era ruim: acima de 95. O quadro permitia a esperança de permanecendo em casa o organismo superar o ciclo do vírus.
Que nada! Em casa o cenário foi piorando, piorando, alcançando o nível do insuportável. Foi assim que no décimo dia, quando minha mulher me enrolou em tolhas molhadas para num ato de desespero fazer baixar a febre de 39, eu voltei para o Moinhos de Vento, após orientação do otorrinolaringologista Luís Cesar Veiga, que conversou com o genial Dr. Luís Antônio Nasi, o qual determinou que eu me apresentasse para uma reavaliação. Não preciso dizer que a essa altura todas as notícias que eu consumia só alimentavam em mim o medo do pior.
Meu maior temor era a ventilação mecânica, tinha lido que somente 20% daqueles que estavam indo para a oxigenação por aparelhos sobreviviam aos 21 dias no respirador artificial. Depois de um domingo inteiro de exames e reavaliação, gente à volta reclamando de febre, dor e tossindo sem parar, no começou da noite de 29 de março de 2020 parou na minha frente um enfermeiro e disse: temos uma ordem de internação do senhor e já vamos começar um tratamento.
Olhei o invólucro e identifiquei “Reuquinol” entre os medicamentos. Aquilo me deu uma ponta de esperança, embora o mal-estar fosse desanimador: era a tal cloroquina ou hidroxicloroquina que todos estavam falando como última esperança da medicina.
Foram 5 dias de isolamento, na base de tamiflu, azitromicina, rocefin, hidroxicloroquina, anticoagulantes, exames rotineiros do coração, exames rotineiros de sangue, remédios para náuseas, febre e dores, e um atendimento de excelência, seja no plano técnico, seja no plano da convivência humana.
Entrei de cadeira de rodas no domingo 29 de março e sai caminhando do Moinhos de Vento na quinta-feira seguinte, ouvia no celular Edison e Hudson: “Viva a Vida”, as enfermeiras vibravam comigo, eu tinha vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo. Trazia na mochila um teste positivo de Covid-19 e um monte de temores.
Enquanto caminhava na direção do carro onde minha mulher me esperava na rua, minhas pernas pareciam instáveis, como acontece após um grande susto, tinha vontade de comemorar e ao mesmo tempo pensava que vibrar naquela situação seria ofensivo a quem estava chegando ao hospital sem a certeza de sair vivo de lá: um sentimento muito confuso e ruim.
Não desejo para ninguém tamanha dor, tamanhos medos, tão duro sofrimento. Só desejo agradecer a tantas e tantas pessoas e entidades que se manifestaram na torcida pela minha recuperação.
Começo pelos meus filhos, pela minha mulher, pelas minhas enteadas, pela minha família na Argentina, pelos meus sócios de escritório, pela minha imensa família Pinheiro na Bahia, em Goiás, em São Paulo, em Roraima, no Paraná, em Santa Catarina, pelos colegas da Rádio Guaíba, pelos colegas do Grupo Bandeirantes, da Rede Pampa, do SBT no RS, agradeço aos colegas do Grupo RBS, da TV Cachoeira de Cachoeira do Sul, aos conterrâneos de São Luiz Gonzaga, aos companheiros da Rádio Missioneira de São Luiz Gonzaga que lideraram correntes de orações, aos colegas da Rádio São Luiz de São Luiz Gonzaga que mandaram mensagem de apoio, aos irmãos de filosofia maçônica, aos colegas advogados, aos colegas da Rádio Tupy do Rio de Janeiro, aos magistrados que me mandaram mensagem, aos líderes políticos que me mandaram mensagens.
Sei que são tantos que devo ter esquecido alguém. O bom é que a vida segue e poderei reparar alguma falha, poderei cumprir as minhas promessas e ajudar pessoas.
Essa longa manifestação é para dizer isso, que me sinto melhor, em condições de voltar ao trabalho e que graças as orações de vocês, graças a Deus, amanhã, 13 de abril de 2020, volto ao ar na programação da Rádio Guaíba no programa “Bom-dia”, a partir das 7 da manhã e no programa “Ganhando o Jogo” a partir das 12 horas. Como dizia a letra da música do cancioneiro popular, que ouvia ao sair do Hospital Moinhos de Vento: “Quebrei a taça da amargura //Atirei seus pedaços ao vento // Gritei bem alto: viva a vida! // O sol que andava meio ausente // Vou a brilhar novamente // No sorriso da mulher querida //
Obrigado a todos! Obrigado Juanita por todo o amor, carinho e apoio nestes dias sombrios. E se posso, na condição de quem teve a felicidade de sobrevier a forma severa do vírus, meu conselho é: o pior, para muitos, ainda não passou. Cuidem-se, sem negligências.
Muito bom o José Aldo ter se recuperado. Só não entendo a relutância dos médicos utilizarem o medicamento antes do paciente estar em situação grave.
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